29.3.09

MORTE DO ENSAIO?


«Conviria tentar perceber as razões mais fundas do declínio de um género [o ensaio] que, não estando tão moribundo como se apregoa, já conheceu realmente melhores dias. A infantilização do ensino não ajudou. A leitura como momento lúdico pode ter as suas vantagens e servir para entreter, mas ler também é um acto que exige determinação, vontade, por vezes esforço. A democratização do ensino superior, por seu lado, não foi acompanhada do grau de exigência necessário (por muitas razões que não vêm agora ao caso) e os conhecimentos de um recém-licenciado em termos de cultural geral, de «mundo literário» – à falta de melhor tradução para well read – e de capacidade de interpretação e análise de um texto deixam muito a desejar (haverá excepções, como é óbvio, e felizmente). Assim, embora haja mais títulos publicados e mais leitores, estes, por várias razões, estão menos receptivos ao ensaio ou à poesia. Por tudo isto – pela pouca exigência do ensino, pela simplificação dos programas, pelos baixos índices de leitura em bibliotecas, pela pouca visibilidade das obras de ensaio, pelo preço deste tipo de livro (com que o editor se tenta acautelar de um previsível fracasso), pelos hábitos de leitura que vão mudando – o panorama não é animador.»

Pedro Bernardo, Blogtailors

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