31.1.08

A HISTÓRIA E OS HISTORIADORES

O argumentário utilizado pelo ministro da defesa, o historiador Severiano Teixeira, para vedar a participação do Exército na homenagem a D. Carlos I deve figurar, de agora em diante, numa qualquer antologia de anedotas. Teixeira já se tinha distinguido, em tempos, num livrinho sobre a República, por veicular ideias que não eram exactamente suas ou originais. É um homem a reboque da pequena história e, talvez por isso, apareça de vez em quando a ornamentar governos do regime. De qualquer forma, e para os interessados sem preconceitos espúrios - para ser delicado que ainda é cedo -, Rui Ramos falará sobre D. Carlos na Universidade Católica de Lisboa, mais logo pelas 21.30. Sempre é um historiador livre.
Adenda: O senhor ministro, amavel e servilmente, telefonou ao historiador Rosas - autor do requerimento do BE que acabou implicitamente secundado por todos os outros partidos - a informá-lo do seu douto despacho. Estão bem uns para os outros.

30.1.08

A CULTURA DO GATO


Para tentar encontrar um vestígio biográfico que ligasse o dr. Pinto Ribeiro, ministro da cultura, à dita, os jornais foram buscar a sua actividade profissional - advogado - e, dentro dela, seleccionaram o seu cliente, os Gato Fedorento. Também apareceu a Fundação Berardo, o conhecimento de inglês, alemão, francês e, suponho, espanhol, tudo, porém, sem o brilho da referência aos Fedorento. A cultura, porventura, também não exige mais.

PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Não sou monárquico. Isso não invalida que entenda que o centenário do assassinato de um Chefe de Estado, na circunstância um rei, deve ser recordado. Passem os anos que passarem, é um dado histórico inelutável, porventura - a avaliar pelo que se seguiu - funesto e, seguramente, anti-patriótico. Os esquecíveis deputados de todos os partidos com representação parlamentar - ou seja, já não apenas os do BE - que integram a comissão de Defesa, exigiram, ao ministro da tutela, a retirada do Exército da cerimónia organizada para a hora do regicídio, no Terreiro do Paço, na próxima sexta-feira. Trata-se de um gesto simultaneamente imbecil e infantil. Os herdeiros pífios do dr. Afonso Costa imaginam que a história muda consoante o "correcto" do momento. Não muda. D. Carlos já lá está por direito próprio, com ou sem a banda do Exército. Pelo contrário, destes deputados pequeninos ninguém falará quando desaparecerem.

PROBLEMAS DE COMPREENSÃO

O 1º ministro diz que "compreendeu as preocupações das pessoas" a propósito da remoção de Correia de Campos. Consta que Campos - e alguns bloggers afirmam-no sem um dedo mindinho de dúvida - era um grande "reformador". E, até ontem, o mesmo 1º ministro que hoje "compreende" as preocupações de terceiros, também achava que Campos era um genial "reformador". Acontece, como não me canso de dizer, que não se "reforma" nada que os principais destinatários não queiram ver "reformado". Entre a alegada "reforma" de Campos e um sarilho, Sócrates escolheu "compreender", um eufemismo que confirma uma derrota política no "terreno". E se havia alguma "reforma" em curso na saúde, ela acabou no dia em que Cavaco disse que ela não se "compreendia". Acontece que, parece, estão em curso mais "reformas" que muita gente não "compreende". A começar pelo dito PR. Ainda vamos ouvir falar muito destes problemas de compreensão.

O AUTORITÁRIO SEM CARISMA

O maior problema de Sócrates, perceptível nesta pequena mexida nas hostes, é ser um autoritário sem carisma. Não entusiasma ninguém, dentro ou fora do partido, e sobrevive graças ao absolutismo democrático onde, precisamente por não ter carisma, cedeu. Ninguém terá saudades dele quando acabar.

O QUE TEM SIDO ISTO

«Em que assentaram então os regimes políticos anteriores ao actual? Todos se propuseram modernizar o país. Mas uns tentaram chegar aí reservando o poder a um pequeno grupo iluminado, com exclusão dos demais, e outros através do envolvimento consensual do maior número e da alternância no poder. A monarquia constitucional, entre 1834 e 1910, esteve neste segundo caso. Havia vários partidos, que rodavam no poder de acordo com o rei. O regime caiu porque não podia funcionar sem se pôr em causa a si próprio. Era o rei quem, perante o desprestígio das eleições, accionava a alternância. Mas quando o fazia era invariavelmente discutido e contestado por uma classe política sem reverência dinástica. Mesmo assim, o regime durou mais do que qualquer outro regime nos últimos 200 anos, e assegurou a mais longa época de liberdade e pluralismo. Eis o que representa D. Carlos. A chamada I República, entre 1910 e 1926, e o Estado Novo, até 1974, tiveram isto em comum: chefes de Estado eleitos (directa ou indirectamente) e governantes determinados em usar a força para impedir qualquer alternância no poder. O Partido Republicano não precisou, como Salazar, de censura nem de proibir partidos: preferiu recorrer à "acção directa" de grupos paramilitares, protegidos pelas autoridades, para limitar a expressão e a acção dos adversários (foi a célebre "ditadura da rua"). De resto, excluiu a população do processo político, negando o direito de voto à maioria. Houve republicanos e salazaristas que quiseram outra coisa? Houve. Fizeram coisas benéficas para o país? Fizeram. Mas nenhum dos dois regimes foi capaz de deixar de ser o despotismo de um bando convencido de que tinha o monopólio da razão. A construção da actual democracia em Portugal foi feita não apenas contra o Estado Novo, mas também contra a I República. Dependeu de uma nova cultura política, em que se admitiu o princípio de que a validade das eleições dependia mais das instituições e procedimentos do que das "qualidades" da população. Dependeu também de se ter voltado a reconhecer novamente, como no tempo da monarquia constitucional, que a razão é algo distribuído a mais de uma opinião ou partido. Obteve-se assim um regime aberto a todos, e em que o voto de todos é a base da alternância no poder.Os exclusivismos, porém, deixaram herdeiros frustrados. Há quem ainda não tenha percebido por que é que não é dono desta democracia, tal como o PRP foi dono da I República ou os salazaristas do Estado Novo. Eis o que representam os contestatários da comemoração de D. Carlos.»
Rui Ramos, in Público

29.1.08

A LIGA DA COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA

Há menos de um mês, Cavaco começou o ano a denunciar a falta de rumo na política de saúde do governo. Em menos de um mês - um mês desastroso para o SNS - Sócrates percebeu o recado. Há alguns anos, Cavaco alertou para o disparate da OTA. Há uns dias, Sócrates substituiu a OTA por Alcochete, mesmo sabendo, desde Dezembro, qual era a "inclinação" do LNEC. Sócrates trocou uma promessa eleitoral - referendo europeu - por uma ratificação parlamentar, a preferência de Cavaco. Em menos de dois anos, Cavaco - 3, Sócrates - 1. Eis, finalmente, uma "liga" que promete.

Adenda: Na abertura do ano judicial, o Presidente afirmou que a política de justiça deve ser entendida por todos, mesmo pelos que não são juristas. Marinho Pinto foi tremendo. Pinto Monteiro foi burocrata. E o conselheiro Noronha foi "social". Alberto Costa foi pouca coisa. Começa a descontar.

"O ASSUNTO TAMBÉM É ESTE" - 2


Quatro milhões? Realmente convinha apurar. À frente da OPARTE está um professor catedrático do ISCTE, imagino que de gestão. O que é que os media estão à espera para lhe perguntar? Ou o São Carlos é um laboratório do experimentalismo do musicólogo que está secretário de Estado da Cultura, um laboratório para além disso pago pelos contribuintes?


Adenda: A senhora da fotografia passou, felizmente para ela, à condição de mera professora universitária a qual nunca devia ter abandonado. A má notícia é que Mário Vieira de Carvalho está e fica secretário de Estado, em perfeitas condições de "dominar" o vaidoso advogado Pinto Ribeiro e membro da Fundação Berardo que, sabe-se lá porquê, substitui a senhora como ministro. Quanto ao resto - remoção de Correia de Campos - é um mero acto piedoso que só peca por tardio.

Adenda (2): Mário Vieira de Carvalho fica SEC? Não devia. Cai formalmente com Pires de Lima e, se ficar, deverá tomar posse outra vez, como me recordou há pouco o Augusto ao telefone. Escrevo, pois, no pressuposto que Pinto Ribeiro o mantém. Não há notícia, para já, de mais "tomadas de posse" de secretários de Estado, para além do dos Assuntos Fiscais. A ver vamos.

O PLÁSTICO NA POLÍTICA

Mário Soares, Pacheco Pereira e Miguel Veiga estiveram a derramar, não sei onde, sobre Sá Carneiro. Com manifesta melancolia, mostraram a sua acrimónia para com o "marketing" e a obsessão pela imagem na política, e vi - juro que vi - Soares "indignado" contra os "políticos de plástico". Será o mesmo Soares que anda por aí ao colo com actual secretário-geral do partido que fundou, um monumento vivo ao plástico na política?

O PS E O EUCALIPTO


Manuel Alegre promete que "não se cala nem se conforma". Se porventura Alegre conseguisse arrebanhar dois ou três deputados que "não se calassem nem se conformassem" - duvido que haja quem duvide no pasto "socrático" -, a maioria parlamentar passaria a estar nas mãos destes temerários. Tinha graça. Sobretudo porque só na cabeça loira de Clara Ferreira Alves é que Mário Soares permanece um indomável contestatário.

