21.11.10

«HÁ UMA PORTA QUE EU FECHEI ATÉ AO FIM DO MUNDO»


Há uma linha de Verlaine que não mais recordarei,
Há uma rua próxima vedada aos meus passos,
Há um espelho que me viu pela última vez,
Há uma porta que eu fechei até ao fim do mundo.
Entre os livros da minha biblioteca (estou a vê-los)
Algum existirá que já não abrirei.
Este verão farei cinquenta anos;
A morte, incessantemente, vai-me desgastando.


Jorge Luis Borges traduzido por Ruy Belo

4 comentários:

floribundus disse...

Borges, o cego que via demasiado longe e principalmente no interior da condição humana.
disse que um dos seus avós nasceu na Torre de Moncorvo. o rectângulo é cada vez mais um país exportador de gente.

joshua disse...

Estudei Borges em Literaturas Comparadas: obriga.

angelo ochoa disse...

Borges (de ascendentes portugueses em Moncorvo) é um monstro sagrado que, porque cego, vê aquilo para o que outros, porque de aberto olho, cegos estão (elogio da anti-cegueira(parafraseando a saramagal figurona...).
Abraço cristãmente João Gonçalves, e o felicito pela escolha do tradutor Ruy.

Isabel disse...

Aí há uns trinta anos, Borges veio a Portugal. Não havia ninguém para o receber com a dignidade merecida. Borges não vinha nas sebentas. Se me foi dado academicamente a conhecer (e a amar), posso agradecê-lo a um jovem leitor de Inglês que fazia toda a diferença face às vacas sagradas da faculdade.