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28.4.10

UNA VOCE POCO FA


A ministra Canavilhas decidiu - e bem - varrer o director artístico do São Carlos e a direcção da OPART. Mas não chega. Jorge Salavisa, que vai presidir a esta última, não pode manter os restantes membros sob pena de a coisa se ficar pelo make up. Conheço Salavisa há muitos anos e, por isso mesmo, só lhe posso desejar venturas e lonjuras de certa parasitagem permanente que pulula na cultura como piolhos. As tutelas passam e eles, quais lêndeas (bicho pior que o piolho), ficam. Quanto ao director artístico convidado, um maestro britânico, não sei quem é. Preferia o regresso de Pinamonti. Ver-se-á.

10.4.10

GABRIELA ENTRE O SER E O ESTAR


Li, sobre uma toalha de praia, uma entrevista de Gabriela Canavilhas, a ministra da cultura, ao Expresso. Retive umas coisas. Gabriela já não toca piano desde que foi para a Ajuda. Gabriela prefere música de câmara e o maçador Schubert. Gabriela viu um filme português em Moçambique que achou, sic, "uma delícia". Gabriela faz questão em sublinhar que "está ministra". O último que disse isto foi o funesto Fernando Gomes, ex.ministro de Guterres, e durou pouco. De resto, Canavilhas não explicou como é que tenciona responsabilizar Mário Vieira de Carvalho, o ainda mais funesto ex - secretário de Estado da cultura de Pires de Lima e Sócrates, que escolheu o sr. Dammann para o São Carlos e que nos vai custar, para além da mediocridade da "programação", qualquer coisa entre 150 a 250 mil euros de "indemnização". Dra. Gabriela: não seria mais adequado ser Dammann a indemnizar-nos?

25.3.10

DAMMANN OUT



Em entrevista à antena 2 - ouvi de madrugada - Gabriela Canavilhas finalmente percebeu que tinha de correr com o director artístico do São Carlos, Christoph Dammann. Percebeu que o público, a crítica, porventura o próprio Teatro não aguentavam tanta mediocridade junta. Devia completar a acção de limpeza com a remoção dos directores portugueses da OPART, esse imenso equívoco gestionário inventado pela prof. ª Pires de Lima e pelo ex-RDA Vieira de Carvalho. É tudo uma e a mesma coisa. E mais vale tarde que nunca.

28.2.10

CHACUN À SON GOÛT?



Se não visse e ouvisse, não acreditava. O Morcego, a opereta de Strauss em cena no São Carlos, resume, na perfeição, a desgraça - ou a maldição - que se abateu sobre o nosso único teatro lírico. Com o devido respeito pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, pelo coro e pela generalidade dos cantores, este Morcego é um escarro. A encenação, em torno de vampiros e matrafonas, é um remake ordinário do "tema" do momento nas livrarias e em telenovelas. Uma valsa passou a declinação rasca do "thriller" de Jackson. Os diálogos em português, particularmente as falas protagonizadas por Maria Rueff, são dignos da pior e mais reles "comédia" de televisão onde o engraçadismo roça o puro atrasadismo mental e a graçola porcalhona. As alusões à vida pública são trocadas por insultos às características físicas dos políticos. Nem Gabriela Canavilhas, a ministra da cultura presente, escapou à vulgaridade baixa de Rueff (estilo pianos a dar à cauda perante a suposta beleza da ministra) e permaneceu no camarote, impávida e serena (como se não tutelasse politicamente aquele lixo todo) a contemplar a canalhice que decorria no palco. Pelo meio apareceu Carlos Guilherme paramentado de "benfiquista" a trautear o hino do clube de futebol. O público - o mais bronco, quase todo agora, que olha para aquilo como se estivesse no circo ou num estádio - ria-se e aplaudia as alarvidades. Outros patearam (como eu) e saíram. O Prof. Jorge Miranda, no intervalo, sugeria que o São Carlos devia fechar. Concordo. Um teatro lírico que anda a fazer de teatro lírico quando não passa de uma co-incineradora da inteligência e da sensibilidade, devia encerrar. Os três ornamentos da direcção portuguesa e o alemão director artístico envergonham a história e os pergaminhos do São Carlos. Fiquei com a ideia, pela sua passividade perante tamanho disparate, que a actual ministra não entende o que se está a passar. O seu aval a este descrédito pago com dinheiro público é inadmissível. Melhor sorte teve o assessor cultural do Chefe do Estado que saiu logo no fim do 1º acto e não teve de ouvir as enormidades que Rueff disse de Cavaco como se estivesse no Maria Vitória ou na retrete. Chacun à son goût?

