Boa ideia a de acabar com o feriado do 5 de Outubro. Para que é que se há-de continuar a consagrar uma ditadura urbano-depressiva que teve de esperar para ser derrubada por outra?
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
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28.11.11
7.10.11
O SENHOR DO LADO É QUE DEVE PAGAR A CONTA
«A pindérica festarola do "5 de Outubro", a que ninguém ligou, só serviu para António Costa exibir a sua costela socialista e a ideia eminentemente indígena de que o senhor do lado é que deve pagar a conta. O dr. Costa quer uma estratégia para o "desenvolvimento" , como toda a gente, e não quer "cortes", e menos "cortes cegos", na educação, que ele, como toda a gente, considera a grande esperança no renascimento da Pátria. "Cortar" na educação seria "cortar" no "essencial". Como não seria, imagina com certeza o basbaque, "cortar" na saúde ou na segurança social - que o dr. Costa, num tropo obrigado, se dignou a explicar que, mesmo assim, se não deviam confundir com uma "caridade anacrónica" ou com um "assistencialismo serôdio". Ficámos cientes. Ficámos principalmente cientes que os nossos políticos se poderiam com vantagem substituir por um realejo.»
Vasco Pulido Valente, Público
5.10.11
A MENINA DO 5 DE OUTUBRO
A "novidade" do 5 de Outubro na Câmara de Lisboa foi uma menina de dezassete anos, vinda da Maia, que perorou sobre a História. Tudo o que disse resultou da vulgata que lhe ensinaram no básico e secundário a propósito da "revolução" e dos seus "heróis" a quem ela apodou de "intelectuais". Uma vulgata que inclui as inevitáveis tiradas sobre a liberdade e a escola, o "progresso" e a sociedade civil "elevada". Com o devido respeito, a menina está equivocada embora mereça amplamente o prémio que o regime que a formatou lhe deu. Desde logo, a 1ª República pouco ou nada teve a ver com a liberdade. Foi uma tirania de origem urbana, centrada em meia dúzia de luminárias, em geral nefastas, que sustentaram a primeira das duas ditaduras que marcaram o século XX português. Aliás, a segunda (a de Salazar) só foi viabilizada porque existiu a anterior, iniciada a 5 de Outubro de 1910, da qual apenas a leviandade política pode guardar saudades. Como republicano, o 5 de Outubro e a as suas sequelas não me suscitam o menor aplauso porque nada há a aplaudir. Não é por acaso que toda a gente anda com a "mudança" na boca desde a outra revolução, a florida do 25 de Abril. E ainda será da dita "mudança" que se falará no segundo centenário da coisa e assim sucessivamente. A menina de 2011 deve rever a matéria rapidamente.
23.8.11
ARRIAGA OU AS "HARMONIAS SOCIAIS"

Faz amanhã cem anos que foi eleito (eleito...) o primeiro titular da Presidência da República, o açoriano Manuel de Arriaga. Aquela República nada tem a ver com a de hoje. E o PR de hoje, desta constituição, nada tem a ver com lugar que, então, o infeliz do dr. Arriaga foi ocupar. A 1ª República não passou de uma tirania de cariz urbano centrada no PRP que, depois, com Afonso Costa, se chamou Partido Democrático e que de democrático nada tinha. Acabou tudo às mãos da tropa e de uma outra ditadura - militar - que adubou o caminho ao Doutor Salazar e à sua ditadura corporativa, mais conhecida por Estado Novo. Tudo visto e ponderado, não sobra motivo algum de especial alegria pela passagem do referido centenário. Como republicano, a 1ª República, de uma forma geral, não me convence a não ser pelo lado da rejeição não obstante aquela chalaça sempre comovente do Braga, de eléctrico, a caminho de Belém. Vasco Pulido Valente, porventura o primeiro a "denunciar" cientificamente a ditadurazinha do PRP e do Partido Democrático - depois dele houve uns quantos "académicos" que se limitaram a copiá-lo - retratou adequadamente o dr. Arriaga e a sua impotência ornamental. «Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas.» Comemorar o quê?
