26.8.10

NOTÍCIAS DO MATADOURO


Fora a conversa dos dinheiros - uma senhora não discute preços em público sobretudo depois do dr. Salgado ter feito "doutrina" com aquele brocado de que tudo tem um preço menos a honra -, esta entrevista de Manuela Moura Guedes possui a sua graça. A discussão em torno de um possível regresso a Queluz é tão retórica como eu ser entrevistado pelo Mário Crespo ou pela Constança Cunha e Sá. Quem diz daquilo o que Moura Guedes diz, poderá ir para qualquer estação menos para aquela. Talvez, quem sabe, para uma a meio do caminho. Mas isso agora não interessa nada. Há coisas que a Guedes afirma que me parecem razoáveis. Júlio Magalhães é um entertainer e não é um jornalista? Uma evidência. «Está mais à vontade a fazer coisas no entretenimento do que na informação?» Naturalmente. É o que ele e Marcelo perpetram aos domingos à noite e ainda não chegou a época da troca de leitões. «O jornal de domingo tem sido um derrotado sistemático, e isto apesar do investimento feito no Marcelo. Foi um desastre?» Não sabia, mas admito. É só mais um bocadinho de bola e a coisa amanha-se. «As pessoas estão mal, mas querem continuar dessa forma?» Claro. Mas Moura Guedes - de quem gosto muito - deve saber melhor do que ninguém que panem et circenses é o que está a dar, confundindo-se informação com lixeiras e matadouros públicos. Isso, parece, vale milhões e nenhuma vergonha. Estão bem uns para os outros.

12 comentários:

Anónimo disse...

Não, JG, o que a entrevista prova é apenas uma coisa: tudo se resume a 1 milhão de euros. Benditos euros que limpam tudo.

iupi disse...

manuela moura guedes é panem et circenses.

pão quase só farelo dado num freak show.

- passo.

joshua disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Manuela Moura Guedes tinha certamente modos bruscos (para se ser benevolente) e entregava-se frequentemente à ira e ao despeito - sendo visível que, para ela, a única lógica ou argumentação aceitáveis seriam os seus próprios pontos-de-vista. O seu "Jornal de Sexta" era visto em números crescentes muito por causa do mal-cheiroso Freeport. Apesar de manifestamente "feio" o seu jornal informava - com estrilho. Dito isto, é preciso afirmar que era a única jornalista capaz de entrevistar alguém e de colocar questões realmente desagradáveis (porque reais ou fundamentais). Os convidados que aceitavam eram raros justamente por isso - não por "medo" da desenfreada criatura de boca grande, mas por medo da realidade.
Tenho memória da TV a preto-e-branco onde Soares, Freitas, Sá Carneiro, Eanes e Cunhal eram questionados, e não brandamente. Era frequente ouvir "não respondeu à minha pregunta" ou "acredita de facto nisso?" e não necessariamente num ambiente já turvado por uma violência psicótica. Era outro tempo e até os idealismos e as ideologias eram defendidas e apresentadas de modo mais honesto e, necessariamente, arriscado. Hoje, 2010, a fantasia e a narco-informação é o que todos parecem desejar; o povo, o que quer é que não o chateiem. Os pintos-de-sousa deste mundo, e todos os charlatães encartados cá do burgo querem as vidinhas fáceis e que os confrontos sejam apenas simulacros de confrontos, com desfecho combinado e conhecido. As Fátinhas e outras cabeleireiras da jornalice televisiva estão bem a calhar para a função.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

Óra aí está um novo conceito bem interessante ; a «narco-informação».
Boa !

S.C. disse...

Narco-informação não está mal, não, senhor, mas também achei muita graça às "cabeleireiras da jornalice televisiva"...com as devidas desculpas a todas as honestas cabeleireiras, evidentemente

joshua disse...

O anónimo que assina Besta Imunda tem apontamentos geniais e conceitos bem criativos: "narco-informação" deveria ter direitos de autoria.

Do mesmo comentador, subscrevo a análise diacrónica da arte de questionar, nas TVs de Portugal.

Anónimo disse...

Boa Noite.

