12.10.08

PATHOS E BATHOS DE UM REGIME


«É à política que se deve regressar e não ao Estado. É à política com a carga de liberdade que ela exige e comporta. É a política com insatisfação com os medíocres resultados e com a empáfia dos governantes. E é também à política, não tanto como ideologia, que é uma ideia mais do passado do que do presente, mas como filosofia, como história, como saber, como opinião e acção, com experiência, com toda a tríade do Logos, do Pathos e do Ethos, e com esse senso comum que tanta falta faz em momentos como este, em que nos querem enganar e muitos de nós deixamos.» Concordo consigo, JPP. Todavia, quer o PS, quer o PSD representam o que mais de desertificante existe em matéria de política em Portugal. No PS, Sócrates tem "talento" a mais. Um "Logos" aprendido na urdidura partidária constante, uma vida resumida à intriga de secção, de federação, de congresso e, finalmente, por um acaso da sorte, levada, pelo voto, a todo o país como o ouro tirado ao Reno pelo anão Alberich para vã glória dos Nibelungos. No PSD, Manuela tem "talento" a menos. Não é "política", isto é, não tem jeito para lidar com as exigências pantomineiras do momento. Não é "hábil" como o anão de Wagner. Dos três, só possui o Ethos o que, nos dias de hoje, vale nada. Como nunca lá esteve, não pode "regressar" à política. Isto é uma crueldade do destino? É. Só que aos mortais, como lembra Hölderlin, nada é dado de graça. É Pathos e Bathos juntos na "arena central". E não saímos disto.

4 comentários:

Carlos Sério disse...

Não vejo a relação que possa existir entre "voltar à politica" e "voltar ao Estado".
Se se pretende dizer que as medidas politicas económicas, as "reformas" neoliberais são positivas e que tudo deve ficar na mesma então deve-se assumir tal assunção com clareza.
De qualquer maneira será bom meditarmos nisto:
A desregulamentação do Estado, apresentada como “reformas” necessárias e inevitáveis, para o relançamento da economia e acompanhamento da “modernidade” dos “novos tempos”, iniciada pelos Estados Unidos e pela Europa e por muitos outros países por esse mundo fora, visam um único objectivo – dar a máxima liberdade ao “mercado” – acreditando que ele, e só ele, se regula a si próprio como por uma “mão invisível”.
Para estes “modernos” líderes neoliberais, os mecanismos de mercado são racionais pelo que podem perfeitamente organizar a vida económica, política e social, o que se traduz em retirar o Estado como disciplinador da vida económica dando total liberdade à acção empresarial.
Surgiram assim a par das políticas de desregulamentação, as privatizações, incluindo sectores estratégicos da economia, como a água, a electricidade ou a Saude, o ataque aos salários e aos sindicatos, impondo uma violenta mudança na relação de forças entre o capital e o trabalho.

Mas, ao invés do desenvolvimento económico esperado, a implementação de tais políticas neoliberais provocaram um crescimento económico mais fraco, um maior desemprego, um aumento da pobreza e o acentuar progressivo das desigualdades sociais. Segundo o relatório da Unctad (United Nations Conference on Trade and Development) de 1997, o crescimento mundial, reduziu-se de cerca de 4% ao ano nos anos 70, para cerca de 3% nos anos 80, e 2% nos anos 90.
Esta fase superior do capitalismo – o imperialismo – encaminha-se para um beco sem saída. Com a “globalização” retiram-se recursos da área dos investimentos produtivos transferindo-os para a especulação financeira.
Esta tendência atinge directamente o coração da legitimidade do sistema capitalista neoliberal. De forma mais ou menos explícita, todos nós nos queixamos das injustiças geradas pelo capitalismo, mas de certa forma as aceitamos na medida em que a riqueza do capitalista tendia a transformar-se em investimento produtivo, empregos e produtos. A injustiça social passava assim a ser um mal inevitável de um processo em última instância positivo. O que é novo, é que com a expansão dos sistemas de especulação financeira, segundo a Unctad, a crescente concentração da riqueza nacional nas mãos de poucos não tem sido acompanhada por uma elevação de investimentos e crescimento mais rápido.
As trocas especulativas diárias são da ordem de 1,5 triliões de dólares por dia, enquanto as trocas de bens e serviços realmente existentes mal atingem os 25 biliões, algo como 60 vezes menos.
Nesta lógica, o que constitui não uma excepção mas uma regular tendência das últimas décadas, assiste-se aos lucros crescentes de um lado, e a investimentos, salários e emprego decrescentes do outro, o que simplesmente torna este sistema neoliberal insustentável.

