21.10.09

O NOME DA COISA


Evidentemente que não subscrevo tudo o que o Carlos Vidal escreve. Num momento em que a blogosfera declina em inteligência - sempre frenética e afoita atrás do derradeiro arroto da paupérrima vida pública nacional e do mais tolo protagonista numa espécie de "razão prática" do que há de pior - este post é notável porque é escrito - presumo - por um comunista sem complexos por ser comunista no século XXI. Sem, mais adequadamente, cedências. Este texto, por isso, não descreve um escritor mas um bronco. É esse, julgo, o nome da coisa.

«A arte e os artistas abominam esse “mundo melhor” de que fala Saramago, um mundo sem crueldade e sem vingança, um mundo clean, liofilizado e pasteurizado, uma coisa limpa, inodora e – pasme-se, o pior de tudo – um mundo racional e humano. Este sim, seria o horror dos horrores. Este paraíso da convivialidade, relacionalidade, harmonia e humanidade. Num mundo desses eu não gostaria de viver. Esse é o mundo dos poderes existentes (mas decadentes), o mundo da economia vigente, o mundo desenhado por ricos e poderosos, ou militantes e chefes das instituições poderosas que Saramago se tem especializado recentemente em apoiar: desde os Zapateros aos mais pequeninos Antónios Costas – fique ele com esse mundo que eu quero o mundo sacrificial do humano que deseja ultrapassar ou superar a sua fraca condição (que Georges Bataille, tudo menos católico, muito bem compreendeu!); gosto, sim, e não estou a fazer teatro nietzschiano, gosto do horror divino que inspirou Michelangelo a encarquilhar-se, mais em nome da arte que de Deus (!), durante mais de três anos nos andaimes da Sistina pintando o tecto que hoje celebramos e, evidentemente, Saramago não (impossível celebrá-lo – seria hipócrita se o fizesse). Michelangelo que desmanchou literalmente a sua ossatura vivendo três anos (!!) de ventre para cima com um tecto, uma parede branca e informe, como horizonte a dois ou três palmos da sua testa. Não, não seria o mundo limpo e humano de Saramago que o inspiraria, digo eu que o toscano não passaria um único mês naquela horrível situação de vida em nome desse mundo “humano”. Ora merda para o humano mundo “humano”. Que viva pois a crueldade da espada que Cristo, em Mateus, disse vir trazer à terra (X, 34-37). De facto, Saramago sabe ainda pouco. Quase nada.»

12 comentários:

radical livre disse...

enquanto mudava de canal acabei de ouvir na sic-n, onde fui parar por engano, a anedota do vicente dos olhos esbugalhados.
verdadeiro protótipo das sumidades (deviam levar sumiço) que andam pela comunicação social e blogosfera. todos os dias lá vai mais um blogue pela janela fora.
insultam a minha inteligência e conhecimento
PQP

joshua disse...

O Carlos foi flagrante como boa parte da literatura anexa aos CD de música sacra e clássica cada vez aprofunda melhor a base cultural da música. A imbecilidade artística sempre teve charme. É popular, como muito blogue popular, e continua, aliás, a vender bem. Quanto à bloga chique, caro João, parece-me que anda pedantolas e anal.

ana laura disse...

Teofilo Huerta: Últimas Noticias"
1985
José Saramago"As Intermitências da Morte" 2005
IDEIA CHAVE DOS LIVROS
Huerta: "No murió nadie ayer!"
Saramago: "No murió nadie"
e
Huerta: nuestros reporteros realizan investigación...en velatorios y hospitales, pues,...tampoco murieron enfermos graves", etc.,............

Saramago: se realizaron llamadas a los hospitales,..., a la morgue, a las funerarias...,no hay muertos"
etc.,..............

In "Blog José Saramago, Plagiario"

Compreendo a ideia mas, associar o atormentado Miguel Ângelo à altivez burra de Saramago, não entra.

Anónimo disse...

A associação entre Saramago e Miguel Ângelo escapa-me. Ignorância minha, decerto.
Saramago e Ângelo não me interessam muito para além de respeitáveis concidadãos. Do que disseram nada restará um dia destes. Fica, se ficar (de Ângelo já se sabe que ficou), a obra. De um artista interessa o que fez e não o que disse. O que os artistas fazem tem nomes. O que disse Saramago sobre a bíblia também: evidência.

Anónimo disse...

Belo post. Só que tenho dúvidas sobre o que Saramago quer. Um mundo liofilizado? Ele que andou a pregar conspirações da Nato e do Imperialismo contra o seu querido PREC em 1975?De facto foi lamentável a atribuição do prémio Nobel. Cada vacuidade que profere tem o mundo à sua volta. Só é pena que alguns bons católicos como o Bispo do Porto lhe dê tanta importância. Mas parece que admira a prosa da criatura. E gostos não se discutem.

Anónimo disse...