5.10.10
CRETINICE COMEMORADEIRA

Por que é que não se há-de comemorar o "28 de Maio" que, à semelhança do "5 de Outubro", implantou uma ditadura? Ou outra porcaria qualquer? Ou o contrário? Ou os croquetes do D. Duarte? Em Loures apareceu o candidato presidencial do BE e do PS a dizer umas parvoíces ao mesmo tempo que uns totós, de uma janela, fingiam implantar a república e o "povo", cá em baixo, nesciamente aplaudia. Daqui a pouco a coisa repete-se, em Lisboa, com o Estado democrático em peso vergado ao sinistro fantasma de Afonso Costa. E tudo isto para nada. Porque não há rigorosamente nada para comemorar.
2.10.10
O EQUÍVOCO EXPLICADO A PESSOAS INTELIGENTES

Depois do livro da foto - o livro é de 1974 mas esta edição tem um prefácio de 2010 (era dispensável aquela coisa na capa da "edição do centenário da República") -, praticamente não se escreveu mais nada acerca do "5 de Outubro". Ou escreveu-se e não interessa. A ler, ou a reler, por estes dias.
«A República foi feita pela chamada "geração de 90" (1890), a chamada "geração do Ultimatum", educada pelo "caso Dreyfus" e, depois, pela radicalização da República Francesa de Waldeck-Rousseau, de Combes e do "Bloc des Gauches" (que, de resto, só acabou em 1909). Estes beneméritos (Afonso Costa, António José d"Almeida, França Borges e outros companheiros de caminho) escolheram deliberadamente a violência para liquidar a Monarquia. O Mundo, órgão oficioso do jacobinismo indígena, explicava: "Partidos como o republicano precisam de violência", porque sem violência e "uma perseguição acintosa e clamorosa" não se cria "o ambiente indispensável à conquista do poder". Na fase final (1903-1910), o republicanismo, no seu princípio e na sua natureza, não passou da violência, que a vitória do "5 de Outubro" generalizou a todo o país. Não admira que a República nunca se tenha conseguido consolidar. De facto, nunca chegou a ser um regime. Era um "estado de coisas", regularmente interrompido por golpes militares, insurreições de massa e uma verdadeira guerra civil. Em pouco mais de 15 anos morreu muita gente: em combate, executada na praça pública pelo "povo" em fúria ou assassinada por quadrilhas partidárias, como em 1921 o primeiro-ministro António Granjo, pela quadrilha do "Dente de Ouro". O número de presos políticos, que raramente ficou por menos de um milhar, subiu em alguns momentos a mais de 3000. Como dizia Salazar, "simultânea ou sucessivamente" meio Portugal acabou por ir parar às democráticas cadeias da República, a maior parte das vezes sem saber porquê. E , em 2010, a questão é esta: como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam "carbonários", vigilantes de vário género e pêlo e a "formiga branca" do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos "direitos do homem e do cidadão" que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de "suspeitos" (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do "outro" mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível ignorar que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o "5 de Outubro" trouxe a Portugal? (Adaptação do prefácio à 6.ª edição do meu livro O Poder e o Povo).»
Vasco Pulido Valente, Público
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24.1.10
UM SALAZAR VERMELHO

O António, que colabora neste blogue, ofereceu-me um busto vermelho como os três da foto (ele tem um azul). O seu autor é Francisco Mota Ferreira. Salazar - é bom afirmá-lo no ano do folclórico centenário - era um republicano. Católico, aceitou, ao contrário de outros católicos monárquicos, ser deputado após as "legislativas" de 1921. De resto, como correspondência recentemente editada evidencia, Salazar até enviou retratos para passes de comboio a que teria direito como deputado - e "que me estão fazendo muita falta" - designadamente porque prometeu "acompanhar um amigo num passeio pelo Minho que me ficará muito caro se nessa altura não tiver o passe". Entretanto ocorreu mais uma peripécia sanguinária típica da 1ª República - a mais famosa que incluiu o assassinato de António Granjo e de outras luminárias do regime - e as "Câmaras" foram dissolvidas. Às legislativas que se seguiram já Salazar não quis concorrer. Mesmo assim, ainda escreveu ao colega Lino Neto que "é quase para mim um ponto de honra (...) ir ao Parlamento". Não foi, contudo. Sabia (continua na carta) que "o mundo não nos foge": "se tiver de ser político, tenho tempo ainda de o ser e talvez mau". Um cínico, este Salazar. Sempre impiedoso com os "nossos pobres monárquicos".
