31.12.10

FRACASSO, SAISON 2010-2011


«Não me lembro de um começo de ano tão escuro e perigoso como o de 2011. Mesmo 1975 não parecia (em Janeiro) assim tão mau. Não há precedentes para a ruína do país que se anuncia cada vez mais certa. O que não impediu Sócrates de fazer um discurso de Natal absurdo e folgazão. Nem o poeta Alegre e o dr. Cavaco de se entreterem num debate fútil, por uma honra vazia e um cargo sem verdadeira relevância. Como nos metemos neste sarilho sem fundo? A resposta é fácil. Imaginando, com o incurável provincianismo indígena, que podíamos ser como a Europa, esse modelo mítico que arrastou o liberalismo inteiro, a I República e, até certo ponto, o próprio Salazar, e que este nosso regime democrático seguiu, depois do PREC, com patético zelo e a incompetência do costume. Basta olhar e ver. Cavaco e Alegre, por exemplo, discutiram anteontem na televisão quem era ou quem não era a favor do Estado Social. Nenhum deles, evidentemente, se deu à excessiva franqueza de esclarecer o que entendia por "Estado Social". E nenhum deles achou útil explicar que espécie de "Estado Social" a economia portuguesa consegue hoje por si mesma sustentar. Para um e para outro, basta saber que "lá fora" o "Estado Social" existe (e deve, por consequência, existir cá dentro) e sobretudo que perde votos se for contra esse obrigatório aprimoramento do país. De quem paga (e do que não se paga) não se falou para não estragar o gozo desses devaneios da imaginação. Quem paga e o que não se paga é um capítulo à parte. Quase irrelevante. Infelizmente, os devaneios da imaginação acabam sempre por custar caro, agora que Portugal se tornou dependente do estrangeiro e já não ganha a vida a cavar batatas. Por uma estranha perversidade do destino a nossa perpétua "modernização", da "modernização" de 1820 (a que na altura se chamava "regeneração") à "modernização" de Sócrates, passando pela de Cavaco, nunca "modernizou" nada. Não enriqueceu o país; criou dívidas, licenciados, desemprego e miséria. Os pobres portugueses de 2011 vão comer restos de restaurantes, decorados com um doutoramento. Como os bacharéis do século XIX. O progresso é óbvio. E a confusão indescritível: o orçamento não se cumpre, os partidos não funcionam, o Presidente não manda nos partidos. Só falta o FMI. Mas por pouco tempo.»

Vasco Pulido Valente, Público

8 comentários:

Anónimo disse...

"Escuro e perigoso".
Porquê - ou em quê - perigoso ? Vai começar a haver mortes ?

Carlos Dias Nunes disse...

Pois é. Mas ontem à noite, na RTPn, um tal Manuel Carvalho, apresentado como subdirector do Público, ou lá o que é, garantia ao País que o pateta Alegre vencera o debate contra Cavaco e, portanto, estava no bom caminho para chegar a Presidente da República.
Não sei se o eng. Belmiro de Azevedo ou alguém da SONAE tem televisão em casa e costuma ver os disparates dos seus empregados. Sei é que têm a obrigação de mandar esse Carvalho para um sítio sem "v" antes que o jornal se afunde de vez.

Marota disse...

Em Portugal ganha-se dinheiro a cavar batatas ou então à custa de esmolas e isto tudo sem vergonha nenhuma. Por que será?

http://pimpmyportugal.blogspot.com/2010/12/diz-nao-ao-tubarao.html

joshua disse...

Um texto verdadeiramente auspicioso.

Anónimo disse...

VPV anda a dormir com os pés de fora dias seguidos... "Isto" está uma merda, mas ainda há remédio. Vai é ser preciso ficar ainda pior para o bimbalheirame burro perceber que tem que mudar de vida.

PC

Anónimo disse...

Ainda há remédio ?!
Ehehehee ...

Pedro Ferreira disse...

PODE SER

Portugal precisa de um PREC ao contrário.

O problema é que não se vê quem o possa realizar.

Correr com metade dos Deputados. Criar um Senado com representação regional. Formar governos maioritários com 35/40%. Acabar com exclusividade dos partidos na candidatura ao Parlamento e acabar com subsidios aos Partidos, deixando o apoio à sociedade civil.Eleger toda a gente uninominalmente. Entre convocação e eleições, 30 dias. Pagar os eleitos com decência.

Acabar com empresas públicas. Fazer concessões ou outsourcing, com risco privado. Acabar com 100 Municipios, reduzir a metade as freguesias.

Terminar com balcões únicos e simplexes e mexer onde estão os bloqueios, na legislação: licenciar em Portugal, é corromper ou por facilitação ou por dificultação.

Dar incentivos à agricultura para alimentar o País, industrializar como fêz o Pombal, dizendo onde se fáz e como.

Deixar o dinheiro nas mãos dos particulares, em vez do Estado tudo querer do que a (fraca) economia dá.

Privatizar Carris, Metro, Edp, Pt, Cp, Refer, RTP, aumentar as propinas até as Universidades alcançarem o equilibrio, apoiar os verdadeiramente pobres com bolsas.

Liberalizar as rendas de casa, penalizar quem deixa cair os prédios, após essa liberalização.

Acabar com REN e RAN's, dar às Câmaras ao mesmo tempo, mais responsabilidade, mais auditoria e controlo.


Se não acontecer este programa a economia e a vida dos portugueses, continuará a precisar de uma CISS -Coligação Internacional de Solidariedade Social, para manter a ilusão de vida à portuguêsa.

Mas duvida-se da capacidade de reacção ao descalabro.

Veja-se o caixeiro-viajante a pedir de mão estendida, sempre armado em dandy dos anos quarenta aggiornado, com lábia postiça e ambiência floral patcholi.

Tudo isto com a reverência das "elites" sentadas à mesa...

Veja-se o BPN/CGD como financiador dos amigos do bandeira, amigos do PM, para jogadas de negócios em Cabo Verde (habitação), Argélia (estádios), Venezuela (magalhães).

Um país que observa a discussão indigente sobre a honra de Cavaco no BPN, e um candidato como Alegre que não questiona, cobarde, a de Sócrates nos lamaçais de alcochete, cova da beira, magalhães, licenciatura, que não escrutina a "rede" com nomes e pessoas, é uma país doente, doente como o caraças...

Mas pode ser que...

Pode ser que o corpo reaja, próximo do estertor...

Anónimo disse...

"Porquê - ou em quê - perigoso ? Vai começar a haver mortes ?"

Com fps barricados em repartições da SS? Talvez, quem sabe. Espero que não.
Os professores karamba já fizeram como o governador e lavaram daí as suas mãos, e a apodada de velha e troçada está muito bem a cuidar dos netos. Agora caros é assim: desenmerdem-se.
Merkwürdigliebe