12.7.07

ZITA E O CAMARADA


Li, de fio a pavio, o livrinho de Zita Seabra sobre a sua militância no PCP entre 1966 e 1988. "Sempre cândida e às vezes comovedora", escreve Vasco Pulido Valente na contracapa. Não exageremos. Zita passou à clandestinidade com apenas dezassete anos, depois de uma promissora adolescência de burguesinha do Norte. Podia ter ido parar a um romance de Agustina e nem num de Manuel Tiago, afinal, coube. Filha única, mimada, familiares da "oposição", deixou-se tentar pelo romantismo revolucionário prometido pelo "partido". Quis experimentar e acreditou que a coisa era mesmo "cientifica" como ressumavam os manuais. Teve sorte. Nunca foi presa, torturada ou expelida do país. Mergulhou apenas no Portugal profundo da oposição tal como o PC e a sua máquina o concebiam: secreto, misterioso, desconfiado, umbiguista e alheio ao "outro". O "outro" era sempre o mesmo, os mesmos. Cresceu politicamente nessa dureza e, se ainda o não era, ficou uma mulher dura para o resto da vida. Quando eu tinha dezasseis anos e a conheci na UEC - estava então grávida -, Zita era famosa pela sua intransigência típica de filha dilecta "adoptiva" do proletariado. O melhor do livro são as peripécias da clandestinidade sem "malícia" da "camarada", o salto de casa em casa e os relatos de algumas conversas surrealistas da época. Nunca houve ingenuidade nem candura. Zita jamais poderia ter tido a mão livre para criar e sedimentar a UEC se não fosse um quadro bem cotado. Uma profissional. Levou vinte e poucos anos a perceber o logro ou a enjoar-se dele. Em 1987, na primeira maioria de Cavaco, ainda era da comissão política do PC de onde foi expulsa no ano seguinte. O relato podia ser mais interessante quanto a Cunhal. Por mais de uma vez, a autora repete-se em relação ao "Camarada" e em aspectos perfeitamente banais. Não acredito - dada a proximidade até praticamente ao fim - que Zita não tivesse mais para contar acerca do secretário-geral. Foi, diz ela, intelectualmente "libertada" por dois ex-esquerdistas (do "radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista", nos termos de Cunhal), agora grandes e insuportáveis "liberais" do regime, os drs. Espada e Carlos Gaspar. E teve o apoio paternalista de Mário Soares que merece os maiores encómios como uma espécie de "grande educador nacional para a democracia e a liberdade". A frieza e o profissionalismo da personagem Zita Seabra - a militante comunista, a dirigente estudantil implacável, a dissidente, a social-democrata, a editora - estão inteiros (sem nenhum tipo de rasgo literário ou pretensão de "historiadora" que, aliás, rejeita logo no início) nas quatrocentas e trinta e tal páginas de Foi Assim. Se alguém aprendeu com Álvaro Cunhal - e nunca por nunca com Soares - foi Zita Seabra. Daí, talvez, a imperfeição do "retrato" do homem da amarga derrota dos últimos tempos, remetido melancolicamente a um andar nos Olivais. Propositada? Não saberemos nunca verdadeiramente que "história" Zita Seabra teria para contar.

9 comentários:

Anónimo disse...

"Quando eu tinha dezasseis anos e a conheci na UEC ..." ?
Na UEC João! Tu?
Olha, eu com 16 anos estava no CDS, era o responsável da JC no nosso D.Pedro V.
O livro da Drª Zita " Foi Assim" (ou melhor " Meia estória duma traição organizada") nem o leio, pois não me vai surpreender, não é um livro de memórias é um livro de desculpas de má consciência quer do passado quer do presente,mas sempre a preparar caminho para o "futurozinho".
R.A.I.

Anónimo disse...

A mim não me engana ela...

Anónimo disse...

..não sei se será bem assim, anónimo anterior! E, na dúvida, prefiro pensar, como me parece e pareceu sempre (e não costumo enganar-me...) que Zita Seabra é GENUÍNA!