6.1.10
A "COMEMORAÇÃO" OU O "FOLCLORE TRANSMONTANO"

O país - V., contribuinte - vai gastar dez milhões de euros na comemoração dos cem anos da implantação da ditadura jacobina do PRP. Antes das habituais "incursões monárquicas", repito a minha condição cívica de republicano que defende um regime presidencialista. Nada disto, como parece razoavelmente óbvio, tem a ver com a condenação (também cívica) do que resultou do funesto 5 de Outubro de 1910. Comemoração por comemoração de ditaduras, não vejo por que é que não se há-de comemorar o 28 de Maio de 1926 que substituiu a do dr. Afonso Costa por duas, uma primeira militar, e uma segunda, o "Estado Novo" do Doutor Salazar. A D. Canavilhas, circunstancial ministra da cultura e pianista nas horas vagas, estava muito contente - ela e a plateia dos que vão "gerir" os referidos dez milhões em "folclore transmontano" - consigo própria e com os "eventos culturais" que a "comemoração" vai propiciar. É porventura com ela, a "comemoração", que a senhora conta para figurar num panegírico rodapé do regime. Bom proveito.
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5.10.09
FAZER DE CONTA
Este ano - hoje - as "comemorações" do 5 de Outubro ocorrem em plena campanha autárquica. Para não ferir susceptibilidades, Cavaco não vai à varanda da CML hastear a bandeira e não fala. Ou melhor, fala mas de Belém, tipo "declaração". Costa vai mas não fala porque é concorrente, uma outra maneira de fazer propaganda. Sócrates vai ajudá-lo em silêncio. E a GNR é substituída por uma fanfarra de bombeiros. A 5 de Outubro implantou-se uma ditadura, urbana e violenta, de partido único de que Sócrates e Costa, em certo sentido, são "herdeiros". Acabou, a de 5 de Outubro*, derrubada por outra ditadura. A esta seguiu-se isto em que estamos. Se alguma coisa a I República nunca teve foi escrúpulos. Não se percebe, por isso, que o actual regime dispense comemorar a sua implantação em nome dos costumes obrigando os principais protagonistas a estas ridículas acrobacias.
*e escusam de vir aqui defender a monarquia que, nessa altura e muito por culpa dos monárquicos, estava no "estado" que se conhece. Da fama de alguns deles terem conspirado activamente para matar o Rei, dois anos antes, não se livram.
17.9.09
UMA NOVA REPÚBLICA CONTRA CEM ANOS DESTA

No Liceu Camões - uma casa respeitável onde, por exemplo, ensinaram Mário Dionísio e Vergílio Ferreira - o regime decidiu prodigalizar uma "sessão de apresentação" das nefandas comemorações dos 100 anos da República. É preciso fazer um distinguo. Não vá dar-se o caso de os meninos e de as meninas pensarem que há algo a comemorar. A 5 de Outubro de 1910 foi implantada uma ditadura de um partido, o PRP, depois Partido Democrático, que acabou dirigido por alguém - Afonso Costa - de quem Salazar viria mais tarde a dizer "fosse o dr. Afonso Costa um vulto nacional ...". Não era, de facto. Por isso essa "república" acabou como acabou. Com outra ditadura. Ser republicano - e eu sou visceralmente republicano - é outra coisa que ultrapassa a trivialidade de não ser monárquico. É, por exemplo, eleger o Chefe de Estado e conceder-lhe poderes de liderança institucional do regime. Qualquer coisa como uma Nova República.
