15.5.09

UMA BELA VISTA SOBRE A NOSSA SOCIEDADE


«Há uns anos, sem se medirem as consequências, acabou-se com o serviço militar obrigatório (SMO). Primeiro, esta medida foi vista como uma medida de esquerda e foi uma grande conquista das "jotas" dos partidos; no entanto, o SMO foi, historicamente, uma conquista da esquerda para evitar as guardas pretorianas. Quem não conhece a história faz destas coisas. Segundo, o SMO obrigava os recrutas a viverem um ano com regras estritas, com responsabilização e com punições imediatas correspondentes para os prevaricadores. Terceiro, as Forças Armadas eram a melhor escola de formação profissional. Ninguém saía sem um ofício e aprendia a viver com regras. O SMO poderia ser dispendioso mas uma análise social custo-benefício deveria amplamente justificar esses custos. Sem ensino pré-primário, uma escola sem moral, uma ideologia de facilitismo e de irresponsabilidade, bairros sociais que são guetos, integração social e moral impossível e uma sociedade avessa a impor valores, conduziram a esta situação socialmente explosiva. E para percebermos o que se passa, nem falei da Crise. Neste caso não há crise, há uma catástrofe social cozinhada em lume brando nos últimos 30 anos da nossa política. A polícia pode resolver este caso mas nunca ela poderá resolver o problema. Resolver o problema passaria por reconhecer os erros que os políticos que têm estado no poder não reconhecem. Seria exigir o impossível. O Bairro da Bela Vista é, de facto, uma bela vista sobre a nossa sociedade.»

Luís Campos e Cunha, Público

«Sem laços à família ou à escola, ritos sociais, vivência exterior ao Bairro e acima de tudo sem emprego, estes jovens pressentem que o pequeno crime compensa, quando nada mais compensa. Medem forças com os que têm a força (a polícia) e rejeitam em bloco uma sociedade que, pensam eles, os rejeitou há muito. "O problema deste pessoal é quando não tem onde ganhar dinheiro", disse um dos desordeiros. O problema de toda a gente, acrescento eu, é quando não tem onde ganhar dinheiro. Se o Estado e a sociedade não arranjarem ocupação a estas pessoas, se não as "prenderem" a um local que não seja só a prisão, então é melhor que se preparem. Ninguém sabe o que aí vem.»

Pedro Lomba, "i"

19 comentários:

Anónimo disse...

1. Aposto que toda uma geração de "Jotas" que agora se encontra no poder, ou está "à bica" de lá chegar, nunca cumpriu o SMO.

Ex: Sr. Sousa, PSP - Pedro Silva Pereira, José Manuel (In)Seguro, Paulo Pedoso, Severiano Teixeira, Paulo Portas,... (estes 2 "últimos" ministros da defesa).

2. Hoje em dia já não é "vergonha" estar-se desempregado, mas sim, NÃO CONSUMIR, e ver o vizinho do lado a fazê-lo.

A "economia" que o diga.

A

Rui

João Gonçalves disse...

Just for the record... o Pedro Silva Pereira esteve comigo na tropa.

c. disse...

Não querendo pôr em causa a boa formação do João Gonçalves, a tropa (também) é exímia em produzir daqueles broncos que arranjam confusão na discoteca só para sair sem pagar.

A não ser que se planeie instituir o serviço militar obrigatório só para rapazes oriundos do guetto, não encontro na tropa benefícios mais especiais do que inscrevê-los a todos no karate, por exemplo.

Anónimo disse...

o socialismo vê a floresta mas esquece a árvore.
usei sempre uma frase que muito provavelmente não é minha «o conjunto anula o individual».
ao perder a família senti-me mais "destribalizado" do que nunca.
a tropa, ainda que fandanga,recebeu uma herança de disciplina prussiana (Conde de Lippe, etc.) e do vienense Gomes Freire.
esta é a república nacional-socialista da indignidade (vulgo bandalheira, rebaldaria)
o mau exemplo vem de cima nesta "democracia descendente" e doente.

radical livre

fado alexandrino. disse...