Clip: Johann Strauss Jr., Die Fledermaus. Royal Opera House Covent Garden, 1984. Doris Soffel, Herman Prey. Direcção de Placido Domingo.

27.1.10

A DANAÇÃO DE DAMMANN



No corredor do Coliseu encontro alguém que me diz que cancelaram uma coisa qualquer da medíocre temporada lírica em curso no São Carlos. E porquê? Porque prosaicamente faltou o tenor. Ora sou do tempo em que, com Paolo Pinamonti (e, antes dele, com os directores que conheci, de Paes a Serra Formigal, de Ribeiro da Fonte a Ferreira de Castro), se fazia o trivial, uma substituição. Num ano, 1982, Cossotto estava anunciada para uma Carmen e foi substituída por uma jovem e genialmente inesperada Victoria Vergara que deu ao São Carlos uma das melhores heroínas de Bizet de sempre. A escolha do encriptado Mário Vieira de Carvalho para o TNSC, o alemão Christoph Dammann, foi das coisas mais catastróficas que atingiram o coração do nosso único teatro de ópera, um teatro nacional. Gabriela Canavilhas, a actual titular da Cultura, tem a estrita obrigação de perceber isto sobretudo por causa da sua formação. E se não perceber, a evidência fala por si. Remova Dammann - e outras figuras menores - e reponha Pinamonti. Sou dos poucos à vontade para defender isto. No mesmo corredor e na mesma conversa participou o Prof. Jorge Miranda, um espectador com assinatura antiga no São Carlos. Tenciona acabar com ela. Moral da história: "acabem" com Dammann antes que ele acabe com o São Carlos.

Clip: Abertura Egmont, Beethoven. Georg Solti. 1996. Em resposta a um leitor, o concerto foi fraquinho. Gardiner esteve bem melhor no dia de ano novo em Veneza, no La Fenice, que acompanhei no canal Mezzo. Notava-se que a orquestra anda em "digressão artística". Maria João Pires foi Maria João Pires, nem mais nem menos.

18.7.09

UM PEDIDO (SATISFEITO) SOBRE O SÃO CARLOS



Ao Diogo Vasconcelos, de Londres e de sempre, a Manuel Matos, de Coimbra, e a Carlos Pereira da Cruz os meus agradecimentos pelo artigo sobre o São Carlos, a temporada e o sr. Christoph Dammann, o seu funesto director-artístico. Desta vez Jorge Calado acerta até pelas comparações oportunas que faz. Dammann é das piores coisas que caíram em cima do nosso único teatro lírico onde o verdadeiro director continua a ser Mário Vieira de Carvalho. Pinto Ribeiro afirmou não concordar com a gestão em curso - a OPART - mas não mexeu uma palha. Estão todos bem uns para outros. Todavia, o público e os contribuintes é que não devem suportar tanta esperteza saloia sob a capa de um cosmopolitismo de paróquia. Como escreve Calado no Expresso, «registe-se que a Vlaamse Opera (a segunda casa de ópera belga) tem nove [produções contra seis por ano no S. Carlos], a Netherlands Opera tem 15 e a Ópera Nacional Finlandesa tem 14. Todas nações pequenas, sem grandes tradições operáticas [contrariamente ao Teatro de Lisboa] (...) que já foi de Gigli, Mödl, Kraus, Gorr, Schöffler, Resnik, Zampieri e Theodossiou.» Mais. «O que Christoph Dammann, director artístico do teatro, tem feito desde a sua conturbada nomeação é, a vários títulos, desastroso. Com as excepções que só confirmam a regra, as escolhas de repertório, de produções, elencos e maestros revelam uma gritante incompetência, reconhecida à esquerda e à direita (...). Dammann esconde-se atrás de uma pseudolealdade para com os artistas que convida, mesmo maus. A lealdade primeira deveria ser para com o público português que lhe paga (...). O problema, meus senhores, não é a falta de estrelas e de cantores caros. O problema são os maus cantores, os maestros desadequados, os encenadores patetas, o pouco respeito pelo público (...). O Estúdio de Ópera é menos um laboratório de pesquisa e formação e mais um truque para fazer mais e baratinho (três títulos entre Novembro/Dezembro) (...). O Opart e a actual direcção do São Carlos desfazem-se em estatísticas para provar a bondade das mudanças. Para eles, a ópera são números, não são pessoas.»