28.1.08

A CORRUPÇÃO POLÍTICA

Abrir inquéritos criminais sobre inquéritos criminais cada vez que alguém diz que "o rei vai nu", não resolve um átomo do problema. O problema, como está perfeitamente descrito numa série de posts do José Adelino Maltez, é de natureza política. A democracia, enquanto plutocracia, comporta efeitos perversos, designadamente tráficos de influência que traduzem lances de pura corrupção política. Esta precede a criminal e não tem necessariamente de coincidir com ela. Por isso, qualquer inquérito parlamentar em torno da "corrupção" será sempre retórico e o criminal, uma interminável (e tantas vezes inconclusiva) caminhada. Não mudou nada, a não ser as célebres "circunstâncias ocorrentes", nesta frase de Salazar escrita no já longínquo Como se levanta um Estado: «o plutocrata age no meio económico e no meio político usando sempre o mesmo processo: a corrupção. Estes indivíduos, a quem alguns chamam também grandes homens de negócios, vivem precisamente de três características dos nossos dias: instabilidade das condições económicas, falta de organização da economia nacional, corrupção política

O "ERRO ESTRATÉGICO"

O senhor 1º ministro esteve hoje entretido a reparar, segundo ele, um "erro estratégico". O "erro" consistiu em manter a chamada "zona ribeirinha" de Lisboa fora, em grande parte, da alçada da Câmara. Por entre efusivos abraços trocados pelos membros da nomenclatura socialista - a do governo, nas pessoas do citado e do eng.º Lino, e a da CML na pessoa do seu presidente e ex-colega dos outros dois no executivo - lá passou o inevitável "filme promocional" sob o olhar desconfiado do senhor da Administração do Porto de Lisboa. A "zona ribeirinha" é demasiado apetecível. Não há, na Europa, um estuário como o do nosso Tejo. Sabemos como a rapacidade imobiliária não possui propriamente gosto ou cor. Tem, invariavelmente, mau gosto e apenas a cor do dinheiro. Costa fica assim com uma imensa responsabilidade política na gestão da "zona". Convém, por isso, não a perder de vista, nem perder a vista sobre o rio. Os patos-bravos - novos e velhos - de certeza que vão tentar tudo para não as perder.

AUTO-RETRATO

«Eu conheço-o, tive de o afastar de responsabilidades, porque é uma pessoa que não respeita os compromissos e que só pretende estar na ribalta. Acho que as luzes, o calor dos holofotes o perturbam», eis o brilhante comentário do dr. José Miguel Júdice sobre Marinho Pinto. Serve como auto-retrato.

27.1.08

OS NOSSOS

Sócrates esteve num encontro de paróquia em Setúbal. Defendeu o "seu" Major Silva Pais das "actividades económicas", o dr. Nunes. Fica sempre bem a defesa dos nossos.

A PIOLHEIRA


Sexta-feira próxima passam cem anos sobre o regicídio. D. Carlos I regressava a Lisboa. Desembarcou, cerca das 17 horas, no Cais das Colunas, meteu-se na caleche com a Rainha e os dois filhos, seguiu para a Rua do Arsenal e, na esquina com o Terreiro do Paço, os tiros traidores acabaram praticamente com a monarquia constitucional e com o liberalismo, no sentido benigno do termo. Até hoje. Dois anos depois, o "PRP" do dr. Afonso Costa tomou de assalto o Estado e reduziu a tradição liberal a uma caricatura. Écrasez l'infâme - isto é, o "rebanho" constituído pelo "povo" que ignorava e desprezava uma República erguida, no fundamental, contra o "povo" e a igreja - foi o lema do Partido Democrático do dr. Costa durante o nefasto período em que nos pastoreou a partir de Lisboa. O Estado Novo recolheu os despojos, eliminou o pior jacobinismo, cavalgou o despeito popular do interior e da tropa contra os "progressistas" do dr. Costa, e aproveitou a sementeira anti-liberal e anti-democrática da I República para instalar a sua própria. Tecnicamente o "25 de Abril" poderia ter recuperado essa tradição liberal interrompida pelos assassinos de 1 de Fevereiro de 1908. Não conseguiu. O "reformismo" de que se reclama o actual sucessor do dr. Costa, o eng. Sócrates, esbarra com uma coisa chamada país, uma notória maçada para qualquer "iluminado". Ninguém "reforma" ninguém que não aspire a ser "reformado". Muito menos em "democracia" onde o escrutínio é, na forma, total. E, sobretudo, ninguém aceita ser "reformado" por "políticas" que não lhe foram previamente anunciadas. Banalizou-se a mentira de Estado por troca com o compromisso eleitoral. Ainda ontem Sócrates prometia água no Alentejo para os próximos mil anos tal como um antigo chanceler prometeu à Alemanha um império por outros tantos. Durou doze anos esse "império", metade dos quais enfiado numa guerra planetária. Julgo que estes cem anos devem ser estudados mais como perda do que como ganho ou "progresso". Se hoje estamos mais "modernos" e menos periféricos, não o devemos tanto à política doméstica quanto à Europa. Mesmo Cavaco, quando fez o que devia ter sido feito muito antes dos anos 80 e 90, fê-lo porque já pertencíamos à União Europeia. Sem ela, nunca teríamos passado duma razoável estância balnear. Foi uma pena ter-se sacrificado um homem bom, amante da vida, liberal e patriota, praticamente para nada.

Adenda:

«Ao ler uma passagem do post do João Gonçalves, referente à efeméride do Regicídio, fui imediatamente transportado no tempo, a um já longínquo dia 27 de Abril de 1974. Dia de aniversário da minha mãe, era sempre motivo para uma grande festa que reunia toda a família e dezenas de amigos, à boa maneira laurentina. Abriam-se as portas de casa a quem aparecesse e sendo previsível a costumeira grande afluência, a minha mãe fazia os preparativos necessários, contando com a colaboração dos três filhos, do nosso pai e de outros amigos e familiares. Contudo, nessa manhã e à revelia do que era costume fazer, o meu pai resolveu ..."ir dar uma volta com o Nuno à Baixa"... De nada serviram os protestos e no que a mim diz respeito, fiquei todo satisfeito por me furtar a uma longa manhã de assistência à cozinha. Percorremos as principais avenidas de Lourenço Marques, passando à frente de quartéis, repartições e empresas do Estado. Fomos até ao palácio da Ponta Vermelha, residência oficial do governador-geral e no regresso, contornámos a praça Mouzinho de Albuquerque, onde se situava a grandiosa Câmara Municipal. As ruas da Baixa mostravam o movimento habitual e nada denunciava que algo de transcendente se havia passado dois dias antes em Lisboa. Chegando a casa e respondendo ao olhar inquisidor da minha mãe, o meu pai disse algo que jamais esquecerei: ..."16 anos de bombas e de Afonso Costa, 48 daquilo que ainda agora acabou e vai continuar tudo na mesma!"..."Na mesma? Mas como?" e continuando, sem prestar atenção, "...vamos ser corridos daqui para fora, disso não tenho qualquer dúvida, mas dentro de dez anos, parecerá que voltámos à estaca zero"... "mas afinal o que estás para aí a dizer?"... "Pois, ninguém prestou atenção. Após tantas iniquidades, aquela bandeira continua hasteada como se nada tivesse acontecido. Os símbolos são tudo para a maioria das pessoas e parece-me que lá em Lisboa, ou são muito estúpidos, ou não querem mudar nada no essencial. Era bom que as pessoas compreendessem que abrimos uma nova página e isso eles não ousaram. Que pena!"... Na sua obra biográfica sobre o rei D. Carlos, Rui Ramos fala no desabar de um mundo, o da Monarquia Constitucional, que apesar de todas as convulsões e reinício de marcha, habituou o país à normalidade da existência de vida partidária, diversidade de opiniões, apaixonados debates sobre a coisa pública. Enfim, habituou a maioria dos portugueses a um caminho que inevitavelmente encaminharia a nossa sociedade na senda daquilo a que hoje comummente chamamos velhas democracias europeias. Dois ou três minutos bastaram para que retrocedêssemos oitenta anos, para que a História fosse reescrita ao sabor dos ventos da propaganda mais ou menos oficializada. Quem perdeu fomos todos, o país como entidade muitas vezes secular e cada um que aqui quotidianamente sacrificamos um jantar fora com amigos ou uma ida ao cinema, para estarmos diante do computador, a tentar perceber o porquê destes desesperados e pouco promissores tempos que vivemos. O meu pai tinha razão e a bandeira continua a mesma. Assim, não nos podemos queixar.»

