28.3.09

"COISAS" QUE O INTERESSAM "IMENSO"


José António Pinto Ribeiro, um advogado de sucesso que o admirável líder, certamente por engano, fez ministro da cultura, concedeu uma entrevista ao Jornal de Negócios. Presumivelmente para se defender das observações de Manuel Maria Carrilho a quem acusa de ter "calendário e um projecto político pessoal". Em compensação, ele, Pinto Ribeiro, não tem nada a avaliar pelo tom das declarações. Nelas retoma as críticas feitas aos seus colegas do governo, em particular ao próprio chefe e ao ministro das finanças, já que foram estes que determinaram as "prioridades" em função da crise. Ele julga que acabou por fazer mais com menos - o seu lema - quando, na realidade, inexiste politicamente. Mostrou gráficos e mapas aos jornalistas, afirmou que «é por isso que ando aqui a fazer essas coisas do português e da língua que me interessam imenso» e exige "rigor e imaginação". Ou seja, para que aqueles que não o "compreendem" o possam seguir no desalinho de um "pensamento" que não se encontra nem sequer naquelas "coisas que o interessam imenso". Apesar do "projecto pessoal", é porém a Carrilho (o ministro) que o pobre foi buscar as melhores ideias "críticas". «Todos os anos o Estado dá grandes contribuições de 40 milhões só para três EPE [D.Maria, São Carlos e São João]. O que é que isto significa? Que talvez as EPE não devessem ser isso. Talvez devessem ser institutos públicos com grande autonomia administrativa e financeira. Talvez esta insensibilidade, ou esta necessidade de uma certa cegueira– “é para todos igual” –, levou a isto. Acho que na próxima legislatura será possível começar a fazer a adaptação de cada uma das leis orgânicas e da situação administrativa e financeira de cada entidade àquilo que são as suas reais necessidades.» Só que isto foi o que Carrilho fez entre 1995 e 2000 e que os seus sucessores, na ânsia de deixarem uma "marca", destruiram. Neste contexto, Ribeiro é apenas mais um ministro desfocado, ansioso por se ver livre do equívoco em que o meteram e por regressar ao glamour frívolo típico da esquerda chique que o promoveu. Ninguém terá saudades dele.

6 comentários:

Ritinha disse...

"essas coisas do português e da língua que me interessam imenso"

Ninguém se interessa imenso, principalmente pelo português.
O céu pode ser imenso, infinito, de grandes dimensões, mas ninguém se interessa imenso, infinito, de grandes dimensões.
Até duvido que se interesse imensamente.

garganta funda.... disse...

"Coisas" que lhe interessam... e com imensa paprika!

Nuno Castelo-Branco disse...

Já agora, presto-lhe uma pequena assistência opinativa. Já que a república de 1910-2010 (?) será comemorada com o recurso ao legado da Monarquia - o novo Museu dos Coches - o sr. Pinto Ribeiro podia intervir no sentido do novo espaço não se transformar num simples depósito da melhor colecção de carruagens existente em todo o mundo. Transforme o Museu num espaço vivo e complementar, com exposições de artistas contemporâneos que se disponham a homenagear esta temática. Inclua algumas das ainda existentes viaturas motorizadas da Monarquia, assim como fatos, uniformes, estandartes, uma réplica de uma oficina de construção de carruagens, réplicas de objectos utilizados na entronização dos monarcas, videos explicativos (bem feitos, claro), etc. Tenham a ambição sabiamente doseada e a obra perdurará pelo menos um século. Por uma vez, imitem bem a rainha D. Amélia! Não é pedir muito, pois não?

mir disse...

"essas coisas do português e da língua que me interessam imenso"

Nesta imensidão tão inifinita quanto vazia inclui-se certamente a ideia peregrina do tal museu do mar e da língua, legado néscio e ignorante da anterior sumidade académica a ter ocupado a "vilegiatura" ministerial.

Néscio porque repete 'ad nauseam' o pacovismo tuga e ridículo atavismo imperial que ainda tolda os cérebros minguados da actual geração no poder: como podem os Brasileiros ousar uma iniciativa genuinamente original e culturalmente válida no mundo lusófono!

Ora os Tugas (por mão do seu estado) é que são os legítimos descendentes dos Cabrais, Gamas & Albuquerques e, assim, os donos da Língua! E como não se pode ser nem fazer como eles, pelo menos faz-se uma pequenina imitação com recurso aos choques tecnológicos de pechisbeque com os ecrans plasma, os wirelesses, magalhães, etecetara-e-tal.

Mas pior ainda é a ignorância decorrente da cultura do regime tuga actual: destroi-se um museu que, goste-se ou não, faz parte da história da cultura portuguesa (o Museu de Arte Popular), empandeira-se o valioso espólio para os armazéns de um outro, gastam-se recursos com a recuperação do edifício, ficando este a vegetar...

Isto lembra-me o estilo de política cultural na antiga URSS relativamente a património que criava embaraço à propaganda do futuro radioso: deixavam-se os edifícios ao abandono ou transformavam-se em fábricas de salsichas (por ex., os ed. do Corbusier) e aferrolhava-se o espólio em caves para apodrecer (por ex.: colecções de pintura roubadas durante a Guerra no M. Pushkin).

Este branqueamento do passado cultural e político tido por embaraçoso, por via do abandono ou reciclagem, feito pela marabunta de ministros e ministrilhos do regime tuga tem na figurinha actual um exemplo típico da élite produtora de insignificância e vazio. É o que têm sido nestas décadas as políticas culturais do estado Tuga. E não vale a pena esperar que a próxima criatura da Cultura, de saias ou calças, que venha a render o actual senhor dos charutos e vastas conexões aos meios da finança e galeristas, seja diferente: desta marabunta, genuinamente portuguesa, nunca o país se livrará.

De modo que resta lembrar, nesta apagada e vil tristeza, a pequenina ironia da História: em todo o século XX, o único momento fugaz (aí uns 15 anos) em que se levou, de facto, a cabo em Portugal uma política cultural definida e coerente com os próprios princípios foi a de António Ferro, o impulsionador do Museu de Arte Popular soon-to-be Museu do Mar e da Língua. Isto, claro, se os brasileiros quiserem esportular-se com algum carcanhol para a glorificação da língua que os Cabrais levaram para o lado de lá do Atlântico e de que as bacocas élites Tugas continuam a considerar como propriedade estatal.

Anónimo disse...

Pinto Ribeiro tem um belo penteado. Merece, por isso, toda a nossa consideração e estima.

Anónimo disse...

Elegeu a bandeira da língua nas suas intervenções e revela toda a sua inoperância nas acções. É de tal maneira inexistente que no momento em que se pensa construir um novo edifício de raiz para o museu dos coches, quem comanda o processo é o inefável ministro Pinho. Deixa uma marca forte, portanto: a submissão da área cultural ao Turismo e à Economia. Não resolveu nenhum dos grandes problemas da área, mas pôs travão a alguns dos disparates da sua antecessora.
O consulado sócrates foi, para a Cultura, um DESASTRE. E ninguém é responsável. O costume.
Não li a entrevista. Já não tenho pachorra.

L.Neves