Clip: Verdi, Macbeth.Mara Zampieri, Ópera de Berlim, Giuseppe Sinopoli. 1987

25.9.08

NÃO FICA NADA



Estou sempre a voltar ao São Carlos pelas piores razões. À beira de iniciar a temporada lírica com uma "herança" de Pinamonti - a segunda "jornada" de O Anel do Nibelungo, Siegfried, encenada por Graham Vick -, a direcção do Teatro tratou com os pés o maestro do coro, o italiano Giovanni Andreoli, que recusou o contrato de trabalho por seis meses proposto pela OPART e pelo director artístico Christoph Dammann, "heranças" de Mário Vieira de Carvalho. «Eu fiquei a conhecer a temporada deste ano pelos maquinistas do teatro. Eu, maestro do coro, não conhecia a programação», disse Andreoli ao Público. Dammann é objectivamente (já deu para ver) um mau director artístico do nosso único teatro lírico. E a OPART é uma péssima "solução" de gestão. O Augusto M. Seabra, aliás, explicou isto perfeitamente. Embora não haja praticamente ministro da Cultura desde Julho de 2000, conviria a José António Pinto Ribeiro colocar um termo a estas aberrações que acabam por custar muito dinheiro aos contribuintes, a maioria dos quais nunca pôs os pés em São Carlos e nem sequer sonha como é que aquilo "funciona". Tudo somado, este mandato da "esquerda moderna" em maioria absoluta é irrecomendável em matéria de cultura. O pouco que "mudou", mudou para pior. Não houve nada. Não fica nada.

29.7.08

O EMBUSTE - 3 (actualizado)


Augusto M. Seabra avalia a "temporada Moreira-Dammann" do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC). Aqui , aqui e aqui. Chama-lhe, delicadamente, "o disparate anunciado". «O panorama aproxima-se de um desastre generalizado e da maior incúria. Sobre esta próxima temporada paira claramente a sombra do ex-secretário de Estado Mário Vieira de Carvalho, que de resto, em vários textos no “Público” e uma resposta ao actual ministro no “Expresso”, tem dados mostras suficientes de que não se dá por vencido, antes que continua a ser o ideólogo.» Desde sempre fui mais radical. O TNSC tem problemas estruturais por resolver desde que se tornou num "produto" de variadíssimas "experiências" de gestão. A "solução" seguinte limitou-se invariavelmente a juntar a sua própria ineficácia às que herdou. Empresa pública, fundação, instituto, "EPE", OPART ou outra coisa qualquer acumularam erros e vícios, vícios e erros. Em coerência, sempre defendi que, à semelhança do que aconteceu com outros teatros líricos, o TNSC devia encerrar para mudar de "registo". A opção, porém, tem sido a de empurrar as questões de funcionamento com a barriga ou com a marreca- ora Falstaff, ora Rigoletto - ou em varrê-las para debaixo do tapete como num momento cómico de Rossini. O ridículo foi atingido quando um dia o Teatro fechou como "EP" e abriu praticamente no dia seguinte como "fundação" para, dizia-se, celebrar o respectivo "bicentenário". E quando teve uma "direcção artística" a "trabalhar" no Teatro (Ribeiro da Fonte) e outra, a futura, a "preparar" ao mesmo tempo, na Ajuda, uma nova "temporada" (Ferreira de Castro). Estas trapalhadas custaram ao erário público milhares de contos em indemnizações e equivalentes sem que o Teatro tivesse ganho o que quer que fosse com tanta "mudança". Os problemas de que falo, com origem tanto nas "mudanças" como nas "permanências", precedem toda e qualquer temporada e a OPART já devia ter dado por isso e tirado daí consequências. Ou, em alternativa, o ministro tirá-las. Enfim, e como escreve o Augusto, «é mesmo inaceitável esta transformação do São Carlos em teatro alemão de segunda ou terceira ordem (ainda por cima, com os cantores a menos), o que de resto é um quadro restritivo de perspectivas e cosmopolitimo, e antes um outro modo provinciano, no caso “deslocalizado”.» Mais. «Tudo isto demonstra, além de graves incúrias, desde logo do director Christoph Dammann, esta espécie de “domínios privados” em que transformaram as instituições culturais: são as opções de Mário Vieira de Carvalho ou os “contributos” de Fragateiro e Mega Ferreira. E é um disparate anunciado, e o plano inclinado do vazio de perspectivas no São Carlos.»

