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20.4.11

COM RICARDO PAIS NO PORTO

Conheci o Ricardo Pais, há muitos anos, por baixo do palco do Grande Auditório da Gulbenkian. Ele encenava - e ensaiava com Jorge Salavisa e Vasco Wellemkamp - Só Longe Daqui para o defunto Ballet Gulbenkian e eu escrevia para o igualmente desaparecido Semanário. Depois revi-o no Dona Maria (outra coisa praticamente morta), no São João e no Rivoli. Nem sempre estivemos de acordo quando ambos tivemos responsabilidades no ministério da Cultura (mais um venerando falecido às mãos do demissionário socratismo) ou mesmo depois. Mas sempre segui e admirei o trabalho do Ricardo, de Lisboa (desde a Casa da Comédia) ao Porto ou em Viseu. Por isso lhe propus que apresentasse o Contra a Literatice e Afins no Porto onde agora reside (o convite está aqui à direita). É mais logo, a partir das 18 horas, na Fnac de Santa Catarina.

3.4.11

"OS MORNOS SÃO VOMITADOS POR DEUS"


«Diz a Bíblia que os mornos são vomitados por Deus. João Gonçalves não corre esse risco: estes retratos literários sobre alguns objectos do seu afecto e desafecto são tudo aquilo que a nossa crítica paroquial não é. Brilhantemente escritos e habitados pela memória. Que Gonçalves não pontifique na imprensa com regularidade, eis o melhor comentário sobre o estado comatoso da dita.»

João Pereira Coutinho, suplemento Domingo (CM)


Nota: João Pereira Coutinho sabe que eu sei que ele sabe que eu sei que ele sabe porquê. Parafraseando Vitorino Nemésio, eu, comovido em casa, agradeço a generosidade e a leitura. Como agradeço as Do Médio Oriente e Afins, sobretudo na homenagem a Jorge de Sena, "objecto" exclusivo do próximo livro. Mas, aqui, segue-se o pragmatismo da Marquesa de Merteuil, tão útil na vida pública quanto na privada mesmo quando condenado ao fracasso e à solidão. «Pour moi, je l'avoue, une des choses qui me flattent le plus, est une attaque vive et bien faite, où tout se succède avec ordre quoiqu'avec rapidité; qui ne nous met jamais dans ce pénible embarras de réparer nous-mêmes une gaucherie dont au contraire nous aurions dû profiter; qui sait garder l'air de la violence jusque dans les choses que nous accordons, et flatter avec adresse nos deux passions favorites, la gloire de la défense et le plaisir de la défaite. Je conviens que ce talent, plus rare qu l'on ne croit, m'a toujours fait plaisir, même alors qu'il ne m'a pas séduite, et que quelquefois il m'est arrivé de me rendre, uniquement comme récompense.»

25.3.11

«PELA LITERATURA, CONTRA A LITERATICE»



«A literatura não é um território de pacificação ou de anemia. ‘Contra a Literatice e Afins’ (Guerra e Paz), de João Gonçalves, foi ontem lançado em Lisboa, e é um inventário de argumentos sobre a matéria. Gonçalves é um excelente leitor que não depende no universo de deferências literárias e editoriais – tem, a seu favor, o mau génio, a tentação polémica, a necessidade de beleza. Disso tudo fala a literatura; de renascimento, de vingança, de uma eternidade que não demora a passar. As boas consciências que procuram ver na leitura "um acto de cidadania" escusam de passar por estas páginas, verdadeiros textos de guerrilha onde sobrevoa a inspiração de Sena e o deslumbramento diante dos mestres (Gaspar Simões ou Prado Coelho, por exemplo). Pela literatura, contra a literatice.»

Francisco José Viegas, CM

(editado aqui na ortografia dita antiga)

23.6.10

DAS REFERÊNCIAS

Alegre aprecia falar dele próprio como uma "referência" do PS, um pouco à semelhança de um incontornável sinal de trânsito. Sucede que Alegre nem sequer fundador do partido foi, contrariamente ao senhor da fotobiografia que ilustra este post. O Nuno Ramos de Almeida é neto dele tal como o Manel Tito de Morais, meu amigo há muitos anos. A apresentação é quinta-feira, 24 de Junho, pelas 18.30, na Bertrand do Chiado. Pelo Nuno e - não se pode ter tudo - pelo "faz-tudo" Guilherme d'Oliveira Martins.

26.12.09

SCRUTON

Também «para mim, há uma parte do Natal que é silêncio e leitura.» Roger Scruton, um "conservador", merece que a editora do autor do post (e de Scruton em português) o traduza. «And by thinking with wine you can learn not merely to drink in thoughts, but to think in draughts.»

