Carlos Abreu Amorim (CAA), do Blasfémias, interpela-me por causa deste post. Fala-me de futebol e de regionalização, duas coisas que manifestamente não aprecio. Pelo meio, evidencia o seu temor reverencial pelo sr. Pinto da Costa, algo que os portuenses, por duas vezes em livres eleições autárquicas, mostraram não ter. É um direito dele. Vamos por partes. Não, meu caro CAA, nada me move a favor ou contra o FCP. É-me tão indiferente como o Braga, o Estoril, o Portimonense, o Boavista, o Benfica ou o Sporting. Sou, se assim se pode dizer, futebolisticamente branco. Se me desse para aí, inscrevia-me no Gil Vicente, desde que me prometessem que jamais o sr. Fiúza seria removido da presidência do clube. Quanto a Pinto da Costa e à "justiça", limitei-me a reproduzir o que vi e ouvi na televisão. "Eu confio na justiça", disse o dirigente portista. Eu não. Para mim, o sr. Pinto da Costa - e praticamente todos os dirigentes futebolísticos deste país - estão ao mesmo nível. Tal como os da Federação e os da Liga. Teria sido altamente profiláctico para o futebol português a irradicação dos clubes de todas as provas internacionais, nesta temporada, para ver se aprendiam alguma coisa. É costume o país oficial babar-se para cima dos clubes de futebol. Ficou para a posteridade aquele momento sublime em que o dr. Vale e Azevedo, acompanhado por tudo o que era jornal e televisão, subiu ao segundo andar da DCGI, na Rua da Prata, em Lisboa, para ser recebido pelo sr. director-geral da altura a fim de lhe entregar um cheque por conta das dívidas fiscais do Benfica. E, mais recentemente, temos o "parecer" do eminente constitucionalista Gomes Canotilho a "decretar" a inconstitucionalidade da lei sobre corrupção na bola, bem como o processo "Apito Dourado" que vai andando sobre rodas quadradas. Isto para não falar na promiscuidade com os árbitros e destes com os clubes. E de tudo o que passa por "elite" com o futebol em geral. Olhe para as direcções e respectivos "corpos sociais" e veja quem lá está. Nem a "justiça" escapa. Nesta matéria, caro CAA, ser do Porto ou de Lisboa, pouco importa. É a mesma via latino-americana que prevalece. Depois, eu não discuto as qualidades pessoais e de dirigente desportivo do sr. Pinto da Costa. Consta que é um homem interessante e que sabe poesia e alemão. Todavia não é como pessoa que o avalio, mas enquanto personalidade mediática. E a partir do momento em que Pinto da Costa defende a regionalização, eu oponho-me de imediato, como me opus activamente em 1998 e o farei de novo as vezes que forem precisas. A ele ou a qualquer outro "regionalista", independentemente do partido ou clube de caça a que pertençam. Um país do tamanho deste, que tem como exemplo de "desconcentração" as inúmeras comissões e direcções regionais e distritais que apenas servem para dar lugares às nomenclaturas que vêm frequentemente a Lisboa receber ordens e ajudas de custo, ou que tem como exemplo de "descentralização" e de "reforço da autonomia local" o magnífico parque autárquico, não precisa de mais "entidades intermédias" para nada. E, sim, horroriza-me pensar que o ingénuo municipalismo de Alexandre Herculano tenha sido verdadeiramente prostituído pela deriva "chico-espertista" de muitos eleitos que nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar a sua venalidade. Pinto da Costa é hoje o que é, e o seu FCP vale o que vale, não por causa de ele ser do Porto, mas apesar disso. Quantos adeptos do FCP não existem por este país fora? O FCP é tanto do Porto como o Benfica ou o Sporting são de Lisboa ou de Coimbra, salvo quando o sr. Pinto da Costa lhe dá para o seu patético "regionalismo". Quanto à questão final, a da "mudança", caro CAA - "não podemos ir por aí [a regionalização] senão ainda ficamos como estamos?" -, apenas lhe reafirmo que não quero um país com mais "pequeninos" do que os que já existem, do poder central ao local. O "intermédio" seria a média dos dois. Um desastre, portanto. E eu não desejo mal a ninguém, mesmo quando digo mal de alguém. O que nem sempre é fácil.
9 comentários:
" um país do tamanho deste " !!! Então e a Bélgica ou Austria ou Holanda e outros países ? É preciso avisar com urgência estes países, para seguirem o exemplo de Portugal, só assim serão desenvolvidos como nós !
parabéns pelo seu texto.
Apesar de não seguir constantemente a mesma linha de pensamento que o senhor, confesso-me rendido à capacidade com que defende sempre a sua opinião.
Não sei se, como aparenta, cria as suas opiniões sobre os fundamentos que mais tarde apresenta ou se, como muito má gente, cria as opiniões e só depois procura fundamentá-las com exercícios de eloquência, retórica, e os silogismos necessários - quando precisa - mas, seja como for, lá argumentar sabe. E não, não houve nem há da minha parte qualquer tipo de sarcasmo.
Abraço.
Exactamente, em Portugal não pode haver regionalização por causa disto e daquilo, como não podia haver um regime democrático no tempo do senhhor professor salazar. Ainda bem que me explicaram isto, agora já posso dormir descansado com o centralismo democrático e merda do país que criou. Muito obrigado!
Tal como aconteceu no Brasil ainda á poucos anos, em que se mudaram os poderes politicos para Brasilia. Se mudassem em Portugal o poder politico para o PORTO, aposto que estes pseudo anti-regionalistas mudavam todos de opinião. Talvez fosse a formula de desmascarar toda esta palhaçada que existe actualmente no meio politico e no centralismo absoleto de Lisboa. O Norte é auto suficiente, é o motor de Portugal, e pode bem pagar a gestores regionais para melhor gerirem a sua região tal qual uma empresa. Sem mais delongas, TOMA E EMBRULHA.
A propósito...Qual é a entidade patronal que te paga os salários, para perderes 80% do tempo útil de trabalho a escrivinhar estas tretas
que não passam de opinião pessoal e não transmissivel?
Alexandre Herculano disse...
parabéns pelo seu texto.
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Resposta...
Ó joão gonçalves...faz um favor a ti próprio e vai mas é trabalhar.
Pessoa que escreve opinião sobre os seus próprios Posts!!!!!...
que baixeza gritante.
"Tal como aconteceu no Brasil ainda á poucos anos"
"Há", do verbo "haver"...
João Gonçalves, totalmente de acordo na oposição à regionalização. Já o fui, activamente, no último referendo - e estava numa outra capital de distrito que não Lisboa - continuarei a sê-lo por achar medida totalmente obtusa neste pequeno País.
Quanto ao futebol, acho que, como em relação a tudo o resto na vida, se deve separar o trigo do joio.
Só porque é justo, devia introduzir um parentesis em que ressalvasse a diferença, face ao restante dirigismo, que é marcada pelas mais recentes direcções do Sporting. O JoãoGonçalves diz que não acredita na justiça. Faz bem. Mas sabe ser justo?
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