25.3.08

UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO?

Este post do Tiago Barbosa Ribeiro parece ter sido escrito numa cave da 5 de Outubro por um membro obscuro de uma obscura comissão, uma daquelas que andam, há mais de trinta anos, a "reformar" o ensino em Portugal. O Tiago tem todo o direito a pertencer à brigada do optimismo antropológico que surpreende em cada aluno um aprendiz de democrata que a maldosa sociedade não deixa "despontar", em todo o seu esplendor, para a referida democracia. Daí, talvez, a concessão à extraordinária "mundivisão" que as "câmaras de vídeo, telemóveis ou YouTube" podem propiciar a esse menino da democracia que é suposto a nossa escola pública formatar. Tiago, sem se rir, fala-nos de uma geração que "é simplesmente produto do seu tempo, que é aliás bem mais admirável do que aquele Portugal cinzento e asfixiante do «antigamente», ou do país de todas as aprendizagens -- e todos os erros -- depois de 1974, num recanto isolado de uma Europa onde se multiplicavam em muros e fronteiras o que hoje existe em mobilidade, abertura e conhecimento para franjas cada vez mais novas da nossa população." Que raio de "admirável mundo novo" é este que o Tiago antevê? Um mundo em que o professor desaparece da sala de aula para dar lugar a um gnomo manipulável por monstros e monstras sem pescoço ou cabeça, porém "admiráveis" porque são "produto do seu tempo"? Um mundo em que, porque é necessário garantir o "multiculturalismo" medíocre da propaganda correcta, tudo é permitido sob pena de regresso ao infausto "Portugal cinzento e asfixiante"? O Tiago esquece-se que a maior parte das "franjas cada vez mais novas da nossa população" se está nas tintas para o país e para o seu "futuro". São perfeitos autistas sociais, criaturas amorais, ensimesmadas e narcisistas sem quaisquer referências ou interesses e que esticam - os que lá chegam - na universidade a sua imensa futilidade. Não têm história, não sabem nenhuma e nem lhes interessa ter uma. São meros "presencistas" precocemente esgotados pela sua própria inutilidade. Não dobre sinos por quem não merece.

13 comentários:

Anónimo disse...

até o gajo da motricidade palrou ontem na sic. o mundo dos psicólogos e sociólogos é o retiro dos palermas.
são todos inimputáveis estes filhos da inum-puta-bilidade
andam a ocupar espaço e a poluir o ar de decibéis
por mim vão todos barda

JSA disse...

Às vezes pergunto-me se o João pensa sequer no que escreve. Diga-me lá se acha que estes jovens que andam pelas escolas hoje em dia serão diferentes daqueles que partilharam as carteiras consigo. Diga-me que são monstros mas que o João não tinha colegas que o eram. Diga-me que não têm noção da sua sociedade mas que os colegas do João a tinham. Diga-me que são autistas e que o João não tinha colegas que o eram.

Se me responder com honestidade (que é coisa que o João é, honesto), não o pode fazer. Há erros na escola de hoje? Sem dúvida, mas os últimos a quem eles podem ser assacados é aos alunos. A maior distinção da escola de hoje com a escola pré-1974 está na inclusão que é actualmente feita (e que foi levada ao absurdo com a proibição prática da reprovação) em comparação com a exclusão da escola que era praticada no país até há 34 anos atrás.

Note: um brutamontes que não respeitasse o professor era reprovado e acabava rapidamente como aprendiz de serralheiro ou a carregar baldes de massa. Como tal, os brutos não estavam na escola na altura em que já se poderiam superiorizar, em força bruta, aos professores e funcionários. Isso resolvia muitos problemas. O "respeitinho" dos tempos do "Dr. Salazar" também (há quem fale em repressão, mas adiante).