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14.6.09
O "GRANDE CAUDILHO" E A "CASA CIVIL"

«Afonso Costa não se enganava ao recusar paliativos. Em persistir no erro talvez estivesse a única salvação (...). Os próprios democráticos acusavam Afonso Costa de exercer uma «tirania grosseira e vexatória» sobre o país, o partido e «até sobre o grupo parlamentar». Ao que parece, ouvia apenas um círculo de amigos íntimos e apenas por ele distribuía os seus favores oficiais e outros. Este círculo juntava gente dúbia, como o seu irmão Artur, o seu cunhado José Abreu, o seu sócio de escritório Germano Martins, dois procuradores do dito escritório, um jornalista de O Mundo e um tal Tudela, cuja profissão não se conhece. E também, na periferia, alguns ministros sem prestígio nacional ou político entre os quais Alexandre Braga, um batoteiro notório, e Ernesto Vilhena, que viera directamente do franquismo para os democráticos. O grupo, pelo menos pouco saboroso, acabara por ter uma existência pública e por se tornar conhecido sob o nome de «casa civil». Segundo corria, a «casa civil» estava encarregada de espiar o partido, especialmente os deputados, e com ela Afonso Costa tomava todas as decisões importantes. Os órgãos formais de poder - o Conselho de Ministros, o grupo parlamentar e o directório do PRP - não eram ouvidos, recebiam ordens. Há provas de que não levavam a bem estes modos autoritários do «grande caudilho». Contou mais tarde o insuspeito Alexandre Braga que «muitos dos mais categorizados» dirigentes do partido não perdiam uma oportunidade de criticar Afonso Costa nos «lugares de conversa e de intriga política». nos «cafés» e nas «ruas» (...) As histórias da «casa civil», da sua influência oculta, dos negócios ilegais que patrocinava, das suas ligações aos subterrâneos da política e aos grupos terroristas talvez sejam, em parte, mitológicas. Sucede que eram dadas por verdadeiras no próprio PRP (...) Os notáveis democráticos desaprovavam os seus métodos, achavam a «casa civil» corrupta e prepotente e, como o resto dos portugueses, detestavam o «tirano». Mesmo no tempo terrível do exílio e da obscuridade não se sente em ninguém sombra de afecto pela criatura. Como António Maria da Silva declarou a Alexandre Braga em Maio de 1918, no apogeu do sidonismo, Portugal e o Partido Republicano viviam melhor sem ele.»
Vasco Pulido Valente, Portugal - Ensaios de História e de Política, Aletheia Editores, 2009
Vasco Pulido Valente, Portugal - Ensaios de História e de Política, Aletheia Editores, 2009
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27.3.09
3.10.08
UM REGIME REPUGNANTE

«As celebrações do aniversário da República comemoram "um regime que seria repugnante para os dias de hoje".»
Rui Ramos, citado no pnetliteratura
30.1.08
O QUE TEM SIDO ISTO
«Em que assentaram então os regimes políticos anteriores ao actual? Todos se propuseram modernizar o país. Mas uns tentaram chegar aí reservando o poder a um pequeno grupo iluminado, com exclusão dos demais, e outros através do envolvimento consensual do maior número e da alternância no poder. A monarquia constitucional, entre 1834 e 1910, esteve neste segundo caso. Havia vários partidos, que rodavam no poder de acordo com o rei. O regime caiu porque não podia funcionar sem se pôr em causa a si próprio. Era o rei quem, perante o desprestígio das eleições, accionava a alternância. Mas quando o fazia era invariavelmente discutido e contestado por uma classe política sem reverência dinástica. Mesmo assim, o regime durou mais do que qualquer outro regime nos últimos 200 anos, e assegurou a mais longa época de liberdade e pluralismo. Eis o que representa D. Carlos. A chamada I República, entre 1910 e 1926, e o Estado Novo, até 1974, tiveram isto em comum: chefes de Estado eleitos (directa ou indirectamente) e governantes determinados em usar a força para impedir qualquer alternância no poder. O Partido