(Nuno Castelo-Branco)

"O ASSUNTO TAMBÉM É ESTE"


1. «O Teatro de São Carlos estava cheio às 20h, no início da estreia mundial da ópera de Emmanuel Nunes. Ao intervalo, duas horas depois, as desistências eram muitas. Cerca de metade do público tinha abandonado a sala. A primeira ópera do compositor português é uma co-produção do São Carlos, da Gulbenkian, da Casa da Música e do IRCAM (instituto francês dedicado à investigação e à criação de música contemporânea). As expectativas à volta desta produção eram muitas. Encomenda ainda da direcção de Paolo Pinamonti, Das Märchen (O Conto) passou por algumas peripécias até ao dia da estreia, incluindo vários adiamentos e algumas discussões que vieram a público entre o compositor e o director do São Carlos. Lembrar este contexto e sobretudo o grande investimento institucional nesta ópera é importante para pensar o objecto estético apresentado na sexta-feira. Até porque Das Märchen pode ser vista, entre outras coisas, como uma reflexão (artística) sobre a arte e a sua autonomia. No prólogo que dá início ao espectáculo, fala-se da faculdade da "imaginação", aquela sem a qual a arte não existe. "Ela não se prende a nenhum objecto", diz o libreto. "Ela não faz quaisquer planos, não escolhe nenhum caminho", ouve-se depois. Quem escreveu estas palavras foi Goethe (1749-1832), o autor do conto original em que se baseia a ópera Das Märchen, e uma das figuras centrais do primeiro romantismo alemão. Goethe e Schiller desenharam, desde fins do século XVIII, os contornos da ideia romântica de uma arte autónoma e definiram, nesse processo, a posição do artista, as condições do "livre jogo da imaginação" e as qualidades do génio criador.Mas já não estamos no fim do século XVIII. E é natural que esta enigmática (para não dizer esotérica) ópera de Emmanuel Nunes cause alguma perplexidade. A afirmação da autonomia absoluta do artista e da sua arte independente (no modelo a que alguns chamaram "arte pela arte") em tudo é contradita pela própria natureza da produção operática, e ainda mais neste caso de Das Märchen, onde há música, dança, teatro, projecção vídeo, electrónica ao vivo, cenografia, luz, etc. Embora o nome de autor tenha o peso que se sabe, o criador de Das Märchen não é só Emmanuel Nunes. E a arte na principal sala de ópera portuguesa não está sujeita apenas ao "livre jogo da imaginação dos artistas". Depende do Estado, de patrocinadores que mexem em muito dinheiro (por exemplo o BCP) e de várias instituições culturais. Dirão que estou a fugir ao assunto. Não: o assunto também é este.»



2. «Esta obra abre novos parâmetros de autismo devido ao desfasamento total do compositor relativamente ao mundo real, o mundo do público, e à estética. A obra não é contemporânea no verdadeiro sentido, é uma obra formada de elementos oriundos dos anos cinquenta e sessenta do século XX, é uma obra sem rasgo, uma repetição sistemática de acordes e elementos seriais, uma obra sem forma, sem corpo e sem estrutura, uma obra autista e fechada, não transgressora, reaccionária. Uma desgraça que custou mais de um milhão de euros. Uma obra megalómana e mediocre que custou (entre outras coisas) o lugar a Pinamonti. Uma ofensa ao público e a quem paga impostos. Uma obra à qual se percebem os referentes, Boulez e Stockausen, mas que nem de perto se aproxima. Onde está a luminosa e genial claridade e complexidade de Licht? Onde está a qualidade da música de Boulez? Não será em "Das Märchen", uma obra condenada a cair no esquecimento, uma primeira montagem e já está, é o meu vaticínio depois de sair desta estreia. Uma obra bem inferior às do Keil e do Machado.Lamentáveis as críticas entretanto saídas nos jornais, sem se comprometerem, sem meterem as mãos na massa, são críticas empasteladas, viscosas, que serpentando quais enguias, fogem descaradamente ao assunto. Uma chega ao ponto de afirmar: "Quem escreveu estas palavras foi Goethe (1749-1832), o autor do conto original em que se baseia a ópera Das Märchen, e uma das figuras centrais do primeiro romantismo alemão" (Pedro Bolèo no "O Público"). Romantismo alemão? Goethe? Não quererá dizer antes: classicismo alemão? Por outro lado sairam da sala muito mais de metade das pessoas da assistência (número apontado pelo "O Público") que enchia o S. Carlos no início. Saíram pelo menos dois terços, com muita tolerância...»


26.1.08

DIGA LÁ OS NOMES

Como bem se recorda no Blasfémias, há no regime pessoas que podem livremente "atirar o barro à parede", com acusações genéricas e abstractas, e ninguém lhes pede "nomes" ou responsabilidades. De Marinho Pinto, e em menos de 24 horas, já exigem nomes, moradas, números de telemóvel, a sua presença no Parlamento e a resposta em inquérito. Em que é o Marinho é menos do que os outros?

O SR. TUTELA

Tomás: o ideal era ninguém morrer por causas esdrúxulas nas urgências do SNS. A SIC, contudo, não tem culpa que isso aconteça. Nem Correia de Campos. A diferença é que a SIC não tutela essas urgências e o SNS. Correia de Campos tutela, embora nem ele nem nós saibamos exactamente o quê.

UM CONTO E A REALIDADE - 2


Sobre Das Märchen e Emmanuel Nunes, ler dois posts - I e II - de Augusto M. Seabra no seu Letra de Forma. «Enquanto objecto-ópera, nos seus próprios termos programáticos, Das Märchen afigura-se-me um desastre muito para além de tudo o que se poderia recear. Não vejo “promessa” ou “aurora” alguma na obra, tão só os fogos-fátuos de uma ópera enquanto manifestação do poder.»

Adenda: "Segundo o Diário de Notícias de hoje, no Porto assistiram à transmissão 165 pessoas, em Coimbra cerca de 150, em Beja 83 e em Leiria 25. No Funchal, a lotação do Teatro Baltazar dias esgotou, mas o DN omite qual a lotação do Teatro Baltazar Dias. Ah, e que os bilhetes eram de graça", escreve o Pedro Picoito.

O NOME DA COISA - 2


O PS costumava ter um excelente "cabeça de lista" pelos Açores. Agora tem um senhor embotado e inócuo, de apelido Trindade, se não erro, que é vice-presidente da respectiva bancada. Ele e mais uns quantos "colegas" reagiram às declarações de Marinho Pinto com ampla indignação. Eu recomendava a estas "virgens" (para recorrer a um termo do próprio Marinho Pinto) a leitura de alguns livros de história de Portugal nos dois séculos pretéritos e uma ou outra conferência ou artigo de jornal do jovem lente de Coimbra, Oliveira Salazar, coisas escritas entre 1908 e 1928, editados por Manuel Braga da Cruz na Bertrand. E, depois, se conseguirem perceber o que lá vem, fechem os olhos e imaginem que aquilo tudo foi escrito ontem. Não encontram grandes diferenças.

25.1.08

AS VELHAS BENEVOLENTES

Esta gente e esta ideia da "associação república e laicidade" cumprem a preceito uma velha "máxima" do Grande Timoneiro chinês: "a política reside na ponta da espingarda". Sempre cheios de ideias, estes velhos idiotas.

MENOS UM


O sr. Prodi, uma notabilidade italiana que chefiou a Comissão Europeia antes do nosso dr. Barroso - que pouca sorte tem tido aquela Comissão -, caiu. Caiu de chefe do governo italiano, uma espécie de sopa "minestrone" em que cabe tudo e o seu contrário. Desta vez era de "esquerda" e unia gente improvável que apenas tinha como vago programa o ódio ao sr. Berlusconi. Não chegou. E não chegou porque as acusações e as contra-acusações de corrupção entre apoderados do sr. Prodi trouxeram à tona a contradição que lá estava desde o primeiro dia. Berlusconi, ex-cantor romântico em "barcos do amor", quer eleições. A vantagem da Itália sobre nós é que ninguém se leva a sério e, apesar disso, é um grande país com uma invejável cidade que resume, com sol e vida, toda a história do ocidente. De qualquer forma, sempre é menos um.

O NOME DA COISA


Segundo o novo bastonário da Ordem dos Advogados, «o fenómeno da corrupção é um dos cancros que mais ameaça a saúde do Estado de Direito em Portugal» porque «há aí uma criminalidade em Portugal muito importante, da mais nociva criminalidade para o Estado, para a sociedade» onde «alguns deles andam aí a exibir os benefícios e os lucros dessa criminalidade.» Mais. «Alguns, inclusive, ocupam cargos relevantes no Estado português», afirmou Marinho Pinto. De Espanha, Pinto Monteiro mandou abrir o habitual inquérito. E há partidos que reclamam a presença do homem para explicações no Parlamento. No seu tom peculiar, Marinho limitou-se a apontar o dedo à plutocracia em vigor - ao regime - mais conhecida pelo abastardado nome de democracia. Compete-lhe agora o ónus da prova e ao regime defender-se. Vai ser um fartote de rir.

UM CONTO E A REALIDADE


Estreia hoje a ópera - ainda encomendada por Paolo Pinamonti a Emmanuel Nunes -, baseada num escrito de Goethe, Das Märchen. A coisa dura quatro horas - 4 - e vai ser difundida, via satélite, para localidades tão ansiosas por conhecer a obra do mestre como Ponte de Lima, Vila Flor, Faro ou Aveiro. Não faço ideia quanto custa esta peripécia. Nem vou ao ponto, seguramente mesquinho e "inculto", de estabelecer uma relação entre o custo e o benefício. Que alguém beneficia com isto, de certeza. Porventura o povo que vai encher os teatros das localidades durante as intermináveis quatro horas? Talvez. Nunes? Com certeza. Vieira de Carvalho, musicólogo, doutrinador e secretário de Estado? Sem dúvida. Basta atentar na vasta publicidade paga nos jornais da qual constam conferências e "portos-de-honra", algo que faz muita falta à cultura pátria. Sei que o argumento é reaccionário e populista, mas, num país onde morrem pessoas porque caem das macas numa urgência hospitalar, a prioridade chamar-se-á Emmanuel Nunes, Porto em "honra" não sei de quem ou várias transmissões "satélite" a lembrar a nefasta "dinamização cultural" de 75?

