17.7.07

FRÁGIL, RUA DA ATALAIA


O Frágil comemora esta noite vinte e cinco anos. Quando ouço a miudagem dizer - com a falsa intimidade de quem não sabe nada nem viveu ainda nada - que vai "ao Bairro", sorrio para dentro. O "Bairro" que eles conhecem, o dos shots, das ganzas e do copinho de plástico na mão no meio da rua, não é exactamente o mesmo Bairro Alto dessa altura. Aliás, quase todos os actuais frequentadores mais assíduos nem sequer eram vivos. O Frágil e, em restaurante, o Pap'açorda, recriaram o Bairro Alto em Lisboa, nos primeiros anos da década de oitenta. Manuel Reis, o José Manuel Miranda e o Fernando "mudaram" aquele lado da noite. Em rigor, criaram uma outra noite que tinha o seu coração na Rua da Atalaia. Saía-se de um para o outro lado e, cada noite, pelo menos nesse verão primeiro, era a primeira. Única. O Frágil tinha sempre à porta homens e mulheres lindíssimos e sofisticados. Anamar começou naquela porta, por exemplo. Lá dentro circulava gente para todos os gostos e todos os gostos eram relativamente saciáveis. Corri para o Frágil quase todo o mês de Agosto desse ano, ao lado do meu amigo Vicente - que se mantém um amigo firme ao fim de um quarto de século -, apenas variando nas companhias. Tinha vinte e um anos e, julgava eu, uma vida genial por vir. Tudo era possível. Nada ou muito pouco, afinal, veio. E tudo se revelou improvável ou, no limite, impossível. Entretanto o Frágil foi definhando até se tornar no estábulo indefinido - logo ele, cujo maior fascínio era justamente essa indefinição - que perdeu as graças dos deuses. Como escrevi noutra ocasião - e já estou em boa idade de não ter de inventar nada - "o ambiente toldou-se e virou lixo, em sentido material e humano. Uma vez, o Miguel Lizarro, em pleno Frágil, olhou em volta e sussurrou-me : "já reparaste, estão todos cheios de vontade de ir para a cama uns com os outros, mas ninguém avança". Alguém acabava sempre por avançar. Agora, nem vontade, nem cama, nem "avanços". Nada. É tudo de plástico como os copos. O Bairro Alto perdeu definitivamente o que tinha de mais belo: a sua noite, a sua autenticidade e o seu esplendor."

20 comentários:

Anónimo disse...

o senhor deve ser certamente uma pessoa muito triste, eu tambem me sinto um pouco assim, mas tenho 18 anos. sinto-me assim porque sem culpa nenhuma gramo com os copos de plástico onde quer que vá. sempre vi copos de plástico.
nunca se esqueça de que a geração dos copos de plástico não sugeriu nunca esses copos feitos de plástico. nao se esqueça de quem lhe impõem esses copos de plástico. esse sentimento de tristeza so pode ser tambem culpa própria, mesmo que indirectamente o sinta.

Anónimo disse...

Pela prosa vê-se como V envelhece, amargamente.

Hoje deu-lhe para os copos de plástico, amanhã, provavelmente, dá-lhe para falar nos preservativos com sabor a morango e o safe sex.

Faça, como o António Vitorino do PS, deixe de ser Maria Constança e crie um presépio em que a figura principal passe a ser o seu cão, porque os outros já morreram, engordaram ou viraram Lux...

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves
Deixe lá, a caravana passa e os cães ficam a ladrar.
Cumprimentos, JP

Anónimo disse...

Ninguém envelhece sem nostalgia e alguma amargura.
jbs tem toda a razão, não foi ele que "inventou" os copos de plástico que afinal são apenas o epifenómeno de outros usos e costumes por vezes devastadores.
O outro, nunca fez a experiência (só apenas virtual) da sua própria morte ; tem uma boa escadaria pela frente ...

Anónimo disse...

JG, você está a precisar de deixar a religião e voltar ao sexo. É isso, garanto-lhe.

João Gonçalves disse...

Está enganado/a. Não sou assexuado. Vivo todavia rodeado deles.

Anónimo disse...

Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil

Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil

Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil

Está a saber-me mal
Este Whisky de malte
Adorava estar "in"
Mas estou-me a sentir "out"
Frágil
Sinto-me frágil

Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Sinto-me frágil

Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil

OH! JOÃO DEIXA LÁ OS PUTOS CURTIR À MANEIRA DELES!
A CAMINHO DOS 50 A MINHA CURTIÇÃO É TOMAR CONTA DOS 3 PUTOS MINORCAS E AUTORIZAR, COM EQUIDADE, A MAIS VELHA A IR SAINDO A NOITE.
R.A.I.

Anónimo disse...

eheheheeh :)

Anónimo disse...

certo, falei de copos de plástico porque foi o exemplo que o autor do post utilizou. é claro que nao me referia ao objecto em si, apenas queria explicar que a posição tomada pelas pessoas mais velhas que eu em relação às caracteristicas da juventude não é correcta por vezes pois não nascemos mais burros, mais aversos à cultura, mais irresponsaveis, etc...
apenas vivemos consoante as condições que nos são impostas por quem é incapaz de cumprir o papel que tem nesta altura da vida, o de liderar o país. estou convencido que a minha geração teve azar; nascemos apenas duas décadas depois de existir democracia (?) neste país. talvez daqui a 100 anos a coisa seja diferente, por agora temos que gramar com a geração rasca, essa sim, de políticos e companhia...

Anónimo disse...

'Tinha vinte e um anos e, julgava eu, uma vida genial por vir. Tudo era possível. Nada ou muito pouco, afinal, veio. E tudo se revelou improvável ou, no limite, impossível.'
bonito bonito.

'apenas vivemos consoante as condições que nos são impostas'

isto promete

Anónimo disse...

Amargo ou não amargo....depende da energia com que se encara a vida!

"Quando os pássaros no fazem um voo rasante sobre a cabeça, há que aguentar, o que é preciso é não os deixar fazer o ninho na nossa cabeleira" - concorda, João??

Anónimo disse...

´Bons tempos' de facto, em que uma imbecil à porta decidia aliatoriamente, para seu baixo prazer, quem entrava ou não.
Mas, claro, você também não é um democrata.

João Gonçalves disse...

Finalmente, anónimo, acerta. Não, não sou democrata, pelo menos tal como as apoderados deste regime entendem a democracia. E sim, fazem falta em muitas portas da dita democracia pessoas que vedem a entrada do lixo.

Anónimo disse...

De facto o que não falta neste país é lixo, especialmente lixo humano !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Você não tem culpa...

Quem quererá entrar hoje no frágil ou em qualquer outro bar?
Lisboa tem uma vida paralela de festas privadas, com excelente música, corpos, bebidas e afins.

Para bom entendedor meia palavra basta.

Anónimo disse...

Wayne Country, transexual, vocalista dos Electric Chairs, dizia sobre David Bowie:"ele precisa de se rodear de pessoas exóticas, para poder dizer "ho, como eu sou exótico, vejam bem como eu sou exótico".

Há outros que são mais comedidos e lamentam: "no meu tempo é que era bom...". E há quem se divirta, claro.

Anónimo disse...

Está um bocadinho baralhado. O Frágil comemorou 25 anos no passado dia 15 de Junho.
AMP

Anónimo disse...

'Lisboa tem uma vida paralela de festas privadas, com excelente música, corpos, bebidas e afins'

isto não é meia palavra: só falta dizer onde são as festas (tá bem são prrivadas) e definir'afins'.

fica-se, no entanto, sem saber de que material são feitos os copos (questão de grande importância, incontornável mesmo)

encontrar excelência num sítio frequentado por 'massas' é dificil, mas não é certamente impossivel.

questão maior é saber que excelência é essa que falam, mas pelo que me apercebo é excelência associada ao dinheiro, excelência que ele pode comprar.
fraco.

'as melhores coisas da vida são grátis'

Anónimo disse...

iupi, excelência associada ao dinheiro- fraco; as melhores coisas da vida- grátis.

aqui está um bom exemplo do complexo esquerdista de que tão pouco precisamos nesta altura.

Anónimo disse...

São todos muito frágil os humanos do Bairro Alto