29.7.07

DOS LIVROS - 7


A propósito do derradeiro patriota - cada dia que passa tenho mais a certeza de que o é - seria bom que os herdeiros do Doutor Salazar e a Coimbra Editora se entendessem para que fossem reeditados os seis volumes dos "Discursos e Notas Políticas" do primeiro. São prosas que ultrapassam a circunstância - o Doutor Salazar, ao contrário dos papagaios de hoje, não era um homem de circunstâncias - e que dão testemunho de uma época longa da nossa história através de uma límpida retórica político-literária jamais recuperada. Para além disso, foram escritos pelo punho do próprio Doutor Salazar enquanto agora se reune um petit comité de pseudo sábios e de pseudo estrategas que preparam uns quantos papiros consoante as "especialidades" de cada um, deixando a alguém que saiba ler e escrever a "síntese" final que o venerando representante do regime lerá ao povo em teletexto. Salazar cultivava, entre outros, Vieira. A esta gente basta-lhes o primeiro escriba que articule minimamente duas frases. Também, tanto faz. Emissores e destinatários estão, nessa matéria, praticamente ao mesmo nível. E quanto menor for o ruído da presente retórica política, melhor. Não se deve maçar excessivamente as crianças.

11 comentários:

Luis Geraldes disse...

Há muito que leio o seu blogue.
Por vários motivos, desde logo porque sabe escrever Português, depois porque a escrita apresentada, é reflectida e porque você é sagaz.
No entanto, o meu comentário resulta de partilhar consigo que também estou a ler os Discursos de Salazar, estou no volume primeiro - 1928-1934.
A par deste livro foi-me oferecido outro livro do Professor Adriano Moreira de 1979 chamado Ciência Política.
Estes livros foram-me referenciados por um Homem de enorme craveira intelectual, com quem almoço aos fins de semana, que me disse uma vez o seguinte:
" Sobre Salazar muita coisa se diz, o problema não é o que se diz, mas de quem ouve e acredita."
Para lhe dizer, que nossa história enviesou dados e considerações de um homem que sempre foi honesto com a nação.
Já agora, só mais uma refência ao meu amigo que me ofereceu estes livros: " julguem Salazar à luz do contexto sócio-político Português, qundo Salazar subiu ao poder."
Está convidado a almoçar connosco.
Abraço
Luis Geraldes

João Gonçalves disse...

Terei muito gosto em participar.

Anónimo disse...

Há aqui, neste particular, uma outra questão que tem a sua relevância. Quando o Prof. Salazar morre em 1970, eu tinha 19 anos. Que, até aos 14/15 anos se é uma criança, não duvido, mas aos 18/19, há já espaço de uma reflexão abrangente, «vivida». É impossível ter-se saudades desses tempos de jovem adulto; dos exageros disciplinares dos Liceus, do permanente espectro da guerra do Ultramar, da visão contínua das dezenas e dezenas de militares pelas ruas, nas unimogs, nos carros de instrução, a visão dos que regressavam e a visão dos que iam, as conversas de café e, simultâneamente, na cidade e nos campos, uma pobreza de tinir, impensável na segunda metade do Séc. XX ; os camponeses que trabalhavam ao dia, de calças cerzidas e sapatos feitos de meio-arco de pneu de automóvel, o sacho e a saca de sarapilheira servindo de gabardine, os cigarros enrolados em folha de milho e o tabaco cortado à navalha ou os três chicharros com pimenta e uma fatia de pão de milho, são apenas uma imagem, é verdade, mas autêntica dos finais dos anos 60, na minha terra.

Anónimo disse...

O Sr. João Gonçalves é seguramente um previlegiado que, no longo consulado do ditador, não precisou de comer o pão que o diabo amassou. Ainda bem para si, mas olhe que milhões de portugueses tiveram de comer esse pão e muitos desses não esqueceram e ainda não perdoaram. É fácil falar quando se nasce em berço de oiro, sabe?! Tenho 72 anos e sei do que falo...

João Gonçalves disse...

Não meu caro, não sou nenhum privilegiado. Se fosse, não elogiava homens probos. Não perfeitos, como os actuais democratas. Mas probos.

Anónimo disse...

Eu era um privilegiado.
Hoje, seríamos (a minha família) talvez quase pobres se vivêssemos do mesmo modo, com os mesmos rendimentos ou equivalenes. Basta dizer que na casa da minha avó, já viúva quando nasci em 1951, tínhamos água de cisterna, velas, candeeiros a petróleo e dois ou três «petromex's» até aos anos 70. Ainda me lembro do cheiro característico da água aquecida no lar a lenha para nos lavarmos. As saudades românticas desses velhos tempos - que muito me emocionam - não podem "esconder" as pessoas verdadeiramente pobres, no limiar trágico da sobrevivência.
Eu lembro-me.
Outra questão, é a que decorre, hoje, aqui e agora, da imoralidade de uma oligarquia sôfrega e gorda, sem valores e sem Norte. Um sistema pôdre, sem Honra e sem Vergonha, viciado desde as "jotas" partidárias, irregenerável e suicidário. É isto que não aceitamos nem mortos.

Anónimo disse...

Ainda bem que o João tem o dom da provocação, contibuindo, com a sua verve, para desmistifcar uma retórica que nos foi incutida, a partir de 74, sobre Salazar, como se ele fosse a causa de todos os males que a Pátria padece. Sendo assumidamente um ditador, versão soft" por ser cristão e universitário, saneou as finanças, ditou os limites do Estado de direito e encetou a modernização do País. Os indicadores são indesmentíveis e, numa altura em que as democracias rareavam por toda a Europa, teve o bom-senso e a habilidade de termos sido neutrais na 2ª guerra mundial. De uma vez por todas, há que contextualizar o salazarismo e o seu maior drama foi a sua incapacidade em resolver o problema colonial. Seria importante saber se Salazar considerava essa causa, uma causa perdida ou se, pelo contrário, estava convicto que não havia alternativa. Se assim é, o patriotismo neste caso, não se recomenda.

VANGUARDISTA disse...

Para os comentadores anteriores, umas perguntas;
Como é que se vivia, nesses mesmos anos 50 e 60, por essa Europa fora (para não falar do resto do mundo)? Não havia "bidon villes"?
O Maio de 68 em França resultou de haver liberdade a mais?
E nos E.U.A. nos anos 50/60, podia-se ser comunista?
E na URSS, havia amplas liberdades? Podia-se ser, por exemplo, social-democrata? E, vivia-se melhor que cá?
E, já agora, o pós guerra, para não falar da própria II guerra mundial, para os paises cujos dirigentes se deixaram envolver no conflito, foi "melhor" que a Guerra do Ultramar ?
E a "paz, concórdia e progresso" destes últimos 33 anos na Guiné, Angola, Moçambique e Timor?

Anónimo disse...

...mas só os hipócritas destes pseudo-democratas é que estão interessados em denegrir a imagem de Salazar!!! São os tais invejosos, frustrados, incompetentes e oportunistas que se sentem inferiorizados perante o Carácter de Salazar!!!!!
Deste modo, pretendem iludir o povo....

Anónimo disse...

Andamos todos, afinal, à procura de uma bissectriz sistémica que exorcise o pior da nossa idiossincrasia, e nos dê acesso a um módico de felicidade colectiva.
Este «confronto» com o Estado Novo pode ser uma via de inovação política, mas já é com certeza uma reflexão útil e um aviso à navegação para uma gente sem escrúpulos que enche os bolsos de «democracia».

Anónimo disse...

Ainda bem que hoje não censura e se podem editar os livrinhos do Sr.Salazar, não é?