COMUNICAÇÃO - 2

«Pedro Santana Lopes recusou a interferência de Cunha Vaz no grupo parlamentar do PSD - porque restringia "o domínio absolutamente inalienável da liberdade de cada deputado" e, em nome da "eficiência", o ia subordinar a ele mesmo à direcção do partido. No caso, a Ribau Esteves. Por uma vez, Santana não se enganou. Admitir que um "gabinete" qualquer, que ninguém elegeu e ninguém sabe donde veio, influenciasse (ou determinasse) o grupo parlamentar em troca de uns segundos de televisão e de umas linhas de jornal seria o extremo da miséria política. Não importa que um homem como Cunha Vaz compare o PSD ao Benfica. Importava, e muito, que Santana aceitasse a lógica de Cunha Vaz. Não aceitou. O "menino guerreiro" começa a crescer?»

VPV, in Público

24.1.08

REVÊ-LO A ELE

O dr. Constâncio passa a vida a "rever", em "alta" ou em "baixa", as suas magníficas previsões. Não estará na hora de, finalmente, se rever o dr. Constâncio?

A WELTANSCHAUUNG PORTUGUESA

«Falta ao país a grande política: falta-lhe uma ideia de continuidade, com ou sem a Europa, entregue a cozinheiros e copeiras, falta-lhe vibração, patriotismo e orgulho nacional; falta-lhe o sonho e o cortar amarras com tudo o que o nos trouxe a esta miserável situação de desamparo, penúria, atraso e baixar de braços. Cabia ao Presidente da República encher o coração dos portugueses, incitá-los à iniciativa, puxar as orelhas a um governo que existe mas não vive. Cavaco não o fará, pois, na lógica da banalidade em que estamos imersos, o que importa é assegurar a reeleição. Os portugueses pelam-se pela morte. O maior desejo dos portugueses é o de estarem mortos, com três palmos de terra em cima e uma jarrinha de malmequeres sobre a tumba. O resto é para Sócrates e para os políticos e as políticas de nenhures.»


O DIREITO DE ESCRUTINAR E DE CRITICAR

Este blogger, o direito a usar a própria mona, o exercício crítico, a vigilância sem tréguas da democracia contra os "democratas" estão de parabéns. O Ministério Público, através das procuradoras Cândida Almeida - a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal e que me honra com a sua amizade - e Carla Dias, arquivou a queixa do senhor 1º ministro contra o citado blogger por alegada difamação a propósito das já politicamente esquecidas habilitações académicas do secretário-geral do PS. «Quem desempenha funções de órgão de soberania sujeita-se a ver a sua actividade profissional e/ou institucional sindicada pelos cidadãos, que têm o direito de escrutinar e criticar, porque tal pertence ao núcleo do direito fundamental de expressão do pensamento.» Vejam lá se aprendem, "democratas".

Adenda: Um leitor, nos comentários, refere a ausência quase absoluta de uma referência a este assunto nos media (excepção para o Público, quanto aos outros, tv's incluídas, não sei) e, acrescento eu, nos blogues. Tem razão. Faz tudo parte da complacência com que, em geral, nós tratamos da liberdade. As pessoas só se levantam do sofá - e, mesmo assim, com esforço - para defenderem a sua pequena-burguesia de espírito e as suas vidas videirinhas. Este assunto foi submerso mais por esta complacência generalizada, fútil e cúmplice (quem diabo é o dr. Caldeira para vir interromper o curso normal das coisas?), do que pela máquina de contra-informação ao dispor de quem manda. Não é por acaso que os "anarcas" têm aquela velha máxima espalhada nas paredes: "os que obedecem mantêm os que mandam". E os portugueses - mesmo os bloggers - adoram obedecer ao primeiro cabo de esquadra que lhes aparecer pela frente.

Adenda (2): Ver os comentários do autor do Do Portugal Profundo a este post e a quem peço desculpa pelo "nome" que lhe dei (Bebiano) e que já emendei. Quanto à questão de fundo, parece-me que se trata sempre da mesma, aliás colocada por Pilatos diante de Jesus, como recentemente recordou o Santo Padre na frustrada "lição" à Sapienza, de Roma: "o que é a verdade?".

O RAPTO DA MARILU*

Com a alegria que posso ter - é cada vez menor, acreditem - reproduzo, sem lhe pedir licença, o artigo de Constança Cunha e Sá publicado hoje no Público. Precisamos de bravos como ela e não de falsos mansos complacentes como a maioria.

«Há pequenos incidentes que, na sua aparente insignificância, valem pelo mundo que revelam. Não é necessário chegar aos excessos do ministro Mário Lino, onde o advérbio francês "jamais" compete efusivamente com "desertos" a preservar a todo o custo e com a irresponsabilidade das decisões governamentais. Às vezes basta a auto-satisfação miúda com que um ministro alardeia o "pluralismo" do PS e a generosidade de um governo que se dá ao luxo de "permitir" que um militante socialista se apresente numa televisão privada a criticar as políticas apadrinhadas pelo primeiro-ministro e chefe supremo do partido. Perante um exemplo tão magnífico como este, o dr. Santos Silva não se conteve: desafiando adversários e dois ou três socialistas que primam pela ingratidão e pela excentricidade, o ministro, sempre atento a qualquer tipo de desvio na informação, pegou numa pequena entrevista na SIC-Notícias, dada por Manuel Alegre, para cúmulo, em "horário nobre" e não madrugada dentro, como seria de esperar, e fez deste simples episódio uma prova irrefutável do "pluralismo" que floresce na maioria que nos governa. Manuel Alegre? Na SIC-Notícias? Com direito a horário nobre? E, ainda por cima, a exigir a demissão do ministro da Saúde? Como se comprova pelo esfusiante arrazoado do ministro, é nestes pequenos nadas, nestes inesperados episódios que o "pluralismo" socialista se revela em todo o seu esplendor. O dr. Menezes, que preside, agora, com mestria à desagregação do PSD, devia seguir estes exemplos de democracia e de liberdade interna, em vez de andar, por aí, com o dr. Santana Lopes, a insultar os seus opositores, ameaçando-os com as próximas listas de deputados - que, ainda no último congresso, no início do descalabro, iam ser feitas pelas "bases" do partido: esse mito do aparelho que preserva os seus interesses e promove a menoridade dos seus caciques. No PS, como se depreende das declarações do ministro Santos Silva, o "pluralismo" resplandece sempre que uma voz desalinhada irrompe num canal de televisão onde, aproveitando o pequeno espaço que lhe é dado, sacode umas opiniões incómodas, perante a satisfação do Governo e a impassibilidade das sondagens. Como é óbvio, se a "prova" apresentada pelo dr. Santos Silva fosse um facto banal, como é em todas as democracias, o alarido do ministro não só não se justificava como o levava (quem sabe?) a reflectir sobre o rumo do Governo e o papel do PS. É o carácter excepcional da entrevista, a inexistência de espírito crítico num partido que, hoje em dia, se caracteriza pelo conformismo e pela unanimidade cada vez mais forçada que permite a apresentação desta "prova" como sinal de um pluralismo - que se existisse não se deixava obviamente apresentar como prova! Só o autismo de um ministro, que vive na sombra do eng. Sócrates, é capaz de transformar uma crítica interna num mero trunfo de propaganda. Porque parte de um princípio contrário a qualquer tipo de pluralismo: ou seja, que toda a crítica é inócua a partir do momento em que se considera que a única alternativa à política do eng. Sócrates é o próprio eng. Sócrates, independentemente do fracasso da sua política e das suas promessas por cumprir. Afastada, durante seis meses, da política nacional, por motivos pessoais, seguindo à distância as inúmeras celebrações do Governo, os vários "escândalos" nacionais, as desgraças da oposição, os novos fundamentalismos que, por aí pululam, as previsões económicas para 2008 e o invariável falhanço das reformas anunciadas, fui vendo como o país se fazia e refazia, diariamente, ao sabor das últimas notícias, perante a fragilidade de uma opinião pública que se indigna com facilidade e se esquece com rapidez do que é, de facto, essencial. Ao fim de pouco tempo, tudo se mistura e se esvai numa amálgama de factos nivelados pela falta de memória, donde nada sobressai: da eleição do dr. Menezes que, num momento alto de patriotismo, garantiu que só correria, em território nacional, nomeadamente na Avenida dos Aliados e na Avenida da Liberdade, ao optimismo do Governo perante o quadro desanimador da economia, da miséria das reformas ao aumento do desemprego, da Ota e do que lá se gastou inutilmente à nova polícia dos costumes, da intromissão do Estado na vida privada dos cidadãos aos negócios obscuros que, mais uma vez, serão investigados "doa a quem doer", da contínua degradação da Justiça à farsa que se vive na Educação, do referendo ao Tratado de Lisboa que não se vai fazer à amena cavaqueira sobre as promessas dos políticos que ficam por cumprir, da agonia pública do Banco Comercial Português (BCP) à sua transformação numa espécie de delegação governamental, da reacção do PSD que, em nome de uma justa repartição de lugares, exigiu que um militante seu ficasse à frente da caixa Geral de Depósitos (CGD) à vontade expressa do dr. Armando Vara querer ir para o BCP, permanecendo, ao mesmo tempo, nos quadros da CGD, ficou apenas uma impressão difusa, subjugada pelo desejo permanente de novidade e pela forma esmagadora como ela nos cai em cima. De um dia para o outro, a fragilidade do capitalismo português, a dependência dos grupos económicos do Estado, a promiscuidade entre o sector público e o sector privado e todos os grandes negócios que ficam por explicar são substituídos por umas intrigas no PSD e pelo rapto da Marilu. »

*Por Constança Cunha e Sá, editado na edição do Público de 24.1.07

23.1.08

COMUNICAÇÃO

Uma agência de comunicação, o sr. Ribau e o dr. Santana Lopes vão gerir a "comunicação" do PSD com o país, como se o PSD vendesse farturas e não necessitasse de política. Duvido que o país queira "comunicar" com esta improbilidade organizada e dirigida pelo autarca de Gaia.