1.10.09

PARADIGMAS


Não sei se, como escreve Richard Rorty citado na contracapa, se trata do mais influente livro de filosofia da segunda metade do século XX. É, seguramente, um deles.

4.5.08

DEBAIXO DA CALÇADA, NADA


Passaram quarenta anos sobre o parisiense Maio de 68. Segundo alguns, os das diversas esquerdas, aquilo foi um acto generoso, fundador e revolucionário que representou, nas palavras de António José Saraiva, "a crise da civilização burguesa". Durante uns dias, De Gaulle, o chefe de Estado francês, andou vagamente desaparecido enquanto nas ruas de Paris se viravam carros e, na Sorbonne, chamavam "crápula estalinista" a Sartre. Um Sartre que imediatamente se pôs ao lado da racaille, então filha precisamente desse "estado do mundo burguês" que diziam combater, e não aquela - pobre, desempregada e imigrada - que queima agora carros nos arredores da capital. O folclore acabou na manifestação de 30 de Maio, de apoio a De Gaulle, que mais tarde, em eleições, voltou a ganhar. Só se foi embora, pelo seu próprio pé, quando perdeu o referendo sobre a regionalização. Mitterrand, desprezado pelos "heróis" esquerdistas de 68 (na ausência de De Gaulle, em plena crise, anunciou uma pífia candidatura ao Eliseu), só lá chegou treze anos depois. E, para quem apelidava o regime da constituição de 1958 de "golpe de estado permanente", Mitterrand passou catorze anos presidenciais bem sentado nele, comportando-se muito mais como um monarca pré-1789 do que como um republicano pós-68. Foi o primeiro a "enterrar" os despojos políticos e culturais do militante Maio ao dar o "abraço do urso" ao PC (que não lhe fazia falta alguma) e a ter aos seus pés os "novos filósofos", um híbrido anti-soviético e social-democrata resultante das perturbações intelectuais de 68. Sarkozy, num comício eleitoral em Bercy (ver o livro da foto), também apoiado por estes já velhos filósofos , reclamou a necessidade de acabar com a "herança soixante-huitard" embora, ironicamente, talvez fosse improvável sem ela. Não obstante todo o folclore "ideológico" doméstico, traduzido em prateleiras e prateleiras de livros, a "herança" desse Maio longínquo passou pela humilhação de um Le Pen na segunda volta de 2002 e por ter de se curvar perante Chirac, esse político com ar de entertainer televisivo, para evitar o pior. Por cá, o Maio de 68 só chegou uns anos depois, com o PREC (Sartre veio dar lições "revolucionárias" a um quartel...), prolongando-se nas "refiliações" esquerdistas nos partidos do poder - PS e PSD - que deram no que sabemos. Eduardo Prado Coelho terá sido o mais genuíno mandarim "intelectual" do que restou de 68 aqui. O resto são imitações baratas e "pequeno-burguesas", para recorrer à langue de bois desse Maio longínquo para sempre perdido. Até por isso, ele faz falta. Nunca houve nenhuma praia debaixo da calçada.

10.10.07

O LIVRO DE AGUSTINA



Recordo, de um frio Janeiro de 1986, uma conversa até à hora do almoço com Agustina na sua casa de Campo Alegre. Falámos do então novo livro sobre "a monja de Lisboa" e de muitas peripécias do país. Com um sentido de humor invejável, Agustina discorria sobre gente conhecida e desconhecida com a mesma facilidade com que enxotava o cão da nossa presença. Recordámos essa manhã, há três ou quatro anos, na feira do livro de Lisboa. À medida que avanço na idade e no meu desconhecimento do ser humano - gente que eu julgava que conhecia - interrogo-me se esses "humanos" não passam de ficção e se os "humanos" dos livros de Agustina não são, afinal, a realidade. Decididamente o "humano" não é o meu vício.

19.7.07

DIA 19 DA PRESIDÊNCIA


Grande dia para a presidência. A sra. D. Rice, o sr. da ONU cujo nome não consigo pronunciar e o pepsodent Blair andaram por aí. Tiveram direito a trânsito fechado, a helicóptero e a centenas de polícias. E à RTP oficiosa, babada e regimental. Tudo por causa do Médio-Oriente que este chamado "quarteto" monitoriza com o sucesso flamejante que se surpreende diariamente. Para ajudar o senhor presidente em exercício, o czar Putin zangou-se com o sr. Brown e vice-versa. Já havia uma vaga dificuldade por causa do preto fascista Mugabe e, agora, aparece o sr. Putin com o seu caprichismo chauvinista para perturbar a harmonia presidencial feita de cimeiras disto e daquilo. O mundo volta a estar perigoso, areia em demasia para o camião do senhor presidente. E, "quarteto" por "quarteto", preferirei sempre o de Pedro Bandeira Freire.

