28.2.09

O CABEÇA

Sócrates esqueceu-se de mencionar Medeiros Ferreira - o MNE que, em nome de Portugal, solicitou a adesão do país - quando falou dos seus "camaradas" que ajudaram a ligar isto à Europa. Só lhe saíram os nomes do costume. Dito isto, a escolha de Vital Moreira não é totalmente despropositada apenas para o preciso efeito das eleições europeias. Quanto ao resto, aquela inevitável retórica coimbrã não o vai ajudar por aí além. Nem tão pouco a circunstância de se manifestar sempre mais "socrático" do que o próprio Sócrates, coisa que a esquerda à esquerda do PS (um eleitorado de que o PS precisa como de pão para a boca apesar de não parar de o insultar na nave de Espinho) não lhe deve perdoar.

O CONGRESSO - 7


Numa das televisões que está a acompanhar o congresso em sessão contínua - como numa sala de cinema pornográfico - ouço a "socranete" Ana Sá Lopes defender aquela parte da moção do querido líder em que, para se dar ademanes de esquerda, são mencionados os casamentos same sexers que, manifestamente, "incomodam" os próprios fiéis presentes na nave. Gosto mais deste género de jornalistas que não escondem as suas "emoções" políticas - mesmo que sejam grotescas de tão desfasadas da realidade que costumam estar - do que dos farsantes que proferem diatribes "abstractas" e que têm exactamente as mesmas "emoções" e prestam exactamente os mesmos fretes que os primeiros. Nenhum dos "géneros" tem vergonha na cara mas uns têm um bocadinho mais do que os outros.

UM TEIMOSO AUTORITÁRIO

"Firme, moderno e cosmopolita", assim definiu António Costa o querido líder a terminar a apresentação da moção dos mil e setecentos delegados deles os dois. Costa, que sabe muito, não diz nada por acaso. Por isso, esta adjectivação em que os significados não correspondem aos significantes e vice-versa (onde é que alguma vez na vida Sócrates pode ser classificado como "moderno" ou "cosmopolita" quando não tem mundo? e onde é que a vulgar teimosia autoritária do querido líder pode ser confundida com firmeza?) só serve para os fiéis se babarem um pouco mais mesmo sem perceberem o que é que Costa quis dizer. Se calhar estava a gozar.

O CAVALO...

De Tróia.

O CONGRESSO - 6

«Se o discurso de abertura de José Sócrates fizer escola e o povo socialista responder de forma solidária, então o XVI Congresso pode muito bem ser o congresso das campanhas-negras, das calúnias, das infâmias, das difamações – e, já agora, da caça às bruxas que têm a coragem de pôr os dedos nas feridas de um político que se julga dono absoluto não só dos socialistas – o que é verdade –, como do País, o que começa a ser uma triste realidade. Resta saber se o Portugal que está em Espinho sabe que lá fora o desemprego dispara e o desespero aumenta em muitas famílias. Decência seria Sócrates ter falado disso, das vidas negras de muitos portugueses.»

António Ribeiro Ferreira, Correio da Manhã

O CONGRESSO - 5

«Quando o Primeiro-ministro usa o caso Freeport para conduzir uma luta política, ao mesmo tempo que pretende chantagear quem o discute substantivamente ( e meus caros amigos há matéria para o fazer e não é pouca), não se pode ficar silencioso, que é o que ele quer. Nem se pode nomear a TVI e o Público como querendo "governar" o país fazendo um complot contra o governo e as excelsas virtudes do Primeiro-ministro, sem perceber que este homem quer amordaçar o mais pequeno vislumbre de irreverência e independência da comunicação social. Estivesse esta mais viva e menos situacionista e as palavras de Sócrates ontem dariam origem a uma indignação que nos faz falta em nome da liberdade. Porque este homem é perigoso, demasiado perigoso.»

José Pacheco Pereira, Abrupto

O CONGRESSO - 4

«Mais um espectáculo de arrogância, pesporrência e abuso de poder do ministro da propaganda na inútil entrevista a Judite Sousa (RTP1, 19.02). O zénite foi a exigência de um pedido de desculpas à RTP - que ele tutela! - devido à autopromoção da Grande Entrevista. O episódio está errado em todos os seus aspectos: os ministros não devem exigir desculpas por tão pouco, e muito menos a uma empresa que tutelam; a autopromoção apresentar som de Santos Silva "militante PS" por trás de imagens de Santos Silva "ministro" não tem mal nenhum quando é o próprio ministro da propaganda que mistura as funções - na própria entrevista ele as misturou, pelo que a autopromoção acabou por ficar ainda mais justificada. Obedecendo aos ministros da propaganda desde 1957, a RTP apresentou mesmo desculpas a Santos Silva. Ministro da propaganda e órgão de TV do Estado: estão bem um para o outro. Para quê os arrufos?»

Eduardo Cintra Torres, Público

O CONGRESSO - 3

«Alegre ainda não esclareceu se ilustra ou não ilustra o Congresso com a sua gloriosa presença. Aparecer em Espinho é a sua submissão ao PS de Sócrates. Não aparecer é uma rejeição pública quase imperdoável. Alegre compreensivelmente balança. Vive da ambiguidade e, sem ela, acaba. Só que hoje o tempo da ambiguidade é curto. Ou ele se decide depressa ou depressa deixa de importar o que ele decida. A vida passa bem sem ele.»

Vasco Pulido Valente, Público

27.2.09

CAUSA DELE

Realmente a "estatura" do professor de direito - e a mais recente aquisição para paineleiro televisivo - "não pára de baixar" em benefício do velho "agitprop" de outros tempos. Só mudou o partido. E o querido líder. De resto, é como diz um amigo meu. Nos tempos que correm as portas não estão dimensionadas para pessoas altas.

O CONGRESSO - 2


A "entrada" para o congresso de Espinho parece a chegada para um conselho de ministros com a nuance de os ajudantes dos ministros também estarem presentes e serem autorizados a falar. O resto são quase dois mil figurantes. A primeira "votação" (para a mesa do congresso) teve "apenas" 99% dos votos dos delegados presentes. Começam bem. Aprumadinhos.

Nota: Almeida Santos, um desgraçadinho mundialmente reconhecido, fala em "titulares de privilégios" que o admirável líder terá combatido firmemente nestes quatro anos. Sabe muito esta velha múmia.

Nota2: O querido líder dirige-se aos seus camaradas precisamente nos mesmos termos e usando os mesmos "conceitos" recorrentes dos anúncios, do power point, da propaganda exibida nas tendas armadas nas auto-estradas. Nem os fiéis são poupados.

Nota3: «Não se percebe que os organizadores do Congresso tenham colocado umas cortinas pretas à volta do recinto para impedir as televisões de mostrar os congressistas de frente. Servem para quê? Afinal, de que tem medo Sócrates? De si mesmo? Do partido? Ou dos cidadãos eleitores?»

Nota4: «Plasmas, holofotes de várias cores, tendas transparentes, telas, parques de estacionamento cheios de Mercedes, painéis de leds no palco. Um show. É bom ser poder.»

Nota5: Regressou o gladiador da "campanha negra" que, parece, vem já desde 2004. Uma velha música e um discurso que também já acusa uma certa idade.

Nota6: A "campanha negra" teve uma nuance com a introdução da expressão "calúnia" que foi associada, entre outros fantasmas, a televisões e a directores de jornais. Até Ramos Rosa foi citado através do termo "liberdade livre" por causa da "calúnia". Ora a "liberdade livre" passa pela liberdade de expressão, a começar pela dele que todos aturamos a título de abnegado serviço cívico. E - naturalmente e sobretudo - pela liberdade de informar e de comentar. Isso é que é "decência democrática".