A MOBILIDADE

A "mobilidade" dos funcionários públicos dá para tudo. Dá para despedir, para colocar na prateleira, para não deixar sair do lugar de origem, para deixar sair com a promessa de não regressar, para regressar, etc. etc. Um tribunal concedeu provimento a uma providência cautelar de umas dezenas de funcionários do ministério da agricultura relativamente ao acto que os colocou na situação de "mobilidade especial". Regressam, portanto, aos respectivos postos apesar de o ministro já ter anunciado que vai recorrer e que não tem funções para lhes distribuir. Isto é só política e, como tal, deve ser aceite bovinamente pelos destinatários porque o PS tem uma maioria absoluta? Ou isto é uma questão laboral que pode, se for necessário, ser discutida em tribunal? Penso que tem um pouco da primeira questão e tudo da segunda. Por exemplo, se o governo quer substituir o regime de nomeações definitivas por contratos individuais de trabalho, deve estar preparado para passar a vida nos tribunais. Na abstracta "reforma da administração pública" da campanha eleitoral de 2005 cabia, pelos vistos, tudo. Os alvos é que não sabiam. Agora vale tudo.

UM VELHO EMPORIO


Um problema de nariz e de ouvidos levou-me, a semana passada, até uma especialista. Saí de lá com uma receita que incluia comprimidos, umas gotas e um spray nasal. Os comprimidos eram para oito dias - isto é, oito comprimidos - mas vim fornecido da farmácia com uma caixa deles. As gotas, algo mais difícil de dividir, foram postas durante cinco dias e o spray só entra em uso hoje. É vulgar isto, ou seja, acumularmos caixas de trinta a sessenta comprimidos dos quais apenas nos servimos de menos de dez. De quem é a culpa? Se o "sistema" - dois, o nacional de saúde e, sobretudo, o "emporio" farmacêutico - não permite que o utente seja servido apenas com o que estritamente precisa para se curar, é porque convém ao "sistema" manter as coisas como estão. O desperdício deve, pois, ser aferido a partir do interesse da indústria farmacêutica em que ele exista e do desleixo do Estado que, paupérrimo, permite dispersar recursos que não tem para alimentar vícios alheios. O "emporio" farmacêutico já derrubou muitos governantes por este mundo de Cristo. John Le Carré até foi mais longe e ficcionou, em O Fiel Jardineiro, coisas bem piores. Só que as coisas são, afinal, o que são.

AS BENEVOLENTES - 2

«Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades. Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos
mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»



Rui Ramos, in Público

22.1.08

HEATH LEDGER (1979-2008)


Aos mortais nada é dado de graça.

DOIS ANOS COM CAVACO


Mário Soares escreve agora no Diário de Notícias. No artigo desta semana começa por lamber as botas ao governo - mais exactamente a Sócrates e a Zapatero a propósito de uma cimeira "histórica" em Braga que só deve ser histórica na cabeça do dr. Soares - e acaba numa zurzidela mais oportuna na ASAE. Não vale, contudo, o link. Há dois anos o dr. Soares foi impiedosamente derrotado nas urnas por Cavaco Silva, primeiro, e por Manuel Alegre, depois. Parece que Soares e Sócrates se dão muito bem o que, na linguagem em vigor no PS, significa que Sócrates o tem controlado. E isso, paradoxalmente, dá jeito a Soares para se manter à tona e escrever inocuidades no DN. No meio destes salamaleques entre "camaradas", Cavaco é o Chefe do Estado. All in all, um bom Presidente. Um homem equilibrado, preparado, sem a ambição de escrever a "sua" história, seguramente o melhor conselheiro que Sócrates podia arranjar. Cavaco "corrige" o pior de Sócrates, sendo certo que o mau dele já é suficientemente mau. No dia em que esse pior se sobrepuser sobre tudo o mais, Cavaco será inevitavelmente "outro" Presidente. Tão bom ou melhor do que tem sido até hoje e "aliviado" da "socratite" aguda do primeiro mandato.

CAOS


«Tudo debaixo dos céus está num caos total, a situação é excelente», dizia o Grande Timoneiro. Qualquer dia já não chega andar a correr por aí, a exibir saúde.

ESPAÇOS VITAIS - 3

Havia, na "corte" de Estaline, um famoso elemento que era conhecido entre os seus como o "cu de ferro". A designação devia-se aparentemente à sua extraordinária capacidade de trabalho. À secretária. O dr. George, da DGS, e salvo o devido respeito, faz de "cu de ferro" da brigada saudável. Basta atentar no extraordinário vocabulário legislativo - comunitário e nacional - que usa. Não há cu que aguente.

21.1.08

ESPAÇOS VITAIS - 2

A lei do tabaco não se aplica aos casinos, mas o dr. Assis Ferreira, do Casino Estoril, vai fazer uma "adaptação" a bem da nação. Dele, naturalmente, e do seu Casino. O dr. Ferreira é mais uma instituição regimental, amigo de muita gente que pastoreia, há anos, no regime, independentemente do partido que manda. O dr. Ferreira, ancorado em "pareceres" de eminências como o prof. Freitas do Amaral e nos seus diversos amigos, decide qual é a lei que se aplica no seu Casino e qual o modo de a aplicar. O dr. Ferreira, no fundo, faz lei por conta da cigarrilha mais famosa de 2008. O dr. Ferreira, afinal, é que sabe.

ESPAÇOS VITAIS


O mais assustador no argumentário do dr. Constantin, do dr. George e do senhor da ASAE (um "modelo" de regulamento ambulante), no Prós e Contras da dra. Fátima, é o ar cândido com que o defendem. O "Lebensraum", afinal, não é um exclusivo dos defensores da supremacia racial. Há democratas que apreciam gerir o nosso "espaço vital" de acordo com as suas convicções "saudáveis", porventura para prolongar a "utilidade social" do corpo humano. O que é, aliás, compatível com o aumento do tempo útil de trabalho previsto pelas "modernas" reformas da segurança social com paragem definitiva praticamente à beira do crematório. Como diria o outro, isto está tudo ligado. E é perigoso.

COM ESPÍRITO LIVRE E RESPONSÁVEL

«All'ambiente universitario, che per lunghi anni è stato il mio mondo, mi legano l'amore per la ricerca della verità, per il confronto, per il dialogo franco e rispettoso delle reciproche posizioni. Tutto ciò è anche missione della Chiesa, impegnata a seguire fedelmente Gesù, Maestro di vita, di verità e di amore. Come professore, per così dire, emerito che ha incontrato tanti studenti nella sua vita, vi incoraggio tutti, cari universitari, ad essere sempre rispettosi delle opinioni altrui e a ricercare, con spirito libero e responsabile, la verità e il bene


Bento XVI, Praça de São Pedro, 20 de Janeiro de 2008, acerca do "incidente" Sapienza

INTRIGA EM FAMÍLIA*

O Filipe, num comentário algures, imagina que aqui se segue o princípio de "quem não malha no que eu malho não é bom pai de família". Prefiro ver a coisa ao contrário. Não entendo como é que bloggers como o Filipe defendem - subtilmente, é certo - o "Zeitgeist" (penso que está bem escrito, "anónimo" que me corrige e a quem agradeço; o resto é conversa de chacha), sobretudo coisas que revelam o bem pouco saudável em que esse "Geist" se está a tornar, mesmo sob a fachada formal da democracia, cada vez mais formal, cada vez menos democracia. À grega. E ser saudável não é necessariamente - ou sobretudo - ser asséptico. E a assépticos, de facto, não perdoo porque eles também não me perdoam se puderem. Dito isto, com o Paulo Gorjão, pelas 21.15 e aqui, talvez se fale disto em directo.


* Título de um livro de Eduardo Pitta, da Quasi.

20.1.08

UM PAÍS INVEROSÍMIL

O senhor general Carvalho que, aparentemente, vela pela nossa segurança, não acha "verosémel" (sic) um atentado entre nós. Parece que andam atrás de uns paquistaneses quaisquer com receio de um atentado. Se houvesse um atentado terrorista em Portugal, isso seria o sinal que já não havia mais mundo à volta para destruir. Por isso entendo o "verosémel" do senhor general. Ninguém - nem mesmo terroristas - perde tempo com países inverosímeis.

O PRINCÍPIO DE PETER MENEZES

«Em Setembro, Luís Filipe Menezes ganhou a presidência do PSD. Já é hoje mais do que evidente que subiu muito acima do seu lugar na vida e que o PSD, se ainda lhe resta algum vestígio de realismo e sensatez, precisa urgentemente de o devolver a Gaia. O tubarão, a Quadratura do Círculo e o jogging nacionalista em Lisboa e no Porto não são lapsos sem consequência. São o produto espontâneo de um cérebro desorganizado e pueril: amanhã Menezes dirá pior e fará pior. Exactamente, como a política errática do partido (da reviravolta da Ota e do referendo à proposta de partilha da banca e obras públicas com o PS) não é um acidente. É um sintoma de vacuidade, desorientação e oportunismo - que não abrandam, nem se curam. Parece que Menezes controla o aparelho. Controle ou não, com ele o PSD não pode pedir ao país que vote nele. Qualquer militante, que pense um minuto seriamente, percebe que sim.»

