Adenda: Em Inglaterra, onde se deslocou para proferir uma conferência, Cavaco Silva recusou-se a dizer o que quer que fosse sobre as eleições presidenciais. "Os portugueses não compreenderiam que falasse em Londres", disse, e reafirmou que o fará "muito em breve". Em Paris, pelo contrário, Mário Soares não se poupou em tentar diminuir Cavaco numa rádio local. É não só já uma questão de carácter como de "estilo". E, a propósito de alguns comentários ao que aqui tenho escrito sobre o candidato socialista, reafirmo que fui seu apoiante em 1986, 1991 e nas eleições para o Parlamento Europeu, em 1999. Apoiante, de facto, mas nunca bajulador. Estive com ele quando achei que era importante estar. Agora não estou e vou explicando porquê, até Janeiro. Apenas isso.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
14.9.05
O AUTORITARISMO JACOBINO DE MÁRIO SOARES
O homem que quer "unir os portugueses" já começou a pôr as garras de fora. Com a gentileza que o caracteriza, M. Soares, na sua autista arrogância e no seu auto-convencimento de que é o "pai da pátria", "escolhe" ele mesmo as "qualidades" de um candidato presidencial. Cavaco, naturalmente, não tem nenhumas. Quando muito, e com alguma condescendência, "é um homem sério e respeitador". Falta-lhe, porém, o "humanismo" que a Soares, como temos visto, sobra. Alguém - e não lhe faltam cortesãos para o efeito- devia explicar a Soares que este insuportável paternalismo e este desdém anti-democrático só o prejudicam. A milonga do "humanismo" e da "falta de perfil" é julgável pelo eleitorado e não pelo dr. Soares e pelos seus bajuladores. Os atestados de menoridade intelectual e cívica que ele adora passar aos outros, Alegre incluído, fazem parte de um "perfil" bem conhecido. E esse "perfil" não é certamente aquele que os portugueses reconhecem num presidente da República "tolerante". Na altura certa, o autoritarismo jacobino de Mário Soares terá a resposta que merece.
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9 comentários:
Dado:
"M. Soares, na sua autista arrogância e no seu auto-convencimento de que é o "pai da pátria", "escolhe" ele mesmo as "qualidades" de um candidato presidencial"
"Os atestados de menoridade intelectual e cívica que ele adora passar aos outros, Alegre incluído, fazem parte de um "perfil" bem conhecido. E esse "perfil" não é certamente aquele que os portugueses reconhecem num presidente da República "tolerante". Na altura certa, o autoritarismo jacobino de Mário Soares terá a resposta que merece."
não, não percebo como é que isto era tão pouco importante em 86 e, principalmente, em 91 e 99, e agora já é!
Mário Soares não mudou. Sempre foi assim. Actualmente as circustâncias são tão ou mais dramáticas do que em 89, 91 e 99.
João Filipe Galamba
Se calhar porque o estilo Soares é tipico de 89 e 91. Soares realmente não mudou mas o país mudou, a diferença está aí meu caro.
Seria interessante recordar as caracteristicas do paternalismo de Cavaco...
Almeida Santos acertou na mouche.
Quando um político fala com desprezo dos partidos políticos e procura distanciar-se deles, quer dizer que prefere um regime sem partidos políticos, que o mesmo é dizer que prefere o fascismo ou uma ditadura comunista.
"Cavaco: retrato de um português muito conhecido"
"... o dr. Cavaco entrou em cena, afirmando classicamente a imoralidade da política (...) Em 1978, expusera com inteira franqueza, as suas opiniões sobre o assunto na revista Economia: nomeadamente a de que «o político como criatura dedicada à prossecução dos interesses da sociedade como um todo» era um mito. Os políticos, segundo o dr. Cavaco, só se movem por duas ordens de 'objectivos': «o seu próprio bem-estar» e a sua «permanência do poder». Donde resulta, como ele a seguir minuciosamente argumenta, que a política constitui o principal impedimento a que uma sociedade seja bem governada. Num mundo ideal, não existiria política, isto é, não existiria partidos: existiria apenas a vontade de competência (...)
Esse 'homem de Boliqueime', que chegava do 'nada', magro e esfomeado, cumpridor e virtuoso, endurecido pelas humilhações e pelos começos difíceis, reflectia a multidão que rilhava o seu ódio aos políticos nas universidades e nos ministérios, nos jornais e nas empresas públicas. Cavaco era a própria essência do arrivismo. Sendo um autêntico reacionário, detestava a burguesia tradicional e proclamava a sua dedicação ao povo: queria o prestígio da autoridade, o amor do trabalho e o fortalecimento da família; vivia obcecado com a sua própria competência, a sua importância e os sinais exteriores da sua dignidade. E não conseguia impedir que transparecesse, sob este já desagradável exterior, uma vaidade ingénua e vertiginosa, que apregoava as suas proezas atléticas, a sua perene juventude, os seus graus académicos, o seu saber, a sua clarividência e até, constantemente, os elogios que recebia do estrangeiro, como se a sua fama, partindo de Boliqueime e parando em Lisboa, fosse o caminho do mundo (...)
Ele sente-se como o proverbial menino holandês com o dedo no dique. Se alguém o mover um só milímetro segue-se o desastre. Ceder uma vez significa animar as fúrias e frustrações portuguesas, que já de si andam agitadas. Ele não cede. Dá audiência real à oposição e chama à conversa 'diálogo'. Não se corrige, mesmo quando erra, e, se se corrige, nega que se corrigiu (...)
Cavaco supõe que a sua impassividade inspira confiança. Inspira, pelo menos, uma certa apatia e tende a desencorajar as partes queixosas, que se cansam de bater com a cabeça num muro. Ele acha isso óptimo, sem perceber que perde no processo. O principio fundamental do cavaquismo não lhe permite perceber (...)