Hoje em dia, crime dos crimes, quer-se que toda a gente obtenha o máximo de formação escolar possível, tentando não enfiar um garoto numa carreira de canalizador apenas porque era bruto aos 12 anos. Isso parece ser crime para o João. Há falta de autoridade sobre estes "monstrinhos". Umas reguadas é o que precisavam, dirá. Eu ajudo-o: o ideal é que fossem expulsos da escola, decorassem a Bíblia que é toda a literatura de que precisam, e se pusessem a trabalhar para os iluminados da pátria. Entre os quais o João se encontraria, concerteza.

Eu, que nasci no pós-1974, conformo-me com este destino e predisponho-me a ir furtigar-me com uns baldes de argamassa nos costados pelas vezes que respondi mal às minhas professoras...

Catarina disse...

Meu caro JG, costumo ler já há bastante tempo o seu blog, e com algum prazer. Tenho 22 anos e os insultos recorrentes às gerações que não são a sua já começam a atingir o limite da má-educação, coisa que, aliás, o senhor "não gosta". As críticas, originariamente bem fundamentadas e com sentido, começam infelizmente a demonstrar as fragilidades do foro psíquico do seu autor. Veja se reflecte nas suas próprias obsessões. E faça-nos um favor a todos e vá chamar amorais e narcisistas aos filhos que nunca teve.

João Gonçalves disse...

JSA e Catarina: se eu quiser defender "uma tese", generalizo. É o caso do post. O autor do post que deu azo a este fez o mesmo. Se eu olhar para uma cavalariça, só consigo distinguir uma pileca de um cavalo quando o vir em acção. O mesmo se passa numa sala de aula, com a abissal diferença neuronal que supostamente deveria separar uma pileca ou um cavalo de um aluno. O "meu" tempo não era necessariamente melhor ou provido de criaturas mais "adequadas". Que, no entanto, não se confundem com os actuais, disso não tenho a menor dúvida. Acreditem. Há mesmo meninos maus. Por natureza e agravado pela natureza "porreira" dos tempos. Desde os que vivem em bairros ditos sociais até aos que possuem vivendas na "west coast". E não se lida com meninos maus com pancadinhas nas costas. Muitos e muitas dos que hoje violentam a autoridade escolar serão futuros "pastores" nacionais, no Estado e na sociedade civil. Os menos "aptos" e mais burros, ficarão pelo caminho espezinhados justamente pelos que hoje os filmam com gozo incontido. Ora sendo o país o que já é, ainda é preciso mais gasolina para arder o que falta queimar? Este é o preço perverso do cabaz democrático. Talvez, nas vossas vidas, já tenham tido ocasião de perceber o que é que vem lá dentro. Se não, terão, se Deus quiser, muito tempo.Não vos invejo.

João Sousa André disse...

Caro João, em relação ao preço do «cabaz democrático», estou disposto a pagá-lo, mesmo conhecendo-lhe (muita d)a fruta podre e (muitos d)os buracos que possui. As alternativas, francamente, ainda me parecem bem piores por serem cabazes muito melhores, mas apenas para muitos poucos.

Aplaudo-lhe, no entanto, o comentário. É bem mais comedido que o post original e demonstra maior reflexão que aquele. Não que não tenha pensado no assunto, mas sei que escreve frequentemente de coração na boca, como tal não me espanto que às vezes os posts lhe saiam mais virulentos.

Já agora, gostaria de lhe lembrar uma outra pessoa, que certamente foi aluno muito certinho, sempre responsável e sempre respeitoso para com os seus professores, capaz de excelentes notas e que redundou numa das "criaturas" que nos trouxe para esta situação: António Guterres. Que quer isto dizer? Que nem tanto ao mar nem tanto à terra, mas isso já o João sabe.

Mar Arável disse...

o que mais admiro em si

apesar de diametralmente

opostos

é o que nos aproxima

isto é

chamar os bois pelos nomes

Anónimo disse...

Bela análise.Verdades amargas.O tempo que levamos de vida dá-nos respaldo para analisar e comparar as épocas.
De qualquer forma se o percebi,o mal não está nas pessoas,cuja natureza não é diferente.
Ou seja,o mal não está nas calças,mas sim no cinto que não as segura.
Já se viu para onde isto está a descambar.O que nos penaliza é que desta vez não se perfilam elites lúcidas e honestas,com patriotismo.
Até esta palavra me vai valer críticas,certamente.O internacionalismo que as grandes potências rejeitam,é dono do arraial por cá.

