24.11.10

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA IMPREVISIBILIDADE


O jornal Público traz uma peça falaciosa acerca dos "jovens licenciados", sem emprego e "sem perspectivas" que, nalguns casos, pretendem emigrar. Para perceber como chegámos aqui, precisamos recuar um tempinho atrás e perguntar ao famoso "sistema" (na circunstância, o académico) se as opções políticas para a formação superior foram as melhores. Marcello Caetano e, antes dele, Salazar, incentivaram a frequência de cursos médios, profissionais e profissionalizantes com que, inexplicavelmente, a revolução dita democrática acabou para desatar a parir doutores em tudo e mais alguma coisa. Qualquer barracão com meia dúzia de cadeiras virou universidade. Os meninos e as meninas deixaram de ser treinados para trabalhar e passaram a coleccionar cursos ditos universitários, mestrados e, no limite, doutoramentos. A alegada "excelência" académica não foi acompanhada de nenhum esforço de maturidade e, como me diz um amigo dessa geração pseudo-perdida, ao problema da qualificação acresce o da imaturidade que cresceu proporcionalmente com a "qualificação". O actual Chefe de Estado veio para Lisboa frequentar o então designado curso comercial. Só depois passou para a universidade. Hoje pretende-se começar a vida de cima para cima e, se possível, por cima de uma data de gente. O mito da emigração altamente qualificada, num momento em que a modernidade e a pós foram submergidas pela imprevisibilidade (no MBA de Sócrates não lhe devem ter falado nisto), é apenas isso mesmo, um mito. Cá ou alhures, é ela que manda (não são as oportunidades, velhas ou novas) e, que eu saiba, os nossos meninos e as nossas meninas não se distinguem particularmente de quem quer que seja a começar pela subtileza. Amanhã, depois da chamada greve geral, a imprevisibilidade continua. E o mundo que "criou" os Sócrates um pouco por toda a parte também. Não adianta fugir dele.

5 comentários:

joshua disse...

Alguém que me é próximo, acabadinha de formar mas sem qualquer hipótese de emprego decente por cá, está a exercer enfermagem em Birmingham e passará a trabalhar em Londres, no departamento de neurologia. Já.


4000/5000 euros/mês. Todo o mito tem a sua excepção, caro John! A estupidez e a imaturidade não são assim tão gerais. Bem pelo contrário. Há nichos de excelência em Portugal sufocados pelos milhares de ratos Sócrates, furões e oportunistas sem par.

m.a.g. disse...

Há coisas que desconcertam mesmo.
Onde é que está escrito que uma mera licenciatura confira o grau de doutor? (só se for da mula russa)
Isto só mesmo aqui, onde não há mão- de- obra especializada para quase nada, mas massajam-se egos com licenciaturas duvidosas.

Carlos Dias Nunes disse...

"MBA de Sócrates".

Qual MBA, qual carapuça!? Se aquilo pode ser chamado de MBA, o meu coiso é um assobio...
(Digo coiso porque, não obstante recente "jurisprudência", mais vale prevenir que remediar).

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves, a oferta de vagas no Ensino Superior público e privado, em muitos cursos, está desfasada das necessidades do país. E apesar disso, muitos dos cursos onde o desemprego é quase garantido continuam a ter uma elevada procura, e isso é visível nas médias dos últimos colocados. Dar-lhe-ei um exemplo. Estima-se que Portugal precise de 5000 médicos dentistas, no entanto já conta com perto de 6000. Existem cerca de 200 vagas para Medicina Dentária no sector público, e o dobro ou o triplo em 4 universidades privadas (onde as propinas mensais são superiores a 500 euros). O desemprego já é elevado, obrigando turmas inteiras a emigrar para o Reino Unido. Os que ficam por cá, já ganham menos que uma sopeira da Foz ou que um trolha. No entanto, a média do último colocado a nível nacional continua a ser superior a 17 e consta-me que as vagas no privado ficam sempre preenchidas. Situação idêntica verifica-se na enfermagem, onde também existe um excesso de vagas, mas as médias nalgumas escolas de saúde continuam elevadas, e as vagas no ensino privado continuam a ser preenchidas. Curiosamente, cursos como Matemática, Física ou Química, têm muito pouca procura, e trata-se de áreas onde há falta de profissionais. Ora muitos destes novos emigrantes são jovens que optaram por cursos que não têm saída profissional em Portugal, e isso também deve ser frisado.

Anónimo disse...

Oh cara linda...ninguem tem culpa que os curso não tenham procura ou saida profissional. Por exemplo que procura têm filosofia ou teologia? qual o charme de uma matematica? A rapaziada quer ser estrelas do rock&roll, na melhor das hipoteses, pois o topten é ser gangster, dealer ou footobolista, pois estes é que têm os melhores carros.