24.1.10

UM SALAZAR VERMELHO


O António, que colabora neste blogue, ofereceu-me um busto vermelho como os três da foto (ele tem um azul). O seu autor é Francisco Mota Ferreira. Salazar - é bom afirmá-lo no ano do folclórico centenário - era um republicano. Católico, aceitou, ao contrário de outros católicos monárquicos, ser deputado após as "legislativas" de 1921. De resto, como correspondência recentemente editada evidencia, Salazar até enviou retratos para passes de comboio a que teria direito como deputado - e "que me estão fazendo muita falta" - designadamente porque prometeu "acompanhar um amigo num passeio pelo Minho que me ficará muito caro se nessa altura não tiver o passe". Entretanto ocorreu mais uma peripécia sanguinária típica da 1ª República - a mais famosa que incluiu o assassinato de António Granjo e de outras luminárias do regime - e as "Câmaras" foram dissolvidas. Às legislativas que se seguiram já Salazar não quis concorrer. Mesmo assim, ainda escreveu ao colega Lino Neto que "é quase para mim um ponto de honra (...) ir ao Parlamento". Não foi, contudo. Sabia (continua na carta) que "o mundo não nos foge": "se tiver de ser político, tenho tempo ainda de o ser e talvez mau". Um cínico, este Salazar. Sempre impiedoso com os "nossos pobres monárquicos".

9 comentários:

Anónimo disse...

Um Desabafo

"Já que o senhor coronel me parece boa pessoa e pertence à Força Aérea onde o meu irmão é médico, deixe-me dar-lhe um conselho: vá para onde for, não volte tão cedo a Portugal, fique por lá, se regressar encontrará o seu país irreconhecível, dominado por comunistas. O responsável por essa desgraça é esse filho da puta do Marcello Caetano, que não permite que metamos na linha esses seus colegas capitãezinhos, que andam para aí a conspirar e a fazer reuniões para derrubarem o regime. Nós estamos a par de tudo, sabemos o que dizem, o que planeiam e onde se reúnem, mas esse canalha do Marcello é que nos dá ordens para não actuarmos.
"É preciso ter paciência e compreensão para com essa juventude", diz-nos. Nós estamos manietados, não podemos fazer nada. Com o doutor Salazar era diferente, ordenava-nos logo "dêem uns abanõezitos nesses garotos e ponham-nos na ordem". - Barbieri Cardoso (conversa com o tenente-coronel Mariano Tamagnini Barbosa, a 2 de Março de 1974, cit. por João José Brandão Ferreira in Em Nome da Pátria, Livros d'Hoje, 2009).

Anónimo disse...

Barbieri Cardoso tinha montes de razão. Ou montes de absolutamente, como se dizia.

Mas falando do post meu caro joão, essa do Salazar republicano não me convence.

Salazar era monárquico. Você faz aí uma habilidade. Vai buscar uma e outra frase avulsa, para pretender provar a sua tese.

J. Costa

Nuno Castelo-Branco disse...

Como sabia "viver habitualmente", Salazar não era nem uma coisa, nem outra. Era "ele" e isso bastava-lhe, como se viu e o país acabou por pagar e bem caro.

Quanto aos "pobres monárquicos" que se recusaram a participar nas farsas eleitorais do regime do sr. Costa, pelos vistos, o escrupuloso doutor logo os imitou. Talvez o clima pouco salubre que o regime apresentava, o tenha tornado subitamente mais cauteloso com a sua preciosa saúde. Ou não será esta a contradição evidente no teu post?

Chloé disse...

Se era monárquico, Salazar comportou-se como republicano. Basta ver como tratou a família real, engavetando-a em S. Marcos.
Quanto aos bustos do Francisco Mota Ferreira, são o máximo ( e a ideia é um ovo de Colombo, vendo bem).
Vi a dica neste blogue, encomendei, recebi e já está: sucesso garantido com alguns presentes do meu Natal.

Anónimo disse...

Então João Censor, como vai o seu pequenino lapiz lazulli? Só para que saiba que estou por aqui, sempre atento ao que escreve e não deixa escrever. Toga e beca no anonimato.

joshua disse...

Parece-me que Salazar era um camaleão político que se apaixonou por si mesmo como já sucedera de resto com um Júlio César a dado momento. Foi "rei" dentro da República sanguinária em que surgiu como pacificador, homem providencial. Reinou absolutamente. Os nossos pobres republicanos maçons andam de baixa no meio de um povo que, precisamente, não é nem uma coisa nem outra, republicano ou monárquico, mas sempre poderá ser por alguma ideia de Portugal que, por uma vez, funcione e galvanize.

Anónimo disse...

Caramba chego um tanto fora de horas, mas é só para deixar uma pergunta a quem fizer o favor de responder.
Esta :
- A ideologia do Prof. Salazar e, partindo daí, toda a estrutura do Estado Novo (com pouquíssimas excepções) - não foram afinal uma cópia pobre do Integralismo Lusitano e da sua figura de maior relevo, o Monárquico António Sardinha ?
Muito grato ...

João Gonçalves disse...

Pois,V. chega literalmente fora de horas.

Anónimo disse...

Pois.