Em apenas oito meses, é a terceira vez que Sócrates e o sargentão venezuelano se encontram para tratar de "negócios". Angola é, por sua vez, o maior accionista do BCP e outro "amor de estimação" da diplomacia nacional. Aprendi na história diplomática do prof. Borges de Macedo que a nossa independência era mantida através de um permanente equilíbrio entre a fronteira marítima e a fronteira terrestre. No dia em que os mesmos tomaram conta de ambas, perdemos a independência na ordem externa. A fronteira terrestre é hoje, através da Espanha, a UE, um conceito geoestratégico indefinido que, em tese, pode terminar na Rússia. A marítima vai do Brasil ao norte de África, passando, com dedicação servil, pelas ex-colónias, especialmente Angola. É, como já o disse, uma diplomacia de tesos num mundo sem independências bem recortadas. O "ocidente" está cada vez mais prisioneiro destas "novas fronteiras". Veja-se o trajecto de Chávez nesta sua descida ao velho mundo. Portugal, a pobre periferia de tudo, tem de fazer de "maria-vai-com-as-outras" a reboque do "ocidente" vergado a estas maravilhosas "novas emergências". Estamos em boas mãos.
6 comentários:
O receio de Mário Soares cumpre-se, i.e, está-se cumprindo, cada vez mais nos assemelhamos a um país latino-americano. Não nos espera nada de risonho e será a muito curto prazo.
Caro João,
Já começa a ser apanágio nosso este tipo de coisas, tenho para mim que se fossemos menos pobres não tivéssemos que fazer tantos frétes...
A propósito da visita de Chavez recomendo o post @e-mísseis e @e-escolas.
Abraço,
Não vejo qualquer mal nos encontros com Chávez. Se é uma questão de preconceito, cada um tem os que quer. Mas do ponto de vista político não enxergo algum perigo na aproximação ao governo da Venezuela. Nem creio que Borges de Macedo, um homem inteligente com quem privei e que muito admirei e admiro, pudesse manifestar alguma relutância quanto às boas relações com um país onde vivem milhares de portugueses e que nos poderá ser útil no fornecimento de petróleo, sem qualquer abdicação da nossa independência nacional.
ba disse:
"O receio de Mário Soares cumpre-se"!!!!????
Eu trocaria a palavra "receio" por "legado".
Tal como alguém já afirmou: a esquerda portuguesa preocupou-se muito com a independência das colónias mas nada com a indepedência de Portugal.
Este Chavez é um verdadeiro case study do fracasso da esquerda, sempre militarista e cruel, quando aplicada. Mau grado os rios de dólares que entram naquele país e os milhares de carros novos que circulam, comprados com crédito barato (que vai sair caro) a situação dos pobres agrava-se.
A difteria, extinta em 1992, reapareceu em Venezuela. A malária e o dengue, quase não falados, já fizeram dezenas de milhares de doentes só este ano. Em 1998 quase todas crianças recebiam a vacina triplice em 2007 apenas 40%. É um regime de ricos corrruptos que se apropriam dos bens do país e os entregam aos jagunços cubanos e russos.
1. Os receios de Mário Soares: creio bem que se atendermos à sua aproximação ao regime chávista, deve andar bem contente.
2. Não me parece grande prejuízo esta "estorieta" da aproximação a Caracas: isto chama-se realpolitik e se não formos nós, serão outros. Aliás, o bolivariano-tapioquista irá brevemente a Espanha prestar vassalagem ao Rei. O dinheiro está acima de maluquices social-castristas.
3. Periferia de tudo? Depende do ponto de vista. Se entendermos o espaço atlântico como o ulcro daquilo que entendemos existir como Ocidente, estamos no centro da rede e é necessário fazer aquilo que a "ominosa Monarchia" sempre fez. Jogar no tabuleiro com a potência marítima dominante, ou seja a nova Inglaterra que dá pelo nome de EUA. Não contem muito com a implosão americana, porque este século ainda será preenchido com manifestações evidentes do seu poder económico, militar e ... cultural, para desencanto de uma certa esquerda que bebe sofregamente tudo o que NY produz, fazendo falsas caretas de asco. E então o Louçã & comp. não anda a ler sobre o ombro do Chomsky?
Finalizando. De uma coisa estou seguro: não é com auto-flagelações e pessimismos derivados das patéticas conferências casinistas de há mais de um século, que iremos para a frente. Há bem pior que nós e basta ver o que se passa nos noticiários de Paris e Madrid, para concluir que a "classe-política" deles é tão boa ou pior que a nossa. nada de lamúrias. ideias e acção, é o que precisamos e sobretudo, de optimismo "irresponsável": A simples existência deste país ao fim de mais de oito séculos, é a prova disso mesmo. Basta de francesices!
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