DEMAGOGIA FRACTURANTE

Esta senhora não percebe que, ao utilizar este argumentário primitivo - comparar a ausência de comentários sobre a morte de um rapaz de 14 anos com um tiro policial (de certeza que o rapaz não estava propriamente a saltar ao eixo ou a jogar berlinde) com as reacções sobre o ridículo episódio dos livros de Braga - está a ser demagógica e absurda. Mas deve ser precisamente por isso que vai fazer de Clara Ferreira Alves num novo programa de televisão. Imaginam-se "polémicas", "giras" , "progressistas" e "diferentes" quando não passam, afinal, de correctíssimas trivialidades com duas pernas e uma cabeça. Só é pena que a usem tão mal.

UMA SOCIEDADE E UM LÍDER CONFRANGEDORES


Noutras ocasiões falei aqui de Vitorino Magalhães Godinho. Pelo Diário de Notícias, através de um trabalho de João Céu e Silva, apercebo-me da edição de um livro de ensaios do historiador, intitulado "Ensaios e Estudos - Uma Maneira de Pensar", Vol. I, da Portugália, pretexto para uma entrevista. No meio de tanto tagarela ignorante - e todos os dias nos são "revelados" novos "talentos" - a palavra certeira de Magalhães Godinho, com 90 anos, é sempre um consolo. Sobre os "nossos inefáveis dirigentes políticos cuja obtusidade é alarmante" e sobre uma "classe política que é mais do que lamentável", Godinho não hesita: «não têm ideias e não debatem (...), assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram (...), diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica (...), quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos, em todos.» Mas o admirável líder é, para Godinho", «a pessoa que mais [o] confrange porque ainda não o [ouviu] responder a uma pergunta com argumentação.» Até deixou de o escutar, acrescentou (para bem da sua longevidade, seguramente). Sócrates não saberá, então, o que anda a fazer? «Sabe sim, infelizmente (...) Sabe pôr de parte todas as conquistas do mundo civilizado.» E conclui, como muita gente, que «não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.» Aliás, o que é que se poderia esperar de um povo e de umas elites («não as temos») que não são capazes «de resolver os problemas pela inteligência»?

A CORRECÇÃO COMEDIDA

O CONGRESSO - 1


Começa, cheio de holofotes como numa produção La Féria, o congresso albanês do PS em Espinho. O evento existe para as televisões e as televisões, certamente, não se farão rogadas. Também tem, à boa maneira daqueles congressos unanimistas caídos em desgraça depois de 1989, uma "comissão de honra" onde os jarrões da casa têm assento. De resto, são mil e setecentos delegados afectos ao querido líder e vinte e duas almas penadas eleitas porventura por engano. Este bando de dependentes anseia naturalmente por qualquer coisa em ano com três eleições e está lá apenas para aplaudir a sessão contínua de propaganda que se anuncia. Com as duas ou três vozes livres e independentes que subsistem fora de cena - umas por cá, outras enviadas para fora - o congresso é uma metáfora circense destinada a bajular Sócrates. Mesmo as "novidades" - cabeça de lista para as europeias e talvez uma "medida" daquelas que são depois repetidas dentro de tendas até à exaustão - não interessam nada. Para já, a coisa começou muito bem com o inevitável Santos Silva, o perigoso patrulheiro em serviço permanente, a criticar a dra. Ferreira Leite por ter dito que não é muito curial o primeiro-ministro ausentar-se de uma cimeira da UE, no domingo, para presidir à sessão dos balões, dita de encerramento das festividades. Sobretudo depois de o MNE Amado, há dias, se ter mostrado indignado por causa de uma reunião da UE em petit comité, entre os seis "grandes", ignorando países extraordinários como, por exemplo, Portugal. Mas, dizem as "sondagens", o rebanho aprecia ser pastoreado por esta gente. Eu não. Bom proveito.

"CREDIBILIDADE"


Há um mês, o ubíquo dr. Portas garantiu solenemente que não fazia alianças e que não apoiava, no parlamento, nenhum governo minoritário. Agora, a propósito das alterações que propõe em matéria penal, dá o dito por não dito desde que aceitem as suas propostas. E independentemente de quem as aceitar, pelos vistos. Chama-se a isto "credibilidade".

O NEGÓCIO

O governo gostou ou não do negócio da CGD com o sr. Fino? Sócrates, apesar das notícias que até os cegos leram e os surdos ouviram, só "tomou conhecimento" da coisa na terça-feira de carnaval. O ministro das finanças fez umas contas e considerou o negócio "um mal menor". Por seu lado, o presidente da CGD entendeu que aquelas noticias bastavam e só comunicou o negócio à CMVM. Regresso à pergunta inicial. Ou seja, ficamos sem saber o que é que o maior accionista da CGD - o Estado - pensa realmente de um negócio que aparentemente lhe passou ao lado e que consequências tira desse "pensamento". Dá ideia que não pensa grande coisa.

26.2.09

A FACTURA DA FANTASIA

Manuela Ferreira Leite, a Mário Crespo, em directo, a partir de Braga, explicou de forma linear o caminho do país para o empobrecimento e a sua ligação com o endividamento externo. A obsessão por mais investimento público - a estupidez de uma nova ponte em Lisboa, as "concessões" estradais da propaganda lançadas em cerimónias de tipo soviético, etc. - quer simplesmente dizer, numa situação como a actual, que se está a transferir para gerações futuras a factura da fantasia. Para a geração incumbente, é o que se vê e o mais que se vai ver. Não vale a pena bater no ceguinho.

Adenda: A nova tvi24 também ouvirá a dirigente do PSD num programa que estreia lá para a meia-noite, Última Edição. E não, não estou a fazer propaganda nem à televisão nem a Ferreira Leite. Só estou é farto de ouvir sempre a mesma propaganda.

O QUE É


«Gostar de ti.» Não é preciso dizer mais nada.

TANTA CONVERSA...

Com o investimento público e, afinal, isto.

BASTIDORES


O dr. Paulo Pedroso, deputado da maioria, parece ter-se dado conta de que o PS que veio encontrar após uns tempos de afastamento é outra coisa.«Há uma acomodação dos militantes à pressão da governação. O PS é um bastidor do Governo», disse ele. Só lhe fica bem. E gostava de ver o admirável e insubstituível líder - bem como o dr. Soares - em Almada aquando do lançamento da candidatura de Pedroso à presidência da respectiva Câmara. Pedroso não é "menos" que Elisa Ferreira e Almada é praticamente a Gaia do Porto. Vamos ver se, desta vez, ficam nos bastidores.

PORNOCRACIAS


Também tive a mesma sensação ao ler o post da senhora dona f. Aquilo serve exactamente para quê? Para mostrar que leu o ensaio de Susan Sontag sobre pornografia? Ou que viu as fotos da sua amante fotógrafa, nua e grávida, ou da própria Sontag nua, viva e morta? Ou que o Jeff Koons devia estabelecer-se em Braga? Que não aprecia Courbet? Que adora Mapplethorpe e que o dito também foi "censurado" em sítios mais "finos" do que o Minho? Ou pura e simplesmente porque, como escreve o João Carvalho, não tem nada de substancial para dizer a não ser poupar os pobres agentes da PSP que leram "pornografia" lá onde se escrevia "pornocracia"? O que f. podia ter acrescentado à sua nula prosa é que, por causa de um regime mais próximo de uma "pornocracia" do que de outra coisa qualquer, pequenos episódios aparentemente insignificantes e, até, ridículos como este, assumem outras proporções. Ou só é "fracturante" aquilo que o chefe manda que seja "fracturante"? E já que não conseguiu colocar a "imagem" que queria, aqui a tem. Que lhe faça bom proveito.