Republicano não precisou, como Salazar, de censura nem de proibir partidos: preferiu recorrer à "acção directa" de grupos paramilitares, protegidos pelas autoridades, para limitar a expressão e a acção dos adversários (foi a célebre "ditadura da rua"). De resto, excluiu a população do processo político, negando o direito de voto à maioria. Houve republicanos e salazaristas que quiseram outra coisa? Houve. Fizeram coisas benéficas para o país? Fizeram. Mas nenhum dos dois regimes foi capaz de deixar de ser o despotismo de um bando convencido de que tinha o monopólio da razão. A construção da actual democracia em Portugal foi feita não apenas contra o Estado Novo, mas também contra a I República. Dependeu de uma nova cultura política, em que se admitiu o princípio de que a validade das eleições dependia mais das instituições e procedimentos do que das "qualidades" da população. Dependeu também de se ter voltado a reconhecer novamente, como no tempo da monarquia constitucional, que a razão é algo distribuído a mais de uma opinião ou partido. Obteve-se assim um regime aberto a todos, e em que o voto de todos é a base da alternância no poder.Os exclusivismos, porém, deixaram herdeiros frustrados. Há quem ainda não tenha percebido por que é que não é dono desta democracia, tal como o PRP foi dono da I República ou os salazaristas do Estado Novo. Eis o que representam os contestatários da comemoração de D. Carlos.»
Rui Ramos, in Público
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27.1.08
A PIOLHEIRA

Sexta-feira próxima passam cem anos sobre o regicídio. D. Carlos I regressava a Lisboa. Desembarcou, cerca das 17 horas, no Cais das Colunas, meteu-se na caleche com a Rainha e os dois filhos, seguiu para a Rua do Arsenal e, na esquina com o Terreiro do Paço, os tiros traidores acabaram praticamente com a monarquia constitucional e com o liberalismo, no sentido benigno do termo. Até hoje. Dois anos depois, o "PRP" do dr. Afonso Costa tomou de assalto o Estado e reduziu a tradição liberal a uma caricatura. Écrasez l'infâme - isto é, o "rebanho" constituído pelo "povo" que ignorava e desprezava uma República erguida, no fundamental, contra o "povo" e a igreja - foi o lema do Partido Democrático do dr. Costa durante o nefasto período em que nos pastoreou a partir de Lisboa. O Estado Novo recolheu os despojos, eliminou o pior jacobinismo, cavalgou o despeito popular do interior e da tropa contra os "progressistas" do dr. Costa, e aproveitou a sementeira anti-liberal e anti-democrática da I República para instalar a sua própria. Tecnicamente o "25 de Abril" poderia ter recuperado essa tradição liberal interrompida pelos assassinos de 1 de Fevereiro de 1908. Não conseguiu. O "reformismo" de que se reclama o actual sucessor do dr. Costa, o eng. Sócrates, esbarra com uma coisa chamada país, uma notória maçada para qualquer "iluminado". Ninguém "reforma" ninguém que não aspire a ser "reformado". Muito menos em "democracia" onde o escrutínio é, na forma, total. E, sobretudo, ninguém aceita ser "reformado" por "políticas" que não lhe foram previamente anunciadas. Banalizou-se a mentira de Estado por troca com o compromisso eleitoral. Ainda ontem Sócrates prometia água no Alentejo para os próximos mil anos tal como um antigo chanceler prometeu à Alemanha um império por outros tantos. Durou doze anos esse "império", metade dos quais enfiado numa guerra planetária. Julgo que estes cem anos devem ser estudados mais como perda do que como ganho ou "progresso". Se hoje estamos mais "modernos" e menos periféricos, não o devemos tanto à política doméstica quanto à Europa. Mesmo Cavaco, quando fez o que devia ter sido feito muito antes dos anos 80 e 90, fê-lo porque já pertencíamos à União Europeia. Sem ela, nunca teríamos passado duma razoável estância balnear. Foi uma pena ter-se sacrificado um homem bom, amante da vida, liberal e patriota, praticamente para nada.
