5.12.10

OS "ACONTECIMENTOS" E A HERANÇA


Na sua intervenção quinzenal na tvi - as televisões precisavam de mais dois ou três Carrilhos e de varrer, em consequência, a trupe circense de "comentadores" que lá têm para tudo e para nada -, Manuel Maria Carrilho disse, entre outras, duas coisas interessantes. A primeira, a inexistência, pela decomposição progressiva, do governo. Cada vez mais o governo é apenas e só o Chefe, para recorrer à terminologia de Vargas Llosa a propósito do Benfeitor Trujillo. O que está a suceder no ministério da Justiça, por exemplo, já só releva do foro da inconsciência e do patético. A segunda, diz respeito às eleições presidenciais. Parece que não há eleições daqui a pouco mais de um mês útil. Se Sócrates impediu, pela farsa das suas "novas fronteiras", qualquer tipo de debate político digno desse nome, não se pode dizer que as presidenciais estejam a contribuir para algum. É óbvio que não é certo que os portugueses o desejem - ao contemplar as imagens de ontem, de há trinta anos atrás, tive perfeitamente a noção que tudo aquilo seria impossível hoje. A opinião pública vive tão anestesiada e entretida com a mediocridade da sua pequenina burguesia de espírito e da sua vidinha quanto alheia a uma "causa" pública que, aliás, inexiste. Não é, pois, por acaso que o candidato mais forte à sua própria sucessão assente a sua campanha numa invisibilidade praticamente absoluta, numa espécie de não-campanha, cujo principal conteúdo referencial é "leiam o que eu disse e é se quiserem". Foi neste contexto que Cavaco mandou ler um texto seu, de 2003, que Carrilho comentou, intitulado "dores de cabeça". No fundo, a "ideia" é que, já nesse texto, Cavaco "previa" os acontecimentos de agora, i.e., o estado a que chegámos. Sucede que, de lá para cá, Cavaco, apesar de não ter responsabilidades governativas, preside aos acontecimentos que ele tão clarividentemente previu. Por isso, em 2005, Cavaco ia ser um presidente "protagonista" contra a inevitabilidade desses "acontecimentos". Eles, entretanto, aconteceram. Nesta recandidatura, Cavaco promete uma "magistratura activa", de novo, contra os mesmos "acontecimentos". Julgo que a última coisa que desejará é ficar, para a história, associado a eles, Mas, para isso, tem de esforçar-se um bocadinho apesar da constituição e de muitos bonzos que o apoiam e que vivem famosamente desses "acontecimentos", seja qual for o partido a geri-los. Como escreve Vasco Pulido Valente no Público de domingo adventício, «nem o FMI e a "Europa", se por acaso vierem, conseguirão reformar os portugueses. A herança é pesada.» E sabe Deus como eu gostava de acreditar que não fosse.

17 comentários:

S.C. disse...

E épor isso que, mais uma vez, lá estarei a entregar o meu voto em branco. Cavaco não faz nem deixa de fazer, passeia-se seraficamente por entre a desgraça das gentes e o regabofe das contas públicas como se nada pudesse efectivamente fazer, o que leva sempre a perguntar por que carga de água é que quer continuar a ser presidente?!

Anónimo disse...

Carrilho também disse que, para além de escrever o tal artigo, Cavaco nada fez para mudar a situação, o que não será muito abonatório para o professor de economia. Se sabia tudo tão bem, porque não interviu activamente e se limitou a cobrir os seus amigos da banca?

PSC disse...

Deve ser para andar de mãos dadas com o "inginheiro"!Nem as moscas mudam! É só merda!Suponho que, um dia destes, ninguém mais sequer se aproxima do nosso "rectângulo" tal o fedor que emana deste "Jardim à beira mar plantado"!

Mani Pulite disse...

EU ACREDITO QUE FARÁ MAIS DO MESMO,ISTO É,COISA NENHUMA.

Anónimo disse...

