«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
30.11.10
PETER HOFMANN 1944-2010
PARLAMENTO LULIZADO
Adenda (do Impensável): «Proponho, aproveitando este blog, que enviem um protesto a Jaime Gama. Podem fazê-lo aqui: http://www.parlamento.pt/
A IMPORTÂNCIA DE SE CHAMAR ANTÓNIO
ESTADO DE NECEDADE
NÓS POR CÁ
29.11.10
OLIVEIRINHAS
A FESTA PRIVADA DO CHIBO
AOS CINQUENTA ANOS
Aos cinquenta anos sou um ser perplexo,
não como aos vinte, aos trinta, ou aos quarenta,
mas radicalmente perplexo. Não sei
se amo a vida ou a detesto. Se desejo
ou não desejo continuar vivendo.
Se amo ou não amo aqueles que amo,
se odeio ou não odeio os que detesto.
Se me quero patriarca, pai de família, como acabei sendo,
ou se me quero livre pelas ruas nocturnas
como quando não acabei de descobri-las
em décadas de andá-las, perseguindo
sequer o amor mas corpos, corpos, corpos.
Sou de Europa ou de América? De Portugal
ou Brasil? Desejo que toda a humanidade
seja feliz como queira, ou quero que ela morra
do cogumelo atómico prometido e possível?
Não sei. Definitivamente, não sei.
Julgas que estou deitado num leito de rosas?
— perguntava ao companheiro de tortura Cuauhtemoc(1).
Mas, mesmo destituído, preso e torturado,
ele era o Imperador, descendente dos deuses.
Eu não descendo dos deuses. O corpo dói-me,
que envelhece. O espírito dói-me de um cansaço físico.
As belezas de alma, seja de quem forem, deixaram de interessar-me.
Resta a poesia que me enoja nos outros
a não ser antigos, limpos agora do esterco
de terem vivido. E eu vivi tanto
que me parece tão pouco. E hei-de morrer
desesperado por não ter vivido. Aos 50 anos
nem sequer a raiva dos outros ainda me sustenta
o gosto e a paciência de estar vivo.
Outros que tentem e descubram:
que digam ou não digam é-me indiferente.
Jorge de Sena
28.11.10
LOUCO?
O PORTUGALÓRIO CAMINHA PARA AS FESTAS
27.11.10
O REELEITO MARINHO
OS NEO-OTELEIROS
foto: Ephemera
CREDIBILIDADE PARA EXECUTAR OU A COLIGAÇÃO INEVITÁVEL
26.11.10
BELMIRO
CONTENTISMO PROFISSIONAL
MEU AMOR E TOLSTOI
UM "MOMENTO" MEU AMOR
25.11.10
«VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA»
IRONIAS E CANSAÇOS
«COMO DE VÓS ME FIO EM TUDO»
COMO DE VÓS, MEU DEUS, ME FIO EM TUDO
À memória do Papa Pio XII que quis ouvir, moribundo, o “Allegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven
Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,
importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.
Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo.
Jorge de Sena
«HOJE NÃO HÁ GOLPE»
Manuel Maria Carrilho (sublinhados meus)
REALISMO IRONISTA
24.11.10
PRÉDIOS, CARROS E PNEUS
CUNHAL REVISITADO
Adenda (de um fiel leitor insular):«Álvaro Cunhal, quando esteve preso em Peniche, traduziu em segredo «Rei Lear», de William Shakespeare, um clássico da literatura mundial. (Hoje os nossos «intelectuais» para fazerem alguma coisa, solicitam uma licença sabática ou pedem uma «bolsa»). Quando nós hoje comparamos a dimensão cultural e intelectual de Álvaro Cunhal (ou mesmo doutros líderes politicos já desaparecidos, como Sá-Carneiro, Salgado Zenha, Palma Carlos, etc.) com as actuais «lideranças» politicas, é o mesmo comparar uma peça feita em ouro com um vulgar alguidar de plástico.»