[Vasco Pulido Valente, "Cavaco: retrato de um português muito conhecido", in O Independente, 15 de Maio de 1998]
Parece que os mabecos do Soares também vagueiam agora por aqui!
Grande discurso e grande bofetada nos seus críticos mais jovens, o de Mário Soares na apresentação da sua candidatura, um espírito jovem com 81 anos.
Aquela que ele disse que esteve numa manifestação na rua contra a guerra do Iraque vai levá-lo à vitória.
O povo tem memória e na campanha Soares vai perguntar muitas vezes a Cavaco onde estava nessa altura. Estaria com Durão Barroso, o delfim de Cavaco Silva? Estaria na cimeira dos Açores, com o seu delfim Durão Barroso? Fez Cavaco Silva alguma coisa para evitar o desastre de Bush e de Durão Barroso nos tempos que antecederam a guerra do Iraque?
Suponhamos que nessa altura Cavaco Silva era presidente da República. O que teria ele feito, iria receber Bush nos Açores e dar o aval de Portugal ao disparate que foi a guerra do Iraque? O que teríamos em troca desse apoio a Bush? Provavelmente o que tiveram Aznar e Blair, terrorismo em casa.
Perceberam, cavaquistas e portugueses em geral, o que está em jogo na próxima eleição? Querem terrorismo em casa por uma causa idiota que não nos diz respeito?
Cavaco Silva é coautor moral da idiotice de Durão Barroso ao apoiar Bush na guerra do Iraque, porque Durão Barroso era o seu delfim. Não venha agora Cavaco Silva fingir que se distancia da posição de Durão Barroso quanto à burrice da guerra do Iraque, porque os portugueses nada viram dele nessa altura e depois.
Os portugueses não gostam de múmias oportunistas e videirinhas. Gostam de Mário Soares, poque ele enfrenta os toiros quando todos fogem ou ficam calados.
Viva Mário Soares, um dos mais valentes dos portugueses! Viva Portugal!
PÚBLICA VIRTUDE
Deixemo-nos de fofoquices que não interessam a ninguém, senão aos fofoqueiros e lojistas limianos, e falemos de algo que interessa sobremaneira ao povo português.
Refiro-me ao chamado Balcão Único, que o governo de Sócrates vai lançar brevemente. Neste Balcão, que pode estar em qualquer ponto do país num serviço estatal já existente, um cidadão poderá tratar de qualquer assunto que lhe diga respeito, desdes assuntos do desemprego a assuntos de saúde ou fiscais, escusando de andar de capela em capela a pedir papeis para os entregar numa outra capela estatal qualquer.
Ora, quando um Governo que entra em funções e ao fim de três meses úteis de governação consegue fazer com que uma empresa seja criada numa hora ou pouco mais, pondo-nos na vanguarda europeia e mundial nessa área da adminstraçao pública (coisa impensável há um ano atrás), é evidente que esta nova reforma governamental socrática é para levar a sério.
Há sectores liberais na nossa sociedade que ainda têm reservas quanto a este Governo no que respeita à sua capacidade reformadora e modernizadora, até eu ao princípio desconfiei dessa capacidade, mas já vi que este é de longe o Governo mais reformista e modernizador das últimas décadas, senão mesmo do último século.
Note-se que Portugal, nos rankings europeus é considerado um dos países de vanguarda na e-government. Parabens por isso a este Governo por esta nova grande reforma.
Mas, por amor de Deus, deixem este Governo lá estar os 4 anos da legislatura para se verem os resultados. A estabilidade política é o bem mais precioso numa democracia recente como a nossa.
Marques Mendes deve estar amnésico.
Vem ele propor uma comissão independente para avaliar e acompanhar os grandes projectos de investimento decididos ou com comparticipação do Estado. Tudo bem até aqui, de comissões anda o país cheio, mas tudo bem.
Mas há anos atrás, era primeiro ministro António Guterres e ministro do ambiente José Sócrates e o PSD quis uma comissão científica independente para avaliar e monitorizar a coincineração dos resíduos industrais perigosos. O PS e os outros partidos concordaram e assim foi criada essa comissão científica, mesmo ao paladar do PSD.
Esta fez o seu trabalho e concluiu que a coincineração nas cimenteiras defendida pelo então ministro Sócrates era um bom processo de tratar e eliminiar os resíduos industriais perigosos. Cientificamente correcto, sanitariamente inofensivo e economicamente recomendável.
Foi o bom e o bonito! O PSD ficou furioso por a ciência e a comissão não alinharem no ruído parolo e nas parvoeiras do PSD da altura. E fez tanto barulho contra o facto de o oxigéneo e o hidrogénio serem gases e dois mais dois serem quatro, que denegriu a comissão científica que ele próprio, PSD, tinha pedido e com cuja constituição tinha concordado.
Perante isto, Marques Mendes ou anda amnésico, ou então o melhor é dizer assim ao nosso PM:
«Olhe.... Engº Sócrates, concordamos com tudo o que o senhor quer fazer e achamos que é tudo bom para Portugal, mas se não se importa vamos boicotar isso tudo até o PS perder as próximas eleições legislativas e sermos depois nós, já no poder, a nomear o nosso pessoal para estar à frente desses projectos todos, e assim podermos entregar consultorias milionárias aos nossos amigalhaços e podermos fazer concursos para entregarmos as obras aos amigos dos nossos ministros».
Este Marques Mendes, se não existisse, tinha que ser inventado. E bastou a Mário Lino, actual ministro das obras públicas, um minuto de televisão, para reduzir a pó este líder menor... que só dá tiros nos pés.
Realmente o PSD merece melhor
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