19.3.09

A ÁFRICA DELE


Há gente - como essa extraordinária eminência mundial que é a dra. Ana Jorge, ministra da saúde por manifesto equívoco - que confunde o Papa com o padre Anselmo ou com o Frei Domingues. Esta gente sonha com o dia em que o Papa (este ou outro qualquer) desate a atirar preservativos da janela dos seus aposentos, aos domingos de manhã, para a Praça de São Pedro em vez de recitar o Angelus. Eu, que não aspiro a Papa, posso ter uma posição diametralmente oposta à que a Igreja sustenta em matérias sexuais e de costumes. Não se pode esperar é que o Papa (este ou outro qualquer) siga a nossa ou mude a dele.

Adenda: Ler este artigo da Aura Miguel.

16 comentários:

joshua disse...

É precisamente depois de ouvir esse tipo de avantesmas, como a eminente dra. Ana Jorge, que eu tendo a ver com mais gosto e vontade a questão, menos sob o ponto de vista sanitário e mais segundo uma óptica mais profunda.

Do ponto de vista espiritual e da Mensagem pela qual o Papa dá a Vida, o homem não tem outra saída senão a de recordar a castidade evangélica, que não é propriamente a abstinência severa de alguns platónicos com nojo do corpo de todos os tempos. É controlo e sujeição do impulso sexual orientando-o positivamente e, sem dúvida, para um acesso mais amplo às alegrias que a vida nos oferece sem que nenhuma de elas nos submeta a si ou se torne tão exclusiva que nos mate de exclusividade, em vez de sermos nós a submetê-la. Somos chamados a uma realização como um todo corpóreo e espiritual e a ressurreição será essa corporalidade em upgrade e reavinda, mas imortal.

Obviamente não sigo uma moral sexual tornada cinzenta, triste, e repleta de interditos sem bom senso e confiança nas vantagens do livre arbítrio e na busca e cultura do prazer que afinal torna a vida digna de ser saboreada.

A missão da Igreja, entretanto, é outra e a sua palavra tem de ser Rocha de edificação e não pantano de relativismo e subjectividade: por muitos preservativos que se distribuam na África contaminada, se nada se disser de firme relativamente à desordem, à violência, à promiscuidade, ao fortuito sexuais, ao descontrolo e cultura do fanfarão sexual, como é que uma cultura do desempenho, da quantidade e da extensão sexual além de outros requintes especificamente africanos — na verdade humanos — pode impedir a progressão do problema?!

Anónimo disse...

Infelizmente, este é o Papa da falta de senso e de oportunidade, o que só provoca divisão entre católicos. Tudo se encaminha para que aconteça o que ele já anunciou: a Igreja reduzida a uma pequena seita.

Anónimo disse...

João Gonçalves: você não aspira a Papa, mas é um verdadeiro Papa da blogosfera. Aceite a minha Benção. Agnus Dei.

Suzana Toscano disse...

Admito que a forma como o Papa se exprimiu facilite as polémicas que se geraram, estamos cada vez mais habituados a reter só a frase em vez de nos determos uns minutos a reflectir no sentido global da mensagem completa. Mas há também uma enorme tendência para confrontar a Igreja com um simples sim-ou-não aos meios, numa tentativa de apagar a importância da orientação espiritual e as exigências de comportamento moral versus a eficácia da técnica e da ciência. Tornámo-nos uma sociedade de grande sentido prático mas de reduzido sentido de valores. Ora a ciência e a técnica bem precisam de uma boa ajuda da moral e da exigência individual, senão arriscam-se a não dar conta do recado.

fado alexandrino. disse...

Anónimo disse...

Não se preocupe.
Quando os filhos dos seus tetranetos anderem por aí, pode já não haver muita coisa, mas a Igreja ainda cá há-de estar e continuar por muitos anos.

Suzana Toscano disse...

Vivemos uma sociedade de grande sentido prático, que com toda a facilidade dispensa discursos de moral ou de exigência ética e de comportamento, porque quer ver resultados já. No entanto, apesar dos esforços gigantescos para a prevenir e combater, a SIDA persiste como uma peste dos tempos modernos. A ciência, a técnica e a sociedade bem podiam aceitar a ajuda do apelo a outro tipo de comportamentos, tal como a Igreja defende,em vez de se escandalizarem com o que não querem entender.

Unknown disse...

Pois se o preço da fidelidade aos princípios for acabar numa pequena seita, que seja. A Igreja tem de ser coerente e quem não gostar que mude de paróquia ou funde a sua própria seita.

Anónimo disse...

A incoerência é um direito e uma delícia. Mas para ser respeitada convém que seja, também, consciente. Por que raio me aconselha V. a ler um texto de alguém que apela a uma sexualidade "responsável"? O que é isso? A exclusividade sexual (monogamia define casamento não sexualidade)? PAra a senhora jornalista isso é a "responsabilide" e tudo corre bem.

