28.5.09

NOSSA SENHORA ELECTRICIDADE DE PORTUGAL


«O anúncio, sem o querer, desvenda o sentido da campanha da EDP: é mais imagem do que paisagem, mais barragem do que a alardeada protecção de espécies em extinção. Como referia o blogue Estrago da Nação, para nos vender barragens, os publicitários tiveram de alugar serviços de animais amestrados (lobos, aves de rapina), de filmar em ribeiros e quedas de água que deixariam de existir se ali houvesse barragens. E maquilharam a rapariga para ela parecer natural, recorreram à mangueirada para simular chuva; e a rapariga bebe água da ribeira, o que nunca faria numa barragem. A publicidade, como o cinema, é uma fábrica de sonhos: o objectivo é que não se veja a fábrica, mas o “making of” mostra-a enquanto o anúncio fornece o sonho. Se Freud voltasse, diria que o sonho dos publicitários revela a realidade: no anúncio, a natureza selvagem acaba encapsulada num outro filme, projectado do rio sobre a parede de betão. A natureza selvagem não existe, ou deixa de existir: transfere-se de ribeiros intocáveis para simulacros numa parede de betão. As barragens têm tremendos efeitos ecológicos, destroem, por exemplo, o ambiente das aves de rapina que se mostram no anúncio. Tal como são precisos lobos amestrados para fazer o anúncio, também a real e verdadeira natureza dos últimos santuários é nele aprisionada em imagens que vemos fugazmente projectadas em betão, à noite, para nos descansar as consciências. Enquanto a EDP destrói natureza selvagem construindo barragens e substituindo-a por uma natureza humanizada, nós olhamos para o boneco —na parede de betão, ou no ecrã do televisor, ou no jornal ou no outdoor urbano.»

Eduardo Cintra Torres, Jornal de Negócios

11 comentários:

Anónimo disse...

A EDP constrói barragens. Essa é boa.

António Pires disse...

Não posso deixar de mostrar o meu desagrado por ler que há pessoas que são contra as barragens, como são contra os geradores eólicos. Será que preferem ver o país semeado de chaminés das centrais térmicas que teriam que ser construidas em vez delas?
Pena é que não refiram que as últimas barragens cuja construção foi anunciada com pompa e circunstância pelo nosso primeiro vão ser construidas e exploradas não pela EDP mas sim pela espanhola Hiberdrola, tornando-nos mais dependentes dos combustíveis importados (e não menos, conforme diz a propaganda socrática).

Anónimo disse...

Os magotes de ventoinhas plantados na paisagem são coisas horrorosas que fazem chafaricas como a Martifer crescer, e criam "empórios" parolos como a EDP "Renováveis". De certeza que há forma mais eficiente de produzir electricidade que tais monstros.

PC

Carlos Medina Ribeiro disse...

O conflito entre as necessidades de energia das sociedades modernas e o preço a pagar por isso é mais velha do que a Sé de Braga.

Indiquem-me uma fonte de energia (*) que não tenha efeitos negativos em termos ecológicos, e eu prometo sentar-me a olhar para ela.
Naturalmente, o mais que se consegue fazer, no estado actual da Civilização, é tentar minimizar as consequências negativas, escolhendo um mal menor.
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(*) Estou a falar em termos industriais, e não do habilidoso que mete um catavento no quintal.

Anónimo disse...

«De certeza que há forma mais eficiente de produzir electricidade que tais monstros.»

Ainda bem que o sr PC tem a certeza! Queira, por favor, fazer um bem a toda a Humanidade em geral, e ao planeta Terra em particular, e esclarecer os cientistas e técnicos da indústria da energia ignorantes em relação às suas certezas. Todos eles lhe agradecerão ajoelhados.

maria marques

Anónimo disse...

diz-se que o dinheiro do freeport passou pelo bpn

eadical livre

joshua disse...

Bem vistas as coisas, o anúncio sugere tudo aquilo a que o cidadão está confinado: olhar para o boneco.

LUSITANO disse...