MEIO PÃO

Um tribunal em Barcelona condenou um mendigo por ele, com violência, ter roubado meio pão. Pelo andar da carruagem - veja-se a "simbólica" pena de multa aplicada há dias a um conhecido empresário acusado de corrupção activa - por cá bastará o mero furto de uma carcaça. Se se fala aqui tanto de justiça não é apenas por o autor do blogue ser jurista. Fala-se porque, depois de trinta e cinco anos, o regime apresenta a justiça, não como algo que corresponda a um "sentimento jurídico colectivo" de certeza e segurança, mas antes como um sistema precário, frágil e facilmente manipulável em que alguns dos seus "operadores" são os primeiros a colocar em causa aqueles princípios. Uma justiça de "garzons" e de "garzonetes" não é justiça. É outra coisa travestida de justiça. Basta espremer os resultados. Meio pão. Ou, as mais das vezes, nem isso.

O FRACASSO


Se isto corresponder à verdade também corresponde à confissão pública de um fracasso. O senhor conselheiro Pinto Monteiro comove-se facilmente com processos de intendência - inquéritos internos para "apurar" quem viola o segredo de justiça nos processos em investigação, ou seja, inquéritos sobre os inquéritos que normalmente levam a lado nenhum - e com "jogos mediáticos"para os quais conta com a "colaboração" de alguns dos seus mais distintos subordinados. Só que a acção penal, para ser consequente, deve ser oportuna e discreta. No caso vertente, "optou-se" por não se conseguir as duas coisas. Assim sendo, por que não dar razão ao primeiro-ministro quando ontem, no parlamento, naquilo a que ele chamou de "programa" (televisivo), afirmou que não tinha nenhum "tabu" em relação ao "caso Freeport"? Se o senhor PGR não tem, por que é que ele devia ter?

25.2.09

NADA

Para "blindar" o chefe e defendê-lo de questões incómodas ou para o poupar na repetição de anúncios (mesmo assim não resistiu à tentação e, nas respostas aos deputados, disse invariavelmente a mesma coisa e citou os mesmos números várias vezes), o PS parlamentar foi instruído no sentido de "perguntar" ao primeiro-ministro pelos "sucessos" do "plano tecnológico" entretanto descritos (na versão deles) por Alberto Martins e Afonso Candal, os delegados de Santos Silva neste debate. Sócrates evidentemente não se poupou e, uma vez "puxado" o "Magalhães" para a mesa, não hesitou como se já estivesse em congresso: «Portugal vai ser o primeiro país no Mundo onde todas as crianças dos seis aos dez anos têm um computador pessoal.» O governo está como que num limbo "governado" pela crise para a qual só ele, Sócrates, tem "soluções" e um "Magalhães". Mesmo que retóricas, vagas, inúteis ou meros paliativos formais não são admitidas interrogações nem interferências na genialidade com que este este governo os "inventou", às "soluções" e ao "Magalhães". Isto permite que tudo o resto seja tratado com sumário desdém (v.g. a CGD e o sr. Fino, o BPP, os 70 mil novos desempregados, etc., etc.). Até estranhei Sócrates não se ter louvado na Comissão Europeia que elogiou - como se aquilo fosse uma coisa extrordinária ou original - a revisão do PEC português para permitir alargar o défice público. O que verdadeiramente se percebeu disto é que Sócrates está farto dos debates. Porque, na verdade, a crise passou a justificar tudo e o seu contrário. Mais adequadamente, nada.

UM ASSESSOR À ALTURA OU A ALTURA DO ASSESSOR



O único momento verdadeiramente interessante do debate quinzenal no parlamento com o admirável líder foi aquele em que Paulo Rangel, o chefe da banda parlamentar do PSD, revelou o nome do "organizador", por parte do ministério dirigido por Mário Lino, das tendinhas e os beberetes onde é anunciado o betão estradal por esse país fora. Trata-se, nem mais nem menos, do que o "assessor" (de Lino, presume-se) Humberto Bernardo, uma antiga "produção" de Teresa Guilherme e um "apresentador" nato, como se pode concluir pelo talento evidenciado no vídeo acima. Grande país este que consegue ter assessores governamentais à altura de um Humberto Bernardo.

Clip: Daily Motion

"NINGUÉM SE ATREVE A PRESSIONAR-ME..."

«A demissão do Ministro da Justiça espanhol Mariano Bermejo do governo de Zapatero por ter ido caçar com o célebre juíz Baltazar Garzon na altura em que este abriu um processo de corrupção que envolverá membros do PP é perfeitamente incompreensível em Portugal. Cá uma coisas dessas era noticiada na imprensa cor-de-rosa, com fotografias, e a declaração de ambos de que ninguém falara de «política» na caçada...»

José Medeiros Ferreira, Bicho Carpinteiro

UM ARTISTA PORTUGUÊS


Diogo Infante deixou o Maria Matos supostamente porque a CML não lhe dava dinheiro. A CML na altura desmentiu e deu a entender que o actor tinha uma "agenda". Tinha, de facto. Era o Teatro Nacional D. Maria. Infante é agora, de direito, o director artístico da vetusta instituição. E concedeu uma entrevista ao Expresso em que, justamente, volta a queixar-se da mesmíssima falta de dinheiro. Dão-lhe um milhão e meio (mais quinhentos mil euros que davam a António Lagarto antes do episódio Fragateiro e não consta que a casa tivesse ido abaixo ou sequer se ouviram suspiros melancólicos como este) mas sobre programação (por que ele é responsável), nada. O Estado, aliás, não lhe paga mais de sete mil euros brutos para vir a público proferir banalidades ou sublimes tiradas sobre o "futuro" do Teatro como quando afirma que pretende "mudar os estofos dos sofás e que o Sr. 1º Ministro vai oferecer uma carpete nova para o Salão Nobre." Palavras para quê? Não é um artista português?

"SEM RESOLUÇÃO NADA SE FAZ"

»Em que cuidamos, e em que não cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se cada dia nos imos chegando mais à morte, e ela a nós, não se acabe com este dia a memória da morte. Resolução, resolução uma vez, que sem resolução nada se faz. E para que esta resolução dure e não seja como outras, tomemos cada dia uma hora em que cuidemos bem naquela hora. De vinte e quatro horas que tem o dia, por que se não dará uma hora à triste alma? Tomar uma hora cada dia, em que só por só com Deus e connosco cuidemos na nossa morte e na nossa vida.»

Vieira, Sermão de Quarta-Feira de Cinzas, Igreja de S. António dos Portugueses, Roma, 1670.

24.2.09

VERDI



Verdi: Nabucco. Leo Nucci e Dimitra Theodossiou.Vigoleno. Junho de 2008

ZELO CAUTELAR, A IDOLÁTRICA QUANDO ERA GLORIOSA E OS PEQUENINOS APRENDIZES DE SANTOS SILVA


A "PARTICIPANTE" CAPRICHOSA


Pedro Santana Lopes arrasa aquela intelectual lusa que começou a sua carreira político-mediática ainda na velha sede do PS, à Rua da Emenda, a ler jornais, e que ultimamente andou na RTP "caminhando" de braço dado com o dr. Soares pelas sete partidas do mundo dele.

«Sem dó e sem piedade é como se deve qualificar a falta de nível de um programa que dá, aos Sábados, na SIC, principalmente, da parte de uma participante. Muito raramente assisto, porque me faz impressão o ar doutoral com que algumas pessoas falam de quase tudo sem saberem quase nada (...). Há participantes desse debate que levam aquilo meio a brincar, o que parece ser a ideia inicial do programa. Mas aquele azedume, aquele mau estar com a vida, com tudo e com todos, mas, principalmente, quero crer, consigo própria, é intolerável. Não deve gostar de se ver ao espelho e até devemos respeitar isso: cada um pensa o que quer de si próprio. Agora, tempo de antena dado a quem é tão sectário, tão insultuoso, tão desagradável, é um desperdício. É que os outros, apesar de tudo, pensam, gritam debatem, riem. Ela odeia, é o eixo do ódio.»