Adenda:
«Ao ler uma passagem do post do João Gonçalves, referente à efeméride do Regicídio, fui imediatamente transportado no tempo, a um já longínquo dia 27 de Abril de 1974. Dia de aniversário da minha mãe, era sempre motivo para uma grande festa que reunia toda a família e dezenas de amigos, à boa maneira laurentina. Abriam-se as portas de casa a quem aparecesse e sendo previsível a costumeira grande afluência, a minha mãe fazia os preparativos necessários, contando com a colaboração dos três filhos, do nosso pai e de outros amigos e familiares. Contudo, nessa manhã e à revelia do que era costume fazer, o meu pai resolveu ..."ir dar uma volta com o Nuno à Baixa"... De nada serviram os protestos e no que a mim diz respeito, fiquei todo satisfeito por me furtar a uma longa manhã de assistência à cozinha. Percorremos as principais avenidas de Lourenço Marques, passando à frente de quartéis, repartições e empresas do Estado. Fomos até ao palácio da Ponta Vermelha, residência oficial do governador-geral e no regresso, contornámos a praça Mouzinho de Albuquerque, onde se situava a grandiosa Câmara Municipal. As ruas da Baixa mostravam o movimento habitual e nada denunciava que algo de transcendente se havia passado dois dias antes em Lisboa. Chegando a casa e respondendo ao olhar inquisidor da minha mãe, o meu pai disse algo que jamais esquecerei: ..."16 anos de bombas e de Afonso Costa, 48 daquilo que ainda agora acabou e vai continuar tudo na mesma!"..."Na mesma? Mas como?" e continuando, sem prestar atenção, "...vamos ser corridos daqui para fora, disso não tenho qualquer dúvida, mas dentro de dez anos, parecerá que voltámos à estaca zero"... "mas afinal o que estás para aí a dizer?"... "Pois, ninguém prestou atenção. Após tantas iniquidades, aquela bandeira continua hasteada como se nada tivesse acontecido. Os símbolos são tudo para a maioria das pessoas e parece-me que lá em Lisboa, ou são muito estúpidos, ou não querem mudar nada no essencial. Era bom que as pessoas compreendessem que abrimos uma nova página e isso eles não ousaram. Que pena!"... Na sua obra biográfica sobre o rei D. Carlos, Rui Ramos fala no desabar de um mundo, o da Monarquia Constitucional, que apesar de todas as convulsões e reinício de marcha, habituou o país à normalidade da existência de vida partidária, diversidade de opiniões, apaixonados debates sobre a coisa pública. Enfim, habituou a maioria dos portugueses a um caminho que inevitavelmente encaminharia a nossa sociedade na senda daquilo a que hoje comummente chamamos velhas democracias europeias. Dois ou três minutos bastaram para que retrocedêssemos oitenta anos, para que a História fosse reescrita ao sabor dos ventos da propaganda mais ou menos oficializada. Quem perdeu fomos todos, o país como entidade muitas vezes secular e cada um que aqui quotidianamente sacrificamos um jantar fora com amigos ou uma ida ao cinema, para estarmos diante do computador, a tentar perceber o porquê destes desesperados e pouco promissores tempos que vivemos. O meu pai tinha razão e a bandeira continua a mesma. Assim, não nos podemos queixar.»
