25.10.09

OS "ESTUDOS"


Este post de Medeiros Ferreira e este de Tiago Ramalho pretendem desculpar Saramago e a sua incomensurável vaidade. Não justificam, contrariamente ao que julgam, a sua estupidez. Não notei em nenhum momento do texto de Pulido Valente* o preconceito ou o ressentimento que sempre revelam as palavras autocomplacentes do escritor. Muito menos um "pedacinho de lixo" como, sem sequer se preocupar em tentar perceber o que VPV escreveu, Ramalho sugeriu. Há muito que Saramago é pacificamente aceite pelas elites do regime - que não se confundem com a noção de elite desaparecida entre nós - como uma delas. Nem que seja a título de mero paternalismo que é uma das formas muito particulares de as nossas "elites" se referirem umas às outras. Ou de temor reverencial pelo Nobel o que denuncia o seu endémico provincianismo. Há mérito literário (valha isto o que valer) naquilo que é a entidade "Saramago-livros"? Há. Em apenas algum "Saramago-livros"? Sem dúvida. O argumento dos "estudos" vale aqui alguma coisa a não ser como tentativa de uma pífia demonstração do princípio da caridade? Não vale.

*«O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices. Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve. O regime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.»


14 comentários:

Alves Pimenta disse...

"A crónica do Vasco Pulido Valente não tem ponta por onde se lhe pegue", afirma TMR, do alto da sua incomensurável sapiência, decerto resultante de uma farta experiência de vida...
A alguém interessará saber se o dito jovem é de esquerda ou de direita? É óbvio que não, por muito que ele "empreenda" sobre o assunto. Mas a ninguém escapará que não lhe falta topete.

fado alexandrino. disse...

Não faço ideia de quem seja Tiago Ramalho, Saramago conheço de nome e VPV faz-me roer de inveja cada vez que leio as suas crónicas.
Dito isto, acho que Caim todos os dias deve bater vendas graças a este fenómeno de publicidade que o mesmo Saramago astutamente engendrou.
Vai bater o Equador e só Rodrigues dos Santos com o seu monumental “Fúria Divina” poderá ultrapassá-lo pela direita.
A senhora do “Sei lá” ou inventa qualquer coisa ou no Natal fica a ver navios.

radical livre disse...

depois da obrigatoriedade de ler textos de machel
tudo pode acontecer
até
"vai boi voando"

vi passar o zepelin pelos meus 5 anos.
recordo um rapazola a gritar
"olhem um porco gordo a voar".

vive-se na republiqueta do
"triunfo dos porcos"

Anónimo disse...

Ouço falar e já li várias vezes acerca o que Saramago fez, ou teria feito, no PREC.

Mas afinal o que fez ele de tão censuravel, para ser referido, mas que as pessoas não pormenorizam.

Como não sou dessa época, agradecia que alguém aqui falasse sobre isso.

Nuno C. disse...

A VPV muita gente inveja a sua invulgar capacidade sarcástica.
Não admira a invídia é a essência do marxismo.

josé ricardo disse...

O texto de Vasco Pulido Valente é de um total provincianismo. Por muito que o autor apregoe a sua eloquente tendência para fugir programaticamente ao status quo, o que aconteceu, com estas suas linhas, foi exibir uma auto-caricatura. Aliás, o autor tinha-o vondo a conseguir ao lado de Moura Guedes no jornal de sexta. Afinal, o que podemos extrair de tão profundo (e académico)nestas linhas críticas de Pulido Valente?

fado alexandrino. disse...

Anónimo disse...

A sua pergunta( que fez noutros lugares) já foi respondida nos mesmos.
Vá lá ler.

Cáustico disse...

Anónimo das 10.32

Uma das coisas que sei, e, para mim, já não é pouco, é o comportamento de autêntico pulha que teve relativamente a alguns dos seus colegas do DN.

www.angeloochoa.net disse...

(Com mil desculpas por já ter seguido para O FREI E O ESTALINISTA, vai também aqui meu comment...):

Que diálogo,
João Gonçalves?

Diálogo, supõe 2 partes, com «regras de jogo» para as 2 partes idênticas.

Vejamos então:

A Igreja, nomeadamente com João Paulo ii, já reconheceu seus erros passados, verba gratia, quanto a Galileu Galilei, deles tendo pedido publicamente perdão.

Não vamos agora responder aos que desejariam que fizéssemos outra vez «fogueiras», que lhes daríamos pretexto a se voluntariarem de bombeiros de paz…

Adiante…

Que erros e crimes reconheceu, seus, e muitos, e da internacional comunista, o partido comunista português?…

Sua pertinácia inamovível lembra a história da velha que um insultado por ela de «piolhoso» «piolhoso» «piolhoso» a mandou a poço a que se afogasse.
Pois já sumindo com água até pescoço e até à boca, braços de fora e dedos em riste por gestos fazia com os polegares de ambas as mãos acima da água que se lhe engolfava pelas goelas abaixo, gestos insistentes de quem mata piolho, a insultá-lo de «piolhoso» e a afogar-se…

Unknown disse...

VPV foi, simplesmente, antológico Quanto ao Ramalho é óbvio que lhe faltam as "basesinhas" de que falava o Eça - mas sobram-lhe ignorância e boçalidade.
Enfim,sempre se lhe pode aproveitar o nome e construír uma rima rica,que implique movimento...

ó és tão linda! disse...

Que o saramago não acredite em Deus(e mesmo assim o insulte...)isso é lá com o camarada.O que me parece esquisito é que a sensivel alma da saramagal figura tanto se condoa do seu Caim e sempre se tenha prostrado em total submissão e acordo com o seu deus Stalin e os deuses menores que lhe sucederam nas purgas,genocídios e invasões que vitimaram milhões de seres inocentes e indefesos.É lamentável que,mesmo aqueles que discordam da nobelizada criatura, se estejam a deixar enredar nesta sórdida e descarada operação publicitária e se esqueçam de quebrar os telhados de vidro que cobrem a cabeçorra e todo um passado ao serviço do ódio deste fariseu ordinário.

delfux disse...

"O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória."

Será que a cronica do VPV tambem se engloba na "extraordinária importancia" que o mesmo refere ?

Ou a mesma é auto-excluida e está isenta, pela parte das "criaturas com bom senso" ?

Anónimo disse...

Mas o Ramalho e o Valente não eram os seus ídolos?
Homem mais volúvel...

M. Abrantes disse...

São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja,

Este comentário não diz nada sobre Saramago. Apenas fala sobre Pulido Valente.