«Se pudesse, suspendia o relógio, queimava todas as pontes e deixava-me ao abandono dos trópicos, afogado pela natureza. Aqui não falo. Não há com quem possa falar. Aqui não leio. Um livro soa a falso, tamanha é a magreza do estro dos mais inspirados poetas perante a imponência do meio. Aqui, se medito, perco-me. Prefiro fechar os olhos, sentir a brisa e o cantar das ondas suaves que à praia vêm morrer. Aqui, Liberdade, trato-te pelo nome.» É isso, Miguel, também não vejo a hora de pegar no malote, ou em nada, e desaparecer. A partir de certa altura, só fazemos falta a nós mesmos. Perde-se muito tempo com merda. Sobretudo com a que tem olhos e, alegadamente, uma cabeça.
5 comentários:
Há dez anos - desde que me mudei da cidade para as montanhas do norte - que venho construindo essa idea: a arte, a música e a literatura são coisas das cidades; no campo, diante de grandes montanhas, as artes parecem tagarelice desesperada - e inutilidades individuais, perante as formas mais essenciais da natureza. Dizia Goethe que os montes são mestres mudos e fazem discípulos calados.
Se pudesse, entenderia o tempo – mas não posso.
Deixava-me estar quieto – mas não consigo.
Desaparecia, mas sou visível.
MJ
É assim, caro João (e caros anónimos): a artificialidade pode ser necessária, mas o comum é apresentar-se sob a forma que o João a refere: castanha, com pernas e olhos.
Bolas, nuts...
Vou registar este post.
Guardá-lo junto de cópias de algumas folhas de alguns livros antigos.
Para talvez reler um dia, num local como aquele.
Por aqui e cada vez mais,
aquilo que digo há muito:
ver os chefes dos indígenas, e os indígenas, a exercer a sua grande especialidade: complicar as coisas simples.
JM
Estamos todos a clamar pelo mesmo, Miguel e João, embora diversamente podendo realmente operar o corte vital! Diante do mar e abstraídos de tudo, por momentos compreendemos o fundamental.
Abraço a ambos!
PALAVROSSAVRVS REX
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