27.9.05

EXÉRCITOS E GENERAIS

José Medeiros Ferreira é, definitivamente, um crente. "Acredita" que é com Mário Soares, "este" Mário Soares, o "novo", que o "regime" se salva e regenera. E, agora, no dia em que começa a campanha autárquica, dominada por um "tom" vagamente latino-americano, também "acredita" no "exército civil da democracia" que diz ser constituído pelos candidatos a autarcas. "Um regime político democrático com tanta gente envolvida [mais de 40000] pode sempre regenerar-se", afiança o meu amigo socialista-reformador. Eu não duvido, por um segundo, que, no meio destes milhares, estão honrados e probos cidadãos dispostos a servir a junta ou a câmara de uma maneira desinteressada e como verdadeiro "serviço público". Acontece que a história regista estes trinta anos de poder autárquico como uma hidra de duas cabeças. De um lado a realização de feitos sublimes em prol das populações e da qualidade de vida local. Do outro, a mais negra e aplicada destruição dos resquícios de dignidade e de memória locais, substituídos por entulho, rotundas e desenfreada construção civil, numa espécie de litania mortal dedicada à eternização "democrática" dos autores materiais das façanhas. A circunstância de este "exército" desmentir "as teses da anemia da participação democrática no nosso país", não me consola particularmente. Porque na "frente" desse "exército" estão "generais" cujas credenciais políticas e éticas, bem como o mero decurso do tempo, os deviam obrigar a nem sequer sair à rua. Tudo é resto é pouco mais do que ornamento "democrático" e "maria-vai-com-as-outras". E eu sei do que falo porque já dei para esse peditório. A democracia precisa de outros "exércitos" e, sobretudo, de outros "generais". Assim, como estamos, não vamos a lado nenhum e muito menos nos "regeneramos".

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