Vasco Pulido Valente, in Público

GÖTTERDAMERUNG?


A "General Motors" vai despedir 46 mil trabalhadores. Outras grandes empresas multinacionais, produtoras das mais diversas coisas (estou a lembra-me da EMI), fazem o mesmo ou farão durante o corrente ano. A Alemanha tem uma taxa de desemprego superior à que tinha quando emergiu o III Reich. Os EUA e a sua crise no mercado imobiliário não ajudaram a economia mundial a "progredir". Pelo contrário, ferraram-lhe uma valente galheta. O petróleo, é o que se sabe. Algo anda podre no reino das nossas ocidentais democracias. Ainda ninguém se lembrou de começar a pedir um "erwache Deutschland" ou um "acorda" noutro país qualquer. Todavia, quando as coisas descerem da pele ao osso - e já faltou mais - quem é que se vai levantar para defender a decadência, o outro nome desta "democracia"?

AMORES DE ESTIMAÇÃO

Juro que não estou a "meter-me" consigo, Eduardo. Mas ao vê-lo colocar no seu "livro do domingo" uma revista dedicada ao bardo Manuel Gusmão, por um lado, e citar o Rui Bebiano, por outro, não posso deixar de recomendar-lhe, deste último, este post sobre o primeiro. Que raio, Eduardo, depois de Sócrates e da ASAE, não arranja melhores "amores de estimação"?

A PEQUENA MARILUZ

Depois da "pequena Maddie", cuja telenovela não cessa, há agora uma "Mariluz", espanhola de etnia cigana. Quero ver o que é que os mesmos e indignados meios caucasianos postos ao dispor do improvável casal MacCann vão fazer com o desaparecimento desta menina, tão "pequena Maddie" com a própria.

19.1.08

O "ALOJAMENTO LOCAL"


Na sua incessante fúria "reguladora" e "regulamentadora", o governo vai acabar com as pensões, motéis e quejandos para os transformar nuns insossos "alojamentos locais". As pensões e os motéis são lugares indispensáveis ao equilíbrio social. Porventura como fumar, para quem fuma. São locais onde se pode fugir por instantes às conveniências sociais e sexuais, pequenos e furtivos espaços onde os amantes sem abrigo constroem, em minutos, um paraíso à medida do tempo disponível. São espaços sem a fartura ou o fausto indiscretos de um hotel nos quais se pode apaixonadamente "comerciar" um amor qualquer sem compromissos e um compromisso qualquer sem amor. O governo do eng. Sócrates prefere "a vírgula maníaca/ do modo funcionário de viver", o "dia sórdido/canino/policial, o "dia que não vem da promessa/ puríssima da madrugada/ mas da miséria de uma noite gerada/ por um dia igual." O governo teme a "cidade aventureira", a "cidade onde o amor encontra as suas ruas/ e o cemitério ardente/ da sua morte." O governo gere, com método e a aprovação de meia dúzia de zelotas, toda esta "roda de náusea em que giramos/até à idiotia/esta pequena morte/e o seu minucioso e porco ritual/esta nossa razão absurda de ser."

(Nota: os extractos são do poema "Um Adeus Português" de Alexandre O'Neill.)

O DR. NUNES


Em Abril de 1962, o Doutor Salazar foi buscar o Major Silva Pais às "actividades económicas" e colocou-o à frente da PIDE. Ainda lá estava quando a coisa acabou, melancolicamente, em Abril de 74. O dr. Vara, antes de ser "dr.", foi buscar o dr. António Nunes a um lado qualquer e fê-lo membro do seu gabinete no primeiro governo de Guterres. Daí o dr. Nunes passou para cargos de direcção na administração pública - nos bombeiros e como director-geral de viação, por exemplo - dos quais a "direita", no seu derradeiro e curto interregno governativo, não o removeu. Agora o dr. Nunes é o "patrão" da polícia mais poderosa do regime, a ASAE. O ministro que o tutela, Manuel Pinho, pediu-lhe para ser "mais discreto". Não passa pela pobre cabeça de Pinho que, muito antes de ele aparecer, o dr. António Nunes já andava por aí. Com maior ou menor "discrição", uma coisa é certa. Imagino que ao longo dos anos o dr. Nunes tenha "armazenado" informação das mais diversas proveniências que lhe deve ser da maior utilidade nas presentes funções. Não é impunemente que se fuma uma cigarrilha em público, num local fechado, quando a sua polícia já possuia todas a prerrogativas para exigir a aplicação de uma lei entrada em vigor há apenas uma hora e meia. O dr. Nunes ficará para além de Pinho. Tão certo como o Major Silva Pais ter sobrevivido ao homem que o foi recolher ao anonimato administrativo onde vegetava.

POLÉMICA - 2

Até agora, Augusto M. Seabra UM, Eduardo Pitta ZERO.

O DR. CAMPOS

Correia de Campos é uma espécie de "ponte de Entre-os-Rios" deste governo. A diferença fundamental - e que pode impedir a tragédia - é que ele ainda está a tempo de fechar para obras ou de remoção total.

18.1.08

AS BENEVOLENTES

«A intolerância aumenta; governa a religião, a saúde, a ética sexual (só uma é aceitável) e, contra toda a inteligência e toda lógica, começa a ressuscitar o nacionalismo. Na Bélgica, em Espanha, na Itália (embora moderadamente), a exclusividade regional reaparece, com um ódio hesitante mas profundo. A "Europa", afinal, não juntou, separou. Por um lado, em Bruxelas, para as pessoas se entenderem, falam inglês. Por outro, na Catalunha ou no País Basco, há quem se queira afastar ou isolar do mundo mais próximo. A fragmentação cultural do Ocidente não trouxe a ninguém autonomia e poder de escolha. Trouxe, e continua a trazer, fanatismos de vária ordem, que pretendem reger, "regularizar" e limitar o comportamento do cidadão comum. A liberdade vai morrendo. »


Vasco Pulido Valente in Público

17.1.08

O MOVIMENTO


O que estava a fazer mais falta ao PSD, neste momento, era um "movimento" de "mulheres sociais-democratas". Pois o dr. Menezes teve a brilhante ideia de o criar, não se imagina bem para quê. Agremiações folclóricas dentro dos partidos - as juventudes, os trabalhadores, as mulheres, os gays, os hetero, os funcionários públicos, etc., etc. - são redundâncias, por um lado, e escolas de malandragem, por outro. Não contribuem em nada para promover os partidos e só servem para os caciques habituais se promoverem, servindo-se delas. Coitado do dr. Menezes.

OS NOVOS FASCISTAS

Sobre os "intelectuais" da Sapienza de Roma - cavalgaduras encarnadas em alunos e professores -, José Manuel Fernandes, no Público, diz o essencial. É destes filhos da puta "progressistas" que devemos ter receio. Eles são verdadeiramente os novos fascistas.


