14.1.10

16-25

O Príncipe Carlos de Inglaterra encomendou um estudo à Prince's Trust que chegou à conclusão de que a actual geração dos 16 aos 25 anos é uma "geração perdida". O epíteto é utilizado porque as pessoas que hoje estão nesse patamar etário, de um modo geral, ou não têm emprego ou têm um péssimo emprego a nível remuneratório. Em Portugal, o Eurostat fala num desemprego de 19% nessa geração, números a meio da tabela europeia. No entanto, e apesar de os valores de Espanha serem de 44%, aquilo que aqui ao lado é chamado de "geração mil euros", cá significam €500.
Sucede que não pertencer a um grupo de "perdidos" depende da educação e não somente da vida material. Ausência de salário ou um salário ridículo é a realidade da maior parte dos jovens e é sobre isso que tem de ser posta em prática a existência. Independentemente do dinheiro ser um factor essencial de alcance de dignidade, só depende do "jovem" ser estúpido ou não ser, ser humilde ou não ser, ser capaz ou não ser, ter amor próprio ou não ter e por aí em diante. A educação, no caso, significa poupança e prioridades. É que, ao mesmo tempo que estas realidades constroem o perfil maioritário, há pessoas da mesma idade, e não são dois ou três e sim um hábito cultural, a ganhar mais de €1500 e que assumem que a vida em casa dos Pais é para manter, os ipods para comprar, os carros bons para ter, as viagens para fazer. Estas coisas fazem-se quando podem fazer-se, não se fazem porque o básico está garantido pelo banco alimentar contra a emancipação. As pessoas querem tudo e tudo ao mesmo tempo, com certa ingenuidade e egoísmo, como se fosse assim que as coisas acontecem. É evidente que quem não tem estofo para aguentar certo tipo de contrariedades quando elas aparecem, só pode ser considerado "perdido". Deixar que as contrariedades cheguem o mais tarde possível também é uma grande burrice. Com efeito, uma vida austera moral e materialmente não faz mal a ninguém e é o caminho correcto para a conquista saborosa de todos os desejados prazeres, incluindo os materiais.

12 comentários:

José Maia disse...

Sonhe!

ALM disse...

Cumpra!

Alves Pimenta disse...

Há pouco, num daqueles écrans do "metro", li que o TGV vai criar 3000 empregos em 2015.
Ao que chega o desespero propagandístico do socretinismo!

Anónimo disse...

Mais cem milhões de euros para formar cem mil trabalhadores em quatro anos
11.01.2010
Um momento de crise económica, como o que se vive, é o ideal para que as pessoas apostem na sua requalificação, defende Mariano Gago, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Por isso, nos próximos quatro anos, o Governo quer cem mil activos com diploma do ensino superior. Ao final da tarde, o Governo, as universidades e os politécnicos assinaram um “contrato de confiança”, que para já se traduz num acréscimo de cem milhões de euros no Orçamento de Estado (OE) para este ano.
www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/mais-cem-milhoes-de-euros-para-formar-cem-mil-trabalhadores-em-quatro-anos_1417298

Na entrevista ao I de sábado, Isabel Alçada diz que as negociações com os professores são muito delicadas porque 1% da massa salarial dos docentes é muito dinheiro. (pouco mais de quarenta milhões de euros)

Retirem-se as devidas conclusões.
A.

Bmonteiro disse...

«uma vida austera moral e materialmente não faz mal a ninguém e é o caminho correcto para...»
Bom post, boa perspectiva.
Lembra-me o seu amigo ARE.
Mau, é esse tipo de vida não constar nos programas emanados da 5Out.
JB

radical livre disse...

amanhã o pm continua com mais uma sessão ao nível do teatro tide.
nunca falará do tabu do desemprego.

está a precisar de tormento tipo " trato esperto"

Ricardo disse...

Excelente post.
Abraço

Ricardo

César disse...

Caro João, concordo que "uma vida austera moral e materialmente não faz mal a ninguém", mas parece-me que talvez existam limites para a austeridade. O meu caro João decerto não se iria conformar se agora lhe reduzissem o salário para metade, só porque alguém acharia isso saudável. Sabe, João, estou farto da miséria e de ser pobre por ser sério, honesto e justo. Tenho 42 anos, sou licenciado com 18 valores e mestrado com 20 valores, numa universidade pública das mais prestigiadas, e por mais que me esforce não consigo emprego capaz em parte alguma, sendo obrigado a viver com 10 mil euros por ano, trabalhando como auxiliar numa autarquia. Naturalmente, convidaram-me para fazer o doutoramento, mas precisava de dinheiro e as bolsas que se disponibilizam não chegam para as despesas do mesmo e para o meu sustento. Só tenho dois pares de sapatos, um carrito que comprei com doze anos e vivo numa casa onde já não cabem os livros que fui juntando. Estão atulhados por toda a parte, encaixotados, e alguns servem até de plataforma para colchão, em vez de cama.
Nunca pratiquei qualquer crime, nunca me filiei em partidos nem seitas. Já perdi a conta dos concursos públicos a que concorri e em que fiquei sempre em segundo lugar, pois era o indivíduo mais qualificado, mas sempre a seguir aquele para o qual o concurso já estava predestinado.
Tenho 42 anos, caro João, e nem sequer vou ter direito a reforma. Não tenho heranças nem propriedades, para além do pequeno apartamento num prédio decadente, hipotecado por 9 mil contos (45 mil euros) para um empréstimo que pagarei durante 25 anos. Com sorte acabarei os meus dias nas mãos da caridade pública, nalgum asilo paroquial onde nem há dinheiro para fraldas.
Este é o Portugal da "modernidade" que os políticos das últimas décadas nos legaram. Peço desculpa, mas não há "austeridade" que aguente um pai ouvir um filho dizer que tem fome e não ter um pão para lhe dar.
Deus o guarde, João, porque é um bom homem e sempre justo. Sobretudo é alguém que pensa com a sua própria cabeça, o que me parece hoje mais raro do que encontrar algum português que saiba quantos cantos tem "Os Lusíadas".

Merkwürdigliebe disse...

Excelente.

Escreva mais por aqui. Bom ano.

João Gonçalves disse...

O autor do post é ALM, António Leite-Matos a quem peço que deixe as inciais no final dos ditos. Os elogios são para ele.

Karocha disse...

César
Passo a explicar:
O Carlos passa-se de vez em quando é que a mamã não ligava muito aos filhos, quem tratava deles era a "Mulher mais perigosa da Europa", daí ele ter chorado tanto quando ela morreu.
Quanto a moralidade, deve estar a ver-se ao espelho ou talvez não, como todos sabemos!
Deve ter acordado mal disposto por não ter ainda o último modelo da Aston-Martin.
Um bom ano para si César.

Anónimo disse...

Orwell era um visionário e não temos dado a devida importância aos avisos que ele nos fez. O século XXI vai ser o século da fome se continuarmos a não controlar o desperdício, a poluição e o crescimento descontrolado da população mundial. Não me admiro nada que esta geração da realidade virtual (16-25) quando chegar ao poder decrete que todos os maiores de 60 são para 'abater'. Actualmente, já há alguns médicos em Portugal que defendem que os maiores de 80 anos não devem usufruir da medicina preventiva nem devem renovar cartas de condução mesmo que se encontrem perfeitamente activos e úteis à sociedade. Perdida está a geração do César (30-45), a geração da liberdade, altamente qualificada, desprezada e muito dependente de familiares mais velhos, e por serem responsáveis terão menores possibilidades de deixar pelo menos um descendente. Não vão usufruir uma reforma e terão que trabalhar até morrer.
MRM