16.10.08

UMA CRISE LENITIVA

«A par desta súbita conversão aos valores do socialismo, o primeiro-ministro anunciou gloriosamente uma longa série de iniciativas: o exercício, que ganhou lastro, esta semana, com a apresentação parcial do Orçamento, nasceu há cerca de quinze dias, com o anúncio, na Assembleia da República, de três grandes medidas. De então para cá, a crise internacional transformou-se numa espécie de totoloto governamental: se, por um lado, permite disfarçar os problemas internos que nunca foram resolvidos, por outro, oferece condições únicas para abrir os cordões à bolsa e satisfazer, num ano eleitoral, os interesses dos mais variados sectores da população. Dos inquilinos aos senhorios, passando pelos funcionários públicos, pelos banqueiros ou pelos camionistas, são poucos os "privilegiados" do passado que não são agora recompensados pelos "privilégios" que injustamente lhe foram retirados. Em suma, a crise internacional acabou por ser o balão de oxigénio de que o Governo necessitava para fazer frente às próximas eleições legislativas. A crise dispensa uma remodelação, a crise esvazia os hipotéticos conflitos com o Presidente da República, a crise oferece uma vida nova para além do défice, a crise restabelece a autoridade do primeiro-ministro e a crise dispensa as críticas irresponsáveis lançadas pela oposição. Não foi por acaso que, na terça-feira, o Governo ficou a falar sozinho enquanto a oposição se arrastava pelo Parlamento, dependente de uma pen que "até o Magalhães abria" e de um documento "incompleto" que impedia qualquer análise sobre o Orçamento. Isso só foi possível porque este Governo, determinado e corajoso, tem uma estratégia para o país que não se compadece com derrotismos perniciosos.»

Constança Cunha e Sá, Público

2 comentários:

Anónimo disse...

Enquanto os "nossos representantes" (ditos) da direita na A.R. dizem nada sobre a crise (e os que dizem alguma coisa não dizem muito que devia ser dito), há outros que fazem uma análise política da dita, que vale a pena ser lida e ouvida.
Assim, e pedindo desculpas ao João Gonçalves, deixo aqui o link para uma crónica de um outro homem que acho que vale a pena ser ouvido (e lido): João Pereira Coutinho na sua crónica na Folha de S. Paulo.
O meu comentário a essa crónica é só: exatamente!

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/joaopereiracoutinho/ult2707u455310.shtml

Anónimo disse...

Onde estão os estrategas e pensadores politicos que acompanham a Dra. Manuela Ferreira Leite?? Pelo andar da carruagem apenas tinham estratégia para derrubar o Dr. Santana Lopes e o Dr. Filipe Menezes. Agora que têm oportunidade de mostrar o que valem, só fazem burrice. Seria melhor que continuassem no conforto dos escritórios. O problema é que muitos deles se não estiverem na politica (PSD) não tem escritório nem conforto.
É uma pena o País e os politicos que temos.
Façam um favor a todos nós não se metam na politica.