25.6.08

«O CAMINHO PARA O FECHO DE PORTAS»

«Perdemos todas as corridas. Perdemos a corrida para a Europa, a corrida para a industrialização, a corrida para a emergência de uma sociedade civil não artificial - porque a que por aí existe se vai parecendo cada vez mais com uma indecente barganha de dinheiros, favores e isenções - a corrida para a justiça, para saúde e para a educação. Ficou só o Bloco Central mais os futebóis, essa religião civil que vai lentamente tomando conta dos afectos, dos restos de lucidez e de bom-senso inerentes à espécie humana. Outros fogos surgiram, aqui e ali, como foguetório de entretenimento em momentos em que o comatoso recobrava o espírito. Coisas importantíssimas como os crucifixos nas escolas, as interrupções da gravidez, as drogas duras e moles, as regionalizações, as coincenerações e outras magnas tarefas do razonamento filosófico deixaram de lado coisas insignificantes como a reforma do Estado e da tributação, a reforma da educação, a formação do civismo e a discussão dos futuríveis. Estamos em coma há 10.000 dias. E aí se perfilam mais 10.000. É assim que estamos a calcetar, com paciência de coollie, o caminho para o fecho de portas.»

12 comentários:

Anónimo disse...

O autor do texto - com que, descontados alguns exageros, concordo - já é uma vítima do processo, com os seus erros de português. Razamento? Ou é de razia, mas o termo não existe nos meus dicionários, ou viria de rasar, tornar raso, etc. que é o que me parece que ele quer dizer. Estes à-vontades com a língua são muito de evitar.

joshua disse...

Mas há ainda um resto de portugueses que espera pelo reabir de Outra Porta, por nova Gerência por um novo acordar lúcido e decidido que nos devolva brios e objectivos, sentido de patriotismo, não mais a miséria da pequena ou magna barganha.

PALAVROSSAVSVRS REX

osátiro disse...

Retrato bem delineado da situação, presente e futura, "deste país".

Jorge Carreira Maia disse...

O autor escreve razonamento, um "castelhanismo" que pretende designar o uso da razão diferente do raciocínio. Já agora, existe a palavra razia, assim mesmo. Tanto o "Houaiss" como o "Porto Editora" registam essa entrada com o significado que lhe damos na linguagem corrente: destruição, devastação. Vem do árabe "rhaya": incursão, devastação. Um termo militar, portanto.

Falando em devastação. Hoje, aquele rapaz injustamente chamado Schweinsteiger não tem direito ao seu Rienzi? Pelo menos ainda não foi agora que mereceu o capitólio.

Combustões disse...

Obrigado Jcm

Anónimo disse...

socialismo e dirigentes incompetentes
os contribuintes alimentam o monstro

Anónimo disse...

Pôr no mesmo plano a Peste Rosa e a "trapalhonice" Laranja parece-me um erro de análise elementar que conduz também a estratégias de mudança politica erradas.O Nazismo e a República de Weimar são duas realidades diferentes.Tal como o são a Cosa Nostra ou os gangs da Cova da Moura.A espuma amarga dos dias que vivemos faz-nos por vezes perder a lucidez mas é nestes momentos que é mais necessário manter a Razão.

VANGUARDISTA disse...

Uma correcção:
Estamos em coma há, precisamente, 12.471 dias !

Anónimo disse...

Razia existe e é um termo bem conhecido. Creio que vem do árabe e com significado de acção guerreira rápida (e sangrenta). O que não existe é razamento. Todavia, a interpretação de Jcm é legítima ao pensar que me referia a razia. A minha frase está, no mínimo, dúbia.

Anónimo disse...

Jcm: comecei a ler o seu comentário, vi que a minha frase podia ter a leitura que lhe deu e fui pedir desculpas. Só agora reparo que deu o significado de razia. As minhas desculpas a todos.
Não conhecia o termo razonamento como castelhanismo (e não gosto dele e tenho dúvidas). Se fosse razoamento ficava perfeito, com uma ar português.

Anónimo disse...

"Se fosse razoamento ficava perfeito, com um ar português."

Do ponto de vista linguístico, a utilização de razoamento é aceitável. Razoar é servir-se da razão. Julgo,porém, que o autor do texto pretenderia outra coisa,que é uma forma muito específica de usar a razão. Há, de facto, uma lacuna lexical no português para esse uso especificamente filosófico da razão. Razoar e raciocinar descrevem os múltiplos uso técnicos (desde a matemática à retórica, a razão não faz outra coisa). O uso filosófico da razão é mais do que isso, pois é o de uma autoposição da razão que é, assim, autopoiética, no sentido em que cria a sua substância. Se se olhar para a forma como o autor utiliza o "razonamento filosófico" percebe-se a ironia: a mobilização do que há de mais fundamental na razão para tratar de assuntos secundários ou irrelevantes, provenientes da mera gestão da mercearia.

Combustões disse...

Caros Jcm e Anónimo:
O problema lexicológico da tradição filosófica portuguesa é a da inexistência de um dicionário que exprima com propriedade metalinguística conceitos e ideias existentes noutras línguas. Assim, socorri-me de castelhanismo muito usado por Ortega. Outros conceitos haverá, fora do campo da Filosofia. Lembro que os castelhanos possuem bom arsenal conceptual para exprimir, por exemplo, coisas bem distintas como "segurança" e "seguridade", esta última entendida como estado psicológico subjectivo e aquela como realidade. É um debate interessante, pois não pode haver pensamento sem anteparo conceptual.