Estou em crer que existe em Portugal uma espécie de máquina de propaganda que se dedica 24 horas por dia a escrever nas caixas de comentários de notícias, blogues e fóruns. A entrevista de Manuela Moura Guedes já vai com mais de 220 comentários; ora regra geral, as notícias e artigos do DN não costumam ter mais de meia dúzia de comentários, quanto muito uma ou duas dezenas. Agora atente-se ao teor dos comentários.

«Bela boca...»

«Méritocracia é isto mesmo... Milhões em prémios para Al-Drabões e para incompetentes. Subsídios para os pobres não! Cai o carmo e a trindade.»

«E o CDS sempre comigo, sempre a apoiar-me, e eu sempre a colaborar com o CDS. VIVA O CDS. Que gande bisca de paus.»

«Porque teria a TVI de dar dinheiro a quem se quer ir embora? Olhe, é por causa de um governo que tanto se esgadanhou por derrubar, que lhe permite rir-se de nós todos, gozando uma baixa vergonhosa. O que V. não diria, do alto do seu poleiro, se um funcinário deste governo, se mantivesse de baixa e andasse por aí a pavonear-se este tempo todo? Aviso: felizmente não preciso de ter inveja de ninguém, muito menos de uma "coisa" destas, livra!»

Entre tantos outros dentro de idêntico registo. Ora qualquer ser caído de outro sistema solar que entre no DN online e leia a caixa de comentários ficará com a ideia de que MMG é uma péssima jornalista, odiada por tudo e todos. E o que me preocupa é que os portugueses não estão preparados para lidar com estas novas formas de propaganda das máquinas «abrantes». Vivem-se tempos perigosos.

ZL disse...

O comentário de quem assina "Besta Imunda" é lapidar. O conceito de "narco-informação" merece direitos de autor, como refere o Joshua.
Aquilo que é triste é uma pessoa que assim escreve assinar, no fim, como "Besta Imunda". É óbvio que a pessoa em causa é tudo menos besta, muito menos imunda.
Como é triste eu assinar como ZL - agora que resolvi intervir, apesar de há muito ser leitor deste blog e mais 2 ou 3 que vale a pena ler diariamente - quando não sou nenhum ZL, tenho nome e me considero uma pessoa de bem.
Cobardia colectiva? É claro que não. Mera consciência de que vivemos numa democracia que de democracia só tem o nome. Honra seja feita aos poucos que, apesar de tudo, dão o nome e a cara, como é o caso do dono deste blog.

Para a Posteridade e mais Além disse...

narco-informação é um conceito já usado por Cyril M.Kornbluth e como ele morreu em 1958 é provavelmente anterior, seu Joshua.

E o poder da televisão ou da informação por ela veiculada desvanece-se, os telejornais já não são momentos sagrados, cada elemento da família vê algo diverso ou saca informação de outras fontes, as gerações mais novas contrariamente às dos anos 70
são pouco politizadas.

Até diria apATO-POLÍTIcas, por isso é uma falsa questão,sinceramente por melhor informação que existisse poucos a veriam.

é como os blogues com 4 ou 5 milhões de visitas, 2 ou 3 mil pessoas leitores ou visitantes regulares são os responsáveis pela
maior percentagem das visitas, o resto é residual.


o aspecto dos circos mediáticos, reflete-se na atribuição de 2 milhões de euros pela PT para a realização de um contrato publicitário com 4 carismáticas pessoas...

joshua disse...

Caro ava n'tesma, obrigado pela ilustração, de facto não me dei ao trabalho de fazer uma pesquisa conceptual rápida sobre "narco-informação" assim como me não parece que devamos ser enciclopédicos reprodutores de enciclopédias, mas tradutores intensos da realidade.

Abraço, parabéns pelo "Êxtase" e boas férias.

Banda in barbar disse...

Uma boa frase....mas tradutores intensos da realidade...pois deveríamos, mas infelizmente há demasiadas realidades, a narco- desinformação a que estamos sujeitos e a falta de rigor, científico e mesmo de senso comum
abundam.
Há Excesso de informação, falta de capacidade de selecção e de rigor na interpretação/tradução das "realidades"
E os meus blogs são apenas uma colecção desconexa de textos
assim como as minhas inexistentes férias duraram um dia.
De qualquer modo agradeço o abraço virtual
Boa música mais para o topo...