7.1.08

UM MUNDO PERFEITO?

O Eduardo Pitta anda num verdadeiro desatino por causa da "higienização" da sociedade portuguesa, tão oportuna e pedagogicamente introduzida nos bárbaros costumes lusos pela lei e pelos seus zelosos aplicadores. Mais. Estriba-se numa prosa muito bem feita de Pedro Magalhães acerca dos paradoxos do liberalismo, prosa essa que nos habilita com os bons exemplos do que deve ser uma saudável vida cívica ou uma saúde civicamente vivida. Os exemplos brotam da "boa" Europa - a Inglaterra, a Alemanha - e da ex-colónia da primeira, os EUA. Podiam brotar, por exemplo, das Avenidas Novas não fosse dar-se o caso de essa trituradora civilizacional chamada "metro" estar a esventrar a rua mesmo à porta da Versailles. Pitta e Magalhães não vão ao ponto de recomendar uma Endlösung à sociedade portuguesa por ela apreciar tascas, "ginginhas", carrascão, coiratos e carros mal estacionados. Todavia, nas entrelinhas, vê-se que apreciam - quem não aprecia? - um mundo perfeito que não existe em lado algum, mesmo nas frias sociedades a que tanto recorrem a título de recomendação retórica. Nós, para o bem e para o mal, somos meridionais. Gostamos - eu não gosto porque não fumo - de acompanhar a "bica" com um cigarro e, de preferência, tomada num balcão recheado de pastéis de bacalhau e de croquetes de duvidosa proveniência. Todas as tascas e restaurantes na Rambla de Barcelona, onde comi há uns dias, tão depressa manipulavam os seus deliciosos "pinchos" com pinças como através das mãozinhas dos empregados. Nem por isso me souberam pior ou me ocorreu chamar por Zapatero e pelo seu formidável aparelho de correcção social. O que Portugal agora menos precisa é tornar-se ariano nos costumes e manipulador dos prazeres. Para maus produtos, insusceptíveis de coimas, bastam as instituições ditas democráticas e os seus solenes representantes.

3 comentários:

Anónimo disse...

«As escolas públicas que não dêem prioridade na matrícula às crianças com necessidades educativas especiais de carácter permanente serão alvo de um processo disciplinar, enquanto as privadas perderão o paralelismo pedagógico e o co-financiamento».

Vamos a ver se eu percebi :

- «necessidades educativas especiais de carácter permanente».

Os professores, de seja qual seja o grau de ensino, sabem lidar e têm o tempo e o espaço para lidar, com «necessidades educativas especiais de carácter permanente» ?

E esta "filsofia" não obedecerá a um voluntarismo contraproducente e falsamente pedagógico ?

Eu já nasci naquilo a que se chama "outros tempos" e, por isso, simplesmente, pasmo. Até com a punição !

Carlos Medina Ribeiro disse...

«Acho que nunca recebemos tantas ordens como nestes últimos tempos. Nunca se proibiu tanta coisa como nestes últimos dias. E cautela, meus amigos! Olhem que se começa por proibir a beata e a colher de pau - e acaba-se a proibir a livre troca de ideias! E tudo feito, é claro, a pensar no nosso bem!» - extracto da saborosa crónica «“Ordes” é que eles sabem dar…», que a escritora Alice Vieira publicou no «JN» de ontem, e que pode ser lida no seu blogue, [aqui]
.

josé neves disse...

No salazarismo proibia-se o isqueiro(era preciso licença)para protecção ao fósforo, agora proibe-se o fumar(pode-se fumar na rua ou em casa)junto do público para protecção da saúde. Qual delas é uma lei fascista?
Se quereis adoecer por conta própria não exigeis hospitais, médicos,raios x, etc.etc.,à mão do vosso desejo.Já basta os drogados.
Quereis viver na sociedade de hoje com costumes e tradições caducas?