Anónimo disse...

Você não sabe analisar a maior parte dos assuntos que aborda por estar completamente obsecado pelo ódio. É pena. Sobretudo por si.

Anónimo disse...

Parece-me que há aqui um qualquer equívoco : Não é Pulido Valente que fala de Zita Seabra na UEC ?

Anónimo disse...

Sobre Zita Seabra, escrevi no "Correio da Manhã" (1.Junho.93), um artigo intitulado:"Zita se abra: quais são os 'tiques' do cavaquismo?" Dele extraio o seguinte:"Para se ascender a cargos políticos destacados [coordendora do Secretariado Nacional do Audiovisual] a receita parece estar na militância do PCP (quanto mais histérica e fanática, tanto melhor), seguida da dissidência propalada 'urbi et orbi'. Não fosse o respeito que merecem os comunistas que se não vendem, eu quase aconselharia o seguinte itinerário: partida do infeno, passagem pelo limbo e chegada ao paraíso!" Só mais uma pequena transcrição do meu longo artigo (a 4 colunas): "Desta versão moderna de gata borralheira (..) emerge, qual nenúfar em águas que não deixam ver o fundo às coisas, a crítica social ou o desabafo político: 'Há uma tradição, ainda hoje vísivel na sociedade portuguesa, de pouca tolerância em relação a quem é dissidente comunista ou em relação a quem entra em confronto com o PCP'".
Quase se pode dizer que o cerne do livro que Zita Seabra publicou dias atrás, está condensado nestas citações e que a colocam nos antípodas quando é citada no "Expresso" (15.Maio.93)por ter afirmado, em fins de 88: "Hoje o que faz sentido é atacar o cavaquismo e os perigos que ele comporta".Costuma dizer-se que a memória dos homens é fraca. E o que dizer da memória das mulheres que tem a obrigação de ser à prova de bala quando escrevem um livro de memórias em que devem relatar o que se passou ao longo da sua vida e não aquilo que convinha que se tivesse passado!Dou de barato não ser esse o caso. Nunca o saberei, aliás: não comprei, nem tenciono comprar o livro referenciado.

Anónimo disse...

Conclusão: Quando se fala do livro de Zita Seabra, fala-se de quê? Do livro? da autora? do PCP? do Cunhal? da editora? do PSD? da dissidência?
da mudança de partido? Churchill disse: muda-se de partido para ser fiel aos princípios; muda-se de princípios para ser fiel ao partido.

Anónimo disse...

Para além das "mudanças" referidas por Churchill, e tão a propósito trazidas aqui por João Boaventura, já o Poeta deixou escrito que "o mundo é feito de mudança". Instruída pela escola da política, Zita Seabra seguiu os ventos da mudança...de supetão, qual tufão que ela julga ter lançado bem para longe um passado em que, segundo quer fazer crer, foi simples figurante da tragicomédia do PREC. Nada de falsas modéstias! A Zita Seabra, com o seu consentimento ou sem ele,coube o papel de prima-dona. E que belos agudos se soltavam da sua garganta nos comícios. Agora deu-lhe para a pena (leia-se teclado do computador) de ter pena do seu passado que não há borracha por mais pungente que seja que o possa apagar. Para mais, tendo sido uma fiel seguidora do sol da terra esse passado projectar-se-á como uma sombra que pode desaparecer de noite, mas que a alvorada lhe colará de novo à sua ilharga.Mexer no passado e, demais, passá-lo para um livro é reavivar feridas ou apresentar medalhas de uma batalha em que se não participou. No passado, Portugal teria ganho com uma Zita Seabra que hoje se apresenta em público travestida de menina do capuchinho laranja. No presente, é pior a emenda que o soneto!...

Anónimo disse...

O livro da Zita é mais uma modesta contribuição para a extinção da PIDE/DGS/PCP. Os comunistas já só enganam quem quer ser enganado.