Sucede que, quem se mete com a "participante", leva. Até processos em tribunal. Pedro Santana Lopes, no entanto, concedeu-lhe um dia o benefício da dúvida e ela não recusou. Foi directora da Casa Fernando Pessoa onde, apesar da empáfia, não deixou recordações. Fora esse "lamentável incidente", é "sistémica" e PS friendly ou, mais propriamente, Soares friendly o que, para o regime, constitui biografia. Como uma vez lhe disse, PSL, tem de ser mais exigente na escolha dos seus amigos. Gente desta, caprichosa, só gosta dela mesma.

Adenda: PSL também se "admira" pelo facto de nenhum jornalista do semanário Sol ser paineleiro televisivo. Não queria mais nada...

NÃO HÁ ALMOÇOS DE BORLA

Só agora é que o governo "descobriu" a "natureza" do BPP. Andou com aquela plutocracia regimental ao colo até chegar à brilhante conclusão de que não deve utilizar "fundos públicos para solucionar um problema associado à gestão de fortunas pessoais", apesar de manter o aval aos depósitos. O estranho nisto tudo - ou talvez não - é que só o pobre do dr. Oliveira e Costa, doutra agremiação bancária caída em desgraça política, esteja detido. E que, por exemplo, o sr. Rendeiro ande por aí em conferências e almoçaradas como se não fosse nada com ele. Nada acontece por acaso neste regime.

A FARSA


Ao fim destes anos todos, dez dos quais passou como Presidente da República e uns quantos como primeiro-ministro, Mário Soares veio "descobrir" que, afinal, o segredo de justiça se transformou numa farsa. «A justiça é lenta e parece não conduzir a resultados visíveis e claros, para o cidadão comum. Ora, como sabemos, uma justiça independente, justa e célere é um dos pilares essenciais para o bom funcionamento da democracia. Não é isso, infelizmente, o que acontece. Magistrados, procuradores do Ministério Público, advogados, etc., têm de ter a consciência disso. Há fugas de informação, que não se sabe donde e como vêm nem por que razão não se investiga donde surgem. Mas a verdade é que chegam rápida e lamentavelmente aos meios de comunicação social, que, por sua vez, fazem inquéritos e organizam verdadeiros "julgamentos na praça pública", arrasando reputações, sem que as pessoas visadas se possam defender.» É, não é? Dos dois grupos profissionais que cita, uns ligados ao direito e os outros à comunicação social, qual é que será o que, melhor ou pior, tem cumprido a sua função? É culpa destes últimos (e Deus sabe como eu não tenho temores reverenciais perante os media) que as "informações" lhes cheguem "rápida e lamentavelmente"? É lamentável porque chegam cedo demais? Ou é lamentável porque só deviam chegar devagarinho, as que "interessam" ou às pinguinhas consoante o "alvo" em vista de acordo com as técnicas mais básicas da "intelligence" política? Sabe, dr. Soares, há muitas maneiras de ir à caça sem precisar disparar um tiro.

23.2.09

LÁ COMO CÁ

Em Portugal, um crime de corrupção activa "vale" cinco mil euros de multa e não se fala mais nisso. Em Espanha, o ministro socialista da justiça demitiu-se porque foi caçar (sem licença) com o Torquemada Baltazar Garzon que agora anda atrás do Partido Popular. Uma mera coincidência, certamente. Apesar de tudo, lá se demitiu. Não é, todavia, por acaso que um cronista do ABC escreveu isto a semana passada: «Zapatero tiene en sus manos algo de lo que no dispone ninguno de sus equivalentes en Europa, el control cuasi omnímodo de los medios audiovisuales y, dentro del PSOE, no hay quien le lleve la contraria. Una oposición como la que lidera (?) Mariano Rajoy, que ni se entera ni sabe defenderse, es el chollo para el leonés; pero al hombre debe pesarle más la saña que la razón. Los medios informativos próximos al socialismo imperante, en permanente concurso de méritos para merecer el cariño contabilizable del amo al que sirven, se afanan en esa tarea insensata de acabar con el PP y, sobre lo que brinda la realidad, que no es poco, añaden su fantasía y su capacidad para la insidia.» Lá como cá.

A NOITE DO MUNDO


Pensei que a PSP já estivesse "civilizada". Em Braga, três agentes "levantaram" o "competente auto" e apreenderam numa feira de livros de saldo alguns exemplares de um livro sobre pintura que ostentava na capa o famoso Courbet, A Origem do Mundo, cujo original está no d'Orsay de Paris. A desculpa para tão relevante quanto bronca operação policial foi escorreita: os livros continham imagens pornográficas expostas publicamente. No IGESPAR, dirigido por uma eminência socialista, saiu uma "circular interna" que proíbe os técnicos superiores de todas as divisões do Instituto, sob pena de acção disciplinar, de emitir pareceres "desconformes" com a posição "oficial" do dito Instituto e que, mesmo quando não concordem com ela, a "defendam" com "empenho" perante terceiros. Convém recordar que o IGESPAR, nos últimos tempos, tem tido mais preocupações com o betão do que com a preservação do património arquitectónico nacional propriamente dito. Estes dois episódios, não estando naturalmente ligados, evidenciam que esta gente, tal como a ignorância, é não só atrevida como perigosa.

THE WEST COAST

Luís Amado, o nosso MNE e pessoa sensata, foi a Bruxelas e protestou por uma alegada falta de "coordenação" dentro da UE e por causa de uns "sinais" quaisquer que têm sido detectados (por ele) nos últimos meses e que, ainda segundo Amado, não contribuem para o reforço da "coesão" europeia. Traduzido em português, isto quer dizer que o governo - naturalmente na pessoa do seu chefe - não gostou de não ter sido convidado para uma cimeira dos "seis" maiores da UE. Também não deve ter apreciado a posição da presidência checa (na pessoa do Chefe de Estado, Václav Klaus, que zurziu metodica e vigorosamente, diante do Parlamento Europeu, o embotamento da UE) contra a burocratização institucional da Europa tal como a "cristalizaram" no Tratado de Lisboa. De que é que Amado estava à espera? Que o considerassem "grande" e decisivo para o futuro da Europa e, sobretudo, para o combate à crise? Se o seu chefe ficou incomodado, por que é que troca a cimeira do próximo fim de semana pelo seu congresso albanês? Depois admiram-se de nos tratarem (de sermos) periféricos e irrelevantes.

NÃO PRETENDER AGRADAR


«Nós não temos que concordar, nem ser muito amiguinhos, com aqueles que acham normal a situação de injustiça, desigualdade e de corrupção que se vive em Portugal. Acho muito mais interessante blogues, com que eu não concordo, mas que sustentam radicalmente, e sem paninhos quentes, as suas ideias, do que essa blogosfera mole e tépida que quer agradar tudo e a todos. Por muito que custe a determinados cultores da vida social, a radicalidade da forma é também uma expressão de um conteúdo. Com textos compridos e curtos, com imagens e com frases, nós não pretendemos agradar. Queremos mesmo chatear: façam o favor de ir à merda.»

Nuno Ramos de Almeida, 5 Dias

O PAÍS E AS TRIVIALIDADES POPULISTAS

Francisco Saarsfield Cabral escreve no Público:

«O primeiro-ministro prefere a propaganda. Quase todos os dias aparece na televisão a anunciar uma iniciativa, uma medida, uma obra (às vezes em cerimónias mediáticas pagas pelas empresas construtoras). E não distingue coisas realmente úteis que o Governo tem feito de trivialidades populistas. É significativo que, no congresso da Associação Portuguesa de Empresas Familiares, um empresário da estatura e do perfil ético de Alexandre Soares dos Santos (Jerónimo Martins) tenha dito que a crise é agravada pela "demagogia intolerável do primeiro-ministro". Se somarmos o cansaço da repetição dos argumentos ("nós actuamos, os investimentos públicos são a resposta à crise", etc.) à perda de credibilidade decorrente do anterior excesso de optimismo, é duvidoso que a campanha propagandística do Governo seja eficaz. Julgo, até, que ela começa a tornar-se contraproducente.»