Anónimo disse...

Bom. Eu cá também não entendo a da política sim estado não. Mas que se lixe, não vou perder o sono por isso. Numa coisa o João tem razão: a Manela tem talento a menos. Também tem conselheiras a mais e um partido a meter água nos porões até mais não

António Viriato disse...

O artigo de JPP tem muitos pontos meritórios, particularmente na sua acertada percepção da função político-povoadora do actual Governo, com a difusão de pessoal socrático por tudo o que seja instituição do Estado e até as do âmbito privado caídas em situação de fragilidade, natural ou fraudulenta.

Mas a co-responsabilidade de JPP, na rota de descrédito em que o PSD navega há já mais de uma década, período em que incluo os últimos anos dos Governos de Cavaco Silva, é grande e não pode ser escamoteada.

JPP alheou-se, em tempo oportuno, de procurar alternativas no PSD ou de sustentar as pequenas hipóteses que então se vislumbravam e permanece hoje atrelado ou patrocinando uma clara falta de vocação política, como Manuela Ferreira Leite, com amplas provas disso mesmo demonstradas, não estando, obviamente, em causa a competência técnica da senhora, na área financeira.

Contudo, para voltar à Política é preciso alguma aptidão específica para essa matéria e aqui a referida pessoa dela inteiramente carece.

Assim, a JPP resta-lhe apenas o papel de colunista venturoso, de que tem sabido tirar bom proveito, pena é que nem sempre com a desejada clarividência.

Nunca esquecerei o rasgado elogio que, ainda recentemente, teceu a um conhecido dirigente do PS, subitamente transformado em Gestor de sucesso.

Não se pode ganhar sempre em todos os tabuleiros, naturalmente. Também nisto se afirma ou se desbarata a credibilidade de um comentador, analista, politólogo ou historiador, qual seja a justa qualidade com que pretende que o identifiquem o mediático JPP.

E nisto estamos. Sem alternativa visível ao envolvente estado socrático, que agora já se tornou também crítico do neo-liberalismo em derrocada, depois de ter sido fiel seguidor das suas teses económicas e financeiras, ao arrepio de qualquer vestígio de doutrina socialista ou social-democrática.

José Sócrates prepara-se assim para sair novamente em ombros fazendo a caramunha presente, depois de ter feito o mal passado.

Não é com técnica financeira que se enfrenta esta notória habilidade manipulatória.

Memento, PSD e demais organizações da Nação valente, imortal !

Anónimo disse...

Quanto ao 1º ministro, a opinião que tenho dele é pior que a opinião que dele tem o dr. Pacheco Pereira. Para mim, José Sócrates personifica tudo o que um político não deve ser. Bom exemplo disso é forma como ele tem fugido às responsabilidades, uma vez que (facto) nos últimos 13 anos (outro facto: os anos "Guterres" foram os últimos de vacas gordas, logo os melhores para se fazerem as tão faladas reformas) o PS ter governado 10.
Quanto à dra. Manuela Ferreira Leite, ela tem desiludido. Eu, que nunca iria votar nela, acho que o País precisa de uma "ideia" alternativa, de uma possibilidade de alternacia. Assim, todos ficamos a perder.
Quanto ao maior papel do Estado na economia, para além do que diz o dr. Pacheco Pereira, é bom recordar os sucessos económicos e sociais do antigo Bloco de Leste, de Portugal pós 25/04/1974, da China de Mao, de Cuba de Fidel!
Mais recentemente temos o exemplo da gestão (de vários partidos! De direita e de esquerda!!) da CML da "questãozita" das casinhas e ateliers! E eu pergunto-me: a quem é atribuída (pela CML = Estado) casa em Chelas ou naquelas quintas em Loures e noutros sítios, onde a vida é pouco monótona e a quem é atribuída casinha na Quinta do Lambert? Eu acho que este é um bom exemplo, actual, da qualidade e bondade da gestão do Estado. "Animal Farm"!