29.6.09

TENTAR PERCEBER


O Pedro Magalhães é dos raros politólogos que levo a sério. Primeiro, porque é a profissão dele. E tanto é que, lamentavelmente, escreve hoje o seu último artigo no Público para poder dedicar-se a um projecto de investigação sobre a qualidade da democracia. Em segundo lugar, porque, mais do que nos pretender conduzir ao seu moinho, o Pedro tenta perceber e procura explicar mesmo quando erra, como é próprio de quem caminha na floresta. Em certo sentido, o Pedro não tem agenda como têm os "politólogos" - na realidade gente de partido ou de facção e comentaristas de ocasião disfarçados de outra coisa - que diariamente invadem as redacções dos jornais e das televisões com o seu insuportável "achismo". «A verdade é que não há quase dia em que abra o jornal ou ligue a televisão sem encontrar politólogos, apresentados com tais, a pronunciarem-se sobre as últimas declarações do político x, as consequências da decisão y ou aquilo que irá acontecer se z. Por vezes, talvez mais do que, em retrospectiva, teria sido desejável, um deles era eu. Em parte, é compreensível. Com redacções encolhidas e a multiplicação dos estagiários, escrever um artigo "de fundo" com a ajuda de quatro telefonemas deve ser uma tentação irresistível. A busca da "imparcialidade" e da "objectividade" leva à procura de fontes que possam ser apresentadas como dispondo desses atributos. A pressão da actualidade faz com que aquilo que interessa aos jornalistas seja "prever" um evento concreto ou as suas consequências, matéria para a qual, sabemos de inúmeras situações passadas, os cientistas sociais não se encontram necessariamente mais capacitados que outra pessoa qualquer. E resistir as estas solicitações é igualmente difícil, na medida em pode parecer uma assunção de irrelevância daquilo que fazemos para os debates que interessam. Mas pergunto-me se não valerá a pena tentar resistir mais um bocadinho. O nosso "negócio" é simples: descrever o mundo político o melhor possível e procurar explicações plausíveis para que ele seja como é. Só isso já é bastante. Para pundits, creio, já bastam os que existem.» Volte sempre, Pedro.

3 comentários:

radical livre disse...

se na rua onde moro e em muitas outras não colocassem a profissão por baixo do nome do sujeito quase ninguém sabia quem era.

os politólogos, surgido com a chuva de verão, precisam do título para sabermos o que tentam em vão dizer.
«novas oportunidades» ou novos oportunistas

vão tidos barda merda

AAA disse...

É por causa dessa gente dos achismos e dos outros, deputados e outras sanguessugas que vivem à conta do orçamento e que estão sempre a «botar faladura» na televisão, que praticamente deixei de ver noticiários.
Não há pachorra para tantos interesses e futilidades.

AAA disse...

Já agora uma pergunta que não tem nada a ver: é possível que num país haja via verde para os abortos com prioridade absoluta, licença de maternidade respectiva, isenção de taxas, etc e tal, e os doentes oncólogicos fiquem em fila de espera até calhar que-é-para-aprenderem-a-terem-juízo?
E, claro, a taxa de internamento hospitalar é para pagar.
Não há aqui uma sensação de fim de era ou de qualquer outra coisa que me transcende, sei lá?