No país - uma coisa totalmente diversa da propaganda das tendas e das "trivialidades populistas" para consumo dos fanáticos dependentes e dos embrutecidos por um ano eleitoral em perspectiva - o desemprego cresceu em Janeiro cerca de 45% em relação a Dezembro último e cerca de 23% face a Janeiro de 2008, num total de mais de setenta mil desempregados inscritos nos organismos adequados só no primeiro mês do ano. É este país que vai ficar fora da "nave" de Espinho onde decorrerá o congresso do PS. Mas é dentro da "nave" que estarão os extra-terrestres babosos e o seu incontestado "conducator".

LUGAR AQUI


Recebi um comentário neste post e não tenho razões para duvidar da sua autoria. Por isso, e com a devida vénia e consideração, transcrevo-o na íntegra. As pessoas que respeito (poucas, autênticas e que não escondem os seus medos, inseguranças ou reverências sob a capa cobarde do anonimato) têm sempre lugar aqui.

«Só agora passei por aqui, e não pude deixar passar em branco a quantidade de idiotice, sim, e ressabiamento manifestados dessa forma tão gloriosa que é o...anonimato!!! Isso sim,é coragem! Acham essas criaturas que fazer jornalismo, actualmente, em Portugal,não cedendo a pressões, contando os factos como são, investigando, dando noticias que abalam o "Poder", que por sua vez utiliza os seus "canais" na própria" comunicação social para denegrir e difamar a informação que fazemos... acham essas criaturas sem nome, que tudo isto é fácil? Acham que o boicote sistemático por parte do Governo ao Jornal Nacional de 6ª não é uma desvantagem muito grande em relação às outras estações? Estar dois anos e meio posta de lado por razões "ocultas", sem saber se algum dia haverá regresso...convenhamos,também não é fácil. É certo que voltei, sim. Camafeu assustador, admito, para aqueles que não encaram a verdade, mas,mesmo assim,mesmo para esses (há sempre a esperança que mudem) a dar a cara, como sempre dei, por aquilo em que acredito. Pela liberdade de expressão, por um jornalismo livre, independente de qualquer tipo de Poder. Vivo do meu ordenado e não mais,e como todos os portugueses que ainda têm a sorte de terem trabalho com o mínimo de segurança, tenho um contrato. Não percebo a cretinice de me compararem aos dois homens mais ricos de Portugal. No caso de Belmiro até acho simpático, já que é dos únicos empresários que não anda a lamber as botas a Sócrates e ao Governo e diz o que pensa. Vá lá,criaturas, encham o peito, respirem fundo e, ao menos, quando queiram falar de alguém ...não se escondam como ratos...dêem o vosso nome. Depois, quem sabe, até podem ganhar coragem de criticar o chefe, sei lá...»

Manuela Moura Guedes

22.2.09

O FREI CORRECTO

Frei Bento Domingues, um "pastor" - presumo que ainda é católico - que escreve aos domingos no Público, está para o comentário religioso como Peres Metelo para o económico ou Bettencourt Resendes para o político. Correctíssimo. Ainda acaba blogger no Jugular.

MORRER NA PRAIA - 2 (act.)


Há quase um mês, escrevia-se aqui: mansamente, como quase tudo o que é "espectacular" em Portugal, o "caso Freeport" apresta-se a morrer na praia. Os "passos" entretanto dados na "marcha do processo", as declarações avulsas dos responsáveis do MP, a contínua e certeira violação do segredo de justiça à mistura com as indisfarçáveis manobras (pela via da "notícia", das "fontes anónimas" e dos "temas laterais" como, por exemplo, compras de casas) de informação e de contra-informação (no sentido puramente técnico-político do termo) e a mais recente "descoberta" de que, afinal, muita coisa pode já estar prescrita (porque habilmente toda a gente se "desviou" do "mote" do processo: o acto de licenciamento do trambolho), constituem sinais de que esta é mais uma "história" que ficará, se ficar, mal contada. Depois é só colocar a questão óbvia. Quem é que beneficia politicamente com esta estranha (ou talvez nada estranha) "gestão" da coisa? É que, para além de comentários e de entrevistas e de entrevistas e de comentários, do chamado "plano jurídico" há muito pouco a esperar.

Adenda do dia 23: Este texto do C. Abreu Amorim.

AJUSTES DIRECTÍSSIMOS

Aqui.

A VULGARIDADE DA MODA


Outro "ajudante" de Sócrates, o "jovem" Passos Coelho, é endeusado, uma vez mais, como a vulgaridade da moda no suplemento de domingo do Público. Bastou-me o título - "O PSD afastou-se da sua genética" (qual? a de andar a roçar o cu pelos sofás e pelas cadeiras das secções, agarrados a cervejolas, à espera que reparem na "devoção"?) - e a "novidade" de que canta (?) ópera no carro, em casa e na casa de banho para ficarmos por aí. Se isto é uma elite para o futuro de Portugal, então eu prefiro ser um homem do século XVIII ou XIX. Pacheco Pereira, com manifesta brandura, chama-lhe uma biografia do nada depois de se ter dado ao trabalho de comentar os "treslidos" do "candidato" (candidato a quê?) em matéria filosófica. Já que o "candidato" aprecia filosofia - mesmo não fazendo a mínima ideia que ela serve precisamente para incomodar a estupidez - recomendo-lhe Sloterdijk e as suas "Regras para o parque humano": «poderíamos definir os homens dos tempos históricos como animais, dos quais uns sabem ler e escrever, e outros não.» Literalmente, dr. Passos Coelho. Literalmente.

A LISTA DE SÓCRATES

Consta que o extraordinário líder - e candidato único à sua própria sucessão - vai anunciar no congresso albanês de Espinho o nome do "cabeça de lista" para as "europeias". Freitas do Amaral, por natureza, é uma hipótese sempre disponível para tudo e o seu contrário. O pobre do dr. Ferro também, tal como o alto comissário da ONU para a tuberculose, o redondo Sampaio. E Vitorino tem seguramente mais para fazer e prefere, como sempre preferiu, tratar da vida dele. Provavelmente não será nenhum deles. Por isso, podia acrescentar-se à lista de Sócrates o dr. Júdice, um proto-Freitas do Amaral mais sofisticado e ambicioso. Como já perdeu todo e qualquer sentido da vergonha, Júdice colocou-se ainda mais um bocadinho em bicos dos pés e comparou o actual PS com o PSD de Sá Carneiro de quem, diz ele, este está mais próximo do que do PSD em vigor. Depois de ter sido mandatário do vago presidente Costa da CML, Júdice não sossega. Não era má ideia dar-lhe um pontapé para cima. Daqui para fora.

21.2.09

"IN QUESTA REGGIA"



Puccini:Turandot. Gabriele Schnaut.Dir. Valery Gergiev. Festival de Salzburgo.2002

QUATRO ANOS DISTO


Há uns tempos, Pedro Santana Lopes, não sei bem onde, deixou no ar uma pergunta essencial. A pergunta deve repetir-se na semana e no mês em que se completam quatro anos disto. Estamos melhor agora do que em Fevereiro de 2005, quer quanto à qualidade da vida democrática, quer no que respeita à qualidade da vida material?