3.7.07

UM LIVRO


Como diz a editora, a silly season ajuda a ler certas coisas. Este livro de António Costa Santos, sobre alguns "interditos" do Estado Novo, tem piada e tem uma excelente mancha gráfica. Salvo a óbvia separação dos tempos, teria tido a sua graça se Costa Santos comparasse a subtileza dos "proibidos" de hoje com a evidência, por vezes pueril, dos de ontem. E tem razão quando explica que adoramos policiar-nos uns aos outros. O Doutor Salazar e o engenheiro Sócrates, entre outros, não caíram do céu. Limitaram-se, afinal, a explorar este "Portugal profundo", o dos "proibidos" domésticos. "Proibido", de António Costa Santos, destina-se simultaneamente a fazer-nos sorrir e a pensar. Muito do que ali se conta, desapareceu. Só não desapareceu - nem nunca desaparecerá por completo - o que dá causa ao título do livro. O "proibido" está dentro de nós como uma doença incurável.

29.4.07

O FIM DO PROBLEMA


Leio no Melancómico, do Nuno Costa Santos, este "aforismo de pastelaria": "Passava a vida a limpar a sua imagem. Até que, um dia, sem querer, apagou-a". Vem isto a propósito do dr. Barroso e do engº ou bacharel Sócrates. Ao primeiro, já a pensar no "depois de Bruxelas", deu-lhe para uns chás no remanso de Sintra apenas para se promover. Desta vez, imaginou uma "mini-cimeira" europeia com dois ou três países irrelevantes entre os quais o nosso. Sócrates abanou de imediato o rabo. Acontece que os destinatários do chá e outros que não estavam "convidados", fizeram cair o propósito barrosista, acusando o homem de querer "dar passos maiores do que a perna". Barroso é um medíocre presidente da Comissão Europeia, a versão "direitista-maoísta" do pobre sr. Prodi. Já percebeu que não fica naquela história e quer, à viva força, vir fazer "história" cá dentro. Sócrates, na "Ovibeja", puxou-lhe o pé para mais um aeroporto e para se descartar do Tribunal de Contas. Ele, um homem manifestamente sem mundo, quer deixar a sua marca no betão "moderno" da Ota e de Beja. Ninguém falará dele depois da "presidência" do segundo semestre. Barroso e Sócrates, de tanto cuidarem das respectivas "imagens", ainda as apagam.

20.4.07

LIVROS - 2


Novidades da "Guerra& Paz" que recomendo particularmente: esta, esta e esta. Sobre Aron, já tinha dito qualquer coisa aqui e aqui.

3.4.07

UM LIVRO


Um "policial" inesperado e diferente para ler antes de a luz se apagar. Uma história bem contada, sem ironia no título.

1.3.07

O FIO DO HORIZONTE


"Cada um de nós escondeu um tesouro junto ao mar, e procura-o incansavelmente nas noites mais ferozes e intensas".

A propósito, Eduardo, está melhor?

20.2.07

UM LIVRO...

... de um blogger. Uma ficção que começou aqui.

18.2.07

CONTRA OS PRECONCEITOS DE ESQUERDA


Em Dezembro, quando estive em Paris, visitei túmulos. Um dos que vi pela primeira vez, do lado norte do cemitério de Montparnasse, foi o da família Aron. Aos vinte e poucos, li a as "memórias" de Raymond Aron que alguém me trouxe da Bélgica. Estávamos em 1983 e, em Outubro desse mesmo ano, Aron desaparecia. Os nossos "liberais" e os nossos "democratas" têm muito a aprender com Raymond Aron. Pertenceu a uma estirpe, praticamente extinta, com biografia. Teve a felicidade de integrar uma notável geração de intelectuais franceses com quem polemizou a vida inteira, sobretudo por causa da deriva marxista da maior parte deles, nomeadamente Sartre. Aron era um grande conhecedor do pensamento marxiano - tinha uma formação filosófica de raiz germânica - e, porventura por isso, combateu todas as suas manifestações totalitárias. "J'étais le plus résolu dans l'anticommunisme, dans le libéralisme, mais ce n'est qu'après 1945 que je me libérai une fois pour toutes des préjugés de la gauche", diz Aron a dado momento das suas "memórias". Mais de vinte anos passados sobre a primeira edição francesa, a Guerra&Paz faz-nos o serviço público de editar a tradução das Memórias de Raymond Aron. Deviam ser de leitura obrigatória para o nosso pequenino galarim político. Para ver se ele se liberta de vez dos seus cediços preconceitos de esquerda.