O seu comentário (João Gonçalves) explica melhor Portugal do que cem mil crónicas escritas nos jornais.

Anónimo disse...

O problema é muito mais sério do que nota no texto e a razão é que não é só em Portugal que tal acontece. Por todo o Ocidente em maior ou menor grau tal sucede.

lucklucky

Xico disse...

c.disse
Nunca foi à tropa. Vê-se!
Não teria dito os disparates que disse. Hoje poderá ser assim, precisamente porque a tropa já não é uma coisa da república (de todos). É só de alguns...
Eu fui à tropa e aprendi lá muito.
Mas ainda não sei Karaté, nem boxe, nem armar zaragatas na discoteca, nem montar uma arma depois de a desmontar!

Anónimo disse...

Concordo em pleno com o que está escrito. Posso dar o meu exemplo:
Fiz recruta na EPI (Escola Prática de Infantaria) em Mafra e durante esta mesma recruta,eu e os meus camaradas passamos um mau bocado, isto é, desde a instrução militar, á ginástica militar, ao comportamento que um militar deve ter perante a sociedade, aprendemos a ser humildes, aprendemos a ter espirito de ajuda para com o próximo (ninguém ficava para trás durante a instrução, não se abandonava ninguém). Percebemos que não somos melhor ou pior que as outras pessoas, somos nós mesmo, com maior ou menor dificuldade ultrapassamos as provas, mas sempre com o sentido de entre-ajuda.
Recordo um episódio: no regresso da semana de campo para o aquartelamento(viemos da tapada real de mafra para o quartel) vinham duas companhias e lembro de ver homens a chorar, porque nunca tinham sido tratados daquela maneira, mas a reconhecerem que afinal não eram aquilo que pensavam ser (uns seres superiores, em relação aos outros).
Para concluir digo somente isto: Em vez de porem a maioria dos presos em cadeias, deveriam aproveitar os aquartelamentos e através da disciplina militar e aprendizagem de uma profissão, reencaminhar muitos dos presos que estão nas prisões concentrados em bandos de criminosos e saem, a maior parte das vezes, ainda mais decadentes do que quando entraram.
ass: LM

Anónimo disse...

Dois bons artigos de homens muito lúcidos e, vamos lá, frontais.
Quanto à tropa, posso testemunhar. Fui professor de uma das melhores escolas do País, a Escola Militar de Electromecânica, em Paço de Arcos, e sinto que lá formámos muitos milhares de jovens, quer profissionalmente, quer como cidadãos responsáveis. Naquelas aulas, em toda a escola, havia ordem e respeito mútuo. Estávamos nos antípodas da actual prática escolar. Mas não será fácil recuperar o sistema. A ordem militar incomoda os políticos e eu calculo porquê.

Nuno Castelo-Branco disse...

O fim do SMO tem as suas vantagens. É com regozijo que sei que as camaratas do colégio militar estão cheias de bandeiras azuis e brancas. Bom sinal. As armas ficam então em boas mãos, para o que der e vier.

Anónimo disse...

Odiei a tropa. Achei uma perda de tempo e uma injustiça porque a maior parte dos meus colegas (homens) "safaram-se". E as mulheres, claro, não foram. Todos aqueles e estas começaram a vida profissional um ano mais cedo e a ganhar dinheiro que se visse mais cedo.

Mas concordo que era um dos meios de coesão social e nacional, com todos os defeitos que tinha. Só foi pena a "cunha" safar tanta gente e as mulheres não terem idêntico serviço.

Há coisas que individualmente são mal aceites, mas muito importantes para um grupo. Talvez o SMO seja uma delas.