Em branco, também me vou "pronunciar". Contudo tenho de admitir que no meio desta urbe Cavaco Silva é o menos mau. Mas já não me interesso pelo menos mau, sou mais pragmático e, vai em branco.
O bardo para angariar votos diz qualquer coisa como não faz mal "compensar" os funcionários do Governo do Açores. Pois... Vão todos para o ca***** felizes e contentes.Para que interessa a regra e o compromisso se não apenas para a violar em benefício da tropa fandanga...
Desculpem a acidez, mas é preciso de vez em quando.
Carlos Genesius

Anónimo disse...

Mas com este povo será possivel melhor ? Um povo que quando "cheira" que vem aí uma mudança radical de vida, fica a ver a banda passar, para depois cair para o lado do vencedor.
Basta olhar para a História e interpretar...
CS é suficientemente cínico para perceber isto, depois preparar o caminho e seguir por ele...

Anónimo disse...

so vou votar porque à porta da junta existe uma roulotte de farturas...

Anónimo disse...

Aliás os portugueses são, na minha opinião, irreformáveis por isso penso que, mau grado algumas épocas/acontecimentos/realizações,etc. esporádicos, este país será sempre assim, mais ou menos como é hoje.

A Mim Me Parece disse...

Ó Anónimo das 04:17, enfarta-te em farturas e não te aproximes da mesa de voto. Só ganhas com isso.

Anónimo disse...

«(...)Por isso, em 2005, Cavaco ia ser um presidente "protagonista" contra a inevitabilidade desses "acontecimentos". Eles, entretanto, aconteceram. Nesta recandidatura, Cavaco promete uma "magistratura activa", de novo, contra os mesmos "acontecimentos".(...)».

Não é preciso dizer mais nada. Está tudo dito.

Mani Pulite disse...

TAL COMO EM ESPANHA,DE FORMA SELVAGEM,O MUITO MAIS DE UM MILHÃO DE PORTUGUESES QUE RECEBEM DO ESTADO E ANEXOS,ESTÁ A PREPARAR UMA TRANSFERÊNCIA EM MASSA PARA OS AÇORES PARA EMPOCHAREM O SUBSÍDIO DO CÉSAR.CADA AÇORIANO VAI PASSAR A TER 5 FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DO CONTINENTE E MADEIRA PARA O SERVIR.O PER CAPITA MAIS ELEVADO DO MUNDO.A VIZINHA ISLÂNDIA ATÉ JÁ ESTÁ CHEIA DE INVEJA.VENI,VIDI,VICI,CAIUS CAESAR!

Anónimo disse...

Mais tarde ou mais cedo João Gonçalves chegaria a esta conclusão.

Aos outros comentadores não votem branco, votem nulo. No branco há sempre quem depois possa colocar uma cruzinha...

lucklucky

Garganta Funda... disse...

«Governo dá Bónus a Boys», in Correio da Manhã;

«Palhinhas para inalar droga distribuidas gratuitamente», in Diário de Notícias.

Aguarda-se a todo o momento declarações da veneranda figura, no papel de PR (pois foi neste papel que falou na terra das pampas sobre a mais recente polémica dos Açores) sobre mais estas «excepções» aos «sacrifícios» e sobre o tratamento desigual dos cidadãos.

Como é possível continuar a sustentar a boyada e a excepcionar os gestores e altos funcionários do Estado, enquanto se corta nos salários mais baixos?

Como é possível tirar abonos de família, enquanto se distribui kits gratuitos para continuar a sustentar vícios?

Como é possível haver abortos a custo zero, enquanto se retira abonos de famílias a crianças de famílias pobres?

Gostava que o presidente de «todos» os portugueses também se pronunciasse sobre estes escândalos!

floribundus disse...

Irmão
pode ver pinturas de Cristo no Museo del Prado

a minha herança

Anónimo disse...

República dos "Snif kits".
Quando um dia "positivarem" este esgoto, ninguém conseguirá acreditar que andou a nadar (nem que tenha sido apenas pelo voto) em tamanha porcaria.

iupi disse...

o sr presidente só pode fazer de morto, porque quando abre a boca só perde votos - não ganha um.
hoje, mais do que ontem, avaliamos acções e não previsões, e o sr presidente foi um cooperante estratégico com a situação em que nos encontramos.

Anónimo disse...

o Carrilho está cada vez com mais pontaria.