31.1.10

PALANQUES


No espaço de pouquíssimas semanas, Cavaco Silva, pela pena de Vasco Pulido Valente - e, presumivelmente, sempre com a mesma vassoura engolida - já teve várias encarnações. Começou por, «na ausência de uma oposição, tem ele de substituir a oposição. Portugal inteiro espera isso dele. E, depois, quando Sócrates cair, como cairá, na execração geral e ele, Cavaco, reeleito, reentrar em Belém, se tratará de pôr a casa em ordem.» Depois continuou. «Na balbúrdia estabelecida, há uma única personagem em quem até certo ponto os portugueses confiam: Cavaco. Manuel Alegre não se enganou. A opinião, essa opinião que as sondagens nunca reflectem, é marcadamente antiparlamentarista e antipartidária. No que ele se engana é em atribuir esta perversidade só à direita. Ele mesmo, com a sua independência do PS e as suas relações com o PC e o Bloco, prova o contrário. A candidatura que anunciou no Algarve não é uma candidatura da esquerda, é uma candidatura acima da esquerda, a candidatura da gente desiludida com os partidos, que procura uma nova solução, ou seja, como a de Cavaco, com uma lógica presidencialista.» Muito bem. Todavia, hoje, Pulido Valente, presumivelmente num acesso soarista-parlamentarista, teme que o mesmo Cavaco das notas anteriores «reúna os poderes fundamentais da República» e sugere que Alegre (o mesmo Alegre das notas anteriores) "congregará" os bonzos «contra qualquer veleidade de estabelecer uma autoridade que materialmente altera a Constituição do regime.» Só estranho que VPV não tivesse mencionado, também a título de benemérito anti-congregacionista contra Cavaco, o candidato oficial do PS a Belém. O guião das cerimónias do banqueiro Santos Silva até foi alterado para ele poder falar no palanque.

9 comentários:

Anónimo disse...

Comentário meramente lateral:

Para o caso de não saber, o "banqueiro" Artur Santos Silva é licenciado em História.

Não é por ser "banqueiro" que está onde está.

Anónimo disse...

Pois é ... os Bancos precisam cada vez mais de licenciados em História.

Anónimo disse...

Uma análise sem pés nem cabeça.

A. Pinto Pais disse...

Estou a ver que, desta vez, o Vasco se enganou e tirou da despensa um produto esquecido de Sacavém...

Cosmo disse...

Que boas mamas tem essa república da ilustração!

Anónimo disse...

Nesta palhaçada das comemorações situacionistas do centenário da implantação do regime que se desmoronou em 28 de Maio de 1926, o que ainda nos vai valendo é a coragem de Manuela Ferreira Leite, lider da oposição à situação, que não se tem cansado de denunciar o despesismo inutil, e a falsidade historica, associadas a esta iniciativa....
eh, eh, eh, bem podemos esperar sentados que ela, ou
Paulo Rangel, já agora, alguma vez denunciem este despesismo inutil.

Anónimo disse...

Começaram hoje as comemorações do centenário da república. Da revolução que abriu caminho a dezasseis anos de anarquia e desordem e esbulho do erário público. Cem anos depois, mesmo em ano de crise, o dinheiro não falta para comemorar a data. Os outros que poupem.

sampy disse...

Confesso que me cairam mal as referências familiares no discurso de Santos Silva, concretamente pelo modo como foram formuladas.

Em vez de "o meu bisavô", "o meu avô", "o meu pai", preferiria ter-lhe ouvido mencionar "a pessoa de quem me foi concedida a honra de ser bisneto", "o homem de quem sou grato neto", "o senhor de quem procuro ser digno filho".

Parece ser a mesma coisa. Não é.

Unknown disse...

Mas o Artur Santos Silva não é licenciado em Direito? Eu até jurava que nos meus tempos de Faculdade o vi a dar uma aula de Finanças Públicas. Ou talvez fosse de "História do Dinheiro"...