24.4.09

COM O PAÍS NO ESTADO EM QUE ESTÁ, O GRANDE PROBLEMA DO GOVERNO


«Desde o princípio que Sócrates viveu em guerra com os jornalistas. Para ele, a informação sobre o Governo tinha de ser pouca e calculada. Quanto menos fosse e quanto mais calculada, menos daria alimentação e oportunidade à crítica. Isto exigia evidentemente que uma autoridade central - o gabinete do próprio Sócrates - decidisse o que o público devia ou não saber, como e por quem. Os ministros não deviam falar quando achavam necessário e só porque achavam necessário. Era preciso um plano de propaganda ou, se quiserem, de "apresentação", que obrigasse toda a gente. Claro que esse plano nunca verdadeiramente passou de um projecto ou de um desejo. Mas também é verdade que durante anos houve uma espécie de barreira entre o Governo e os jornalistas. De qualquer maneira, com o tempo as críticas vieram. E Sócrates começou a exercer represálias sobre os críticos pelo velho e desastroso método do boicote. Se uma televisão ou um jornal por qualquer motivo o ofendiam ou, supunha ele, o prejudicavam, Sócrates fazia o possível (e o impossível) por não se aperceber da sua maléfica existência: recusava entrevistas, cortava as relações com os directores, não os convidava para viagens de natureza oficial e por aí fora. Mesmo os ministros (quase sempre em apuros para salvar a sua própria pele) se prestavam relutantemente a pôr o pé nessas cavernas de iniquidade e de intriga. Se a relação entre o Governo e os jornalistas se tornou numa relação "pessoal" e "obsessiva", a culpa não é dos jornalistas. É de quem primeiro se mostrou "pessoal" e "obsessivo". Claro que as coisas pioraram com o escrutínio da vida de Sócrates. Sucede que se esperava que Sócrates não ignorasse duas coisas. Para começar, que, em última análise, nenhuma vida suporta escrutínio. E, depois, que a dele seria inevitavelmente vista à lupa. Um primeiro-ministro normal negava, sem paixão, o que valesse a pena negar e deixava o resto aos tribunais. Sócrates resolveu partir em campanha contra o mundo. Desde apresentar-se como vítima de uma conspiração obscura e quase universal a processar uns tantos jornalistas (6? 7? 8?), não poupou um erro. E produziu o efeito previsível: ninguém acreditou em conspiração alguma e os jornalistas acabaram por o processar a ele. Pior ainda: terça-feira conseguiu transformar Manuela Moura Guedes no grande problema do Governo. Com o país no estado em que está.»

Vasco Pulido Valente, Público


Adenda: «[Sócrates] viveu sim obcecado com os jornalistas. Mas não andou em guerra até pq não precisava - teve excelente imprensa. O seu problema é que habituado a viver pelos jornalistas - Sócrates nasceu como possível líder a debater com Santana nos estúdios da RTP - não sabe o que fazer agora. A sua concepção de governo pouco tem a ver com funções de Estado antes se aproxima da do realizador na régie quando determina aquilo que vai ser mostrado. O que assistimos agora não é a uma guerra mas sim a alguém que ficou sem chão.» (Helena Matos, Blasfémias)

4 comentários:

Manuel Brás disse...

I Parte

A marca da desgovernação
é terrível e escandalosa,
a teoria da negação
é de natureza ardilosa.

Esta catástrofe social
tem uma marca bem vincada,
este socialismo demencial
é feito de política tresloucada!

O mexilhão trabalhador
e perfeitamente capacitado,
não é de todo merecedor
de um (des)Governo inabilitado!

II Parte

A fobia eleitoralista
para iludir a realidade,
faz deste (des)Governo socialista
um precursor da imbecilidade.

A poeira eleitoral
lançada diariamente,
é feita de política imoral
iludindo miseravelmente!

Não se sentindo enganado,
o mexilhão reprova os ilusionistas,
este (des)Governo falhado
é composto por débeis ficcionistas!

Cáustico disse...

Não me canso de dizer o que ele e os capangas são, na realidade: uns socialistas de merda.
Sempre que podem e têm oportunidade, falam daquilo a que estupidamente chamam a negra noite do fascismo, citando sempre a censura dos coronéis, de todos conhecida, porque não actuava encoberta.
Acontece que estão no poder, e a tentação de esconder a realidade leva-os a tentar amordaçar quem pretende falar e escrever livremente, esquecendo asininamente o que zurram em relação à ditadura.
Que os jornalistas se unam e não perdoem.
Nós cá estamos cá para julgar e não só.

Burns disse...

faltam dez para as oito
espero sangue em abundancia

Anónimo disse...

Pois é, lembrei-me do "pequeno" Vitorino após o desastre de 2005 a dizer aos jornalistas: "Queriam saber mais? Mas não, só vão saber o que quisermos que saibam. Habituem-se!"

E o povo jornalístico andou manso durante tanto tempo... Só agora começa a haver algumas "ovelhas tresmalhadas".

PC