Adenda: O Nova Frente lembra os cem anos do Manifesto Futurista, de Marinetti, publicado pela primeira vez no Le Figaro. E não deixa de ter alguma razão ao pedir um novo. «É a hora de um novo manifesto para os próximos 100 anos. Que ainda exalte o amor do perigo e o hábito da energia (mesmo que renovável), mais o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro. Sim, o murro nas ventas dos ressessos progressistas inchados de temas fracturantes e de quem se puser à frente para os defender. Contra todas as formas descaradas ou à socapa de socialismo, estalinismo, trotsquismo, maoísmo e demais lixarada ideológica. Contra a gigantesca e abafadiça União Soviética Europeia, comandada por durões e outros totalitários. Contra os mercenários da cultura e da arte. Contra os destruidores do património histórico. Contra a estética dominante da fealdade e da piroseira.»

Adenda 2: «E andamos assim, de dia para dia, na ficção e no nada, sem um debate público que sirva a vida pública, mandados pelo poder, cujas palavras "mandam" mais porque vêm do local certo, com uma democracia doente, imersa num espectáculo pobre com maus actores e pior enredo.» (José Pacheco Pereira, Público)

Adenda 3: «
Na vida interna do PS, a "liberdade" não passa de uma fantasia.» (Vasco Pulido Valente, Público)

UM PAÍS ÁVIDO DE OUTRA COISA

«Estamos a viver um ciclo de neopaganismo, censura e autoridade, pleno de paradoxos (...). No corso de Torres Vedras vinga a sátira política. Desta vez tiveram direito a um fax preventivo da procuradora Cristina Anjos a ordenar a "remoção do conteúdo do computador ‘Magalhães’ [sic!]". Atitude angélica ou anunciadora do que está para chegar se houver oportunidade? O recuo posterior não faz prova. Entretanto a autoridade exerceu-se em Paredes de Coura, mas noutro sentido. A DREN obrigou os docentes a desfilarem com as crianças das escolinhas, ávidas de Carnaval. Como o País.»

José Medeiros Ferreira

"UMA ACÇÃO DE ANÚNCIOS"


«Não acha obsceno e chocante para as pessoas que o Governo continue a fazer grandes eventos de propaganda a propósito de tudo e de nada?
- Eu não só acho obsceno e chocante como acho que o Governo vai ter de ser confrontado com essa questão. Porque não é possível que os dinheiros públicos andem a ser delapidados em festas de propaganda. Eu acho que é algo sobre o qual o Governo terá de vir a dar explicações.
- É que não há um arrepiar de caminho. Todos os dias há mais situações.
- Não há um arrepiar do caminho. Ouça uma coisa. É que se não for isso não é nada. Eu percebo a posição do Governo. Este Governo vive à custa dos anúncios e se esses anúncios não têm um grande impacto e uma grande visibilidade então nós diríamos que não havia absolutamente nada. As pessoas ficam envolvidas e empolgadas, em algumas delas, simplesmente com os sound bites e os anúncios. Se não houver muito barulho com os anúncios no dia-a-dia percebe-se que não há rigorosamente nada. Nem mesmo estas medidas em relação ao apoio às empresas. Se nós falarmos com os empresários eles não sentem nada.
- É o que têm dito.
- Não sentem nada. Se não fosse o anúncio o que é que havia? Percebe-se que um Governo que vive à custa do anúncio invista muitíssimo e fortemente naquilo que é verdadeiramente a sua acção, que é uma acção de anúncios.»

Entrevista de Manuela Ferreira Leite ao Correio da Manhã, conduzida por António Ribeiro Ferreira

"UM DEBATE PARA KIM-IL-SÓCRATES"*


«O debate público sobre a eventual legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo é importante como o são debates sobre outras questões que respeitam a parte ou a toda a sociedade. E todas as alturas são boas para debates públicos. Ou não? Em Outubro de 2008 o Bloco de Esquerda propôs legislação nesta matéria. O PS rejeitou a proposta e não achou boa a ocasião para o debater. E, na altura, não houve um Prós e Contras para debater o assunto. Em Fevereiro de 2009, o secretário-geral do PS prometeu apresentar legislação sobre o tema depois das eleições. E, agora, o Prós e Contras já achou boa a ocasião para debater (RTP1, 16.02). O Prós e Contras, afinal, não é apenas escravo da agenda do governo. Também obedece à agenda pessoal de um político, o secretário-geral do PS. A promessa de Sócrates é feita ainda enquanto candidato à reeleição, o que significa que o Prós e Contras intervém no debate interno de um partido como se ele fosse o partido único e intervém a favor da agenda pessoal do chefe. O programa não debateu o tema quando ele esteve de facto no parlamento. E a proposta legislativa do PS neste domínio, a existir, será debatida daqui a cerca de ano e meio, e poderá nem passar se não houver maioria. A submissão política do Prós e Contras da RTP desceu ao nível da ignomínia.»

*Eduardo Cintra Torres, in Público

O DOSSIÊ FLAMINGO

À medida que a PGR continua a falar sem dizer nada depois de cinco anos de inacção, e para lá das eventuais questões de dinheiros, subsistirão sempre as dúvidas ambientais e técnicas. Pedro Almeida Vieira, felizmente, não as larga.

SOLIDARIEDADE LATINO-AMERICANA


Les beaux esprits se rencontrent. Também nos gestos. «Poucas atitudes dizem mais da governamentalização da RTP do que este pedido de desculpas ao Ministro Santos Silva, o ministro que manda na casa.» (in Abrupto).

20.2.09

A NOVA MOCIDADE PORTUGUESA


De acordo com a inimitável DREN Margarida Moreira, certamente um voto de peso entre os 96,43% obtidos pelo admirável líder nas "directas" da seita.

"UM DOS NOSSOS"

Aquela raridade rústica chamada Ribau Esteves - era o secretário-geral de Menezes o que explica parte da coisa - considerou Sócrates "um dos dele" ("um dos nossos") e que foi com "particular prazer" que o recebeu na santa terrinha num daqueles périplos do primeiro-ministro destinados a anunciar barragens sobre barragens. Com apoios deste calibre, mais vale Sócrates atirar-se, de facto, à água.

POLÍTICA A SÉRIO


A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, é dos poucos políticos em cena que me animam. É um gosto vê-la por aí no meio de tantos idiotas embotados, domésticos e europeus.

SEM TEMOR REVERENCIAL

Às 20h, na TVI, Manuela Moura Guedes "resume" a semana e o dia. Até mais ver, trata-se do único telejornal das televisões generalistas sem qualquer tipo de temor reverencial pelo regime. Dói, não dói?

Adenda: Provavelmente será "notícia" o "dito por não dito" do Ministério Público de Torres Vedras que, afinal, já "deixa" passar o "Magalhães" no carnaval. No direito costuma falar-se em certeza, segurança e em sentimento jurídico colectivo. Às vezes, alguns magistrados parece que se esqueceram destes princípios básicos, seja no exercício da acção penal, seja na produção de decisões finais. Se isto acontece a pretexto do carnaval, imagine-se quando é a sério.