OUTRA VEZ O GARGALO E A GARRAFA
DIFERENTES E SOZINHOS
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA IMPREVISIBILIDADE
23.11.10
O DIABO
HERBERTO HELDER, 80 ANOS:«CADA LENÇO QUE SE ATA A PRÓPRIA SEDA DO LENÇO O DESATA»
(...)
e então vou-me embora,
quer dizer que falo para outras pessoas,
falo em nome de outra ferida, outra
dor, outra interpretação do mundo, outro amor do mundo,
outro tremor,
se alguém puder tocar em alguém oh sim há-de encontrar alguém
em quem toque,
dedos atentos atados à cabeça,
luz,
um punhado de luz,
cada lenço que se ata a própria seda do lenço o desata,
a luz que se desata,
aí é que se ouve a gramática cantada, imagine-se, cantada para sempre sem se ver a quem,
baixo ressoando,
alto ressoando,
mexendo os dedos nas costuras de sangue entre as placas do cabelo rude,
rútilo cabelo e o sangue que suporta tanta rutilação, tanta
beltà, beauty, que beleza! diz-se, fique
aí onde está dr. porque para si já se reservou
um quilo, uma tonelada, desculpe,
estou com pressa,
alguém lá fora dança na floresta devorada,
alguém primeiro escuta depois canta através da floresta devorada,
desculpe dr. mas já desapareci como quem se abisma
num espaço de hélio e labaredas,
eu próprio atravesso o incêndio imitando uma floresta (...)
A LACÃO O QUE É DE LACÃO?
O MURO
22.11.10
AS ESTÁTUAS DOS COMENDADORES
EXCEPÇÃO E REALIDADE
POR QUEM OS SINOS (DE NATAL) DOBRAM
21.11.10
NÃO HÁ VACAS SAGRADAS
«HÁ UMA PORTA QUE EU FECHEI ATÉ AO FIM DO MUNDO»
Há uma linha de Verlaine que não mais recordarei,
Há uma rua próxima vedada aos meus passos,
Há um espelho que me viu pela última vez,
Há uma porta que eu fechei até ao fim do mundo.
Entre os livros da minha biblioteca (estou a vê-los)
Algum existirá que já não abrirei.
Este verão farei cinquenta anos;
A morte, incessantemente, vai-me desgastando.
Jorge Luis Borges traduzido por Ruy Belo
OUVIDO NA RÁDIO
Adenda: Não sei se o Pedro Rolo Duarte e o João Gobern, que seguiam no alinhamento com o seu Hotel Babilónia, ouviram isto. Se não ouviram, deviam ter ouvido para aprender como é que se faz. Imagino que ainda haja por aí um ou dois vivos que valham a pena sem se cair na tentação enfadonha da mesmice autocomplacente. (E, sim, já sei que já estive com muito prazer no Hotel Babilónia).
DAR CAVACO
Adenda (de um leitor devidamente identificado): «Há cinco anos, a ausência de debate, de qualquer tipo de debate por parte de Cavaco resultou na diminuição de intenções de voto nas últimas semanas de campanha. Em democracia é complicado adoptar sempre a posição em que Cavaco se coloca. Neste momento já está a ser alvo de inúmeros ataques por causa dessa falta de presença conflitual no espaço público, que é essência da democracia. Não só acho mal, como acho que faz mal ao candidato: quem não participa no espaço público não se defende dos ataques. E esses ataques podem ir dando resultado no eleitorado, pois o candidato atacado não lhes responde, deixando parte dos seus próprios eleitores desnorteados. Daí que possa perder votos numa campanha viva e debatida... entre os outros candidatos e no espaço público e mediático. Os votos que possa perder por adoptar esta estratégia de comunicação-não comunicativa serão menos do que os que ganha? Não sei. Mas pode estar aí a diferença entre uma e duas voltas.»
A LUZ E AS VERDADEIRAS TREVAS
20.11.10
CREDIBILIDADE E LEGITIMIDADE
O "CONCEITO DE LISBOA"
QUEM É QUE NOS PREVINE DELA?
