13.5.07

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 16


Já devo ter visitado o Panteão francês umas quantas vezes. Em compensação, nunca visitei o nosso e não tenho pena. O mais próximo que estive dele foi na transladação da Amália por amável convite belenense. Aquilo cheirou um bocado a cedência ao populismo lacrimejante da altura, não obstante o génio musical da fadista. Chegámos, aliás, a um ponto em que se pode questionar por que é que fulano ou beltrana não estão lá uma vez que já lá estão fulana e beltrano. O último a entrar foi esse monumento à desgraça republicana que dá pelo nome de Manuel de Arriaga. Antes dele, o regime colocou lá o antigo serventuário de Salazar - mais tarde instrumento e vítima dos diversos "anti-fascismos" -, o general Humberto Delgado. Coexistem escritores - João de Deus, Garrett, Junqueiro - com antigos presidentes (para além do mencionado Arriaga, Sidónio, Carmona e Teófilo Braga, também escritor). O dr. Jaime Gama, do alto da sua névoa intelectual açoreana, lembrou-se de lá querer enfiar Aquilino Ribeiro. Aquilino é, para muitos intelectuais coevos, um grande prosador muito recomendável. Tenho-o por aí aos molhos. Falta-me, no entanto, o D. Sebastião, o da "aventura maravilhosa", em que o homem não se priva de sugerir mais qualquer coisa sobre o soturno e breve monarca do que o habitual "corrimento". No liceu, a professora que melhor me ensinou a ler - apesar de ser de inglês - recomendou O Romance de Camilo e, de facto, não me arrependi. As outras chachadas tipo A Casa Grande de Romarigães ficam para aprecia o género. Aquilino, como muito bom português, começou no seminário, na província, e acabou na "grande roda republicana", como escreveu nas suas "memórias". Conspirou para derrubar a monarquia, inclusivamente à bomba, embora lhe faltasse o traquejo que lhe sobrava para as letras. Conhecia perfeitamente os assassinos do dia 1 de Fevereiro de 1908 e sabia que tais "mártires" (palavras do dr. Afonso Costa) tinham uma missão a cumprir. Nunca se livrou da fama de poder ter sido o "terceiro homem" debaixo da arcadas do Terreiro do Paço. Talvez não fosse, mas colaborou no fim trágico de D. Carlos I. A sua presença na "roda republicana", contada pelo próprio, não deixa margem para grandes dúvidas. Ora no Panteão repousa o Junqueiro, o do "Finis Patriae", que, por sua vez, escreveu rimas emocionadas sobre os regicidas. E repousam alguns dos resultados políticos desse acto bárbaro de 1908 que estragou para sempre esta treta toda. Dir-se-ia que Aquilino era só mais um. Mesmo assim, talvez valha a pena assinar esta petição. É que, pelo andar da carruagem, o Panteão qualquer dia não se distingue da sua vizinha Feira da Ladra.

12 comentários:

Anónimo disse...

E não se admire se o próximo for o Eusébio.

Anónimo disse...

A petição - como não consigo chegar a quem a gere - precisa de depuração dos energúmenos que lá insultam.
Pelo resto reservem desde já um lugarinho pró Jaime Gama que, como todos os heróis da III república esteve preso pela Pide, mas não foi na cadeia, foi na casa particular do seu director. Genro de um falecido monárquico é o mesmo que durante o "Prec" mandou a polícia de choque para a terra que o viu nascer ... homens com esta estatura de Estado só no Panteão.

Anónimo disse...

Aquilino Ribeiro foi um grande escritor. Ponto final.

Monarquia ou República, venha o diabo e escolha.


Agora que esta petição está subscrita cá por uns cromos, está! Também aqui, venha o diabo e escolha, qual deles o mais pelintra.

Anónimo disse...

Um "grande" escritor e um cripto terrorista militante.

Para "panteãozável" antes o Mendes Cabeçadas do 5 de Outubro e do 28 de Maio :
- As boas escolhas da Fandanga.

Anónimo disse...

O sincerely era escusado. Uma petição já para que se escreva em português aquilo que não precisa de ser escrito noutra língua!
O panteão assim com assim, também pode ser incluído numa feira de terror! Já lá tivemos o Harry Potter!

Anónimo disse...

"E não se admire se o próximo for o Eusébio."

Mas há dúvidas?

Num país em que há muito ninguém se distingue nas artes ou na ciência, a não ser no que depende de uns "expatriados" que ninguém por cá conhece.

Num país onde os exemplos dados à chamada "juventude" são ou os de futebolistas ou os de "cantores pimba" (desde logo com o militante esforço, nesse sentido, da televisão pública).

Num país onde os políticos - que constantemente nos recordam (julgando em causa própria, pois claro!) que a sua actividade é "nobre" - demonstram uma venalidade sem fim.

Nesse país, o que se queria? Uma fadista e, a seu tempo, um futebolista no Panteão.

O famoso país dos três "F", nunca o foi como agora. Só falta mesmo arranjar uma santa, ou um santo, para depositar no Panteão.

No panteão ou em Fátima. Onde se está a gastar, pela Santa Madre Igreja, uma colossal fortuna num novo templo que bem poderia ser gasta - por essa mesma Santa Madre Igreja -, por exemplo, num hospital de rectaguarda; num local digno onde tantos velhos pudessem - com essa dignidade - encontrar o fim dos seus dias. Numa derradeira peregrinação, essa sim, plena de significado. Para quem a fazia e para quem a proporcionava.

Mas não, seja, Fátima, seja Futebol, seja Fado, o que conta entre nós é a mais abjecta idolatria.

O resto (os outros) é rigorosamente irrelelevante.

Costa

Anónimo disse...

Caro,
Quer dizer que a brigada da Pide, que accionou o gatilho que matou Delgado e a secretária, era formada por anti-fascistas primários?

Qual é a sua versão dos acontecimentos, desse dia fatídico?

Só por curiosidade!

Anónimo disse...

O Eusébio é um homem simples e um homem bom, bom de verdade. Pelo HOMEM que é e sempre foi, retirando-lhe mesmo, com grande injustiça, a actividade do futebolista brilhante que foi, era e é merecedor de um Panteão Universal.

Anónimo disse...

CANALHA, CORJA, ESCUMALHA, LIXO HUMANO = POLITICOS

Anónimo disse...

Algum dos comentadores conheçe o eusebio na intimidade para dizer por ex: "O Eusébio é um homem simples e um homem bom, bom de verdade."??????

Anónimo disse...

Desculpem, mas o que é que o Eusébio tem a haver com a questão?

Anónimo disse...

Num País que ha muito perdeu a noção da sua identidade historico-cultural,não é de admirar que uns pesudo-intelectuais venham com a ideia de levar um terrorista para o panteão Nacional.
O fruto da fraca noção daquilo que fomos(em termos historicos),faz com que estejamos hoje em dia em plena crise identitária que se revela no pouco "amor"que temos por este País e leva alguns,para mim energumenos,a gritar que preferiam ser Espanhois.