SEM SÓCRATES

O dr. Ferro Rodrigues ressuscitou por uns instantes do anonimato para o qual o dr. Sampaio o havia remetido, inesperada e indelicadamente, em 2004. E para quê? Praticamente para explicar ao PS duas ou três trivialidades. É preciso não esquecer, antes de prosseguir, que o PS de Sócrates - e Sócrates ele mesmo - foi o maior beneficiado com o abrupto desaparecimento de Ferro depois de uma bela vitória nas europeias daquele ano. O CDS, esse fantasma que persegue o nosso embaixador na OCDE, não ganhou nada com a remoção de Ferro. Mas, de volta à entrevista, o que é que importa reter? Desde logo a convicção de que o PS pode não ficar à frente em 27 de Setembro. E, se ficar, não deve formar um governo minoritário e antes deve procurar "responsabilizar" o PC ou o BE ou, em derradeiro esforço, o próprio PSD. Ferro defende, pois, desde um governo tipicamente de esquerda até um governo dito de "bloco central". Para quem aposta em Ferreira Leite como próxima chefe do governo português, esta fala de Ferro é reconfortante. Ferro já está a pensar num PS sem Sócrates. Como nós num país sem admiráveis líderes. Sem Sócrates, evidentemente.