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«Se corrermos a Europa, não encontramos justiça melhor que a portuguesa.»
Pinto Monteiro, PGR (via Manuel Pinheiro, O Cachimbo de Magritte)
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
Produce cierta melancolía,
una tristeza decadente -literaria sin duda-
como algunas canciones de entreguerras
o páginas perdidas de Drieu La Rochelle,
ver a un hombre solo, apartado y distante,
en la barra de un bar con decorado internacional.
En esa imprecisa edad, tan imprecisa como la luz del ambiente,
en que ya no es joven ni viejo todavía
pero lleva en sus ojos marcada su derrota
cuando con estudiado gesto enciende un cigarrillo.
Las muchas canas y las muchas camas,
un indudable estómago que la camisa inglesa apenas disimula,
el temblor, no demasiado visible, de su mano en un vaso,
son parte del naufragio, resaca de la vida.
Un hombre que espera ¿quién sabe qué?
y aspirando el humo, mira con declarada indiferencia
las botellas enfrente, los rostros que un espejo refleja,
todo con la especial irrealidad de una fotografía.
y es aún, algo más triste, un hondo suspiro reprimido,
ver al fondo del vaso -caleidoscopio mágico-
que ese hombre eres tú irremediablemente.
No queda entonces sino una sonrisa: escéptica y lejana,
-aprendida muy pronto y útil años después-
de un largo trago acabar la bebida,
pagar la cuenta mientras pides un taxi
y decirte adiós con palabras banales.
"Antes que llegue la noche", 1985
«Portugal é o país dos que não querem ver. O regime dos que sabem mas fingem que nâo ouviram. O sistema Mota Amaral. À esquerda como em certa direita.»
Paulo Pinto Mascarenhas, ABC do PPM
«Após cinco anos em sentido inverso, o povo decidiu que o eng. Sócrates é o responsável por todas as calamidades que se abatem sobre a nação. O dr. Passos Coelho, que há meses vem legitimando as calamidades, é um herói popular. Explicações? Não mas peçam. Talvez as desculpas do dr. Passos Coelho tenham tocado o coração das massas oprimidas. Talvez as massas andem tão cansadas do eng. Sócrates que o trocariam pelo Pato Donald ou por uma torradeira eléctrica. Talvez as massas sejam definitivamente malucas. Certo é que as massas querem o dr. Passos Coelho a primeiro-ministro, e só não vêem o desejo cumprido porque, pelos vistos, a nova forma de fazer política também implica evitar o poder a qualquer custo. A nova forma de fazer política ainda será política ou já entra na pura fraude?»
Alberto Gonçalves, DN
«Anuncia-se que lhe será atribuído o Grande Colar de Santiago, reservado, por regra, a chefes de Estado. Para fazer esta excepção, é necessário um decreto especial. O acto de investidura é marcado para o Palácio da Ajuda. Estão todas as figuras do Estado e as televisões fazem directos. Vou no meu carro oficial acompanhado de batedores, buscá-lo ao Hotel Altis, onde está hospedado. Sento-me à frente. No banco de trás, Saramago e Pilar gracejam. (...) Pilar é sempre ela - eis a sua força.»
«O prémio Nobel não garante a importância literária de ninguém. Basta ver a longa lista de mediocridades que o receberam. Pior ainda, o prémio Nobel é atribuído muitas vezes por razões de nacionalidade ou pura política, sem relação alguma com a obra, que num determinado ano a Academia Sueca resolveu escolher. Que Saramago fosse o único escritor de língua portuguesa a receber essa mais do que duvidosa distinção não o acrescenta em nada, nem acrescenta em nada a língua portuguesa. Só a patriotice indígena (de resto, interessada) a pode levar a sério e protestar agora indignadamente porque o Presidente da República se recusou a ir ao enterro do homem. Por mais que se diga, e até que se berre, Saramago não era uma glória nacional indiscutida e universalmente venerada.»
«When words lose their integrity so do the ideas they express. If we privilege personal expression over formal convention, then we are privatizing language no less than we have privatized so much else. “When I use a word,” Humpty Dumpty said, in rather a scornful tone, “it means just what I choose it to mean—neither more nor less.” “The question is,” said Alice, “whether you can make words mean so many different things.” Alice was right: the outcome is anarchy. In “Politics and the English Language,” Orwell castigated contemporaries for using language to mystify rather than inform. His critique was directed at bad faith: people wrote poorly because they were trying to say something unclear or else deliberately prevaricating. Our problem, it seems to me, is different. Shoddy prose today bespeaks intellectual insecurity: we speak and write badly because we don’t feel confident in what we think and are reluctant to assert it unambiguously (“It’s only my opinion…”). Rather than suffering from the onset of “newspeak,” we risk the rise of “nospeak.” (...) Though I am now more sympathetic to those constrained to silence I remain contemptuous of garbled language. No longer free to exercise it myself, I appreciate more than ever how vital communication is to the republic: not just the means by which we live together but part of what living together means. The wealth of words in which I was raised were a public space in their own right—and properly preserved public spaces are what we so lack today. If words fall into disrepair, what will substitute? They are all we have.»
Tony Judt
«Temos hoje uma classe política corrupta, um governo autoritário, 600 mil desempregados, menos imprensa livre, educação medíocre, justiça lenta, saúde para alguns, mais impostos e um Estado arruinado. E o povo, prosperou? O Eurostat diz que não: Portugal e Malta são os únicos países que, com um PIB per capita inferior à média europeia em 1998, se afastaram desta média nos dez anos seguintes. Ou seja: os outros convergiram, Portugal divergiu. Os números estão aqui.»