Há pessoas que ou são ignorantes crónicos ou gostam de fazer figuras tristes.
Então não há alternativas às barragens que querem construir e inundar Trás-os-Montes???
Não se pode começar, por exemplo, por substituir as lâmpadas de incandescência vulgares por lâmpadas economizadoras???
Uma lâmpada deste tipo, gasta cerca de um quinto duma lâmpada de incandescência de igual fluxo luminoso.
Quantos milhões de lâmpadas não se acendem todos os dias em Portugal???
Já imaginaram, que para além do gasto absurdo de energia ainda se poupa em desperdício de material, pois as lâmpadas economizadoras duram entre 4 a 8 vezes mais do que as lâmpadas normais???
E porque manter lâmpadas ou outros utensílios ligados, se não se está a aproveitar a sua utilização???
Para além das lâmpadas, aparelhos de ar condicionado, aquecedores, ferros de engomar, entre outros, se se utilizarem com parcimónia, poupam não só um montão de dinheiro como evitam o implantar de "ventoinhas", barragens e as poluidoras centrais térmicas para além do necessário, será que não vêem isso, ou há muita miopia por aí???
Esta campanha da EDP, mais não visa, do que procurar apresentar um pretexto para calar quem contesta, e bem, o "plantar" de barragens por todo o espaço português, principalmente agora o protesto pelas mesmas destruírem uma das mais espectaculares de caminho de ferro da Europa, a linha do Tua, para além de destruir o que resta do território selvagem de Trás-os-Montes, essa é que é a verdadeira razão.
Mas também uma parte dessa energia servirá certamente para alimentar a Galiza, à custa da destruição das belezas de Portugal, não viram isso ou estão tão virados para o vosso umbigo, que só pensam no vosso conforto mesmo à custa da destruição daquilo que a natureza ainda nos proporciona, há assim tanta falta de bom senso da vossa parte???
E como o negócio da EDP é vender electricidade, claro, que esta em vez de promover a poupança, vai pelo lado do consumo, assim, não se fala em poupanças, fala-se é no bem estar, no consumo, daí a necessidade de mais barragens, parecem mais um merceeiro a promover a venda do bacalhau.
Usem mais os neurónios para a defesa daquilo que podem deixar aos vossos filhos ao invés de só pensarem no vosso bem estar actual.
Também um melhor aproveitamento das barragens existentes resolvia a situação e evitava a destruição inútil da Natureza.
Quando já não houver espaço para construírem mais barragens, vão fazê-las aonde, no Burkina Faso???
Cumprimentos.

LUSITANO

Nuno Ribeiro disse...

Gostei de ler o texto, ainda bem que algum meio de comunicação pegou na barabridade que é esta campanha.

Para quê discutir barragens, centrais nucleares ou eólicas enquanto, como disse outro comentador, existe um potencial imenso para a poupança e eficiência energética?

Não podemos pagar com os nossos impostos e ambiente para depois desperdiçar!

Primeiro a eficiência e redução, depois o investimento.

João Pedro disse...

Olá.

Como dizia o Professor Renato Morgado, a energia é crucial para o desenvolvimento de um país e garantia da vida. Vê-se nestes dias que correm que a utilização de combustíveis fosseis para a produção de energia, alem da questão do ambiente, torna-nos irremediavelmente dependentes de outros países.
Como um gráfico que já vi, os Portugueses gastam bastante energia em transporte, serviços e habitação, ao contrário dos grandes países industrializados (EUA, Inglaterra, Suécia) que gastam cerca de 50% na industria.
Ao contrário do que se pensa, não é à noite que se gasta mais energia, até porque o consumo à noite pode sair mais barato. A França até ilumina as suas auto-estradas para gastar a energia que as centrais injectam na rede. Os grandes picos de consumo dão-se nas nos horários normais de trabalho e à hora do jantar (das 7h às 21/22h).
Para garantir que todas as necessidades são correspondidas é necessário que a EDP tenha sistemas que se possam facilmente ligar e desligar consoante as necessidades. As barragens são sistemas mais que testados e fáceis de controlar.
Confesso que não concordo com a construção de mais barragens, mas sei que tanto as eólicas como os painéis solares não conseguem concorrer com as barragens. Não se pode garantir que haja sempre vento nem que haja sempre sol, numa barragem até se bombeia a água para montante, durante a noite, quando há menos consumo.
Eu sou da opinião que para termos uma produção de energia que polua menos (todas elas prejudicam o ambiente, umas menos que outras) o país deva apostar na micro-geração de energia. Mesmo sabendo que a rentabilidade de um painel solar eléctrico comercial anda na ordem dos 10% e que tem um custo inicial elevado, pode ser uma alternativa às barragens e à utilização de combustível fóssil para produzir energia. Imaginem a quantidade de fábricas e casas que há no país com grandes telhados, que poderiam estar a produzir energia e não estão. Os grandes campos de painéis solares também são um erro porque a probabilidade de uma nuvem cobrir uma grande parte do campo é enorme.

Mas desde já deveríamos ter em atenção pequenos pormenores, alguns já referidos, como as lâmpadas, os isolamentos dos edifícios (neste momento estou num edifício de uma universidade, tem um ano, não tem caixa de ar nem placa, o tecto da sala são umas chapas do telhado, estão 31,5ºC e temos várias ventoinhas a funcionar para fazer circular o ar), sistemas de locomoção e a reciclagem.

Penso que o governo e todos nós deveremos pensar em formas diferentes de produzir energia mas principalmente de não a gastar, porque essa é a única que não polui.

Diogo Carvalho disse...

Para os senhores que ainda não fizeram ou não quiseram fazer o trabalho de casa, usem as mesmas ferramentas que os trouxeram até aqui, e vejam o que pode ser feito em termos de poupança energética, optimização da rede eléctrica e microgeração... O "investimento" no looby do betão é o verdadeiro motor por detrás desta ridícula politica energética. De facto as nossas necessidades energéticas são incontornáveis, mas se isso põem em causa a integridade dos ecossistemas e em última análise a nossa própria sobrevivência, não vejo qual é o ponto de produzir energia para que esta só sirva para encher os bolsos de alguns.
Ou ainda acham que a conservação da natureza é para os tolinhos que se acorrentam às árvores? Sejam responsáveis, e procurem mais e melhor informação.