A TRIBO DAS ORELHAS EM BAIXO

Gostei da expressão usada por um leitor da qual me apropriei para o título deste post. Neste momento travo um "combate" de natureza profissional. Em duas linhas, solicitei formalmente, há dois anos, a transferência de um serviço público para outro. Durante esses dois anos foi-me dito que o assunto estava a ser tratado e que ia sempre ser concluído no mês seguinte. Chegámos a 2009 e à entrada em vigor do pacote legislativo dito "reformista" para a administração pública. As mesmas pessoas que andaram dois anos a remeter o assunto para o mês seguinte, esperaram pelo glorioso pacote - que acabou, entre outras coisas, com as transferências, como se o Estado só se pudesse servir no mesmo sítio desde o berço até à sepultura e estivesse cativo de meia dúzia de mandarins pagos pelos contribuintes - para, num diktat em forma de "informação" imprópria de juristas, impor a solução que mais lhes convém. A saber, porta da rua, serventia da casa. Outras pessoas a quem o diktat se dirige por igual não tugiram nem mugiram. Estou, naturalmente, a fazer o que deve ser feito nos termos da lei, sem temores reverenciais, e até ao fim nas instâncias que eu entender adequadas. Tanto mais quando uma das responsáveis pelo diktat tratou a tempo da sua própria transferência antes da chegada do maravilhoso e previsível pacote. Ela lá sabe por que o fez. Não me passa sequer pela cabeça que este espaço tenha alguma coisa a ver com esta embrulhada sem sentido. Mas algum sentido ela deve ter e eu vou descobrir qual é. Não contem é comigo para aderir à tribo das orelhas em baixo. Goethe, citado ontem no Público, escreveu que «apenas é digno da vida aquele que todos os dias parte para ela em combate.» Nem que se morra no combate.