Adenda: Uma infeliz "herança" do consulado Pires de Lima/Vieira de Carvalho na cultura, Carlos Fragateiro, o director do D. Maria, foi hoje removido por Pinto Ribeiro. Agora é preciso que Pinto Ribeiro "medite" sobre a OPART. Não necessariamente para o mesmo efeito, mas por forma a produzir um efeito.

23.7.08

O EMBUSTE - 2


A OPART "atacou" de novo. Desta vez para "apresentar" a temporada de ópera. Apanhei o resumo da coisa por uma jornalista da Antena 1, no carro. "Muito economês e pouca música", disse ela. O presidente da OPART falou em números - de espectadores, de récitas, de concertos, de outros espectáculos -, da crónica falta de dinheiro e da sua aparente habilidade para "contornar" os "recursos" a menos. Na reportagem ouviu-se o director artístico, o alemão Dammann, a murmurar umas vacuidades e o dito presidente a "justificar" o fracasso de Das Märchen, de Emmanuel Nunes. Retive a continuação da tetralogia de Wagner, iniciada por Pinamonti, e uma coisa qualquer encenada por Maria Emília Correia. Também retive que não esteve presente ninguém do ministério de Pinto Ribeiro, designadamente a sua secretária de Estado que, por acaso, foi da direcção do Teatro noutra encarnação. Uma vez que o presidente aprecia - e só lhe fica bem - falar tanto em números, convinha que esclarecesse, por exemplo, os valores reservados para o funcionamento do São Carlos (sobretudo despesas com pessoal e outros "quadros") por comparação com os afectos à produção artística, aquilo que verdadeiramente justifica o único equipamento cultural destinado especificamente ao teatro lírico. Os contribuintes, pode ter a certeza, ficar-lhe-iam tão gratos como surpreendidos.

8.4.08

MORTE SEM TRANSFIGURAÇÃO

Cerca de um ano depois do afastamento de Paolo Pinamonti da direcção artística do único teatro de ópera do país - pago, no fundamental, pelo orçamento de Estado/contribuinte - parece que a coisa vai de mal a pior. A remoção do ex-teórico marxista Vieira de Carvalho da Ajuda não mexeu uma palha no São Carlos. É um caso sério de morte lenta sem transfiguração.

29.1.08

"O ASSUNTO TAMBÉM É ESTE" - 2


Quatro milhões? Realmente convinha apurar. À frente da OPARTE está um professor catedrático do ISCTE, imagino que de gestão. O que é que os media estão à espera para lhe perguntar? Ou o São Carlos é um laboratório do experimentalismo do musicólogo que está secretário de Estado da Cultura, um laboratório para além disso pago pelos contribuintes?


Adenda: A senhora da fotografia passou, felizmente para ela, à condição de mera professora universitária a qual nunca devia ter abandonado. A má notícia é que Mário Vieira de Carvalho está e fica secretário de Estado, em perfeitas condições de "dominar" o vaidoso advogado Pinto Ribeiro e membro da Fundação Berardo que, sabe-se lá porquê, substitui a senhora como ministro. Quanto ao resto - remoção de Correia de Campos - é um mero acto piedoso que só peca por tardio.

Adenda (2): Mário Vieira de Carvalho fica SEC? Não devia. Cai formalmente com Pires de Lima e, se ficar, deverá tomar posse outra vez, como me recordou há pouco o Augusto ao telefone. Escrevo, pois, no pressuposto que Pinto Ribeiro o mantém. Não há notícia, para já, de mais "tomadas de posse" de secretários de Estado, para além do dos Assuntos Fiscais. A ver vamos.

27.1.08

"O ASSUNTO TAMBÉM É ESTE"