Anónimo disse...

As gerações mais jovens correspondem de facto ao perfil que delas é traçado no seu post....mas convem não esquecer qual foi a geração que se afadigou a criar progressivamente todas as condições para que as gerações mais novas fossem como efectivamente são. Essa geração foi a geração dos anos sessenta...a geração do Maio de 68 e quejandos. Essa geração foi certamente a mãe das gerações rascas que se lhe seguiram....e ela propria, quando teve finalmente acesso ao poder, revelou-se tambem uma geração altamente rasca.

Anónimo disse...

Não desespere!O País está cheio de valores,muitos de nivel internacional e alguns verdadeiros campeões mundiais na sua especialidade.O campeão mundial da vigarice como Primeiro-ministro;o campeão mundial do escapismo como presidente da Comissão Europeia;o campeão mundial do "atraso mental" como "chefe" da oposição;e o campeão mundial da inacção como Presidente da República.É só recordes...como diria o outro!

Anónimo disse...

Estes meninos são mal-criados, porque, na sua maioria, os seus pais também o são.

A experiência diz-me que pais mal-criados dão filhos mal-criados. O resto é excepção.

Lamento toda esta situação não só por tudo o que isto significa para o nosso presente e futuro, mas também porque na escola pública (é essa a questão) existem muito bons alunos, filhos de gente endinheirada e menos endinheira, mais culta e menos culta etc. que são pessoas e alunos fantásticos e têm que conviver com colegas que são verdadeiras bestas.

Se se filmasse o que se passa na maioria dos corredores das escolas sem que os alunos soubessem, estou certa que grande parte dos pais proibiria os seus filhos a irem à escola. A violência verbal e física está ao nível de claques futebolísticas.

Nomes próprios quase não há só linguagem super, hiper vernácula.

Os Conselhos Executivos "abafam" muitas situações. Ignoram participações disciplinares dos professores e alunos. Tudo em nome de passar a imagem para as suas DREs de que tudo está bem, e assim é passar a imagem que são capazes de resolver tudo eficientemente. `Há que salvaguardar os seus lugarzinhos porque dar aulas cansa, garanto-vos que cansa!

Anónimo disse...

JSA: nota-se que nasceu pós 25 de Abril assim como se compreende a indignação da Catarina pelos seus 22 anos.
Não tenho dúvida que o João Gonçalves é, por vezes, excessivo mas isso não lhe tira a razão e o problema da educação, ou da falta dela, não deve ser remetido para o passado, em termos comparativos, mas sim para o futuro numa antecipação do que será uma sociedade democrática dirigida pelos produtos desta escola.

Nuno Castelo-Branco disse...

Este último anónimo tocou naquilo que resume, no que é essencial, uma das causas da actual situação. A geração 68, arroteou e estrumou a leira. Estrumou em demasia e o resultado está à vista.
No entanto, talvez este noticiário todo à volta da violência escolar, seja apenas uma conspiração dos privados, que andam desejosos de aumentar o pecúlio, propiciado pela catadupa de novos alunos bonzinhos que decerto o ano lectivo 2008-2009 trará a tenebrosos colégios elitistas. Deve ser...

Anónimo disse...

caro João Gonçalves


Considero o seu pensamento correcto mas demasiado brando, na apreciação. Como diz, de facto, este pais tem uma pequena minoria de gente com qualidade. A prová-lo estão estes belos 30 aninhos de consistência cultural e económica e na ampla satisfação da experiência socialista. O povão sai pouco, sabe pouco e o que sabe não vale para nada. Não fosse a televisão e a internet e o que se espremia era barro. Os mais novos não gostam que se lhes apontem defeitos? Construam. Deixem de berrar "ó tio, ó tio" que esse está ocupado e as cunhas já estão preenchidas. Construam, nem que para isso seja necessário arrear no regime que os "sustenta".