20.2.09

UM CLÁSSICO DO CENTRÃO


No mesmo jornal, o Público, dois colunistas falam do "centrão" e de alguns do seus protagonistas. Luís Campos e Cunha define-o impiedosamente: «O Centrão é um bicho pegajoso, cinzento e gordo. Em termos políticos, é o conjunto de interesses que gravitam à volta do PS e do PSD (...). Nos tempos que temos vivido, corremos o risco de tal solução não ser sequer discutível, o Centrão já o é pela essência das pessoas. Ou seja, o Centrão não está no governo mas está no poder.» Vasco Pulido Valente, a propósito de Dias Loureiro, volta a defender esse prestigiado órgão de soberania que é a AR, local onde, de acordo com o articulista, Loureiro nunca devia ter comparecido: «se o dr. Loureiro se quer explicar, que arranje outra maneira de o fazer, sem envolver um órgão de soberania.» Por acaso não ocorreu a Pulido Valente que a intenção do "centrão" era mesmo essa, a de "envolver" o dito órgão de soberania através de mais uma inconclusiva e "dissolvente" comissão de inquérito? Só que Pulido Valente, em vez de recordar que Dias Loureiro é o "centrão" em pessoa, prefere "colá-lo" ao Chefe de Estado: «toda a gente percebe que ele precisa de se desprender depressa da infecta história do BPN e da SLN para não se embaraçar e não embaraçar o dr. Cavaco.» Embaraçar o dr. Cavaco? Se bem me lembro, Cavaco afirmou em público que o referido Loureiro lhe garantiu solenemente (repare-se na precisão do termo quando toda a gente sabe que Cavaco não é nada do género de quem aprecia divulgar conversas privadas) que não tinha "rabos de palha". Por outro lado, não me recordo de ter ouvido o conselheiro de Estado (por sinal indicado por Cavaco) vir a terreiro apoiar o PR aquando, por exemplo, do episódio do estatuto dos Açores. Pelo contrário, nos últimos tempos só temos visto o dr. Loureiro a louvar amigos "do peito" como Jorge Coelho ou com a biografia do "menino de ouro do PS" debaixo do braço, que apresentou comovidamente, definindo Sócrates como um "homem de afectos" cujo "optimismo faz bem a Portugal". Aquela coisa da "relação difícil com a verdade" não tem definitivamente exclusivos. Aliás, e parafraseando Campos e Cunha, Dias Loureiro não está no governo mas está no poder. É preciso meter explicador, dr. Pulido Valente?

11 comentários:

Anónimo disse...

Há uma pergunta que me faço muitas vezes quando ouço ou leio afirmações de comentadores: Tal gente ainda não sabe o que é o bicho homem?

Luísa A. disse...

Por razões várias, suportadas pelo que se tem visto, não tenho qualquer dúvida do envolvimento do Conselheiro de Estado em processos menos transparentes na gestão do BPN. Mas, muito mais grave do que isso, é não ter qualquer dúvida de que os «responsáveis pela governação do país» também não a têm. Fica-se, de repente, com a sensação – angustiante pela impotência - de se estar nas mãos de uma associação de malfeitores, mais ou menos elegantes e sofisticados, mas malfeitores.

Anónimo disse...

O Poder de Direito e o Poder de Facto. O primeiro, cada vez mais, constituído por testas de ferro, ou homens de mão do segundo, independentemente das bandeiras que usam, ou dos bandalhos que as empunham.
Haverá maneira de mudar este cenário neste pobre gleba?

Anónimo disse...

Está mais que visto: o Vasco não tem conserto.

joshua disse...

Tão penetrante é o Vasco! Por que não faz por penetrar um pouco mais?! Terá de ser conduzido de todas as vezes por ti que o guias pela mão até aos insterstícios que definem a Malfeitoria Aguda e Geral do Regime?!

Anónimo disse...

O Senhor Doutor Vasco Pulido Valente não precisa de explicações.

Manuel da Mata disse...

Luís Campos e Cunha é aquele senhor reformado do Banco de Portugal e que foi ministro das finanças? Também ele um homem do centrão, certo?
Este país merecia melhor. Nunca passarà da cepa torta, porque há muitos a sugá-lo permanentemente. Isto é um "lamaçal".

tiomanuel disse...

Fantátigo como o João Gonçalves é sinuoso.
Cita com veneração ou odio VPV de acordo com as suas conveniências.
Por mim já comentei neste post que VPV devis dedicar-se em exclusivo ao passado onde de facto é muito bom.
Quanto ao Dr. Dias Loureiro o melhor é dar-lhe uns comprimidos daqueles que a gente tomava antes dos exames.
Avivava a memória.

Anónimo disse...

Vamos clarificar: VPV era social-democrata.
Quando Cavaco Silva governou,nunca lhe endereçou o ansiado convite para ministro.
Daí o ódio permanente.

Anónimo disse...

O Loureiro hoje não tem nada a ver com Cavaco.É um simples "homem de mão" do Sócretino.Tal como o palavroso A.Correia.

impensado disse...

Por mais que se não queira ou que nela concorram inconfessáveis desgostos, a posição de princípio do DR. VPV é correcta e fará sentido para qualquer pessoa que estudou constitucional: o parlamento não é um tribunal e os seus inquéritos não podem ser processos judiciais. Há teses interessantes sobre os poderes das comissões parlamentares nos USA, alguns elaborados na ressaca da comissão McCarthy em que se questionava mesmo o poder de chamar alguém a depor.