CAMPANHA ALEGRE
O GLORIOSO PAÍS DE EVENTOS
«Uma parte essencial da saloiice indígena é a mania do prestígio. Ontem o DN falava da cimeira da NATO, notando com grande satisfação que ela nos trazia grande prestígio. E porquê? Porque Portugal recebia os "chefes" (e que "chefes") dos 28 Estados membros, mais duas dezenas de "representantes" de outros desgraçados países, desde o afegão Karzai ao russo Medvedev. Esta festarola já tornou Lisboa num inferno e provocou o governo a dar o presente do costume ao grosso do funcionalismo: a sempre abençoada e nunca verdadeiramente merecida "tolerância de ponto". Mas parece - dizem os peritos - que o mundo pasma com a nossa "capacidade" de organização, ainda por cima de um "evento" que "mudará o futuro próximo da humanidade". Para dona-de-casa não estamos mal. A Expo-98 e o Europeu de Futebol de 2004, embora sem "mudar o futuro próximo da humanidade", o que foi uma pena, tinham a seu tempo mostrado essa nossa extraordinária vocação. E mesmo hoje Portugal continua ardorosamente à procura de um espectáculo qualquer que reforce e alargue a sua enorme fama de "receber bem", necessária como pão para a boca a um país que se preze. Consta, por exemplo, que vem aí o Mundial de Futebol e até, suponho que em homenagem à Comporta, a Ryder Cup (uma espécie de campeonato de golfe). Só falta agora o pingue-pongue e o ténis, que se escondeu, talvez por modéstia, no Estoril. A única coisa que espanta neste fulgurante currículo é que Portugal não use a sua "capacidade de organização" para se organizar a si próprio, uma coisa por que ninguém certamente o criticaria. De resto, há por aí gente, como a sra. Merkel, que é muitíssimo capaz de preferir Portugal com uma dívida externa mais pequena, um défice razoável e uma economia em crescimento. Sabemos que essa gente é mesquinha e má. E que nada paga a íntima alegria de ver Obama e os seus duzentos guarda-costas nas ruas de Lisboa. O brilho de uma boa "cimeira" não substitui a mediocridade de uma vida honesta e de uma sociedade um pouco menos miserável e caótica. Os pobres - é uma velha verdade - gostam de se roçar (figurativamente) pelos ricos. Como a insignificância gosta de se roçar pela grandeza e discutir a sério o "futuro próximo da humanidade", em especial do Afeganistão em que o interesse de Portugal é óbvio. Mas, de quando em quando, convinha que o governo descesse à realidade de que teoricamente se devia ocupar.»Vasco Pulido Valente, Público
19.11.10
O "CONCEITO ESTRATÉGICO"
O PAÍS SEGUE DAQUI A DOIS DIAS
«E se a legislatura nasceu torta, os passos seguintes não a endireitaram, bem pelo contrário. (...). O novo governo esteve longe daquilo que as circunstâncias exigiam, quer pela sua composição quer pela sua acção. O seu líder deixou-se envolver, durante meses, em mais um incómodo folhetim judiciário, de que não sairia sem equívocos. E, porventura o mais grave de tudo, desvalorizou-se obsessivamente a dimensão da crise e as suas consequências até ao Verão passado, durante quase dois anos! (...) Tendo as coisas corrido como correram e chegado onde chegaram, agora não é possível fazer remendos. Porque é de facto de remendos que se fala, quando se reclamam coligações sob a ameaça ou tutela exterior (seja ela da União Europeia, do FMI ou dos mercados) ou se reivindicam governos de salvação nacional. A solução minoritária, imprudentemente adoptada e caucionada no Outono de 2009, não é alterável sem eleições. Este parece-me ser um ponto incontornável: sem eleições não é alterável a fórmula de governo, que não teria nem credibilidade nem legitimidade aos olhos do país.»
Manuel Maria Carrilho
AS PESSOAS SÃO O QUE SÃO
O PAÍS SEGUE DAQUI A DOIS DIAS
«A ausência de um acordo teria produzido duas coisas, ambas meritórias. Primeiro,a demissão de Sócrates. E, segundo, a certeza de que o FMI traria vigilância às contas públicas; rigor na execução; e, claro, juros incomparavelmente mais baixos do que a extorsão a que o país está submetido. Infelizmente, os consensos podres prevaleceram. E, pior, um coro de eminências pardas e comentadores parvos pedem agora um governo de ‘salvação nacional’. Para liquidar de vez qualquer possibilidade de alternativa e ruptura com a mediocridade instalada? O que nos salva é que a Irlanda, muito provavelmente, vai atirar a toalha; e, depois da Irlanda, seremos nós. Louco? Irresponsável? Antipatriota? Muito obrigado. Deixo ficar a sanidade, o rigor e o patriotismo para quem nos trouxe até aqui.»
