O cirurgião Eduardo Barroso - membro de uma ilustre família burguesa e anti-fascista e que trata por tu, aos beijinhos, amigos de infância como Marcelo - demitiu-se de presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST). Há dias, a revista Visão revelava quanto é que o famoso cirurgião recebia de prebenda pelos transplantes realizados. Numa entrevista à televisão, deu depois a entender que era preciso "compor" os salários de miséria - dos médicos, naturalmente - pagos no SNS. Os "prémios" pagos destinavam-se, segundo ele, a "compensar" esta indigência que ele atribuía a si próprio e, simpaticamente, aos colegas. Barroso é mais um entertainer do regime ao lado de tantos outros. Tem este talento com as mãos, cozinha, fuma charutos e, condição fundamental para entertainer, gosta de futebol, coisa que comenta, com aquela voz irritante que Deus lhe deu, onde calha. O homem até pode ser uma sumidade daquelas de que os cemitérios estão cheios. Todavia, não sei porquê, não confio nele. É tagarela em demasia para o meu gosto e, sobretudo, para a sua "arte". Fez bem em sair.
6 comentários:
...de onde nunca devia ter entrado!
O que seria deste senhor se não tem havido o 25 A ?
Tagarela e entertainer. Ainda bem que o dizes, João. Assim, já percebemos os encómios domingueiros proferidos pelo prof. Marcelo.
Afinal nem todos vivem os "sacrificios" do regime e do acerto das contas.Um deputado novato ficou deslumbrado com a quantidDE DE NOTAS QUE LHE DERAM.eSTE MÉDICO AUTO PAGAVA-SE.Que mais haverá para nós sabermos?
PS
Sou dos que paga para isso tudo
Sempre foi assim!
Um benzoca de esquerda
Coinheci-o no rpimeiro ano da faculdade.
João, para além de tudo o que escreveste e que os meus colegas comentaram com que claramente concordo, dou por mim a pensar que escutar o Eduardo Barroso com um pouco de imaginação é escutar o João Soares: ambos irritantes, ambos intragáveis vocalmente e duma tagarelice geminadamente auto-encomiosa, onde são peritos.
São, por assim dizer, Vozes Gémeas.
PALAVROSSAVRVS REX
Exmo. Sr. João Gonçalves,
O Sr. Eduardo Barroso é, tanto quanto julgo saber, um cirurgião de indisputado mérito, competência e excepcionalidade. Nessa qualidade, nos dias que correm discutem-se-lhe os honorários. Na qualidade de cirurgião, não da de entertainer ou de “membro de uma ilustre família”.
Parece que são muito elevados.
A crer no que por aí se escreve e diz, fico com a impressão de que ganha muito mais num ano do que eu alguma vez ganharei em toda a minha vida. E confrontado com o seu comentário (assim como com os que aqui acima são feitos) creio-me no dever cívico de acrescentar que as diferenças salariais entre a minha pessoa e a do Sr. Eduardo Barroso são perfeitamente naturais e justas.
Acredito-me socialmente útil, esforço-me por merecer o meu salário e desempenho as minhas funções com todo o empenho. Sucede que ao longo da minha vida investi na construção de competências que, embora especializadas, não são assim tão raras quanto as do Sr. Eduardo Barroso.
Dito isto – que me parece situar-se no enfado da mais comum das evidências – quero agora dar conta da minha perplexidade ao verificar pessoas, que habitualmente fazem prova de inteligência e bom-senso, a concederem-se tempo para comentários como o que agora entendeu dar a ler.
Interrogo-me acerca de razões que possam explicar a apetência cada vez mais aguda por esta espécie de afrontamentos que, não há muito, era atributo quase exclusivo dos brutos.
Não me refiro à indignação que se apossa da pessoa mais comum quando toma conhecimento do valor do salário e das vedalhas de um administrador da PT, dos encómios com que a imprensa aura o autor do “saneamento financeiro” da RTP, a tragédia diária daqueles tantos que depois de uma vida violenta de trabalho – de que saboreiam quase nada senão trabalho de sábado a sábado – se vêem agora coagidos a arrostar o quotidiano com o que a muito custo haviam aforrado na antecipação de uma qualquer manhã ainda mais negra, como aquela em que os braços deixam de ser capazes de acudir às urgências dos vivos.
Não, não me refiro a esta espécie de indignação. Porque esta espécie de indignação tem na sua origem uma consciência cívica e a percepção de monstruosas indignidades.
Refiro-me ao clima de rancor, à inveja e ao ódio mais bruto que subitamente assola tão impressivamente a sociedade portuguesa.
E dou comigo a pensar que ela não ficou assim tão mortalmente doente de forma espontânea. Ficou assim – e nem o mais distraído pode deixar de achar que está assim – em resultado de uma estratégia política concebida para minimizar os custos eleitorais de reformas que eram inevitáveis. Uma estratégia política que foi desenhada com a mesma atitude mental, as mesmas “ferramentas” e as mesmas pulhices com que se ganham congressos partidários e protagonismo político.
Repare-se que não se dão, sequer, ao cuidado de ser subtis. Propagam abertamente o rancor, a animosidade social e o afrontamento.
Na cegueira induzida por rotinas canalhas, o executivo abdicou de explicar a urgência dos sacrifícios, de dar conta das necessidades e de acenar vantagens para um amanhã qualquer. Entendeu em vez disso que – para levar a cabo reformas que eram geradoras de consensos, tidas como inevitáveis por quase todos os sectores da sociedade portuguesa (inclusivamente por uma larga maioria de funcionários públicos que não se revêem nos “seus” sindicatos), e que, aliás, seriam intentadas qualquer que fosse o resultado das eleições – era necessário acicatar tudo aquilo que há de mais sórdido e em estado mais ou menos larvar em cada cidadão.
Sentimentos tribais que num contexto civilizado são inibidos pelo mais elementar pudor, foram assim ganhando condições para se exprimirem com forma e dimensão pública.
Esta “engenharia” das almas vai-nos tornando a todos mais porcos, feios e maus.
Esta é a herança e o maior dano de um homenzinho mal amado e socialmente perigoso.
Vai sobreviver-lhe.
As melhores saudações do
Carlos Gonçalves
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