T. S. Eliot, num ensaio, sugere que o poema é o bocado de carne que o larápio atira ao cão para poder assaltar a casa. É o que me faz lembrar, com o respeito que é devido à poesia, a "polémica" em curso com a justiça, o PGR e o poder. Mesmo de férias, o senhor conselheiro Pinto Monteiro já concedeu, em menos de uma semana, duas entrevistas "por escrito", o ministro da justiça e o da presidência, uma cada um em dois canais de televisão distintos, e dois ilustres causídicos do regime, Proença de Carvalho e Miguel Júdice, a mesma coisa. Em comum, estas intervenções têm a defesa, num caso, própria, nos outros pro bono, do "beirão" Monteiro que, diz ele, "nunca desiste daquilo em que acredita" mesmo que esteja, como há muito está, desacreditado. Subtilmente, porém, o "beirão honesto" enquanto elogia a "competência e o mérito" da senhora directora do DCIAP, Cândida Almeida, deixa cair: "mesmo concordando ou não concordando com ela." Em suma, e para além dos procuradores que só tinham o processo Freeport a seu cargo há menos de dois dos seis anos em que ele esteve aberto para investigação, tudo indica que Cândida, mais tarde ou mais cedo, será imolada neste altar mistificador em que se tornou aquela coisa. Por culpa dela*, também. Mas, sobretudo, porque é uma ingénua no meio de tanta gente "honesta" como a da imagem de Eliot. Eu, que declaro sem tibiezas que Pinto Monteiro deve ser removido o quanto antes (para bem dele e da higiene do que resta de vergonha no regime), recomendo para o "beirão" a presidência de uma fundação. Asssim como assim, à semelhança da velha anarquista Lurdes Rodrigues, Monteiro também "não passa cartão a sindicatos" depois de ele mesmo ter sido dirigente "pró-associação" sindical dos juizes noutra encarnação. Dêem-lhe rapidamente o Portugal dos Pequenitos.
*num português confrangedor, que me chegou por e-mail, o DCIAP informa: «Considerando o período de férias judiciais e os consequentes e necessários turnos de trabalho, a secretaria do DCIAP, está ao serviço exclusivo dos actos processuais urgentes. Não há condições humanas para se garantir a consulta do processo a todos quantos os Sr’s jornalistas, arguidos, assistentes e advogados que solicitarem a consulta do processo do Freeport. Só a partir de 01-09-p.f , a secretaria do DCIAP retoma em plenitude o seu funcionamento. Pelo exposto, desde já se disponibiliza todo o despacho final dos Sr’s Procuradores e o que sobre ele recaiu, da responsabilidade da respectiva Directora. Todos quantos mantiverem a pretensão da consulta do processo no próximo mês de Setembro, solicita-se informação oportuna.Por determinação da Sr.ª Directora do DCIAP, Dr.ª Maria Cândida Almeida, A Técnica de Justiça Adjunta, fulana.» Intermezzo forçado, portanto, na liberdade de informar. O mail vem acompanhado pelo despacho final - o das "perguntas" - e do da dra. Cândida, num total de 255 páginas que qualquer dia vou ler na praia. Aliás, é lá que se deve ler porque, como as baleias, foi na fluvial de Alcochete que o processo atracou enquanto cádaver adiado que, afinal, procria.
*num português confrangedor, que me chegou por e-mail, o DCIAP informa: «Considerando o período de férias judiciais e os consequentes e necessários turnos de trabalho, a secretaria do DCIAP, está ao serviço exclusivo dos actos processuais urgentes. Não há condições humanas para se garantir a consulta do processo a todos quantos os Sr’s jornalistas, arguidos, assistentes e advogados que solicitarem a consulta do processo do Freeport. Só a partir de 01-09-p.f , a secretaria do DCIAP retoma em plenitude o seu funcionamento. Pelo exposto, desde já se disponibiliza todo o despacho final dos Sr’s Procuradores e o que sobre ele recaiu, da responsabilidade da respectiva Directora. Todos quantos mantiverem a pretensão da consulta do processo no próximo mês de Setembro, solicita-se informação oportuna.Por determinação da Sr.ª Directora do DCIAP, Dr.ª Maria Cândida Almeida, A Técnica de Justiça Adjunta, fulana.» Intermezzo forçado, portanto, na liberdade de informar. O mail vem acompanhado pelo despacho final - o das "perguntas" - e do da dra. Cândida, num total de 255 páginas que qualquer dia vou ler na praia. Aliás, é lá que se deve ler porque, como as baleias, foi na fluvial de Alcochete que o processo atracou enquanto cádaver adiado que, afinal, procria.
6 comentários:
Nunca deixa de me espantar a extraordinária quantidade de papel que estas pessoas produzem.Um despacho com 255 páginas!!!
Alguém se pergunta quanto tempo demorou a escrever, para que serve e quanto tempo demora a ler e analisar.
Lembro-me sempre do caso Madoff, nos EUA, cuja acusação tinha 25 páginas e a sentença outras tantas.
Enquanto o sistema judicial em vez de fornecer justiça à sociedade, estiver entretido a produzir estas grandiosas peças jurídicas de milhares, milhões de páginas sem sentido e apenas para uso interno, não poderá nunca cumprir a sua função.
A trempe de bombeiros de serviço ao socretinismo – Proença de Carvalho, Miguel Júdice e Marinho Pinto – acorre imediatamente à chamada, sempre que se trata de defender a sua fonte de negócios…
Despudoradamente e sem um pingo de vergonha na cara.
Há que refrear os impulsos livres da sociedade civil para devassar o despacho de todos os condicionamentos e obstáculos.
O DESPACHO DA SRa.DIRECTORA VOU LÊ-LO SENTADO EM CIMA DA MINHA ROCA.
Também reparei, com alguma estranheza, aquela tirada de Proença de Carvalho: "É um beirão" (como ele)... Fiquei sem perceber onde queria chegar com aquilo. Há alguma qualidade natural nos beirões? Têm algum plano secreto que se transmite uns aos outros nas quase secretas proteínas das batatas? É do vento nos pinheiros (já quase não há pinheiros)? O quê?
A abundância de papel tem uma grande vantagem: torna fácil esconder no meio da verborreia aquilo que se é obrigado a dizer mas não se quer percebido. Sir Humphrey Appleby também usava esse recurso amiúde: colocava o papel ao qual não queria que o Ministro prestasse atenção no meio da sexta caixa vermelha que este levava para casa. Passadas umas semanas, quando o Ministro lhe perguntasse sobre o assunto, podia dizer que lhe tinha dado toda a informação pedida.
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