E considerar que em África é uma loucura andar a dizer que não se deve utilizar preservativos (sim, esses que transmitem a doença) significa que se quer o Papa a atirar preservativos da janela é uma pura parvoíce.

Sei que v. não costuma responder a comentários (é um direito seu) e é aborrecido invectivar quem não responde, olímpico ou não (sei lá porque não o faz). Mas tal como tantas vezes é cortantemente esclarecido aqui, neste post, está no mero domínio do impensamento (tal como a senhora jornalista que tanto recomenda). E, contexto obriga, na esfera da miséria moral. E não há retórica ("eu até penso/vivo de maneira diferente") que lhe valha.

rais parta a cagança ignorante.

Anónimo disse...

João,
O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo, esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana.

Recomendo uma leitura atenta do documento “PROJECT LESSONS LEARNED CASE • STUDY - What Happened in Uganda? - Declining HIV Prevalence, Behavior Change, and the National Response “ apresentado à Conferência Internacional sobre a Sida em Barcelona 2002.

O que a experiência nos diz no caso do Uganda, o maior caso de sucesso no combate à SIDA em África na década de 90, é que o preservativo não é um factor determinante nesse combate - “Condom social marketing has played a key but evidently not the major role: Condom promotion was not an especially dominant element in Uganda’s earlier response to AIDS, certainly compared to several other countries in east-ern and southern Africa” pag. 8.

São estes os casos de relativo sucesso o do Uganda e do Malawi, já nos países onde a ênfase tem sido diferente com uma forte aposta na distribuição massiva de preservativos a situação agravou-se, e muito – é o caso da África do Sul e de Moçambique.

A Igreja sabe bem do que fala, são homens e mulheres que estão lá onde os africanos morrem diariamente, e não passam a vida em seminários e workshops, quase todos patrocinados pelas multinacionais farmacêuticas.

Paulo

Anónimo disse...

Caro João, eu não espero do Papa que passe a ser a favor de preservativos, mas também espero que não ande a fazer afirmações falsas (a culpa nem é dele, tenho a certeza). E a afirmação em que diz que o preservativo piora o problema, seguindo a lógica já propagada pelo Vaticano que o preservativo permite a passagem do vírus, é falsa.

Que seja contra, nada me incomoda e é de esperar (este Papa é saudavelmente mais proselitista que os anteriores). Mas que tenha cuidado com a exactidão das afirmações.

Anónimo disse...

As palavras do Papa, num continente devastado pela SIDA, em sociedades que não possuem os mesmos valores morais que as nossas, em que a poligamia é prática comum, são no mínimo criminosas.

Não venham cá com tretas que a Igreja isto ou a Igreja aquilo, e os valores e blá blá blá. Era o mesmo que dizerem que a Inquisição deveria continuar porque a Igreja tem uma tradição a manter e a defender.

Toda a gente sabe que o preservativo é um dos métodos mais eficazes contra a propagação das DST, condenar o seu uso por pretensos valores morais é um absurdo e um crime.

PS: sou católico praticante.

Anónimo disse...

"PS: sou católico praticante", diz o Anónimo das 5:19 PM.
E também um "ganda" mentiroso, digo eu.

Anónimo disse...