1. «O Teatro de São Carlos estava cheio às 20h, no início da estreia mundial da ópera de Emmanuel Nunes. Ao intervalo, duas horas depois, as desistências eram muitas. Cerca de metade do público tinha abandonado a sala. A primeira ópera do compositor português é uma co-produção do São Carlos, da Gulbenkian, da Casa da Música e do IRCAM (instituto francês dedicado à investigação e à criação de música contemporânea). As expectativas à volta desta produção eram muitas. Encomenda ainda da direcção de Paolo Pinamonti, Das Märchen (O Conto) passou por algumas peripécias até ao dia da estreia, incluindo vários adiamentos e algumas discussões que vieram a público entre o compositor e o director do São Carlos. Lembrar este contexto e sobretudo o grande investimento institucional nesta ópera é importante para pensar o objecto estético apresentado na sexta-feira. Até porque Das Märchen pode ser vista, entre outras coisas, como uma reflexão (artística) sobre a arte e a sua autonomia. No prólogo que dá início ao espectáculo, fala-se da faculdade da "imaginação", aquela sem a qual a arte não existe. "Ela não se prende a nenhum objecto", diz o libreto. "Ela não faz quaisquer planos, não escolhe nenhum caminho", ouve-se depois. Quem escreveu estas palavras foi Goethe (1749-1832), o autor do conto original em que se baseia a ópera Das Märchen, e uma das figuras centrais do primeiro romantismo alemão. Goethe e Schiller desenharam, desde fins do século XVIII, os contornos da ideia romântica de uma arte autónoma e definiram, nesse processo, a posição do artista, as condições do "livre jogo da imaginação" e as qualidades do génio criador.Mas já não estamos no fim do século XVIII. E é natural que esta enigmática (para não dizer esotérica) ópera de Emmanuel Nunes cause alguma perplexidade. A afirmação da autonomia absoluta do artista e da sua arte independente (no modelo a que alguns chamaram "arte pela arte") em tudo é contradita pela própria natureza da produção operática, e ainda mais neste caso de Das Märchen, onde há música, dança, teatro, projecção vídeo, electrónica ao vivo, cenografia, luz, etc. Embora o nome de autor tenha o peso que se sabe, o criador de Das Märchen não é só Emmanuel Nunes. E a arte na principal sala de ópera portuguesa não está sujeita apenas ao "livre jogo da imaginação dos artistas". Depende do Estado, de patrocinadores que mexem em muito dinheiro (por exemplo o BCP) e de várias instituições culturais. Dirão que estou a fugir ao assunto. Não: o assunto também é este.»



2. «Esta obra abre novos parâmetros de autismo devido ao desfasamento total do compositor relativamente ao mundo real, o mundo do público, e à estética. A obra não é contemporânea no verdadeiro sentido, é uma obra formada de elementos oriundos dos anos cinquenta e sessenta do século XX, é uma obra sem rasgo, uma repetição sistemática de acordes e elementos seriais, uma obra sem forma, sem corpo e sem estrutura, uma obra autista e fechada, não transgressora, reaccionária. Uma desgraça que custou mais de um milhão de euros. Uma obra megalómana e mediocre que custou (entre outras coisas) o lugar a Pinamonti. Uma ofensa ao público e a quem paga impostos. Uma obra à qual se percebem os referentes, Boulez e Stockausen, mas que nem de perto se aproxima. Onde está a luminosa e genial claridade e complexidade de Licht? Onde está a qualidade da música de Boulez? Não será em "Das Märchen", uma obra condenada a cair no esquecimento, uma primeira montagem e já está, é o meu vaticínio depois de sair desta estreia. Uma obra bem inferior às do Keil e do Machado.Lamentáveis as críticas entretanto saídas nos jornais, sem se comprometerem, sem meterem as mãos na massa, são críticas empasteladas, viscosas, que serpentando quais enguias, fogem descaradamente ao assunto. Uma chega ao ponto de afirmar: "Quem escreveu estas palavras foi Goethe (1749-1832), o autor do conto original em que se baseia a ópera Das Märchen, e uma das figuras centrais do primeiro romantismo alemão" (Pedro Bolèo no "O Público"). Romantismo alemão? Goethe? Não quererá dizer antes: classicismo alemão? Por outro lado sairam da sala muito mais de metade das pessoas da assistência (número apontado pelo "O Público") que enchia o S. Carlos no início. Saíram pelo menos dois terços, com muita tolerância...»


26.1.08

UM CONTO E A REALIDADE - 2


Sobre Das Märchen e Emmanuel Nunes, ler dois posts - I e II - de Augusto M. Seabra no seu Letra de Forma. «Enquanto objecto-ópera, nos seus próprios termos programáticos, Das Märchen afigura-se-me um desastre muito para além de tudo o que se poderia recear. Não vejo “promessa” ou “aurora” alguma na obra, tão só os fogos-fátuos de uma ópera enquanto manifestação do poder.»

Adenda: "Segundo o Diário de Notícias de hoje, no Porto assistiram à transmissão 165 pessoas, em Coimbra cerca de 150, em Beja 83 e em Leiria 25. No Funchal, a lotação do Teatro Baltazar dias esgotou, mas o DN omite qual a lotação do Teatro Baltazar Dias. Ah, e que os bilhetes eram de graça", escreve o Pedro Picoito.