PC

Anónimo disse...

da tropa que fiz só a recruta se safou pelo exercício físico. o resto foi uma interminável bebedeira com charros sem parar e um eterno coçar de colhões por não haver nada que fazer.
se alguma coisa aprendi é que a droga circulava livremente e as cervejas eram muito mais baratas lá dentro.
Isto tudo só para alimentar meia dúzia de generalzecos da treta e companhia graduada, memória de um império carlista que nunca o foi.
se querem ensinar alguma coisa a alguém façam-no nas escolas.
reformem-nas e reestruturem-nas, mas não se esqueçam que o século XIX já lá vai há algum tempo.

Anónimo disse...

é duvidoso é que tenha sido uma ideia da esquerda. O psr lutou de facto por isso, até à redução para os quatro meses, mas o pcp sempre se opôs e do ps confesso que não tenho grande memória embora a JS o fizesse. foi cavaco que instaurou a coisa

Anónimo disse...

A Tropa, já foi, como disse o Ann 6:58.
Mesmo assim, levar duas centenas de desocupados/desordeiros deste tipo para um quartel das tropas especiais, era capaz de ajudar.
Quanto ás escolas, era uma boa ideia. Começar por dar uma identidade ás ditas com um nome decente e um uniforme.
Postos de trabalho?
Não faltam obras públicas ou privadas onde os ocupar. Limpar as matas do país inteiro, talvez ajudasse.
Se não fosse ir muito contra certos 'direitos' humanos e uma democracia de faz de conta.
JB

garganta funda.... disse...

Eu sempre fui contra a extinção do Serviço Militar Obrigatório, que para além dos imperativos de defesa da pátria, servia para enquadrar social e profissionalmente uma grande parte da nossa juventude.

Neste momento uma grande parte da nossa juventude está desempregada; outra anda a vaguear nas cidades, entregues à criminalidade e toxicodependência; as famílias estão em desestruturação crescente e a autoridade da justiça e das forças de segurança são questionadas diáriamente.

Tudo isto somado vai provocar a médio prazo danos irreparáveis na nossa sociedade.

PS: É curioso notar que só houve um partido que votou contra o SMO.
Todos os outros, instrumentalizados pelas suas "jotas" medíocres e carreiristas, votaram a favor com aquelas habituais justificações tecnocráticas da "racionalização do dispositivo".

Se um dia Marrocos quiser invadir Portugal, nós não temos cidadãos à altura para defender o país.

Certamente que os politicos da treta que temos mais os consórcios da mão-de-obra barata, preferem que os jovens andam todo o dia a enfeitar as ruas; na ronha das discotecas até ao raiar do sol; a snifar droga; em orgias alcoólicas; na criminalidade tribal e organizada, etc.

Estamos a contruir um país "bué de fixe"...

O futuro vai ser negro!

garganta funda.... disse...

Adenda ao comentário anterior: o Partido que votou contra o SMO foi o Partido Comunista.
Justiça seja feita.

Eu sou da Direita pura e dura, mas reconheço que a nossa "direita" é muito mole e estrangeirada, ao não apostar na educação, disciplina e enquadramento militar da nossa juventude e das sucessivas gerações.

Não pensem que a Europa vai ter paz para o resto da vida...

O mundo dá muitas voltas....

Helder Ferreira disse...

Se o Estado e a sociedade não arranjarem ocupação a estas pessoasPorquê? O Estado tem que arranjar ocupação à custa de quê e de quem? E a sociedade tem número de telefone?
O Pedro Lomba não deve ter percebido é que isto e o sense of entitlement que acompanha esta ideia, com os direitos sem deveres, está na base dos problemas. É ler o extracto acima do Prof Campos e Cunha para ver se o Pedro Lomba percebe.

Anónimo disse...

dramático também é que campos e cunha, que teve responsabilidades num Governo diga que o fim do SMO se deveu à esquerda.

é tão curiosa e verdadeira como aquela de que foi o 25 de abril que pôs fim ao ensino técnico-profissional, quando os governos se limitaram a prosseguir a reforma de veiga simão, ministro do executivo de marcelo

assim corre a verdade

Anónimo disse...

O Sócrates na tropa, com tudo o que sobre ele paira no ar, nem dois dias durava.