Frequentemente ouço dizer que a religião católica tem de acompanhar a evolução que o mundo está a sofrer. Alegam esses, que tal afirmnação fazem, que a religião católica não tem o privilégio da verdade, citando a propósito o falhanço da teoria que punha a Terra no centro do universo.
Desde os tempos mais remotos, em que o conhecimento era nulo, o homem sentiu a necessidade de saber a razão do aparecimento do
Sol, todas as manhãs, do lado nascente, e do seu desparecimento, no fim de cada dia, no lado poente.
Se fosse possível pôr um homem do século XXI a questionar um homem de há 1 milhão de anos para obter dele uma explicação, a resposta seria, muito naturalmente, que o Sol girava à volta da Terra, o que não corresponde à verdade.
Moisés, por certo com o mesmo pensamento de muitos outros mortais seus contemporâneos e até mais antigos, deve ter vivido angustiado para compreender o aparecimento do homem neste planeta.
Talvez por lhe ter ocorrido que à medida que se andava para trás no tempo o número de homens era cada vez menor, concluiu erradamente, que no limite mais remoto do tempo passado só teria havido um homem e uma mulher, que deram origem a todos os que vieram posteriormente.
Julgou Moisés ter encontrado a solução ao pôr Deus a criar Adão e, duma costela deste, a colocar a Eva neste mundo.
Embora tivesse citado as ordens dadas por Deus à terra e às águas no sentido destas criarem todos os animais e todos os peixes, cometeu a imprudência de pôr Caim, filho de Adão e de Eva, a tomar uma mulher que não explica como foi feita. Hoje tem-se já alguma noção de como os homens apareceram à superfície da Terra.
Os casos que cito, e haverá outros, são uma consequência da impossibilidade de serem explicados com exactidão, em tempos recuados.
O que se passa agora é diferente. Ataca-se a religião católica, e não só,porque a religião é simplesmente um estorvo para o desenvolvimento de toda a animalidade imbecil que, com maior ou menor amplitude, existe no ser humano.
A religião é contra os comportamentos indecentes de certos homens e mulheres. Vem logo uma chusma de pataratas afirmar que a religião tem de se actualizar. A religião defende que o ser humano tem de ter dignidade, que tem de respeitar certos princípios de actuação, porque não sendo cachorros não podem actuar como eles. Logo surgem uns tantos a exigir que a religião se modernize porque os tempos são outros.
A religião recomenda a eliminação de todos os tipos de escravatura, a necessidade de convivência pacífica, a eliminação da exploração do homem pelo homem.
Aparece logo uma cáfila de bem instalados a afirmar que o ser humano é livre de actuar como entender.
Afirma-se para aí que quando os europeus chegaram a certas ilhas das Caraibas a actividade sexual das gentes dessas ilhas era absolutamente livre. E que foram os padres que acabaram com essa liberdade.
Platão também foi um dos melros humanos que defendeu que as mulheres deviam pertencer a todos os homens, que as utilizariam sempre que lhes apetecesse e que os filhos resultantes de tal forma de proceder seriam criados pela sociedade.
É fácil advinhar o resultado de tal prática. Mulheres deveria haver que maldiriam a sua beleza e o corpo escultural com que tivessem nascido, porque não tinham descanso de dia e de noite. E os que nascessem nunca chegariam a saber quem tinham por pai.
E como é disto que o povo gosta, ataca-se a religião.
Para mostrar como em matéria de utilização de preservativo estão muitos portugueses, cito o caso seguinte:
Uma freira (seria de facto freira?) a trabalhar, na altura do seu disparate, no Barreiro, afirmou que a culpa de haverem tantos abortos era de João Paulo II, que proibia o uso do preservativo.
Esta bacorada fez-me pensar o seguinte: Porque é que esta mulher culpa o Papa por haver abortos? Será que ela queria que o seu parceiro usasse o preservativo, mas não o podia fazer porque o Papa (um ser humano)não deixava? Mas se engravidasse lá ia mandar assassínar o filho que tivesse no ventre, desrespeitando o que foi estabelecido por Deus.
Para acatar a imposição de um homem deixava de cumprir a lei de Deus.
A libertinagem campeia pela humanidade; ninguém quer sofrer limitações à satisfação de todos os seus instintos, de todos os seus vícios, de todas as suas manias, por mais repugnantes que sejam .




A propósito do preservativo, refiro a afirmação de uma freira, que ao tempo trabalhar no Barreiro

Anónimo disse...

O papa tem que ter esta posição, porque é a posição que a Igreja defende. É natural e sinceramente nem é isso que me incomoda-me. Porque tendo em conta as razões da Igreja , que considera o sexo não deve ter como objectivo o prazer, percebo que a Igreja assuma essa posição. No entanto a questão da modernização da Igreja Católica é importante. Porque se isso não acontecer corre-se o risco de daqui a 50 ou 100 anos haver uma crise de fé sem precedentes. Porque as pessoas não sabem dividir o que é Deus e o plano espiritual, da Igreja. Muitas vezes "metem tudo no mesmo saco".

Incomoda-me o facto dos católicos não saberem dividir o seu pensamento entre aquilo que pensam e aquilo que a sua Igreja, seja a católica ou qualquer outra, pensa.
As pessoas não pensam por si próprias, limitam-se a seguir ideias.

O facto é que independentemente das crenças de cada um, o uso do preservativo (e quem fala no preservativo podia estar a falar noutra coisa qualquer), é um instrumento na luta contra a SIDA. Outro facto, é que a sociedade de hoje em dia, por inúmeras razões, nunca poderá ser uma sociedade casta e abstinente e só desta maneira é que a teoria do "preservativo que nada resolve" funcionaria.
Eu não sei se a Igreja se tem que adaptar ao "andar dos tempos". A Igreja talvez não, mas nós, a sociedade, tem.

Isaac Baulot disse...

1. O Papa só proíbe o uso de preservativo aos católicos.

2. Dispensa-se a preocupação dos não católicos pelo não uso de preservativo pelos católicos.

3. Quem acha que proibir o uso de preservativo (aos católicos!) na Europa é uma coisa e na África é outra, não é apenas racista. Acha que os pretinhos africanos não têm alma e são escravos de instintos irrefreáveis.

4. Declaração de interesses: não sou católico.

Nuno Castelo-Branco disse...

Não vale a pena acrescentar coisa alguma ao que disseste. Quanto ao artigo da minha correligionária "azul e branca" Aura Miguel, embora seja uma mulher da informação, não se impressiona muito com o diz que diz politiquês. faz bem.