10.5.07

A ELITE DE LISBOA

"O maior problema de Lisboa são os fazedores de opinião de Lisboa, precisamente esses que dizem que os maiores problemas de Lisboa são... etc e tal. Na verdade, achar que o problema de Lisboa tem que ver com maiorias camarárias ou finanças é indicativo de uma extraordinária miopia política e cultural que mostra muito precisamente o seguinte: Lisboa é um assunto demasiado sério para ser deixado aos lisboetas. Não me refiro à maioria dos lisboetas, aos lisboetas das 9-às-5, mas sim à elite lisboeta, aos fazedores de opinião lisboetas, aos seus colunistas, jornalistas, cineastas, escritores, poetas, músicos, actores - todos aqueles e aquelas que mostram Lisboa a si mesmos e aos outros, são ouvidos sobre Lisboa, fazem a "imagem" de Lisboa. São estes e estas que têm a responsabilidade de ter deixado chegar Lisboa ao estado a que chegou ao longo de sucessivas gestões camarárias de gente sem visão e sem rasgo, incluindo Jorge Sampaio, João Soares, Santana e Carmona. A elite (e os jovens, os jovens...) de Lisboa têm essa responsabilidade porque, iludidos pelo aumento da oferta cultural e de entretenimento que a cidade sem dúvida vem experimentando nas últimas décadas, não viram - literalmente não viram e não vêem - a degradação do espaço público, a fealdade crescente, a decadência brutal da qualidade de vida de Lisboa, uma das cidades menos user friendly da Europa, certamente a mais descuidada, suja, anárquica e rasca das suas capitais. A elite de Lisboa, aos gritinhos de contentamento com o "cosmopolitismo" da sua cidade, nem ao menos tem o discernimento de detectar o paternalismo condescendente com que os estrangeiros olham para o terceiro-mundismo dos graffiti, do lixo, dos carros estacionados por toda a parte, dos edifícios em cacos, do horror dos subúrbios, da vergonha das entradas na cidade, da porcaria dos transportes públicos, do inferno do trânsito. Esta elite, toda satisfeita, deixou a política de Lisboa aos políticos de Lisboa. E estes são tal e qual aquilo que Pacheco Pereira escreveu no PÚBLICO de 5 de Maio último, num dos mais certeiros e dramáticos textos alguma vez produzidos sobre a política portuguesa (Pacheco Pereira esqueceu-se do PCP, cujo aparelho lisboeta é do mesmo género que os do PSD e do PS; esqueceu-se até do facto de que a posição camarária dos comunistas em Lisboa constitui um dos factores históricos mais importantes da acomodação do PCP ao regime; pelas sinecuras da Câmara Municipal de Lisboa, o PCP passou a estar disposto a vender a alma. E vendeu-a várias vezes). O abandono da política de Lisboa pela sua elite é espelhado exemplarmente naquilo que sucedeu ao Bloco de Esquerda, um partido que deveria ser eco dessa elite mas que está entregue de pés de mãos atados a um candidato-vereador com mentalidade de polícia."

Paulo Varela Gomes, in Público

5 comentários:

Anónimo disse...

«(e os jovens, os jovens...)».

... os jovens aparecem requentados pelas Juventudes partidárias, sem frescura, golpe de asa ou generosidade genuína.
Onde está a Jamila, onde está ? Por onde andou o "menino Serginho" das fracturâncias ? Qual juventude qual carapuça, a boquinha aberta, o biberon, a mameca !

Daniel Azevedo disse...

Por norma não comento artigos em blogs mas este seu post afectou-me de uma forma particular...
Não concordo que em Lisboa não se tenha feito nada e que tudo está feio e terceiro mundista. O próprio termo "terceiro-mundista" é empregue demasiadas vezes por gente que nunca quis saber do terceiro mundo e não faz a mínima ideia do que é viver num pais sem o mínimo de condições que nós (europeus ocidentais) damos por adquiridas.
Quem critica da forma virulenta e cega a gestão de Lisboa (como o faz no artigo citado) deve lembrar-se concerteza dos bairros do Casal Ventoso, Chelas, Curraleira etc...
Se acham que isso não conta nada e que é propaganda, aconselho um "tour" pela Cova da Moura, Bairro 6 de Maio etc... Ou ainda mais perto Camarate.
Qaunto aos carros, devo lembrar (e comprovei in sito esse fenómeno) quando a EMEL surgiu e fiscalizava as ruas com a Policia os Lisboetas das 9 ás 17, como lhes chamaram, estacionavam correctamente, e havia ordem. Depois, como bom tuga, arranjou-se uma lacuna na lei ou coisa que valha e as multas deixaram de ser pagas (pq eram inconstitucionais?).
Para acabar deixo uma pergunta: O que é que estamos dispostos a abdicar nas nossas vidas e pequenos confortos para que a situação mude.
É que democracia não é ir votar de quatro em quatro anos, é fazer parte da solução. Agora podemos sempre fazer da "Lamuria" o desporto nacional.

Daniel Azevedo disse...

Por norma não comento artigos em blogs mas este seu post afectou-me de uma forma particular...
Não concordo que em Lisboa não se tenha feito nada e que tudo está feio e terceiro mundista. O próprio termo "terceiro-mundista" é empregue demasiadas vezes por gente que nunca quis saber do terceiro mundo e não faz a mínima ideia do que é viver num pais sem o mínimo de condições que nós (europeus ocidentais) damos por adquiridas.
Quem critica da forma virulenta e cega a gestão de Lisboa (como o faz no artigo citado) deve lembrar-se concerteza dos bairros do Casal Ventoso, Chelas, Curraleira etc...
Se acham que isso não conta nada e que é propaganda, aconselho um "tour" pela Cova da Moura, Bairro 6 de Maio etc... Ou ainda mais perto Camarate.
Qaunto aos carros, devo lembrar (e comprovei in sito esse fenómeno) quando a EMEL surgiu e fiscalizava as ruas com a Policia os Lisboetas das 9 ás 17, como lhes chamaram, estacionavam correctamente, e havia ordem. Depois, como bom tuga, arranjou-se uma lacuna na lei ou coisa que valha e as multas deixaram de ser pagas (pq eram inconstitucionais?).
Para acabar deixo uma pergunta: O que é que estamos dispostos a abdicar nas nossas vidas e pequenos confortos para que a situação mude.
É que democracia não é ir votar de quatro em quatro anos, é fazer parte da solução. Agora podemos sempre fazer da "Lamuria" o desporto nacional.

Daniel Azevedo

Anónimo disse...

de facto não se percebe quem é paulo varela gomes, deve ser liboeta, mas de que tipo: jovem?, gente das 9-5? elite de lisboa? politico? fazedor de opinião? fazedor de opinião dos fazedores de opinião?

(gosto da frase 'o horror dos subúrbios', quais subúrbios? aqueles onde vive a 'elite', como cascais, ou onde vive a malta 9-5 que, como os outros, vive fora de lisboa e apenas a usa e abandona sem saudade nenhuma ao fim de outro dia igual ao outro dia que se confunde com o próximo dia. o problema não é os politicos da arquitectura dos opinadores é a vida, ou a falta dela.

Eric Lung disse...

Gostei deste blog e vou voltar concerteza, para ler mais e com mais tempo.
Eric Lung