(Nuno Castelo-Branco)
Adenda:
«Ao ler uma passagem do post do João Gonçalves, referente à efeméride do Regicídio, fui imediatamente transportado no tempo, a um já longínquo dia 27 de Abril de 1974. Dia de aniversário da minha mãe, era sempre motivo para uma grande festa que reunia toda a família e dezenas de amigos, à boa maneira laurentina. Abriam-se as portas de casa a quem aparecesse e sendo previsível a costumeira grande afluência, a minha mãe fazia os preparativos necessários, contando com a colaboração dos três filhos, do nosso pai e de outros amigos e familiares. Contudo, nessa manhã e à revelia do que era costume fazer, o meu pai resolveu ..."ir dar uma volta com o Nuno à Baixa"... De nada serviram os protestos e no que a mim diz respeito, fiquei todo satisfeito por me furtar a uma longa manhã de assistência à cozinha. Percorremos as principais avenidas de Lourenço Marques, passando à frente de quartéis, repartições e empresas do Estado. Fomos até ao palácio da Ponta Vermelha, residência oficial do governador-geral e no regresso, contornámos a praça Mouzinho de Albuquerque, onde se situava a grandiosa Câmara Municipal. As ruas da Baixa mostravam o movimento habitual e nada denunciava que algo de transcendente se havia passado dois dias antes em Lisboa. Chegando a casa e respondendo ao olhar inquisidor da minha mãe, o meu pai disse algo que jamais esquecerei: ..."16 anos de bombas e de Afonso Costa, 48 daquilo que ainda agora acabou e vai continuar tudo na mesma!"..."Na mesma? Mas como?" e continuando, sem prestar atenção, "...vamos ser corridos daqui para fora, disso não tenho qualquer dúvida, mas dentro de dez anos, parecerá que voltámos à estaca zero"... "mas afinal o que estás para aí a dizer?"... "Pois, ninguém prestou atenção. Após tantas iniquidades, aquela bandeira continua hasteada como se nada tivesse acontecido. Os símbolos são tudo para a maioria das pessoas e parece-me que lá em Lisboa, ou são muito estúpidos, ou não querem mudar nada no essencial. Era bom que as pessoas compreendessem que abrimos uma nova página e isso eles não ousaram. Que pena!"... Na sua obra biográfica sobre o rei D. Carlos, Rui Ramos fala no desabar de um mundo, o da Monarquia Constitucional, que apesar de todas as convulsões e reinício de marcha, habituou o país à normalidade da existência de vida partidária, diversidade de opiniões, apaixonados debates sobre a coisa pública. Enfim, habituou a maioria dos portugueses a um caminho que inevitavelmente encaminharia a nossa sociedade na senda daquilo a que hoje comummente chamamos velhas democracias europeias. Dois ou três minutos bastaram para que retrocedêssemos oitenta anos, para que a História fosse reescrita ao sabor dos ventos da propaganda mais ou menos oficializada. Quem perdeu fomos todos, o país como entidade muitas vezes secular e cada um que aqui quotidianamente sacrificamos um jantar fora com amigos ou uma ida ao cinema, para estarmos diante do computador, a tentar perceber o porquê destes desesperados e pouco promissores tempos que vivemos. O meu pai tinha razão e a bandeira continua a mesma. Assim, não nos podemos queixar.»
(Nuno Castelo-Branco)
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5.10.07
POIS
Digo o mesmo todos os anos. Vale a pena comemorar a República? Não vale. Contrariamente ao que a doutrina oficial propala, o que se sucedeu ao 5 de Outubro de 1910 foi a história de uma tirania "popular", centrada e liderada pelo velho Partido Republicano Português que, em pouco tempo, conseguiu a proeza de "virar" o "país profundo" e algumas das suas hostes "moderadas" contra si. Pomposas e medíocres, arrivistas e oportunistas, melancólicas e dramáticas furiosas, as notabilidades do PRP e, depois, do Partido Democrático, arrasaram às suas próprias mãos a tão prometida República e o "povo" que ela majestaticamente iria servir. Contudo, este folclore melodrámático que felizmente cessou às mãos da tropa e, depois, do Doutor Salazar, entre 1926 e 1933, não se deve confundir com o respeito pelos "princípios republicanos" no exercício das funções públicas. A probidade, a isenção e o alheamento dos "interesses" deviam ser os pilares do poder político "democrático" que é aquilo que chamam ao que temos. E está-se mesmo a ver que é assim, não está? Pois.
