Nunca percebi as contas da vida de um cão. Sei que o meu tem onze medidos pelos da nossa vida. Está inequivocamente velho. Como é pesado, coxeia embora arrebite e corra à vista de "colega" que lhe interesse. Custa-lhe subir as escadas e deita-se com facilidade na rua a descansar. Sei que vou morrer. E não apenas sei isso como sei que tudo e todos à minha volta também vão. Talvez por isso aprecie filosofia, essa silenciosa companheira que, ao mesmo tempo que incomoda a estupidez (Nietzsche), nos "prepara" (nunca "prepara") para nos vermos livres dos estúpidos para sempre. O cão, aparentemente, está dispensado a estas evidências. Ocorrem-me palavras de Fernanda Botelho. «Tudo à minha volta assume um cariz gerôntico. Estou a viver como uma espécie em vias de rápida extinção (...) Que torturada morte é esta ainda estúpida vida?»
8 comentários:
Onze anos caninos equivalem a sessenta na vida humana. Está apenas em má forma fisica, nada mais.
Ah, a filosofia... que tudo questiona e a nada responde, deixando uma sensação de vazio sempre crescente. Então um dia, mais cedo ou mais tarde, alguns (parece que afinal são quase todos, mesmo os mais renitentes) descobrem Deus. Quanto mais cedo O descobrimos, melhor, porque aqueles que O descobrem muito tarde não chegam a ter tempo para O conhecer. E aí, tudo muda, mesmo essa apreciação dos cães e dos seres (supostamente) irracionais.
Repito o que disse há pouco tempo a uma conhecida minha, filósofa, que sentindo-se a envelhecer ficava cada vez mais lúcidamente (quase cruelmente) amarga quanto à perspectiva do seu próprio fim: tenho pena de si, minha amiga. E ela, furiosa respondeu-me: tem pena? Pena de mim! Não lho admito. Porquê? Acha-se melhor do que eu? E eu respondi, calmamente: Porque, minha cara, mesmo que Deus não existisse - como você afirma tão peremptóriamente, parecendo saber alguma coisa que os outros não sabem - a minha vida seria sempre melhor do que sua; pois eu vivo esperançado e você vive desesperada. Só isso faz imediatamente uma enorme diferença na maneira de existir, mesmo aqui e agora.
Onze anos caninos para um cão grande, como parece ser o seu, correspondem - de acordo com as mais modernas apreciações - a cerca de 80 anos. Portanto, quase tão velho como o Saramago... ;)
A sua meditação é para dizer que, com o aumento da "esperança de vida", aumentou o tempo para aturar a estupidez (alheia, presume-se ....), e não temos paciência para tal?
Mas veja o lado postivo:
Pode ser que venhamos a ter um treinador decente para a Selecção de futebol, ou de outra;
Pode ser que venhamos a ganhar o 1º luga, por direito próprio, no Futebol, e no restante;
Pode ser que o PSD venha a ter uma ideologia que o guie (esperemos que democratica ...);
Pode ser que os eleitos percebam que não é impunemnte que chamam estúpidos aos eleitores,
e fico por aqui, que isto já chega para termos uma longa vida ... de cão.
Também acho que vai ser difícil sair com vida desta merda
Não convém que morra. Afinal de contas o seu blogue é um dos preferidos da blogosfera. E dos meus também.
Como disse o observador no comentário acima. É preciso ver o lado bom das coisas, mesmo que eles, por vezes, sejam díficeis de descobrir.
A secura desesperançada é uma doença da alma: embeber-nos de Cristo, correr-nos no sangue a Sua linfa, ter olhos para O-Que-Vem, isso é Dom e Músculo que rechaça tudo o que é fútil, rasteiro e vão.
Jean Guitton, por falar em filosofia, talvez te fosse um Menu bem a propósito, João. Frui o teu cão como um modelo de morbilidade serena. Tigre que busca a sombra para morrer, animal que ensina essa arte escondida.
Aquele Abraço só canino na decente lealdade, no mais Humano como Tu.
PALAVROSSAVRVS REX
http://www.abrigodosbichos.com.br/Forum/Topico243.htm
Para esclarecer a idade do cão!
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