25.1.08

UM CONTO E A REALIDADE


Estreia hoje a ópera - ainda encomendada por Paolo Pinamonti a Emmanuel Nunes -, baseada num escrito de Goethe, Das Märchen. A coisa dura quatro horas - 4 - e vai ser difundida, via satélite, para localidades tão ansiosas por conhecer a obra do mestre como Ponte de Lima, Vila Flor, Faro ou Aveiro. Não faço ideia quanto custa esta peripécia. Nem vou ao ponto, seguramente mesquinho e "inculto", de estabelecer uma relação entre o custo e o benefício. Que alguém beneficia com isto, de certeza. Porventura o povo que vai encher os teatros das localidades durante as intermináveis quatro horas? Talvez. Nunes? Com certeza. Vieira de Carvalho, musicólogo, doutrinador e secretário de Estado? Sem dúvida. Basta atentar na vasta publicidade paga nos jornais da qual constam conferências e "portos-de-honra", algo que faz muita falta à cultura pátria. Sei que o argumento é reaccionário e populista, mas, num país onde morrem pessoas porque caem das macas numa urgência hospitalar, a prioridade chamar-se-á Emmanuel Nunes, Porto em "honra" não sei de quem ou várias transmissões "satélite" a lembrar a nefasta "dinamização cultural" de 75?

15.12.07

LER OS OUTROS

Ainda sobre o lamentável Rigoletto em cena no São Carlos - e sobre o São Carlos e a "estratégia" Mário Vieira de Carvalho para a ópera -, vários textos do Augusto M. Seabra no seu Letra de Forma.

12.12.07

RIGOLETTO PÁTIO BAGATELA - 2

«Como é possível esta m.?». Henrique Silveira imolou-se pela segunda vez, e com o segundo elenco, na barbaridade em cena no São Carlos. Para já, Christoph Damman em "part-time" não chega. Pires de Lima e Vieira de Carvalho também não, mas isso é outra música.

11.12.07

RIGOLETTO PÁTIO BAGATELA


Regresso a casa, perplexo, da estreia de Rigoletto, no nosso único teatro de ópera, agora sob a direcção artística do alemão Christoph Dammann e a direcção efectiva do senhor SEC, Mário Vieira de Carvalho. Rigoletto integra, com La Traviata e Il Trovatore, a trilogia das chamadas "óperas populares" de Verdi. Das três, o Rigoletto será porventura o trecho lírico mais dramático. O "prelúdio" anuncia melodicamente o que se vai passar. E o que se vai passar está centrado numa "maldição" e na figura do bobo da corte do Duque de Mântua. O resto é residual em relação ao pathos do referido bobo, Rigoletto. A encenação que o São Carlos estreou prima por ser simultaneamente alarve e analfabeta. É alarve porque "desloca" a tensão nuclear da ópera para lado nenhum, misturando tudo e todos num espaço que tanto pode ser um prostíbulo como o Pátio Bagatela, ali a Campolide. É alarve porque introduz interrupções inusitadas para mover peças do cenário, quebrando a "unidade" musical fundamental da obra. E é analfabeta porque, quem a "pensou", ignora o libreto original preferindo introduzir "novidades" como a incestuosa relação do assassino com a sua irmã, no final, ou provocando uma solução cénica contraditória entre o que se diz e o que se faz quando, por exemplo, Gilda "fala" de Madalena (no original, com pena dela - "mais uma enganada" - e, na encenação, com manifesto ódio, em tudo contrário ao libreto). Ao protagonista - não fixei um nome - falta-lhe o ar e, como aos restantes, falta-lhe o fundamental, a densidade dramática. O Duque de Mântua, já de si algo caricatural, é desgraçado pela figura presentemente em cena. Ninguém lhes terá mostrado um "dvd" com Renato Bruson, Nucci ou Alfredo Kraus? A Gilda, cantada por uma americana com um nome improvável, faz vocalmente o que pode, sem possuir um pingo de dotes histriónicos, como todos os outros, aliás. Até a nossa Elisete Bayan, noutra encarnação, safava-se melhor. Finalmente, a orquestra. Esta récita evidenciou como uma boa orquestra, sem um maestro à altura, pode rapidamente oscilar entre a fanfarra da Carris e uma modesta orquestra amadora de província. Este maestro - também não lhe fixei o nome - destruiu o pathos das notas verdianas sem pestanejar. Para primeiro exemplo da "era post- Paolo Pinamonti", a noite não podia ter corrido pior. O São Carlos - já bastava este novo estranho público de ópera - não precisava regressar ao possidónio depois de um momento por vezes discutível mas inegavelmente cosmopolita. Este Rigoletto não respeita a grandeza musical de Verdi. Este Rigoletto lembra um empadão temperado a caldos Knorr e servido em regime de fast-food. Não se recomenda.