«O tempo dá por vezes razão aos que parecem não a ter mais depressa do que os próprios se atreveriam a esperar. Há uma semana, nas páginas do PÚBLICO, Rui Tavares atacava Vasco Pulido Valente por este ter sugerido, na sua expressão, que "a Igreja é capaz de ter de viver novos tempos de clandestinidade". O que era obviamente ridículo. E impensável. Nem uma semana passou sobre esse texto e acabamos de assistir não à "passagem à clandestinidade", mas a algo igualmente impensável: em Roma, na sua prestigiosa Universidade, crismada "La Sapienza" (A Sabedoria), um grupo de professores mobilizou um protesto que conseguiu levar o Papa Bento XVI a declinar o convite para falar na sessão inaugural do ano lectivo. Porquê? Porque consideraram que o convite a um dos grandes intelectuais europeus da actualidade - uma qualidade que só por cegueira se pode negar ao antigo cardeal Ratzinger - era "incongruente" com a laicidade da universidade. Ou seja, um cidadão de Roma e do mundo, um bispo que se distinguir como académico, viu serem-lhe barradas as portas do que devia ser um templo da ciência em nome de um princípio sectário e de um preconceito que levou um grupo de cientistas a deturparem o que tinha dito num passado já longínquo. Na sua arrogância consideraram mesmo o homem que manteve uma polémica aberta e elevada com Habermas como sendo "intelectualmente inconsistente". Ernesto Galli della Loggia, editorialista do Corriere de la Sera, ele mesmo um defensor dos princípios da laicidade, escrevia ontem que o gesto dos professores, poucos mas com responsabilidades, traduzia "uma laicidade oportunista, alimentada por um cientismo patético, arrogante na sua radicalidade cega". Uma laicidade que não hesitou em seguir o mesmo caminho dos islamitas radicais que tresleram o famoso discurso de Ratisbona, deturpando-o e descontextualizando-o, para atacarem Bento XVI. E Giorgio Israel, um professor de História da Matemática que se distanciou dos seus colegas, explicou que estes tinham construído o seu caso a partir de "estilhaços de um discurso" realizado pelo então cardeal Ratzinger em Parma há 18 anos. O processo foi muito semelhante ao de Ratisbona: em vez de notarem que o Papa citava outrem para a seguir marcar as suas distâncias, pegaram nas palavras do autor citado - em Parma o filósofo das ciências Paul K. Feyerabend - para, atribuindo-as a Bento XVI, considerarem que este dava razão à Igreja na sua querela com Galileu. O sentido do discurso de Parma, prosseguia o mesmo Giorgio Israel, era exactamente o contrário da caricatura que esteve na origem do protesto: afirmar que "a fé não cresce a partir do ressentimento e da recusa da modernidade".Mas que universidade é esta, que cidade é esta, que Europa é esta, que fecha as portas a alguém como Bento XVI, para mais com base numa manipulação? Não é seguramente a que celebra não apenas a tolerância, mas a divergência, a discussão em busca da verdade. E que por isso não aceitou sequer ouvir o que o bispo de Roma lhe tinha para dizer. E que já sabemos o que era, pois o Vaticano já divulgou o discurso. Como este Papa nos tem habituado, era, é, um grande texto, uma extraordinária aula onde o teólogo e o professor, unidos num só, discorrem sobre o papel da Igreja e o da universidade, que, "na sua liberdade face a qualquer autoridade política e eclesiástica, encontra a sua vocação particular, essencial para a sociedade moderna", a qual necessita de instituições autónomas de interesses ou lealdades particulares, antes dedicadas à "busca da verdade". Evoluindo entre referências modernas (John Rawls e Habermas) e clássicas (com destaque para o "pouco devoto" Sócrates, que elogia e defende), socorrendo-se de Santo Agostinho e S. Tomas de Aquino, Bento XVI escreveu um texto que, devemos admiti-lo, seria uma afronta para os seus detractores. Por possuir a abertura e a universalidade que são o oposto do seu sectarismo anticlerical. Por defender que "o perigo do mundo ocidental é que o homem, obcecado pela grandeza do seu saber e do seu poder, esqueça o problema da verdade. E isto significa que a razão, no fim do dia, acabará por se vergar às pressões dos interesses e do utilitarismo, perdendo a capacidade de reconhecer a verdade como critério único". E alcançar a verdade implica questionar - mas não ignorar - as certezas de hoje. E um Papa, na universidade, não vem para "impor a fé de cima, pois esta é antes do mais um dom da liberdade". No tribunal de "La Sapienza" foi um Papa que quiseram colocar no lugar de Galileu, e foram cientistas que fizaram o papel do acusador de então, o cardeal Roberto Bellarmino, porventura mostrando ainda menos compaixão. Mas nisso, infelizmente, não andam sozinhos. Já repararam como, entre nós, vai por aí um debate sobre Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente terem chamado "fascista" a Sócrates, o que nenhum deles chamou. Como, de resto, nem o próprio António Barreto chamou, pois o seu raciocínio completo é: "Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições." Como é mais sexy discutir o "fascismo", ilude-se o que o próprio autor considera ser "o importante" - o que é mais depressa chicana política do que debate intelectual, perdoe-se esta franqueza, que só pode ser tomada pelo que é: um desafio a recusar o mau exemplo de "La Sapienza".»

16.1.08

O IMPERATIVO CATEGÓRICO DA REALIDADE

«Sócrates deve estar feliz, conseguiu uma brutal alteração da distribuição dos rendimentos em favor dos mais ricos na esperança de daí vir crescimento económico e não só não teve que enfrentar grandes perturbações sociais como ainda se diz de esquerda e defensor de um estado social que só ele imagina. Sócrates continua a acreditar que um país de pobres é a fórmula adequada para que o país venha a ser mais rico, pouco se preocupando com o facto de a riqueza assim conseguida ser apenas de alguns.»

in O Jumento

O IMPERATIVO CATEGÓRICO DA ESQUERDA MODERNA

Alguns bloggers da "esquerda moderna" - uns modernaços, na verdade - decidiram criar uma espécie de "cadeia da sorte anti-fascista" porque parece que há gente preocupada em saber se Sócrates é ou não é fascista, se a proibição de fumar em certos sítios releva de uma atitude "nazi" ou se o dr. Nunes da ASAE é a versão James Bond do Major Silva Pais. Eles gozam com isso e, à boa e respeitadora maneira, denunciam os prevaricadores. Já que gostam tanto "disto", os referidos bloggers fariam melhor em esclarecer os seus leitores acerca da "ideologia" do regime e, em particular, do "querido líder" em vez de andarem a catar adjectivação sem qualquer tipo de importância semântica ou outra. Não há, no activo do regime, ninguém com categoria político-intelectual para ser tão veementemente catalogado disto ou daquilo. É que "isto" - esta choldra - nem sequer de fascismo pode ser apelidado. Se não percebem esta evidência, metam urgentemente explicador.

OU...

O OXIMORO DE MENEZES

Dei-me conta que o dr. Menezes, à semelhança do que tinha feito em relação às "trocas baldrocas" partidárias entre a CGD e o BCP, também acha que o PSD deve ter comentadores "oficiais" nas tv's, assim como o PS. Até sugeriu o autarca de Ílhavo e o dr. Seguro do PS, duas manifestas "esperanças" da democracia. O dr. Menezes - e os seus congéneres de outros partidos, todos filhos dilectos da plutocracia em vigor - entende que tudo é partidarizável e, de preferência, repartido à milésima entre o PS e o PSD. Ao mesmo tempo que dizia isto, também reclamava o fim da "pactologia" central para afimar o seu PSD "fracturante". O oximoro do dr. Menezes é apenas mais uma pedra que ele coloca no bolso do casaco para mais depressa ir ao fundo.

15.1.08

UMA DEMOCRACIA ALBANESA - 2

Já o senhor comendador, um caricaturista do regime, não foi eleito. Os poderosos do regime, ancorados na promiscuidade entre política e gestão, não apreciam estranhos. Mesmo cheios de dinheiro. E que sabem muita coisa.

UMA DEMOCRACIA ALBANESA

O dr. Santos Ferreira e o dr. Vara foram eleitos por cerca de 98% do votos dos accionistas do BCP. A democracia portuguesa está cada vez mais albanesa. Até na famosa "sociedade civil".

OS BRAVOS DO OESTE

Os "autarcas do oeste" - que extraordinário qualificativo... - vieram a Lisboa fazer queixinhas a Sócrates e, bem mais importante, estender a mão à caridade do estado central. Isto porque o aeroporto não aterrou na Ota. O aeroporto é chamado de "internacional de Lisboa". Deve ser por alguma razão. Se cada vez que algum frustrado nos seus interesses fizesse o que estes destemidos do oeste fizeram, o dr. Teixeira dos Santos jamais poderia baixar os impostos. Venham os seguintes.

POLÉMICA


Para sairmos da trivialidade em vigor - Sócrates, Menezes, BCP, bola, etc., etc. - tinha a sua graça ver desenvolvida, na bloga, uma qualquer polémica. A presença do Augusto "entre nós" é um excelente ponto de partida. Por que não explorar isto e isto que já pressinto como uma "indirecta" do segundo blogger ao primeiro? E não, Eduardo, não vá por essa facilidade do "assassinato de carácter". Deixe florescer o "Dr. House" que habita em cada um de nós.

RODAR E ENROLAR


Deve ter sido hoje a primeira vez que o dr. Menezes percebeu a gravidade do (seu) problema. Com o problema dele o país pode bem. O que o país não pode continuar é entregue ao sisudo secretário-geral do PS até à eternidade e nada, nada, repito, no dr. Menezes - bem pelo contrário - prenuncia outras venturas. Em certo sentido, o dr. Menezes e os seus sequazes são o problema. Sócrates pode quebrar vagamente mas será sempre às suas próprias mãos, graças à sua nefasta idiossincrasia e ao deserto que deixa florescer à sua volta. Com os portugueses pouco se pode contar porque o medo pode mais que o pensamento. Sócrates é o homem ideal para governar tontos alternados com rebanhos de alienados que é o que a maioria da nossa cidadania é. Menezes oscila entre estas duas maldições - o pastor e o seu rebanho - razão pela qual ninguém o ouve. "O PSD tem que saber o que quer, para onde quer ir e com quem", asseverou Menezes em Vilamoura. Sim senhor. Está a pensar nisso e no simpático Simpson de Ílhavo? Ou no poeta algarvio Botas? Ou no politicamente nulo Gomes da Silva? Menezes serve para "enrolar" e não para romper. E o PSD só foi grande quando rompeu. Quando rompeu com a pusilanimidade do Estado e da revolução, com Sá Carneiro. Quando rompeu com a macieza insolente do bloco central de Soares e com a ambiguidade de Balsemão, com Cavaco. O resto veio parar-lhe ao colo, com Barroso e Lopes. Esperar por milagres não chega. Até pode ser que, a haver um, seja Menezes quem lá esteja para carregar o andor. Duvido porque o país também duvida, mesmo anestesiado. Apesar de não ser já tecnicamente necessário, é preciso que um carro qualquer seja rodado. Não se sabe onde, quando e por quem. Mas que tem de ser, tem.

14.1.08

BOM PROVEITO


Amanhã o país opinativo estará vidrado na telenovela mexicana do BCP. Sem graça e com um final amplamente conhecido porque previamente decidido, o BCP vai seguir o seu caminho com uma ajuda angolana, uma coisa que está muito na moda. Quem não tem negócios com Angola não é bom português e democrata, parece ser o nova versão do "para Angola, já e em força". O PS - que está comprometido nesta bravata até ao pescoço -, pela voz do dr. Santos Silva, atreveu-se a atacar o pobre PSD em vigor para defender o Tutankamon do dr. Constâncio. Não havia necessidade. O regime segue assim para bingo, devidamente entranhado no sistema financeiro e vice-versa. Chávez, ao contrário do que parece, tem muito a aprender connosco. Bom proveito.