Luís M. Jorge, Vida Breve
«No dia 16, o PS agendou um projecto de voto de pesar pela (...) morte [de António Manuel Couto Viana], subscrito na véspera por doze deputados socialistas. No dia 18, presumo que em reunião dos grupos parlamentares, a intenção de voto foi retirada depois dos protestos apresentados pelo BE e PCP, com o argumento, e vou citar terceiros, de que o Parlamento não podia homenagear quem combatera «ao lado das tropas nacionalistas, na guerra civil de Espanha.» Não imagino qual pudesse ter sido o contributo de um garoto na Falange: Couto Viana tinha 13 anos quando a guerra começou, e 16 quando acabou. Adiante. O imbróglio surpreende-me a vários títulos. Em primeiro lugar, pela passividade dos doze subscritores, entre os quais se encontra um capitão de Abril (Marques Júnior) e pessoas com responsabilidades na área cultural. Em segundo lugar, pela indiferença da direita, que não foi capaz de pensar pela sua cabeça. Ninguém no PSD e no CDS-PP achou pertinente homenagear Couto Viana. (...) A direita, que tanto barafusta com o monopólio literário da esquerda, mostrou-se incapaz de celebrar o mais corajoso dos seus. Têm vergonha de quê? Quanto ao silêncio dos media, estamos conversados. Couto Viana? Quem é esse gajo?»
Eduardo Pitta, Da Literatura (o segundo link é da minha responsabilidade)
«Portugal ficou mais pobre? Se a pobreza for de espírito e a julgar pelas carpideiras, sem dúvida. A morte de José Saramago iniciou uma competição de louvores e levou uma extraordinária quantidade de sujeitos, notáveis e anónimos, a elogiar um homem que, evidentemente a título elogioso, todos acham "polémico". É verdade que Saramago tentou a polémica. E se agora muitos aconselham a separar o autor da respectiva obra, é igualmente verdade que o conselho não possui efeitos retroactivos. Após O Evangelho... e sobretudo após o Nobel, que insuflou Saramago com uma importância proporcional à importância que um país periférico dá a essas coisas, os seus romances confundem-se frequentemente com sebentas de apoio às controvérsias públicas que o autor buscava e, na maioria dos casos, obtinha. Menos lidos do que comentados, os livros de Saramago pareciam-se com uma mera versão escrita do chinfrim que o próprio anunciava ainda antes de cada publicação e se esforçava por alimentar depois. E tudo isso para quê? Vasculha--se a imprensa e, entre a excitação dos epitáfios, não se encontra uma voz dissonante. Saramago orgulhava-se de fomentar inimigos, mas, fora dos comentários sem rosto na Internet, aparentemente não há um com a decência de aparecer e proclamar que desprezava a obra ou que detestava o autor. Para quem se sonhou incómodo, não haverá maior traição do que partir neste sufocante consenso.»
«Somos fracos juízes do nosso tempo, sobretudo quando pretendemos adivinhar a eternidade no pedaço de história em que nos coube viver. (...) No início do século XXI, o panorama literário de Portugal é dominado por duas figuras quase intangíveis, tão longe se estende o seu prestígio nacional e internacional. José Saramago e António Lobo Antunes são as incontestadas eminências das nossas letras contemporâneas, os autores mais vendidos, os mais autopsiados pela academia, os mais consagrados pela crítica. Não se vê ninguém que lhes denigra o mérito nem alguém que lhes pise o manto da preponderância.»
José Navarro de Andrade, É tudo gente morta
«Nem vale a pena falar daqueles que, à esquerda, convictos de que a presidência é a sua reserva natural, desde o primeiro dia se prepararam para tratar como intruso um presidente em quem não mandaram votar. Para eles, tudo nesta presid~encia foi "sabotagem" da governação ou indício de uma "agenda conservadora". Mas nem por isso as direitas foram capazes de mostrar-se satisfeitas. Há por esse lado quem não perdoe ao Presidente não ter combatido ou ganho as guerras que as próprias direitas não quiseram combater ou não souberam ganhar no tempo e no lugar certos. (...) Prometeram-nos em 2006 que o antigo primeiro-ministro não saberia ser presidente. Afinal, soube. Contra os devaneios de uma presidência executiva ou profética, respeitou a concepção institucionalista da função. Por convicção? Por feitio? Por cálculo? Não importa agora o motivo, mas o resultado. O seu mandato ficou definido pelo protesto contra o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, em Julho de 2008, quando a constituição foi cinicamente pisada para servir os interesses eleitorais dos partidos. Nem a classe política nem a população, indiferentes a tudo o que não diga respeito ao poder e às suas benesses, o pareceram compreender. Pudemos então medir a ocasional solidão de um Presidente meticuloso. A exorbitância é uma das tendências dos nossos órgãos de soberania: proliferam, com sucesso, os juízes que se julgam justiceiros e os governantes com aspirações a demiurgos. Raramente um titular de cargo público admitiu não poder corrigir e salvar o mundo: era só ter os "recursos" necessários ou o apoio "suficiente". Contra a corrente, tivemos nestes anos um Presidente que, com mais ou menos felicidade, acabou por ser apenas o Presidente tal como estava previsto na constituição - nem o messias da pátria aflita, nem o vingador das oposições, nem o guarda-portão de um qualquer sectarismo. Saberemos perdoar-lhe esse escrúpulo?»