João Pereira Coutinho, CM
"Tem-se dramatizado muito a vinda do fundo. Eu creio que o fundo e a União Europeia, se viessem, viriam sem que isso significasse uma regressão e sem que representasse um agravamento significativo das condições do País"
Ramalho Eanes
TUDO QUANTO A MEMÓRIA TRAZ
18.11.10
«ALGUNS CHEGARAM A ISSO»
EVOLUÇÕES NA CONTINUIDADE
VINGANÇA PÓSTUMA DE SENA OU COISAS DO "CARACULU"
LISBOA, MENINA E MOÇO
«Penso que há aqui três questões distintas:
1) O subsídio do IEFP e a sua aplicação;
2) A contratação de uma pessoa com estas poucas qualificações para assessor com funções políticas;
3) O vencimento auferido por este assessor.
Só esse Pedro Gomes é responsável pela acumulação de subsídio e vencimento da CML, só ele deve responder por isso, não o Costa.
Neste ponto, quanto à CML, só uma nota: estranho que o Presidente da CML se disponha a pagar tanto por este colaborador sem lhe exigir exclusividade, quando paga tão pouco a tantos técnicos da CML e não os autoriza a acumular com outras funções a exercer fora de Lisboa nos tempos livres. Enfim, uma pequenina disparidade de critérios...
Quanto ao subsídio do IEFP nada tenho a dizer porque não sei mais. Não deixa de causar estranheza que o IEFP gaste tudo aquilo a criar 4 postos de trabalho numa área do mercado tão carente de concorrência como é a construção...
Quanto a 2), a contratação de pessoas sem qualificações para gabinetes de assessoria política, estamos perante uma prática corrente. O próprio Costa paga o mesmo desde 2007 ao coordenador do Núcleo do PS do Limoeiro, que desde então lá tem usado o seu dinheirinho a tirar um curso universitário de vão de escada (só me pergunto se também passou na cadeira de Inglês Técnico...).
Penso que esta contratação de gente sem qualificações técnicas (mas com muitas competências caciqueiras) diz mais sobre a falta de qualidade de quem contrata.
Terceiro e último ponto, 3), o vecimento auferido. As palavras escasseiam, claro. O que é que se pode dizer?...
Só para dar um termo de comparação: na CML, um técnico superior de 1.ª Classe colocado numa área como a da Gestão Urbanística (os tais que são regularmente vergastados como culpados da burocracia da CML, quando são é os primeiros a sofrer) ganha, líquidos, cerca de 1.200 Euros, para tentar dar andamento a cerca de 50 processos na secretária (quando não são 300, como no urbanismo comercial) ao mesmo tempo que tem de aturar os impropérios dos requerentes.
Para dar outro exemplo, um cantoneiro de limpeza, recebe pouco acima dos 600 Euros líquidos, para passar a noite a descarregar caixotes e a apanhar lixo da rua. Talvez este exemplo não seja justo: tanto o cantoneiro como estes assessores trabalham com o lixo, é verdade, mas o cantoneiro apanha, estes assessores mexem, remexem, e quando muito só o espalham mais.
Nota MUITO IMPORTANTE para os lisboetas que não sabem como funciona a CML: estes contratos têm de ser assinados pelo Presidente da CML. Todos os contratos de avença, TODOS. O António Costa não pode alegar desconhecimento. Ele está ao corrente disto a 100% - aliás, como é óbvio o Pedro Gomes não foi contratado para trabalhar na CML, mas no PS.»
17.11.10
«MAS AGORA QUE VAI DESCER A NOITE NA MINHA VIDA»
Triste de mim mais triste que a tristeza
triste como a mão que segura o copo
como a luz do farol esgaçando a névoa
triste como o cão manco
deixado na estrada pelos caçadores
triste como a sopa entretanto azeda
mais triste que a idiotia congénita
ou que a palavra ampola
triste de mim triste e perdido
entre duas ruas
uma que vai para o Norte outra para o Sul
e ambas cortadas aos peões
que não cooperam devidamente
(com este governo de merda é claro)
triste como uma puta alentejana
num bar de Ourense
que me viu à cerveja e lesta
me chamou compadre
vozes que a gente colecciona
a tarde triste os anos tristes
a grande costura da tristeza
do esterno ao baixo ventre
triste e já sem nenhum reparo
a fazer à metafísica
senão que é um défice
porventura do córtex cerebral
UMA DESGRAÇA
UNIDOS
Nota: Julgava que, depois de tantos posts, os leitores alfabetizados já tinham percebido que aqui não há vacas sagradas. Aliás, sou mais exigente, como compete, em relação a quem aprecio. E parece-me inequívoco que não aprecio os assessores nem nutro o menor desvelo pelo jornalismo da D. Cabrita. Ponto final.