Entre nós existe uma espécie de sumo-sacerdócio da orientação literária onde oficiam apenas três ou quatro pessoas. São elas que escolhem o que se deve ler, como se deve ler o que eles querem que se compre e que reduzem o "universo" dito literário às suas escolhas e manias, invariavelmente ditadas pelo filão comercialeiro mais primitivo. Aí, o sumo-sacerdócio passa a comparar-se com as saudosas mercearias Vale do Rio sem a qualidade dos produtos que estas vendiam. O "meio" é pequeno e grosso e o sumo-sacerdócio pode arrotar postas de pescada à vontade porque está sempre, por assim dizer, em família. Se alguém não compra o produto e se atreve a pô-lo em causa, é notoriamente um bruto desqualificado e ressentido que aspira a ser "escritor". Nem sempre, porém, é assim. Pode tratar-se de alguém que goste simplesmente de livros e de literatura (tenha ela a forma que tiver) e que o mais que deseja é que todas essas capelinhas sejam alvo da famosa martelada do Nabokov (ou em alternativa, para a música, da lança do incansável Wagner da Tetralogia) e que sejam todos muito felizes. Não andem é sempre a fazer de anões Alberich a cobiçar a tutela do ouro e a lançar maldições por todo o lado. Não existe tal coisa como uma tutela da cabeça do leitor sério e a sério. E ao Bolaño preferirei sempre o shaggy-dog Sterne. Diverte-me e esclarece-me. Até, imagine-se, acaba por "descrever" este ridículo afã do sumo-sacerdócio como se tivesse sido escrito ontem.
5 comentários:
Chamar a esta cleptocracia, "regime chavista", é uma grande ofensa, ao Presidente Chavez.
pois fique com o shaggy-dog e deixe o sr bolaño em paz, que nada tem a ver com nenhum sacerdócio nem capela nem sacristão
desconfio até que o shaggy-dog e o bolaño trocam opiniões e despedem gargalhadas lá onde as almas estão em paz a ver esta procissão de enganos.
Ó JG, já fez o nosso Chico chorar, caramba! http://origemdasespecies.blogs.sapo.pt/1213218.html
Vá lá, envie-lhe um mimo qualquer que a coisa não deve andar boa lá para o lado das "quetezais" para a criatura estalar o verniz porque há gente que não gosta de "bolanhadas".
Não é do "José" (Canavilhas "dixit") Luís Borges a observação de que "a crítica serve para dar de comer aos críticos"?...
«Que vivemos, há muito, num regime "chavista" tropical formalmente democrático.»
Acho mais apropriado dizer que na Venezuela se vive num regime socrático.
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