UM CLÁSSICO DO CENTRÃO


No mesmo jornal, o Público, dois colunistas falam do "centrão" e de alguns do seus protagonistas. Luís Campos e Cunha define-o impiedosamente: «O Centrão é um bicho pegajoso, cinzento e gordo. Em termos políticos, é o conjunto de interesses que gravitam à volta do PS e do PSD (...). Nos tempos que temos vivido, corremos o risco de tal solução não ser sequer discutível, o Centrão já o é pela essência das pessoas. Ou seja, o Centrão não está no governo mas está no poder.» Vasco Pulido Valente, a propósito de Dias Loureiro, volta a defender esse prestigiado órgão de soberania que é a AR, local onde, de acordo com o articulista, Loureiro nunca devia ter comparecido: «se o dr. Loureiro se quer explicar, que arranje outra maneira de o fazer, sem envolver um órgão de soberania.» Por acaso não ocorreu a Pulido Valente que a intenção do "centrão" era mesmo essa, a de "envolver" o dito órgão de soberania através de mais uma inconclusiva e "dissolvente" comissão de inquérito? Só que Pulido Valente, em vez de recordar que Dias Loureiro é o "centrão" em pessoa, prefere "colá-lo" ao Chefe de Estado: «toda a gente percebe que ele precisa de se desprender depressa da infecta história do BPN e da SLN para não se embaraçar e não embaraçar o dr. Cavaco.» Embaraçar o dr. Cavaco? Se bem me lembro, Cavaco afirmou em público que o referido Loureiro lhe garantiu solenemente (repare-se na precisão do termo quando toda a gente sabe que Cavaco não é nada do género de quem aprecia divulgar conversas privadas) que não tinha "rabos de palha". Por outro lado, não me recordo de ter ouvido o conselheiro de Estado (por sinal indicado por Cavaco) vir a terreiro apoiar o PR aquando, por exemplo, do episódio do estatuto dos Açores. Pelo contrário, nos últimos tempos só temos visto o dr. Loureiro a louvar amigos "do peito" como Jorge Coelho ou com a biografia do "menino de ouro do PS" debaixo do braço, que apresentou comovidamente, definindo Sócrates como um "homem de afectos" cujo "optimismo faz bem a Portugal". Aquela coisa da "relação difícil com a verdade" não tem definitivamente exclusivos. Aliás, e parafraseando Campos e Cunha, Dias Loureiro não está no governo mas está no poder. É preciso meter explicador, dr. Pulido Valente?

RANÇO PÚBLICO


«Ainda mais ranço: quando as notícias do caso Freeport eram favoráveis ao governo - estou a lembrar-me das declarações da senhora Procuradora -, o mesmo telejornal [da RTP do dr. Santos Silva, acrescento eu, sobretudo depois disto] abriu com elas. A única coisa boa é que isto já é às claras.»

Filipe Nunes Vicente, Mar Salgado

«Agora que há um claro upgrade no processo Freeport, com arguidos por "corrupção activa", a RTP volta a colocar o caso num alinhamento secundário do telejornal das 13 horas. A SIC e a TVI abriram com o caso Freeport, a RTP não. Gostava de saber que critério jornalístico explica a razão pela qual a RTP desvaloriza sistematicamente este caso e se recusa a ter uma atitude de investigação activa, ignorando o que já todos os outros órgãos noticiam sobre os arguidos do processo, andando sempre várias notícias atrasadas, quando as dá, o que nem sempre acontece.»

José Pacheco Pereira, Abrupto

O PRESIDENCIALISMO DE CHANCELER EM 2009


Maurice Duverger, a propósito do nosso sistema político e não só, desenvolveu o termo "semi-presidencial". De "semi-presidencial", no entanto, o sistema português foi "evoluindo" para "semi-parlamentar", uma saga iniciada nos anos oitenta por Soares e Balsemão contra Eanes. Agora - e com uma notável desenvoltura jurídico-política - António Balbino Caldeira propõe uma outra designação para o "estado a que isto chegou". Dizia-se do regime de Salazar que era uma espécie de "presidencialismo de chanceler". Talvez se venha a dizer coisa parecida do actual, como sugere o autor de Do Portugal Profundo. É só mudar o Salazar.

A "ELISA"


O que é que "a Elisa" não tem? "A Elisa" não tem um programa. "A Elisa" não tem outros nomes para apresentar. "A Elisa" não tem uma ideia para o Porto embora não se poupasse ao jargão abstracto: é preciso recuperar a "centralidade" da invicta. Seja lá o que isto for. "A Elisa", porém, é do Porto "até à medula", garantiu o admirável líder ao som da balada de Rui Veloso. Mário Soares, Fernando Gomes e o sr. Pinto da Costa decoraram o momento. "A Elisa" é, em suma, fantástica. Com certeza. Não sei, porém, se é a mesma Elisa que, quando era ministra do ambiente de Guterres, se viu grega para suportar a insolência do então seu secretário de Estado que acabou por ficar no lugar. Ela jura que "larga tudo" se for eleita presidente da Câmara. Este minimalismo voluntarista, apesar da presença do velho colaborador da Rua do Século, não lhe deve servir de muito. Até porque "a Elisa" conhece perfeitamente o "apoio" dele.

Foto: Cidade Surpreendente

19.2.09

AS DILIGÊNCIAS, A POLÍCIA E O DEVER DE INFORMAR

A PSP colocou um verdadeiro "cordão de segurança" em frente do DCIAP, ao Rato, provavelmente para impedir os jornalistas de chegarem à fala com o sr. Charles Smith, aquela extraordinária figura que apareceu outro dia à porta de casa, no Algarve, com um cachecol garrido pela cabeça como se fosse um lenço. Seria bom que o mesmo zelo presidisse a diligências similares noutros processos. Por que se terão lembrado de "proteger" tão prontamente estas?

BRINCADEIRAS DE CARNAVAL

Enquanto a dra. Cândida Almeida continua nas suas funções de "comentadora" na Rádio Renascença (que acumula com a direcção do DCIAP), o Ministério Público de Torres Vedras anda preocupado com a "seriedade" do "Magalhães" a ponto de proibir uma laracha qualquer. Como escreve o João Villalobos, isto «revela que o Ministério Público vive na estratosfera, indiferente a que a reputação do nosso sistema de justiça se encontre nas ruas da amargura. Enquanto os portugueses comentam nos cafés o caos e atraso dos processos e a ineficácia da máquina judicial, decide o dito Ministério Público atacar um carro alegórico carnavalesco.» Ainda bem que a dra. Cândida, no "comentário" desta semana, garantiu que os procuradores não estão sujeitos "a pressões". A menos que a "garantia" tenha sido uma brincadeira de carnaval.

O DEVE E O HAVER


Nos idos do bonzinho Guterres, o PS tinha uma "paixão". Era, recordam-se, a educação. Nenhum dos profetas que pastorearam a referida "paixão" (Marçal Grilo, Oliveira Martins ou Santos Silva) a conseguiram sossegar. E Grilo, pelo menos, até se dá ao luxo de "teorizar" ,volta não volta, (sempre secundado pelo profeta-mor Roberto Carneiro, outra eminência parda permanente) sobre a matéria como se nunca lá tivesse estado. Mais "práticos", Sócrates e a sua socióloga de serviço na 5 de Outubro meteram a paixão no imenso saco de ilusões da esquerda moderna, e abriram, com metódica paciência, uma guerra. Ainda outro dia, uma mãe esmurrou uma professora na Figueira da Foz, certamente em mais um edificante episódio da guerra em que se meteram. Por outro lado, Sócrates herdou de Guterres, para o ensino superior, essa insignificância política chamada Mariano Gago. A única "obra" que se lhe conhece é ter encerrado dois estabelecimentos comerciais que passavam por universidades e que ajudaram algumas das nossas "elites" a compor o respectivo currículo. Nas do Estado, que ele superintende, reina a miséria. Miséria interna e miséria dos estudantes que nem dinheiro têm para pagar as propinas. Há casos, no interior, em que os estudantes já recorrem ao Banco Alimentar contra Fome para se aguentarem. Este ano eleitoral serve para escrutinar a fantasia dos derradeiros quatro anos e não, como julgam os bonzos, a dra. Ferreira Leite. Coisas como estas fazem parte da longa fraude política da legislatura. Convém ir somando.

