12.9.10

A PERIFERIA E A "EUROPA"



Pacheco Pereira leu, mas parece que não leu, o "testamento" político de François Mitterrand, De l'Allemagne. De la France. Nós temos bom clima e boas praias - já ambos, aliás, ameaçados - mas pouco mais. Cavaco, em 1985, percebeu que a década seguinte seria dedicada a fazer entrar a Europa cá dentro. Ela entrou efectivamente, com betão e aos milhões, mas nunca enquanto Europa "cultural" ou intelectual. Este núcleo, da filosofia à literatura não especificamente filosófica ou à música, é alemão e francês. Em Portugal não há lastro disto a não ser em tentativas de imitação, sendo que a mais genial deu Eça. A literatura é um equívoco - fora meia dúzia de nomes até para aí 1919, data em que nasceu Jorge de Sena e a partir da qual, nessa matéria, praticamente nada mais nasceu - e a "filosofia portuguesa" é uma coisa intragável, saloia, como explicou há muitos anos Manuel Maria Carrilho. Portugal espremeu-se, com Cavaco, para ser o famoso bom aluno e integrar o não menos famoso "pelotão da frente". Este "pelotão" era tão somente o euro do qual a periferia, sob pena de nunca mais levantar cabeça, não podia ficar arredada. Mas o euro foi sempre, desde o início, uma criação alemã e francesa por esta ordem, aliás a ordem do título de Mitterrand. Quem paga, não só bebe pelo gargalo como compra e vende as garrafas todas. Ora nós só queremos da Europa as prebendas e não o esforço. O económico está posto de parte porque, tipicamente, não temos economia. Resta o financeiro "pilotado" pelos distribuidores. A Alemanha recuperou da crise sem surpresas de maior e voltou a impor-se à Europa do, ó suprema ironia, "tratado de Lisboa". Também se impôs politicamente porque uma coisa não vai sem a outra. O "federalismo" europeu ou é alemão ou não é. Se for, eu pelo menos não me importo de ser controlado por gente civilizada. Estou farto de grunhos.

Clip: Wagner, Die Walküre, Prelúdio e começo do II acto. Gabrielle Schnaut e Monte Pederson, desaparecido precocemente aos 43 anos. Alla Scala. Muti.

7 comentários:

fado alexandrino. disse...

Que tristeza de post.
Tudo verdadeiro.

Zé Rui disse...

Excelente Post.

Eduardo Freitas disse...

«Mas o euro foi sempre, desde o início, uma criação alemã e francesa por esta ordem, aliás a ordem do título de Mitterrand.»

Ou li com pouca atenção a crónica no Público de hoje ou Pulido Valente não tem exactamente a mesma opinião.

floribundus disse...

caro Irmão
amanhã 'peregrinação do perdão na Bretanha'
em breve ''cançãos dos Nibelungos
tenha um bom dia

João Gonçalves disse...

Eduardo... com o devido respeito, o post não é do VPV.

Anónimo disse...

Resumindo, já perdeu a esperança.
Mesmo que nunca tenha sido tentado dar o poder aos portugueses.

lucklucky

Cáustico disse...

Quando Portugal entrou para a UE um paspalho político, que deve saber tanto de geografia como de francês, apesar de ter estado em França,afirmou que "Portugal estava agora na Europa".
Esqueceu-se de dizer ao povo quais as condições que teria de suportar por causa dessa entrada.
Começou a entrar dinheiro em catadupa, muito do qual passou, por artes mágicas, para os bolsos de muito chico esperto, razoavelmente vigarista.
Até houve espertalhaços, estudantes do ensino superior, que entraram em cursos que nada tinham a ver com o programa da almejada licenciatura. Alguns, a estudar medicina e direito, até frequentaram cursos de fotografia ligada às artes gráficas.
O facilitismo e consequente descaramento foi de tal ordem que foi preciso criar livro de ponto para se saber quem ia ou não às aulas, pois muitos foram os que receberam o óbulo menssal e nunca puseram os pés nas aulas.
Veio dinheiro, mas agora temos de comprar batatas, cebolas cenouras, laticínios,fruta, etc.,etc. como contrapartida dos benefícios monetários recebidos.