28.5.07

SÃO CARLOS, CINCO ANOS DEPOIS


Faz hoje cinco anos entrei pela primeira vez no São Carlos como fugaz membro da sua direcção. Ia lá desde os concertos para jovens geridos por José Atalaya, com os meus pais, aos domingos de manhã. No liceu, assistia, das defuntas "torrinhas", ao que se passava lá em baixo. Corria para o Coliseu, às "récitas populares", cedinho para apanhar bom lugar na "geral", com uns binóculos de caça que o pai de uma colega emprestava. Ouvi Kraus, pela primeira vez, na varanda do Coliseu de pé. Sim, porque o Coliseu, quando era vivo, era indissociável do São Carlos. Nesse tempo o Coliseu tinha um bar, um inesquecível bar, a que o saudoso Manuel Rio de Carvalho dedicou um magnífico artigo no Jornal de Letras, algures nos anos oitenta. Os bingos e a remodelação mataram esse esprit. Depois veio a Zampieri, a fogosa Zampieri com o Don Carlo, Il Trovatore e a Aida. Veio e ficou por muitas e felizes récitas, desde Luisa Miller à Força do Destino, da Norma à Manon Lescaut. Ribeiro da Fonte falhou uma Semiramide com Marilyn Horne, mas a Horne veio em forma de concerto. Pizzi encenou o mais belo Rinaldo a que assisti, com Tereza Berganza. Nos últimos anos de vida, João de Freitas Branco regressara ao teatro onde tinha, em pleno "fascismo", acabado com a obrigatoriedade do "black tie". Depois da EP - com João Paes, Serra Formigal, Manuel Vaz, Luís Barbosa e Ribeiro da Fonte - chegou a Fundação, o primeiro e mais decisivo passo para o abismo. Seguiram-se o instituto público e dois directores artísticos, um nacional e Paolo Pinamonti. Amaral Lopes, em 2002, convidou-me para integrar o conselho directivo com Pinamonti e uma senhora cujo nome já esqueci. Percebi rapidamente, como José Figueiredo com Salazar (não é presunção, é uma realidade), que o São Carlos só podia ser dirigido em ditadura. Mantenho-o. O actual governo acabou com o instituto e com Pinamonti, e criou uma entidade pública empresarial para pastorear o teatro e a Companhia Nacional de Bailado. A temporada em curso - que prossegue esta semana com o Macbeth - é ainda da responsabilidade de Paolo Pinamonti. Do senhor alemão escolhido pelo comissário Vieira de Carvalho, pouco se sabe e ele, seguramente, pouco há-de querer saber. Os novos responsáveis pela gestão, oriundos do ISCTE e do INH, só terão sucesso se efectuarem uma profunda ruptura no funcionamento da casa, agora com a CNB incluída. Ruptura que passa por acabar com sinecuras inexplicáveis, com disparidades salariais incompreensíveis e com uma burocracia interna totalmente desajustada e macrocéfala. O teatro deve concentrar os seus esforços e o dinheiro dos contribuintes na valorização dos corpos artísticos - coro, orquestra e, agora, bailado -, simplificando e reduzindo ao mínimo a componente "administrativa", ou seja, não adicionando os "vícios" do teatro com os da CNB. Quando me demiti - uma coisa que me doeu como doença incurável - defendi, como continuo a defender, que o teatro necessita de ser fechado para para se "reformar". O "show must go on" a qualquer preço não serve, a prazo, os interesses do teatro e, em última instância, os do público que desconhece "da missa a metade". O São Carlos é apenas uma ilha no meio da desgraça e da miséria gerais. Será. Salazar, todavia, considerava-o a "sala de visitas" do país e por isso o protegeu. Este regime e os seus serventuários têm-se servido mais do São Carlos do que jamais o serviram a ele. Não temos outro. Convinha, mesmo a quem não sabe dar-se ao respeito, respeitá-lo.

