1.12.10

A FALÁCIA


Hoje comemora-se - nos centros comerciais e nas lojas, evidentemente - uma coisa chamada "restauração da independência". Ora, salvo o devido respeito, isto assenta num enorme equívoco. O que Portugal perdeu (e reparem como passámos praticamente toda a nossa história, salvo em dois ou três momentos, a perder e da perda, agora, é que já não tornamos a sair), em 1580, foi a soberania na ordem externa. Internamente, com aquele espírito serviçal e rasteiro típico do respeitinho e do temor reverencial, manteve-se a ordem estamentária doméstica. As nomenclaturas eram recrutadas "à casa" e a nossa nobreza, que nunca se distinguiu pela nobreza de carácter (salvo, de novo, um caso ou outro), integrou a corte do rei comum sem pestanejar. Lá fora, éramos parte da Espanha que, convenhamos, naquela altura do campeonato era dona e senhora de um famoso império "onde o sol nunca se punha". Não havia, porém, soberania nacional a exibir nas chancelarias. O "1 de Dezembro" e a sequela guerreira que se seguiu visaram recuperar a soberania na ordem interna. O que é certo é que, desde aí, apenas Pombal, a monarquia constitucional e Salazar conseguiram prestigiar a soberania na ordem interna perdida em 1580. Cavaco já tinha a muleta europeia e, depois dele, os quinze anos de PS, com uma intermitência irrelevante de uma direita impreparada e imatura, só serviram para nos diminuir em todas as frentes. Um novo "1 de Dezembro" verdadeiramente restaurador seria o que nos conseguisse livrar disto. O comemorado é uma falácia.

11 comentários:

Anónimo disse...

Assino sem hesitação.
J. Mendes

Amendes disse...

Isto não muda... mesmo!
......
(...) "Sobre personagens importantes pesa hoje, como no tempo da expectativa ambiciosa de Felipe II, a suspeita de iberismo. Finalmente, tal qual o que sucedia no momento histórico da dominação espanhola, estamos pobres, ignorantes, indiferentes e desarmados"
A invasão do duque de Alba no território português não foi somente um facto de politica filipina nem uma erupção abrupta do militarismo castelhano.
Não, queridos compatriotas: nós não fomos dramáticamente surpreendidos pelo despotismo da força, como por tantas vezes vos tem sido encarecidamente declamado.
Nós fomos simplesmente vendidos pela imoralidade e pela miséria. Fomos comprados pela inteligência e pelo dinheiro ! (...)

Ramalho Ortigão
"Farpas"

Anónimo disse...

Os actuais monumentos ao 1º de Dezembro são construções erigidas na Monarquia Constitucional e durante o Estado Novo. E estes 'regimes', ou formas de governo, lá encontraram maneira de institucionalizar estas datas e levar (apenas por umas escassas décadas...) o 'povo' a rumar, respeitar e comemorar. Nas nossas cidades (pelintra e meridionalmente europeias...) sobram portanto por imitação ainda algumas praças, obeliscos e monumentos solitários cujo significado - para a plebe desgrenhada - é nulo e apenas constitui um cenário velho, entre a vinda do barco e a paragem do autocarro. O feriadito, isso sim, é importante (concordo consigo acerca dos centros cemerciais) para a malta encalacrada de paupérrimos consumidores lusos. Com poderosos exemplos como aqueles que a classe política tem vindo a emanar e a emitir de-cima-para-baixo não seria de esperar outra coisa: tudo foi deliberadamente omitido dos livros de história da escola(inha), as datas são explicadas por porteiras e contínuos e abordadas nas TV's como "dias mundiais isto e dias mundiais aquilo". Quem comemora hoje o 11 de Novembro na Av. da Liberdade ? (não, não é a independência de Angola rofenhamente babujada na RTP1) Quem ruma hoje no 10 de Junho aos Mortos do Ultramar sem medo de ser apelidado de cabeça-rapada? Governos e governados não querem saber de mais nada, nem conhecem brio, orgulho, valores, herança cultural ou história; apenas querem conforto pantufeiro e antingir o "el-dourado" da reforma e do fato de treino (seja Adidas dos ciganos, seja Armani). Quanto ao novo e necessário 1º de Dezembro, implicaria muita espingarda automática, muitas prisões arbitrárias, muita porradaria e a supressão (para nunca mais voltar) desta cáfila de quadrúpedes chupista dos partidos. A democracia falhou aqui muito antes que em outras paragens; nisto estamos à frente há várias décadas.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Como se sabe, a "independência" que hoje temos é... nenhuma.

Lura do Grilo disse...

Hoje saí para comprar umas coisitas de 1ª necessidade ou quase.

Trouxe azeitonas e li o rótulo em casa. Bolas .... eram espanholas.

Carlos disse...

Dr João Gonçalves
Este seu escrito termina ansiando por um "novo 1ºde Dezembro verdadeiramente restaurador" que,infelizmente,não é possível pois nem a Espanha tem Império,nem a França se sente espartilhada,nem existe Richelieu.
Já viu a lista de apoiantes do candidato Cavaco Silva às eleições presidenciais?É a actual "nobreza" que tal como a nobreza de então integram quaisquer cortes de quaisquer Rei sem pestanejar.
Há aquela máxima que é quase uma doutrina:"está-lhe na massa do sangue".
Cumprimentos
Carlos Monteiro de Sousa

Nuno Castelo-Branco disse...

Caramba, João! Acho que vou "roubar" este post!

Castelo-Preto disse...

1640 foi um equívoco tenebroso.

Anónimo disse...

MAs o salvador Madahil vai ser o aruato de Saramago e proclamar a união iberica.

Anónimo disse...

Não foi só um equívoco mas antes uma data para fazer luto.
De resto, e além de Pombal e Salazar, apenas o Príncipe Perfeito que nem percebo como nasceu neste sítio!

Anónimo disse...

Não se preocupe hoje à tarde somos capazes de ter Mundial da Fifa para muito orgulho desta nova nobreza e para rebuçado para divertir o povo. Vivemos uma época miserável.

- O Primo-