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7.6.07
CIRCO VITAL
Já falámos delas, das sinistras comemorações do centenário da República, o próximo "euro-expo" do regime, com nuances circenses. O Miguel também. Sem refolhos. "Que celebrações poderão ser essas, que exemplaridade se extrairá de uma república que conquistou o poder pelo revólver e pela bomba, que matou o Rei e o Príncipe Real em plena rua como quem mata um Lampião fora-da-lei, e que depois da vitória estilhaçou toda a energia em querelas, fratricídios e clamorosos erros diplomáticos. Como poderei explicar a uma criança de 12 anos que celebramos a república, se desta não saiu liberdade mas ditaturas - não uma, a tal, mas quatro - e que a fraternidade de que falavam os seus arautos se converteu na mais absoluta lei de bronze dos oligarcas, das famílias e das organizações subterrâneas que centuriam o Estado e o utilizam para enriquecimento de grupos ?"
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30.4.07
A EXPO 2010

Pelo Jorge Ferreira fico a saber que a República vai ter a sua "expo 2010". Para presidir a mais uma inutilidade do regime, escolheu-se o inevitável prof. Vital Moreira, uma das aves canoras da maioria. Como mandam as boas regras napoleónicas não abrangidas pelo Simplex, esta "expo 2010" já tem o seu projecto que, imagine-se, prevê nada mais nada menos do que seis (6) comissões. Há muito que revi definitivamente a minha posição sobre a I República. Considero-a uma ditadura segregadora e vingativa que, em menos de vinte anos, conseguiu a proeza de "virar" o país inteiro contra ela. Quando, no dia 28 de Maio de 1926, os militares desfilaram a partir de Braga até Lisboa, as "massas" respiraram de alívio. As elites republicanas foram alimentadas exclusivamente por e em Lisboa e isso, na altura adequada, foi-lhes fatal. Nunca se foi exaustivo na contabilidade criminosa da I República. O zelo "republicano" impediu o exercício, preferindo àquela a "repressão" do Estado Novo e o seu cortejo de "vítimas". As ilustres comissões e o elevado "projecto" comemoram cem anos praticamente perdidos. Nada mais.
Adenda: A propos, este post.
Adenda: A propos, este post.
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10.4.07
DOS ANÕES
Agradeço ao Miguel, do Combustões, a distinção. E recomendo a leitura dos seus posts sobre a "batalha de La Lys", esse enorme embuste nacional promovido pela República dos antecessores da Câncio&Cia. E já estou como ele e muitos outros. Os dois minutos fatais na esquina do Terreiro de Paço com a Rua do Arsenal acabaram com um português grande e, quem sabe, com isto. Não gosto de anões.
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14.2.07
"HARMONIAS SOCIAIS"

O prof. Vital Moreira, por causa do cartãozinho, teve um momento de rara beleza. Escreveu o ilustre mestre coimbrão o seguinte: "a primeira cidadã portuguesa a ter o novo cartão é aluna da Escola Manuel de Arriaga, no Faial. Curiosamente, dizem-me dos Açores, o primeiro cartão oficial de identidade nacional também foi atribuído, há quase um século (1914), a outro faialense, o primeiro presidente constitucional da então jovem República, justamente Manuel de Arriaga. Não pude confirmar esta informação. Mas se não é verdade, bem poderia ser. A História tem destas coincidências felizes..." Os "republicanos", entre outras coisas, gostavam de exibir estes "vultos" supostamente dados a transportes líricos como prova da sua superioridade intelectual e política. Arriaga era convenientemente poeta. Segundo os "ditadores democráticos", estava demasiado conotado com os "moderados". Viam nele, mais do que o PR, um chefe de facção. Por isso, nunca podia ter sido a "salvaguarda" constitucional e institucional de um regime dominado essencialmente pelos "democráticos". Nem tal lhe estava na "massa do sangue". Deste modo limitava-se a tentar cumprir o seu papel ornamental, o que, aliás, nem ele nem ninguém pretendiam que ultrapassasse. Quanto ao resto, a história registou o fundamental. E o fundamental é muito pouco. As palavras de Vasco Pulido Valente em O Poder e o Povo - A Revolução de 1910, resumem-no. "Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas". Arriaga, "uma coincidência feliz"?
Etiquetas:
1º República,
Cartão único,
Manuel Arriaga
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