10.2.07

PERÍODO DE REFLEXÃO -3


Tout le bonheur des hommes est dans l'imagination.

D. A. F. de Sade


Donatien Alphonse François, mais conhecido por Marquês de Sade, passou a maior parte da sua vida atrás de grades, vítima da inveja do costume, dos inimigos pessoais e de ódios políticos. "Morou" muitos anos na Bastilha, onde, aliás, estava encarcerado no verão de 1789. Dias antes do "prec" invadir a prisão, Sade atirou da janela uns panfletos escritos à mão onde descrevia as degradantes condições prisionais a que estava sujeito. Depois dirigiu-se à multidão recorrendo a uma espécie de megafone artesanal. Após ter sido solto, escolheram-no como "presidente" da sua "junta de freguesia", dando início a uma campanha anti-religiosa que ajudou a radicalizar a Revolução. Todavia, opôs-se ao "Terror". Quando os seus sogros, responsáveis por muitos dos anos que passou na prisão, foram condenados à morte como contra-revolucionários, Sade impediu a sua execução. Este ingénuo "acto de clemência" custou-lhe, de novo, a liberdade. A "jacobinagem" ultra prendeu-o - era, afinal, um perigoso "moderado" - e condenou-o à pena máxima. Esperou um ano pela guilhotina. No entanto, a liberdade chegou com o fim do "Terror" e o tempo seguinte foi passado na mais tremenda pobreza. Quando Napoleão emergiu, Sade não resistiu a escrever uma sátira sobre o pequeno-grande homem. Foi condenado a passar o resto da sua vida num asilo para doentes mentais. Então como agora, respeitinho é que era preciso.

História de Juliette ou as prosperidades do vício, Guerra & Paz, 2007, tradução de Rui Santana Brito .

PERÍODO DE REFLEXÃO -1


Quando o Esplanar era vivo, o João Pedro George, a dada altura, entrevistou o Luíz Pacheco, o Edmundo Pedro e o Fernando Savater (num comboio), nenhum necessariamente por esta ordem. O E.Pedro lançou há dias as suas memórias. Como é dos poucos homens rijos que sobram, deve valer a pena ler, ao contrário das "quase memórias" da eminência Almeida Santos. Do Pacheco, vão aparecendo umas coisas e o João Pedro, algures em Espanha, deve estar a esta hora a espremer-se para terminar a sua tese que consiste justamente numa biografia do dito Pacheco. Na entrevista de Pacheco, há uma referência ao Marquês de Sade que pode servir de introdução "realista" ao livro História de Juliette ou as prosperidades do vício, da Guerra & Paz. "As pessoas não percebem nada do que é o libertino. O termo ficou, na linguagem vulgar, associado a coisas disparatadas, como sinónimo de devassidão. Ora libertino não é apenas um devasso. Não é apenas aquele tipo que gosta de ir para a cama com homens, com mulheres, com todos ao mesmo tempo... O libertino é um tipo livre, que está contra todas as tiranias. O Sade, por exemplo... aquilo que o Sade conta está quase tudo dentro da imaginação dele... Repara: o gajo esteve quarenta e tal anos prisioneiro em masmorras e hospícios, e à ordem de quatro regimes: a realeza absoluta, a realeza constitucional, a Revolução e o Império, o que mostra bem como o libertino é o maior inimigo de todos os sistemas e como estes o odeiam, o temem. Porque os sistemas são a ordem e o conforto, ao passo que o libertino é a aventura, é o descontrolo. O Sade está aí. O Sade está entre nós. Mais: o Sade está em todos, dentro de nós."

PROSPERIDADES


Os meus "camaradas" do blogue do não estão muito preocupados em ser politicamente correctos. Receiam que as polícias do outro lado e as do regime nos acusem de violar a lei. Eu, aliás, e a propósito de violações e demais libertinagens, aproveito o fantástico "período de reflexão" (uma daquelas idiotices típicas de uma sociedade imatura) para ler D.A.F. de Sade a quem tenciono dedicar uma prosa mais logo. Sejamos claros, como diria o Paulo Gorjão que pertence ao clube dos certinhos (ainda ganha o Prémio João Carreira Bom para "cronista do reino"). E o "sejamos claros", até amanhã, escreve-se com três simples letrinhas: NÃO.