2.4.07

OPART, A INCÓGNITA CONVENIENTE


Lida a lei orgânica do Ministério da Professora Pires de Lima e do Intendente Vieira de Carvalho, fica-se sem saber ao que vem a OPART, a entidade pública empresarial que vai gerir – fundindo mas preservando as respectivas “autonomias artísticas” (o que é isto?) – o Teatro Nacional de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado. Quanto à segunda, Ana Pereira Caldas, a directora, não se mostrou favorável à OPART, mas não foi até agora prejudicada por delito de opinião pelo Intendente Carvalho. Pelo contrário, Paolo Pinamonti, até ao final deste mês o director artístico do São Carlos, já foi sumariamente removido por carta. A OPART é um daqueles mistérios próprios de quem, possuindo uma estratégia de dirigismo político-cultural digno da Coreia do Norte – já que aprendido na defunta RDA – precisa de um instrumento adequado, de carácter administrativo-financeiro, para que a dita estratégia funcione. Os nomes contam pouco. Quaisquer serviçais do regime servem e o novo director artístico da única ópera de Lisboa tem o recado bem estudado. Mesmo que, neste momento, os contornos da OPART sejam uma incógnita conveniente e a “experiência Fragateiro”, no D. Maria (ensaio nº 1 da dita estratégia), esteja a soçobrar por todos os lados. Dammann, o homem que vai “preservar” a “autonomia artística” do São Carlos, vem de Colónia e Colónia não é propriamente um lugar indiferente em matéria de música contemporânea. Há dias, na Casa da Música, onde passava um trecho de Emmanuel Nunes, ministra, Intendente e o ilustre compositor fecharam-se num gabinete durante o intervalo e ninguém os viu na segunda parte. Nunes, é bom recordá-lo, tinha uma ópera encomendada por Pinamonti para o São Carlos. A instâncias dele, compositor, a entrega da encomenda foi sendo adiada. A dada altura, Emmanuel Nunes deu uma entrevista em que anuncia melhores tempos – para ele, naturalmente – para o São Carlos. Ou seja, Nunes antecipa a saída de Pinamonti antes de o Intendente a consumar. Pierre Boulez, o “patrão” do IRCAM a que pertence Nunes, consta estar farto do português. Mais. O português ensina em Colónia, onde existe o Studio der Neue Musik Köln. Em suma, Nunes “precisa” de um teatro de ópera. Ninguém é ninguém na música contemporânea sem estar ligado à “galáxia” IRCAM, ao referido Studio de Colónia, sem ser “compositor aprovado” no Instituto Internacional de Música de Darmstadt e sem ter obra aceite no Festival de Royan. O Intendente Carvalho sabe da poda. A OPART é apenas o proscénio.

Nota: Este texto está publicado no nº 3 da Revista Obscena (em pdf) e deve-se a um amável convite de Miguel-Pedro Quadrio e à amizade do Tiago Bartolomeu Costa. Quando foi escrito, Paolo Pinamonti já sabia que ia deixar a direcção artística do São Carlos, embora não soubesse que não teria o apoio de Mário Vieira de Carvalho para assegurar a transição até ao final de presente temporada, apesar da sua (a meu ver errada) disponibilidade. Carvalho que a garanta já que Pires de Lima, para este efeito e outros, não existe.

31.3.07

REQUIEM


Venho do CCB onde assisti ao Requiem de Verdi, interpretado pelo coro do Teatro Nacional de São Carlos e pela Orquestra Sinfónica Portuguesa. Bons solistas da "safra" Pinamonti que hoje termina. O ex-director artístico disponibilizou-se por carta- a meu ver mal, porque esta gente não merece consideração de maior - para assegurar a transição para o sr. Dammann e para os "boys and girls" que se seguem (porventura os mesmos ou idênticos o que vai dar ao mesmo). Naturalmente isso implicava novo contrato porque ninguém trabalha de borla. O prof. Carvalho chamou Pinamonti à Ajuda e, na presença de uma "testemunha idónea" porque ubíqua (vamos, em breve, com certeza ouvir falar dela), comunicou-lhe que não havia mais contratos. Mandou o serventuário embora já que, com este, o assunto tratar-se-á na devida altura. Com todos os seus defeitos e virtudes, Paolo Pinamonti não merecia esta "expulsão" digna do pior PC. É por isso que apreciei tanto uma ideia lida num jornal há uns tempos, justamente a propósito do "caso Pinamonti". Sair do PC é fácil. Tirar o PC de dentro dos que dele saem é que é impossível.