29.10.09

UMA BIOGRAFIA POLÍTICA


A biografia política da foto deveria ser rapidamente traduzida para português. As sensatas declarações do seu autor - e a reacção paternalista dos nossos historiadores de serviço ao século XX e XXI, os enfatuados Rosas e Costa Pinto, que ainda nem sequer leram o livro ("com mérito e que merece todo o respeito") - acerca do seu trabalho e do objecto dele só o recomendam. «Se Salazar se transformou em presidente do Conselho foi acima de tudo porque desempenhou a missão com que foi incumbido, impondo-se aos seus rivais pela competência técnica.» Realmente incompreensível face ao critérios de "imposição" em vigor de que temos tido nos últimos dias, aliás, fartos exemplos. E, depois, há a prudência e o bom senso de Filipe Meneses, uma coisa que os nossos venerandos académicos da história contemporânea dificilmente entenderão. «É difícil um homem com 40 anos resumir, analisar e dar sentenças sobre a vida de um homem que se manteve política e intelectualmente activo até aos 79.» Chapeau.

5 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois é... enquanto foi viva a geração que sofreu com a "libertação" de 1910-26, o Estado Novo manteve-se firme. Quando morreu, desapareceu a memória do abuso, extorsão, violência e ruína!

Pedro disse...

Caro João Gonçalves,

Filipe de Meneses parece ser sensato, talvez seja por isso que sensatamente se pôs a andar...

Cumprimentos,
Paulo

zé sequeira disse...

Respigo, do Álbum de Memórias de José Hermano Saraiva, a fase lapidar em que, após o final da II Guerra, o Doutor Salazar recusou "travestir-se" de democrata. Teria certamente, dado ter transformado este país no "cantinho do céu" da minha infância, sido "a piece of cake" ganhar eleições, mesmo se fossem as tais "tão livres como na livre Inglaterra". Não o quis; uma vez que era uma personalidade ímpar sabia bem que os "ventos da mudança" estariam contra si. Paciência, quem sabia "o que queria e ao que vinha", não estava disposto a abdicar dos seus princípios.

Lembro-me disto ao reparar que, depois de uma semana em que, por motivos profissionais andei lá por fora, aterrei directamente no Portugal em que, passados os actos eleitorais, já temos a Qimonda e a Delphi (para começar) a "irem com os porcos", o Vara e o Penedos (também para começar) já com "autorização" para serem arguidos e a dança das cadeiras em que os medíocres que, pelo facto de terem andado, desde tempos imemoriais, na via sacra da carreirita partidária, estrebucham babados pela prebendazinha, pelo lugarzito, pela secretariazeca.

Recomendo a (re)leitura do magnífico "A Capital" de Eça de Queiroz.

Doutor Salazar (please), perdoe-me.

Merkwürdigliebe disse...

"Este facto traz-me à segunda grande surpresa: o sentimento de fraqueza muitas vezes manifestado por Salazar e aqueles que o cercavam. A lista de inimigos, rivais e potenciais traidores era enorme, mas Salazar não podia lidar com eles como fizera Franco, fuzilando-os. Salvo algumas excepções que não cabiam dentro do regime, era preciso ouvir, negociar e pactuar constantemente e, sobretudo, manter a ambiguidade dominante em torno das grandes questões. República ou monarquia? O que fazer com a Assembleia Nacional? O que era, afinal de contas, o corporativismo português? O melhor era não dizer nada de concreto, para não hostilizar ninguém."

Só por esta reposição da verdade histórica já vale a pena.

"Por fim, um biógrafo de Salazar tem de lidar com a concorrência colossal dos seis volumes escritos por Franco Nogueira. Parece-me, porém, que os historiadores têm de ir ao encontro do público, sobretudo desde que apareceu a Internet."

Tem toda a razão. Qualquer biografia de 600 páginas ao lado desse tour de force de pouco menos de 3000 páginas será sempre insuficiente.

Anónimo disse...

não deixa de ser revelador o facto de um português ter que ir para o estrangeiro para tentar fazer uma biografia de Salazar. O ambiente por cá continua bastante envenenado para se poder fazer uma biografia objectiva do ditador, apesar dos 35 anos de regime democrático. Continuamos, de facto, demasiado pequeninos e mesquinhos.