A PLACA GIRATÓRIA


Durante uns tempos, algumas pessoas andaram muito alvoroçadas por causa de uns aviões da CIA que terão passado por aí com "terroristas" a caminho de Cuba. Esse alvoroço teve o seu epicentro no parlamento europeu com criaturas como Ana Gomes ou Carlos Coelho a proporem inquéritos políticos e criminais sobre a matéria. Queriam, nunca o esconderam, chegar aos governos que alegadamente permitiram a coisa. Cá, interessava chegar a Durão Barroso e ao governo que ele chefiou vagamente entre 2002 e 2004. Sucede que Barroso brilha no firmamento europeu e não propriamente como uma estrela cadente. Diplomaticamente (é o advérbio de modo para a substantivo hipocrisia) o PS no parlamento europeu "suprimiu" - de uma resolução sobre a utilização de países europeus pela CIA para transporte e detenção ilegal de prisioneiros - qualquer referência a Portugal a instâncias do MNE Luís Amado que, na oposição, havia zurzido em Barroso. Ou seja, de uma penada matou-se o alvoroço e assegurou-se o radioso futuro de Barroso em Bruxelas, para já, e, depois, se for caso disso, por cá. Não é, pois, de admirar que o PS e o PSD domésticos recusem publicamente "pactos" sobre a crise. O exemplo da resolução do PE recorda aos distraídos que o regime é, de facto, uma espécie de placa giratória onde todos protegem silenciosamente todos, amigos e adversários, sob pena da placa ruir. É em torno deste "equilíbrio" instável que se deve analisar igualmente os "desenvolvimentos" nos casos Freeport, BPN e, porque não, BPP. E estes são bem mais terrenos que os voos da CIA. A placa de que partem é que é a mesma.

"PORQUE TODOS PAGAMOS"

Pela primeira vez, de acordo com a eurodeputada Ana Gomes. «A corrupção ao mais alto nível reduz a capacidade de muitos Estados para garantir serviços básicos às suas populações, como o direito à alimentação, habitação, saúde e educação. Em África, por exemplo, os Estados perdem anualmente cerca de 25% do PIB devido à corrupção (U4 Anti-corruption resource centre, 2007). Lutar contra a corrupção é, portanto, também uma questão de direitos humanos. E, como resulta evidente nesta crise financeira e económica global, toca-nos a todos... porque todos pagamos. Por isso, assine: http://www.stopcorruption.eu/index.php.»

18.2.09

O DELEGADO

O tagarela Metelo, o economista comentador da TVI, torce-se todo para perpetrar um vago elogio às medidas contra a crise apresentadas pela dra. Ferreira Leite. Pelo contrário, passa imediatamente ao lado para louvar a gloriosa obra de despesa e de investimento públicos de Sócrates cujos efeitos imediatos são amplamente discutíveis, sobretudo para os corpos intermédios da nossa economia. É claro que só por acaso se pode chamar comentador a Metelo. Por delicadeza, fiquemo-nos por delegado. Mais um.

TENS PARA A TROCA?

A sensação que se obtém quando olhamos para os avanços e recuos em determinadas investigações - e para a publicidade em torno desses avanços e recuos - é que, para uma "andar", a outra ao lado também tem de "andar" um bocadinho. Estilo: "toma lá um Freeport e dá cá um BPN, toma lá um BPN e dá cá um Freeport." O regime fica, assim, empatado e a justiça finge que funciona.

APENAS HOMENS


A propósito da tagarelice originada pela moção do admirável líder - naquela parte destinada precisamente ao ruído - muito disparate será produzido nos próximos tempos. Detesto o aproveitamento da sexualidade para efeitos políticos e, por isso, critico abertamente os "associativismos" sexistas, feministas ou gay. E oponho-me ao uso do termo casamento para same sexers porque, por mais que isso incomode, o conceito foi pensado e desenvolvido para outra coisa. Se não fosse assim, o PS do bonzinho Guterres, em 2001, tinha ido até ao fim (refiro-me à "semântica") quando legislou sobre uniões de facto, maioritariamente heterossexuais, aliás. Uma vez resolvida a questão "semântica", vamos ver quantos "casais" que hoje andam para aí de bandeirinha na mão se irão efectivamente casar. De outra banda, mas certamente por causa disto, o cardeal Saraiva Martins, nas já famosas "conferências do casino da Figueira da Foz", afirmou que "a homossexualidade não é normal". Seria esdrúxulo pedir ao cardeal Martins que lesse os clássicos. Ou, pior ainda, Gore Vidal. Fora casos do foro criminal ou patológico, a sexualidade não possui quaisquer antecedentes ou consequências "normativas". É irrelevante para o andamento do mundo o que é que dois adultos fazem um com o outro entre portas. Se desejam procriar, façam favor. Se querem outra coisa, façam favor também. É evidente que a Igreja não pode ter outra posição "doutrinária" ou "valorativa". No limite, ética. E não ignora, de certeza, que no seu seio há milhares e milhares de católicos que não perdem um minuto a pensar na "normalidade" ou na "anormalidade" da sua sexualidade. O factor "culpa" que afirmações como as do cardeal Saraiva Martins introduzem no relacionamento afectivo e sexual, são tão desagradáveis como as que reclamam visibilidade política para a "esfera" privada. Até porque, por mais voltas que se dêem, a homossexualidade - tal como a Igreja a breve trecho - deve habituar-se a viver em minoria, sem preconceito ou espectáculo. Como disse Joseph Ratzinger, há tantos caminhos para Deus como há homens. Homens complexos, felizes ou infelizes, sós ou acompanhados, mas nunca "normais" ou "anormais". Apenas homens.

SOCIEDADE SEM COMPROMISSOS E SEM CERTEZAS

«Estamos a percorrer o caminho que leva a uma sociedade sem compromissos e sem certezas. É o modelo de uma sociedade sem rei nem roque, inteiramente na mão do poder político.Há muito que se sabia que vinha aí a agenda dita fracturante. Quando surgiram os primeiros avisos e os primeiros sinais, aos que lançaram os primeiros gritos de alerta, chamaram-lhes conspirativos e maquiavélicos. A verdade é que essa agenda aí está e ela é sobretudo desestruturante da sociedade:
- sob a capa da solidariedade e dos direitos, as novas leis desprotegem os mais fracos da sociedade;
- em nome da consciência e da dignidade humana, ataca-se a vida nos seus momentos mais frágeis;
- em nome do progresso e da modernidade, promove-se o relativismo para que nada nos pese na consciência.
Estamos a percorrer o caminho que leva a uma sociedade sem compromissos e sem certezas. Dizem-nos que é o protótipo da sociedade moderna, mas, verdadeiramente, é o modelo de uma sociedade sem rei nem roque, inteiramente na mão do poder político. Ainda vamos a tempo de poder pensar pela própria cabeça, mas a porta é cada vez mais estreita e é responsabilidade pessoal de cada um contribuir para alargar a porta. Senão, daqui a pouco tempo, até o camelo passa mais facilmente pelo buraco da agulha.»

Raquel Abecasis

17.2.09

MÚSICAS

Como é que uma pessoa genuinamente inteligente como o Miguel Vale de Almeida escreve uma infantilidade destas? Lembra a rábula do dr. Dias Loureiro do "pai, já sou ministro" sobretudo depois disto. Aceita-se, pelos vistos, o "Prós" da D. Fátima como uma espécie de painel oficial da correcção política da televisão portuguesa quando acolhe aqueles que o Miguel considera "seres humanos normais". E não foi a D. Fátima, coitadinha, quem mudou. Quanto a Fernanda Câncio, é a velha técnica do panfleto tagarela. Ela sabe que nós sabemos por que é que o seu querido tema "fracturante" foi introduzido à pressa na moção do admirável Sócrates quando, ainda há uns meses, a criatura jurava que não previa nada de semelhante para a próxima legislatura. Ela sabe que nós sabemos que o Bloco do dr. Louçã vale uns votitos urbano-depressivos que podem fazer falta ao absolutismo "fracturante". É por estas e por outras, para além da minha natural antipatia, que Chopin está no post abaixo, na íntegra. Música, só da autêntica e tocada por autênticos.

RUBINSTEIN











Chopin: Concerto para piano e orquestra No 2. Arthur Rubinstein. London Symphony Orchestra. André Previn.