22.6.09

SAUDADES DE CARRILHO


Com a sopa na mão, oiço José António Pinto Ribeiro a ser entrevistado por Mário Crespo. Quase ninguém dá por isso, mas o advogado é o ministro da cultura de Sócrates. Não é do país. É de Sócrates, o que é uma nuance relevante. Faz análise política e fala de "censura" ao governo em que ele participa como figurante evanescente. Defende a declaração extemporânea do 1º ministro sobre a falta de investimento na cultura. Pediu a alguém que fizesse um "levantamento" para o MC em regime de outsourcing para "apurar" o que deve e não deve ser considerado "indústria cultural". Quer, portanto, transformar o "ruído em saber". Quer "criatividade" e dotar as pessoas com os "instrumentos". Nem o pobre do Sena deixou de convocar já que "o trouxe para cá" (sic). Quanto a poder, a criatura revela que não teve muito tempo para o "conquistar" apesar dos colos que lhe deram em tudo o que é jornal "situacionista". Vai "globalizar" 242 jovens não sei bem para quê. Se forem sensatos, não voltarão, naturalmente. Porque ele quer que eles regressem para "contaminarem" (sic) mais uns quantos. Ribeiro "percebe" que existem muitos "doutores" mas que há "espaço" para outros "saberes". O "mais com menos", afinal, era fazer coisas mais "contaminantes" e formar "públicos", um desastroso lugar comum sem qualquer sentido. Também aprendeu a conversa dos "saldos" e da "flexibilidade" e está muito satisfeito com a sua extraordinária execução orçamental que deu em pouco mais que nada. Sobre o Museu dos Coches houve "várias e plurais decisões do governo". Não explicou se, por serem "várias e plurais", são coerentes. Nem interessa. Um "Museu da Viagem"? A "língua", claro, a colecção Berardo deste ministro, o seu pechisbeque do Ermitage. A sua língua de pau. Há "fundo" para o dito Museu. Ele ainda vai fazer um "concurso de ideias" para o Museu de Arqueologia. Olhe, dr. Ribeiro, eu dou-lhe já uma. Dedique-se ao teatro de rua. Que saudades de Carrilho.

Adenda: Um leitor recordou-me a improvável entrevista do actual director artístico do São Carlos, o sr. Dammann, ao Expresso. Apesar de a escolha do sr. Dammann preceder Pinto Ribeiro, a sua manutenção é da responsabilidade de Pinto Ribeiro. Se quiserem um monumento vivo aos quatro anos de MC de Sócrates, não percam o sr. Dammann. Até toca piano e canta...

14 comentários:

Xico disse...

Parece que o director artístico do S. Carlos acredita que se fez este ano a melhor La Boheme da história do teatro. Este também acredita que é ministro da cultura.
Alguém por favor que os informem! É que se fosse, demitia o outro por desconhecer a história do teatro que dirige.

Anónimo disse...

Quem visse a entrevista ficaria a pensar que o mandato do ministro da cultura vai agora começar. A três meses das eleições…
Um autêntico “inginheiro cultural”. Só que a nossa paciência para “os” ouvir, esgotou-se.

Anónimo disse...

Xico:quem disse esse disparate sobre a Bohéme foi o Jorge Calado no Expresso.O Herr Damann limita-se a repetir.

radical livre disse...

vi 30 segundos da entrevista de sexa por ter dificuldade em mudar de canal.
este e.t.,com uma bengala de cego, tinha mais utilidade se andasse a pedir no metro.

Anónimo disse...

CALADO DIZ QUE ESTA FOI A MELHOR BOHÉME DA HISTÓRIA DO S. CARLOS?

DE CERTEZA QUE O NÃO DISSE DE FORMA ABSOLUTA E O QUE DIZ TEM UM TOM IRÓNICO E HERR DAMMANN É UM "INVENTIVO". APESAR DO TRISTE PORTUGUÊS TER UMA ATÁVICA FALTA DE MEMÓRIA E NÃO HONRAR A SUA HISTÓRIA, AINDA HÁ ALGUNS,COM JÁ ALGUMA IDADE, QUE SE LEMBRAM E CONHECEM A HISTÓRIA DAQUELE TEATRO, E NÃO ACEITAM DE ESTRANGEIROS, CORRECÇÕES OU A REESCRITA DA NOSSA HISTÓRIA!!!

observador disse...