O curioso texto de CV remete para a inequívoca emoção artística, não atinge a necessidade religiosa do homem, nem a construção do ateísmo. Nesta historieta veiculada pela comunicação social é pouco, muito pouco o que se fala do que interessaria ao cidadão religioso e ao ateu. Mas, principalmente, o que comoveria aquele que vive um quotidiano sem se posicionar definitiva e convictamente em qualquer crença, seja material ou imaterial. falta muito, ainda - aliás, falta todo o tempo - para chegarmos a conversas substanciais sobre este tema.
MJ

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
www.angeloochoa.net disse...

É de saudar o desafio que Saramago coloca aos cristãos para debaterem com ele as questões que ele próprio muito levianamente levantou sobre o texto sagrado.
Mas, se ele colocou como condição desse debate haverem eles os cristãos lido seu Caim, porque não lhe colocar também a ele Saramago idêntica condição de haver ele também integralmente lida a biblioteca que é a Bíblia?
Só podemos falar do que conhecemos.

www.angeloochoa.net disse...

Embora «conheçamos» até demais, pela «comunicação social», suas atoardas de seus desvarios «ficcionais», é bom que ele nos conheça também a nós, pela palavra de verdade que vivemos:
«conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres…»
-- tal como sublinhou João Paulo ii.

www.angeloochoa.net disse...

Mas, como se cita no post supra, o Cristo veio trazer a espada da divisão, e há, forçosamente, muitas águas a separar.

Anónimo disse...

Mas Michelangelo era homossexual, por isso....

www.angeloochoa.net disse...

«Saramago, em Roma,referiu-se ao Papa como “neo-medievalista”, acusando-o de “cinismo intelectual”. Disse que sempre foi um ateu "tranquilo", mas que agora está mudando, porque, segundo ele “as insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só tem interesse no poder.” Segundo Saramago, a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos.
Nosso Senhor nos ensinou a “pagar o mal com o bem” (Rm 12, 14), a amar os inimigos, e a abençoar os que nos amaldiçoam. Se por um lado o sr. é doutor nas Letras humanas, por outro lado ainda desconhece os primeiros rudimentos das Letras divinas.
Disse o Salmista: “Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações? Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo”. (Sl 2, 1-2)
Por que ferir tão injustamente o nosso Pastor universal? Saberá que ele é considerado um dos melhores teólogos atuais. Por que tanta fúria? Saiba que atinge a todos nós seus filhos. Mas temos consciência que quando a sensibilidade cegou a razão, e a brutalidade venceu o argumento, a razão foi sufocada.
Será que o senhor ainda não reconheceu que foi a Igreja quem salvou e moldou a nossa rica Civilização Ocidental da qual nos orgulhamos, onde se preza a liberdade, os direitos humanos, o respeito pela mulher e por cada pessoa? Sem o trabalho lento e paciente da Igreja durante cerca de dez séculos, após a queda do Império Romano (476) e a ameaça dos bárbaros, o Ocidente não seria o mesmo.
Setas envenenadas contra Bento XVI não serão conseqüência da falta de argumentos perante o que ele e a Igreja defendem há vinte séculos?: o respeito à vida desde a geração até a morte natural, o não ao aborto, à eutanásia, à manipulação de vidas embrionárias, o não às tais “famílias alternativas”, etc.?
Ora, o senhor já é bastante vivido e conhecedor da História para saber que as nações não perecem por falta de saber ou de riquezas, mas por falta de princípios morais.
O senhor acusa nosso Pai espiritual de cinismo intelectual. Atingindo-o a ele o sr. nos atinge a todos nós.
Onde pode haver cinismo em um líder mundial que só trabalha em favor da paz, do desarmamento dos povos, da fraternidade das nações, da defesa dos mais desvalidos.? Exatamente quando ele se reúne no Sínodo da África, debatendo as misérias desse Continente tão sofrido, e o modo de saná-las. O que o senhor tem dito sobre os outros chefes de Estado que não fazem o mesmo pela humanidade?
Acusa o Papa de "insolência reacionária". Ora, o sr. sabe que o que ele defende não é a “sua” Verdade, mas a Daquele que mudou o mundo, e que disse a Pilatos: “eu vim para dar testemunho da verdade”; “Eu sou a Verdade”. O sr. sabe que a Verdade não pode mudar, senão não é verdade.
Bem disse o então cardeal Ratzinger na missa “pro elegendo pontífice”, que o mundo está dominado pelo “relativismo religioso” que quer eliminar a existência de uma verdade absoluta, querendo fazer tudo relativo, ao gosto de cada um. Por não aceitar essa “ditadura do relativismo” o sr. conjura o nosso Papa e a nossa Igreja. Eles não podem trair o Cristo, Caminho, Verdade e Vida.
O sr. diz ainda que agora vai partir para o ataque contra a Igreja. Gostaria apenas de relembrar-lhe que a Igreja não pode ser vencida por um poder meramente humano. Não perca seu tempo.Onde está o Império Romano que quis destruí-la e que ceifou tantos mártires? Onde está a fúria de Napoleão que mandou prender Pio VII? Onde está a União Soviética de Stalin que perguntou “quantas legiões de soldados tem o papa?”. Onde está o nazismo, o comunismo, que tentaram eliminar a Igreja e a fé católica desde as suas raízes, e que fizeram tantos mártires?»
(De uma carta aberta a José Saramago, assinada por Prf Filipe Aquino)