13.1.08

THE F WORD


A púdica RTP colocou um apito no lugar do termo "fodidos" utilizado pelo sr. Camacho, referindo-se a um estado de alma a que os seus jogadores teriam direito. Se nós estamos, por que é que os pobres futebolistas do Benfica não hão-de poder estar?

EU GOSTO MUITO DO MEU PRESIDENTE DA JUNTA

Não sabia que o Filipe também gostava. O cérebro humano está sempre a surpreender-nos. É, de facto, o poder de nomear sem necessidade de Foucault.

SÓCRATES NO SEU PORTUGAL DOS PEQUENINOS

«O país cai, o pessimismo dos portugueses cresce e a economia está praticamente em coma. O ano de 2008 vai ser mau e, provavelmente, péssimo. O cidadão comum sabe que depende do preço do petróleo e do que suceder na América e em Espanha. A insegurança é grande. O que, em princípio, prejudicaria Sócrates. Mas não. Sócrates vive da insegurança. Cada vez que lhe chamam autoritário, cada vez que (justamente) o acusam de pôr em perigo a democracia e a liberdade, os portugueses, como de costume, agradecem a existência providencial de um polícia. Um polícia que manda e que proíbe; e que fala pouco. Não querem a barafunda por cima da miséria; e preferem a miséria à barafunda. Num mundo instável e confuso, Sócrates sossega. O resto é acessório.»

Vasco Pulido Valente, in Público

«NÃO APRENDEM»

«Neste exercício de garantir o que não é evidente para ninguém e de negar o que disse e prometeu, Sócrates foi absolutamente excelente. Revelou a convicção de um vendedor de persianas. Portou-se com a inocência de um escuteiro. Sócrates está convencido de que pode vender o que quiser a quem quer que seja. Basta ele falar, controlar a informação, negar a evidência, garantir as suas certezas e elogiar o produto! Como os governantes não mudam de estilo nem de sistema, a não ser que a isso sejam forçados, já não vale a pena esperar pelos efeitos correctores desta semana nos seus comportamentos. Mas a população assistiu. Viu. Pôde tirar conclusões. Se, como os animais, os homens aprendessem com a experiência, esta semana teria sido gloriosa. Ficaria na história como um dos momentos altos de aprendizagem da arte de ser governado. Perder-se-ia rapidamente a confiança em Sócrates. Este Governo teria o desfavor público. A competência técnica, a seriedade e as promessas do Governo passariam a ser motivo de gargalhada e desprezo. Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem.»

António Barreto, in Público

A CAPOEIRA


«A geração dos gigantes e dos heróis passou à história. O mundo, sem eles, pertence ao homem-massa, ávido de glória remunerada e do reconhecimento no novo Gotha da plebe que é o Guinness. O risco pelo risco não eleva ninguém; antes rebaixa. Os "desportos radicais" são, neste particular, a maior abjecção do heroísmo, pois o herói não procura a morte, enfrenta-a e vence-a quando inopinadamente esta lhe surge no caminho. O mundo tornou-se, decididamente, numa enorme capoeira.»

Miguel Castelo-Branco, in Combustões

12.1.08

A LISTA DOURADA


Nem uma tasca, Eduardo, consta da sua listinha modesta. Modesta nos preços, evidentemente. Não é caso para perguntar em que restaurante o Eduardo come, mas antes em que país é que vive.

CAMINHAR PARA O FIM



«MUSIC: Strauss's Four Last Songs. For the profundity that is achieved not by complexity but by clarity and simplicity. For the purity of the sentiment about death and parting and loss. For the long melodic line spinning out and the female voice soaring and soaring. For the repose and composure and gracefulness and the intense beauty of the soaring. For the ways one is drawn into the tremendous arc of heartbreak. The composer drops all masks and, at the age of eighty-two, stands before you naked. And you dissolve.»

Philip Roth, Exit Ghost, 2007 (Video: Leontyne Price, Im Abendrot, Vier Letzte Lieder, de Richard Strauss)

NO SOLAR


Uma noite destas, no "Solar dos Presuntos", em Lisboa, jantavam dois antigos alunos da defunta Independente e um ex-quadro da Carris. Têm em comum serem os três do PS, embora exerçam funções muito diversas. O ex-quadro da Carris é agora "consultor" e comenta o país num programa que passa às quartas-feiras à noite na Sic-Notícias. Também é "senador", no Correio da Manhã, onde partilha "correio" com um "senador" de outro partido. Os dois ex-alunos da Independente também não estão mal. Um, tinha acabado de impedir o país de referendar o "tratado de Lisboa" em nome da "ética da responsabilidade". O outro, vai com o dr. Santos Ferreira para a administração do BCP depois da "experiência" adquirida na CGD onde o colega universitário o tinha colocado há dois anos. Com os votos do banco do sr. Ulrich e de outras criaturas institucionais, "contados" em alguns jornais, o dr. Santos Ferreira deverá ser o próximo presidente executivo do BCP. Até lá, Cadilhe fará o seu "número" e, tanto quanto puder ser fiel a si próprio, será implacável. O regime está, uma vez mais, de parabéns. O "Solar" é um restaurante tão bom como outro qualquer para comemorar. E, com um bocadinho de sorte, talvez deixem fumar.

11.1.08

O AVALIADOR DO REGIME

Não haverá mais ninguém no país para fazer isto senão o eterno dr. Carneiro?

A RAPAZIADA

Da "cooperação estratégica" ao "perito a confessar enganos históricos anos mais tarde" , dois posts de Medeiros Ferreira para os adeptos do consenso regimental em matérias, dizem eles, "de Estado". E afirmam-no - isso é que é grave, patológico e perigoso - sem se rirem.

10.1.08

O INTÉRPRETE AUTÊNTICO

Na conferência de imprensa sobre o novo aeroporto internacional de Lisboa (nem uma palavra sobre a Portela), Sócrates definiu para a posteridade o que é que Lino quis dizer com o famoso "jamais" num almoço-debate em tempos não muito recuados. Lino escutou em silêncio, com cara de personagem de Gil Vicente, e foi mandado aos telejornais explicar-se em directo e em diferido. O 1º ministro é quem prodigaliza a interpretação autêntica das palavras dos ministros - à falta de realizar a sua - e à míngua de Menezes conseguir interpretar o que quer que seja. O PS não tem sorte com rios, pontes e aeroportos. Guterres começou a cair quando, tragicamente, ruiu uma ponte. Sócrates dá sinais de confusão no momento do anúncio de um aeroporto e da construção de mais uma ponte. E a estação do metro do Terreiro de Paço cheira demasiado a maresia. Qualquer coisa está a meter água. Imprevista, mas água.

A "ÉTICA DA RESPONSABILIDADE"


Depois desta decisão, o que é que este homem continua a fazer no governo? A "ética da responsabilidade" só serve para evitar referendos? Jamais, lembram-se? Jamais...

A CARLA DELE



Mitterrand não gostava de homens sem segredos. Construiu uma carreira presidencial monárquica, de catorze anos, omitindo, quase até ao fim, como verdadeiros "segredos de Estado", uma filha "ilegítima", várias amantes e ligações de profunda amizade com antigos colaboracionistas. Nem por isso Mitterrand deixou de ser o monarca republicano que foi. Sarkozy é o oposto disto. Aprecia requintadamente a vulgaridade. Sabe que gerir uma nação, nestes tempos presentes, exige a exibição das mistificações e das fraquezas, e não a sua ocultação. A sociedade de hoje vive bem sem a "política", ao contrário de Mitterrand que, mesmo entre portas, só fazia política. Por isso a forma de Sarkozy se mostrar ao mundo é necessariamente diferente da do seu ilustre antecessor. Ninguém se escandaliza por o chefe de Estado da França ter trocado de mulher em seis meses, optando por uma ersatz da primeira, devidamente revista, correcta e aumentada. Bruni, antes de Sarkozy, já tinha tirado o fôlego a eminências tão diversas como Jagger ou Bernard Henri-Lévy que não conseguiu escrever uma linha enquanto namorou com a cantora. Provavelmente Bruni fará a Sarkozy o mesmo que fez aos outros o que apenas acelerará a habitual agitação do presidente. Pendant que ça dure...

PRIMEIROS E SEGUNDOS

O dr. Menezes, presidente da Câmara de Gaia e, consta, líder do PSD, ficou contente como uma criança que já sabe contar até dez por ter sido "primeiros" a defender a bosta da ratificação parlamentar do "tratado de Lisboa". "Vocês foram segundos", disse o ladino autarca para murmurar qualquer coisa ao PS. Não tratem dele a tempo, não.

LICENÇA PARA MANDAR

Vara pediu à nova da administração da CGD uma licença sem vencimento para poder ir para o BCP, caso a lista do dr. Santos Ferreira, onde ele é segundo, "passe". Vara é - independentemente de todas as circunstâncias ocorrentes, para utilizar um termo caro ao Doutor Salazar - funcionário da Caixa desde os tempos do balcão de Mogadouro, altura em que era apenas o senhor Vara. Ou seja, por aqui não vale a pena "bater-lhe". A questão é sempre a outra que é a mesma, como diria Séneca.

9.1.08

DA ÉTICA E DO SEU DESCALABRO


Sócrates invocou uma "ética da responsabilidade" para se baldar ao referendo. Contudo, esta nova "ética" tem rostos e nomes, os colegas dele que mandam efectivamente na Europa. Até um esloveno recém-nascido lhe recordou que é dispensável ouvir os "povos" europeus, insensíveis à subtileza tratadística dos líderes. Quer dizer: não é bem ética. É mais o descalabro dela.