Mas de que vos queixais?

Acaso pensaveis que, pelo facto de Vossas Excelências se auto considerarem cultos, o vosso talento para selecionarem e contratarem estrelas culturais estrangeiras era diferente dos usados pelos dirigentes dos clubes de futebol?

Ainda não perceberam, que quer no caso da cultura, quer no futebol o critério é o mesmo, ou seja gastar rios de dinheiro em estrelas de qualidade duvidosa, com excepção do Pinto da Costa, que tem demonstrado algum talento nesta área?

Anónimo disse...

Este sujeito é um pedante de primeira água. Este sim ... «Ó papá já sou ministro» ...

Anónimo disse...

Ó amigo Observador,

Quem nos dera que com a Cultura gastassem as LOUCURAS que gastam no futebol e ainda por cima em duvidosos jogadores, cuja fama se fabrica nos "media" de um dia para o outro...

A Cultura é uma ÍNFIMA fatia (DESGRAÇADAMENTE), repito, ÍNFIMA fatia no orçamento geral do Estado.

Anónimo disse...

Ui

Herr Dammann toca piano e canta...Nessum dorman... para vermos um dia (sará possibile?) Herr Dammann cantando num dramático furor,"In questa reggia ,or son mill' anni, mille...
e,io lo dico:
"Straniero! Non tentar la Fortuna"...

angelo ochoa disse...

Só uma coisa lhe garanto, sr JG, esse de Ribeiro Pinto, ou de Pinto Ribeiro, não tem perfil nem pernas nem expressão nem nenhuma capacidade que o habilite a teatro de rua...
De experiência próxima sei quanto teatro de rua sério custa de noitadas e de criatividade.
Filhota minha na Companhia Circolando que sobrevive de uma temporada de 11 dias e noites fora em ilha de Holanda o sabe também melhor do que este mais dado a escrita.
Não não amigo esse sr de Pinto nem como pintaínho de piu piu doce cabe em companhia... Se puser boné no chão como por aí fazem (já não só lá fora) cospem-lhe em vez de eurinhos cuspo verdadeiro!
Não o quererão antes como vendedor de cais?
Mui cultural tarefa por sinal...

Anónimo disse...

Calado disse que foi a melhor Bohéme dos últimos 40 anos.Estava a ironizar?não sei,mas sei que escreveu isto mesmo.Não tenho má memória(pelo menos é o que eu acho)e lembro-me de extraordinárias récitas no S.Carlos.De ver e ouvir,Corelli,Kraus,Boris Christoff,Tatiana Troyanos...talvez por isso me dê volta ao estômago este Herr,mas também o Signor na sua entrevista dada a um programa da rtp2.Camara Clara de seu nome.Como se antes dele o S.Carlos tivesse sido um marasmo.Haja paciência e haja vergonha de quem escreve nos jornais.Não fossem as borlas para andar a passear em Itália quando da Ariadne auf Naxos...cala-te boca...

Anónimo disse...

Amigo Anónimo,

Não se contenha,realmente é preciso desfaçatez quer do lobby Italiano ou Germânico para fazer afirmações absolutas e a tentativa de que com eles a história começou e tudo foi ou é o melhor dos mundos(cada um é o Pangloss mais patético possível. Mas este herr Dammann é difícil (no entanto possível...)de inventar pior, acredite.

Que saudades do Gentleman e Aristocrático João Freiras Branco...

Saudações

Anónimo disse...

Naturalmente,queria dizer:

João de Freitas Branco

Saudações

observador disse...

Caro Anónimo 1:33 AM.

Tem razão quanto ao dinheiro, que aliás é o menos importante.

O problema de fundo, é que o "modos operanti" provinciano, para enganar claques, é o mesmo em ambos os casos, quer da parte dos ditos dirigentes, quer das claques.

Quanto a produção própria, ela é simplesmente arrasada, conforme o fim do regime supletivo decretado de facto pela Ministra da Educação.